quarta-feira, 18 de setembro de 2013


A CONQUISTA DA PLENITUDE PELA GRATIDÃO
4º Capítulo do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO
Divaldo P. Franco/Joanna de Ângelis, p. 91-94.
Todas as conquistas do conhecimento e da experiência de vida resultam do treinamento, do exercício.
Quando o self se encontra em desenvolvimento, as emoções ainda se fazem caracterizar pelas heranças do instinto, que se vão modificando lentamente, até alcançar os nobres patamares do amor e da gratidão. Não seja de estranhar que as condutas humanas durante esse processo apresentem-se afetadas pelo egotismo gerador da ingratidão. O indivíduo atribui-se méritos que não possui e tudo quanto recebe considera como sendo em consequência do seu valor. A permanência da sombra dificulta-lhe o discernimento, impondo-lhe situações embaraçosas e mesmo perversas. Esse transito de curso demorado vai modificando-se à medida que as experiências edificantes vão acumulando-se como resultado do treinamento, proporcionando lucidez para a compreensão da felicidade após a descoberta do significado existencial.
O único sentido, portanto, de ser humano propõe como foco primordial a emoção do amor que será alcançada. No oceano do amor, tudo se confunde em plenitude, logo em superação do ego e dos arquétipos perturbadores.
Há necessidade imediata e inadiável de reservar-se espaço e tempo para o treinamento do perdão, tanto quanto das outras expressões do amor, a fim de se descobrir a alegria que, resultante de qualquer satisfação, seja um efeito do ato de amar.

Para que se possa alcançar esse desiderato, torna-se urgente o dever de mergulhar no self para o encontro com a consciência, a princípio num monólogo e depois num diálogo edificante e iluminativo.
Jung estabeleceu cinco etapas no que diz respeito à aquisição da consciência, seu desenvolvimento no rumo da vitória plena.
A primeira etapa que ele denomina como participation mystique diz respeito à conquista da identificação entre a consciência do ser e tudo quanto lhe diz respeito no entorno da sua existência. Acontece que se torna difícil existir no mundo sem que ocorra esse fenômeno de interdependência entre ele e o que se encontra à sua volta. Nesse sentido, a identificação é muito variada, considerando-se aqueles que, ainda vitimados pelas sensações, permanecem vinculados aos objetos e vivenciam-nos, sorrindo ou sofrendo. Alguém se identifica e se apaixona pela casa em que mora, pelo instrumento de arte a que se dedica, pelo automóvel ou outro veículo qualquer, e passa a experimentar os sentimentos do si-mesmo em relação a cada objeto. Outros se vinculam às suas famílias de igual maneira e experimentam sentimentos de introjeção e projeção, além da própria identificação. Na segunda etapa, já se expressa a consciência que distingue o eu e o outro. Ao alcançar esse período em que se pode diferenciar o sujeito do objeto, o self que se é em relação ao do outro ser, passa a descobrir, a identificar as diversidades de que cada qual se constitui. Nessa fase, ainda permanecem os resquícios fortes da projeção no outro, mas que se vai diluindo e favorecendo a identidade. Na terceira etapa, as projeções transferem-se para símbolos, lições, princípios éticos, facultando a compreensão do abstrato, como a realidade de Deus em alguma parte... O conceito vigente desse deus, quando punitivo ou compensador, representa a projeção transferida dos pais para algo mais transcendente ou até mesmo mitológico. Na quarta etapa, tem lugar a superação das projeções, mesmo que assinaladas pela transcendência do abstrato e das ideias. Surge, então, o centro vazio, que poderíamos denominar como o homem moderno em busca da sua alma. O utilitarismo e o interesse imediato tomam conta do indivíduo, como substitutos das anteriores projeções. Nesse comenos, há predominância do prazer e os desejos de fácil controle, podendo ocorrer, se não se permitem essas sensações-emoções, derrapando-se em transtornos depressivos. Nesse mundo novo não existem conteúdos psíquicos, fazendo que cada qual se sinta realista. Esse é o momento em que o ego se sente como sendo o próprio deus, capaz de fazer e concluir sempre de maneira pessoal a espeito de tudo quanto lhe diz respeito, selecionando o que é verdadeiro ou não, aquilo que merece consideração ou desprezo...Com tal comportamento egoico, não é difícil cometer equívocos lamentáveis, derivados da autopresunção, dos julgamentos precipitados a respeito dos demais, podendo tornar-se megalomaníaco. Perde-se o anterior controle das convenções sociais em relação aos demais indivíduos e aos padrões de comportamento aceitos e convencionados. Nem todas as pessoas, no entanto, no desenvolvimento da sua consciência, atingem essa etapa, permanecendo somente nas iniciais. Por fim, na quinta etpa, quando já se encontra amadurecido psicologicamente, o indivíduo passa à reintegração da consciência com a inconsciência, descobrindo os próprios limites – do ego -, alcançando o que poderíamos denominar como sendo uma fase de atualidade, conseguindo a função transcendente e o símbolo unificador. Livre dos arquétipos em imagens que caracterizam  o outro, conforme a experiência da etapa anterior, a quarta, identifica os gloriosos poderes do inconsciente. nessa fase de modernidade ou de atualidade, a consciência identifica a vida psíquica nas projeções, não mais compostas dos substratos materiais ou mesmo deles formadas, e sim a realidade de si mesma. O insigne mestre, no entanto, não se detém aí, e há momentos em que ele parece propor mais outras etapas, cabendo-nos determo-nos nessas, mais compatíveis com os objetivos do nosso trabalho.
 
Continua na próxima postagem
Postado em 18-09-2013.

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