segunda-feira, 30 de setembro de 2013


 

A GRATIDÃO E A PLENITUDE

texto do cap.5. A gratidão como roteiro de vida

do livro Psicologia da Gratidão

Divaldo Franco/Joanna de Ângelis

É natural que se anele pela plenitude, que representa superação do sofrimento, da angústia, da ansiedade e da culpa, significando o encontro com a consciência ilibada, que sabe conduzir o carro orgânico no destino certo da iluminação. Nada obstante, ninguém se pode liberar totalmente dos atavismos, sem adquirir novos hábitos, especialmente das heranças mitológicas que o vinculam de alguma forma à condição de humanidade, portanto estando sempre sujeito a aflições e a todas as injunções do veículo carnal.
Pensar-se em plenitude como ausência de inquietações é ambição utópica, desde que a própria condição de transitoriedade do carro orgânico faz compreender-se o fenômeno do seu desgaste, da degeneração que lhe é própria, das alterações e mudanças de constituição, produzindo mal-estar, dores e psicologicamente ansiedade, melancolia, inquietação.
A plenitude é o estado de harmonia entre as manifestações psíquicas, emocionais e orgânicas resultantes do perfeito entrosamento da mente, do self que também possui alguma forma de sombra, com o ego, integrando-se sem luta, a fim de ser readquirida a unidade.
Essa conquista numinosa, resultado da aquisição da autoconsciência, liberta o sentimento de gratidão que faz parte da autoindividuação, produzindo uma aura de mirífica luz em torno do ser vitorioso em si mesmo.
O ato de alcançar esse estado psicológico de autointegração faculta a perspectiva de uma expansão da consciência na direção da Divindade, de onde procede e para onde retorna sempre que encerra um dos inumeráveis ciclos da aprendizagem terrena.
É natural, portanto, que a jornada humana seja caracterizada pelos experimentos psíquicos de desenvolvimento do deus interno, a que nos referimos, e da libertação das síndromes que se transformam em bengalas psicológicas para justificar o não crescimento interior, a permanência na queixa, no azedume, na paralisia emocional em que se compraz em mecanismo infeliz de masoquismo.
O espirito está fadado à plenitude desde quando criado por Deus simples e ignorante, Simples, porque destituído das complexidades do conhecimento, da razão, do discernimento, da logica, da evolução. Ignorante, em razão do predomínio da sombra no self e da ausência dos recursos intelecto-morais que o engrandecem como efeito do esforço pessoal na conquista dos valores que lhe estão ao alcance.
Natural, desse modo, que ocorram conflitos constantes, caracterizados por momentos de coragem e de desencanto, por anseio de crescimento e temores das conquistas libertadoras, por dúvidas e melancolia...
A sombra acompanha inevitavelmente o ser humano enquanto ele se encontra no processo de autoiluminação, cedendo lugar à harmonia quando ocorre a libertação da matéria.
Segundo o historiador grego Heródoto de Halicarnasso, Sólon, o nobre filósofo, dialogando com o rei Creso, da Lídia, tido como o homem mais rico do mundo no seu tempo, que se considerando feliz pelos tesouros amealhados, após apresentá-lo ao sábio, indagou-lhe, eufórico, qual seria na sua opinião o homem mais ditoso do planeta. E porque o gênio ateniense tivesse informado que havia conhecido um jovem de nome Télus, que se notabilizou em Atenas pela nobreza de caráter e pela abnegação, a quem assim o considerava, o monarca soberbo voltou à carga com nova indagação:
- E, na sua opinião, qual é o segundo homem mais feliz do mundo? – acreditando-se que seria citado como exemplo, sofreu novo constrangimento ante a resposta do eminente convidado, que informou ter conhecido dois irmãos que cuidavam da própria genitora e, quando esta desencarnou, dedicaram a preciosa existência a servir à cidade-Estado. Creso não pode mais sopitar o desencanto e tornou-se inamistoso com o convidado, realmente mais sábio daquela época.
Sólon manteve-se tranquilo e, no momento da despedida, disse-lhe:
- Rei, ninguém pode afirmar-vos se sois feliz, senão depois da vossa morte, porque são muitos os incidentes e ocorrências que modificam os transitórios estados emocionais e econômicos de todas as criaturas...
De fato, mais tarde, após a morte do filho Actis, em circunstancias trágicas, e a destruição do seu país que sucumbiu às tropas de Ciro, o Grande, da Pérsia, vendo Sardes, a capital da Lídia, ardendo, e todos os tesouros nas mãos dos invasores, ele concordou com Sólon, e proclamou no poste que seria queimado vivo:
- Oh! Sólon! Oh! Sólon, como tinhas razão!
Ouvido por Ciro, o conquistador, que também amava Sólon, o filósofo, perguntou-lhe a razão pela qual se referia ao nobre sábio, e, após narrar a experiência, teve a vida poupada, tornando-se seu auxiliar no controle dos bens e educador de Cambises, seu filho...
A transitoriedade dos valores materiais, inclusive da argamassa celular, torna o Espírito reencarnado vulnerável às injunções normais da existência física.
Creso, pioneiro da fundição de moedas de ouro, possuidor de imensa fortuna em ouro trazida pelas aguas do rio Pactolo, que dividia a capital da Lídia, não se deu conta de ser grato à vida, pensando somente em acumular, embora vitimado pelas circunstancias, em haver sido pai de um surdo-mudo e o seu herdeiro haver experimentado uma desencarnação trágica varado pela lança atirada pelo seu amigo Adasto,  filho do rei Midas, da Frígia...
O que se tem é adorno, sendo indispensável considerar-se psicologicamente o que se faz, o que se é, e tudo aquilo que se trabalha interiormente transformar em gratidão pela existência, pela oportunidade de autoiluminação.
Embora a fortuna colossal, Creso não era realmente feliz, pois que não pôde evitar o nascimento do filho limitado nem a morte do herdeiro amado e, muito menos, a invasão e destruição do seu reino. No entanto, quando se permitiu a humildade de reconhecer que Sólon tinha razão, pode ter a sua e a vida dos familiares poupadas da morte hedionda que sempre é reservada aos vencidos.
Ainda merece consideração a frase de Ciro, ao libertar o rei e família vencidos:
- Desejo que se anote a minha generosidade, pois que, se algum dia eu vier a cair vitimado em alguma batalha, espero que se use da mesma misericórdia para comigo, conforme a uso para com ele [Creso].
São os valores morais, as conquistas espirituais que respondem pela gratidão que resulta de todas as oportunidades de crescimento e de valorização da existência, enriquecendo o ser humano de generosidade, a filha dileta da sabedoria de viver.
Aquele que é grato, que sabe reconhecer a própria pequenez ante a grandeza da vida, faz-se pleno e feliz.
Final do texto, A GRATIDÃO E A PLENITUDE, e também final do cap.5, a gratidão como roteiro de vida. do livro , PSICOLOGIA DA GRATIDÃO,  escrito por Divaldo Franco/Joanna de Ângelis. Postado dia 30/09/2013.

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