A CONQUISTA DA PLENITUDE
PELA GRATIDÃO
4º Capítulo do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO
Divaldo P. Franco/Joanna de
Ângelis, p. 91-94.
Todas as conquistas do
conhecimento e da experiência de vida resultam do treinamento, do exercício.
Quando o self se encontra em desenvolvimento, as
emoções ainda se fazem caracterizar pelas heranças do instinto, que se vão
modificando lentamente, até alcançar os nobres patamares do amor e da gratidão.
Não seja de estranhar que as condutas humanas durante esse processo
apresentem-se afetadas pelo egotismo gerador da ingratidão. O indivíduo
atribui-se méritos que não possui e tudo quanto recebe considera como sendo em consequência
do seu valor. A permanência da sombra dificulta-lhe o discernimento,
impondo-lhe situações embaraçosas e mesmo perversas. Esse transito de curso
demorado vai modificando-se à medida que as experiências edificantes vão
acumulando-se como resultado do treinamento, proporcionando lucidez para a
compreensão da felicidade após a descoberta do significado existencial.
O único sentido, portanto,
de ser humano propõe como foco primordial a emoção do amor que será alcançada. No
oceano do amor, tudo se confunde em plenitude,
logo em superação do ego e dos arquétipos perturbadores.
Há necessidade imediata e
inadiável de reservar-se espaço e tempo para o treinamento do perdão, tanto
quanto das outras expressões do amor, a fim de se descobrir a alegria que, resultante
de qualquer satisfação, seja um efeito do ato de amar.
Para que se possa alcançar
esse desiderato, torna-se urgente o dever de mergulhar no self para o encontro com a consciência, a princípio num monólogo e
depois num diálogo edificante e iluminativo.
Jung estabeleceu cinco
etapas no que diz respeito à aquisição da consciência, seu desenvolvimento no
rumo da vitória plena.
A primeira
etapa que ele denomina como participation
mystique diz respeito à conquista da identificação entre a consciência do
ser e tudo quanto lhe diz respeito no entorno da sua existência. Acontece que
se torna difícil existir no mundo sem que ocorra esse fenômeno de interdependência
entre ele e o que se encontra à sua volta. Nesse sentido, a identificação é
muito variada, considerando-se aqueles que, ainda vitimados pelas sensações,
permanecem vinculados aos objetos e vivenciam-nos, sorrindo ou sofrendo. Alguém
se identifica e se apaixona pela casa em que mora, pelo instrumento de arte a
que se dedica, pelo automóvel ou outro veículo qualquer, e passa a experimentar
os sentimentos do si-mesmo em relação
a cada objeto. Outros se vinculam às suas famílias de igual maneira e experimentam
sentimentos de introjeção e projeção, além da própria identificação. Na segunda
etapa, já se expressa a consciência que distingue o eu e o outro. Ao alcançar
esse período em que se pode diferenciar o sujeito do objeto, o self que se é em relação ao do outro
ser, passa a descobrir, a identificar as diversidades de que cada qual se
constitui. Nessa fase, ainda permanecem os resquícios fortes da projeção no
outro, mas que se vai diluindo e favorecendo a identidade. Na terceira etapa,
as projeções transferem-se para símbolos, lições, princípios éticos, facultando
a compreensão do abstrato, como a
realidade de Deus em alguma parte... O conceito vigente desse deus, quando
punitivo ou compensador, representa a projeção transferida dos pais para algo
mais transcendente ou até mesmo mitológico. Na quarta etapa, tem lugar a superação
das projeções, mesmo que assinaladas pela transcendência do abstrato e das ideias.
Surge, então, o centro vazio, que poderíamos
denominar como o homem moderno em busca
da sua alma. O utilitarismo e o interesse imediato tomam conta do
indivíduo, como substitutos das anteriores projeções. Nesse comenos, há predominância
do prazer e os desejos de fácil controle, podendo ocorrer, se não se permitem
essas sensações-emoções, derrapando-se em transtornos depressivos. Nesse mundo
novo não existem conteúdos psíquicos, fazendo que cada qual se sinta realista. Esse é o momento em que o ego
se sente como sendo o próprio deus, capaz de fazer e concluir sempre de maneira
pessoal a espeito de tudo quanto lhe diz respeito, selecionando o que é verdadeiro
ou não, aquilo que merece consideração ou desprezo...Com tal comportamento egoico,
não é difícil cometer equívocos lamentáveis, derivados da autopresunção, dos
julgamentos precipitados a respeito dos demais, podendo tornar-se
megalomaníaco. Perde-se o anterior controle das convenções sociais em relação
aos demais indivíduos e aos padrões de comportamento aceitos e convencionados. Nem
todas as pessoas, no entanto, no desenvolvimento da sua consciência, atingem
essa etapa, permanecendo somente nas iniciais. Por fim, na quinta etpa, quando
já se encontra amadurecido psicologicamente, o indivíduo passa à reintegração
da consciência com a inconsciência, descobrindo os próprios limites – do ego -,
alcançando o que poderíamos denominar como sendo uma fase de atualidade,
conseguindo a função transcendente e
o símbolo unificador. Livre dos
arquétipos em imagens que caracterizam o
outro, conforme a experiência da
etapa anterior, a quarta, identifica os gloriosos poderes do inconsciente.
nessa fase de modernidade ou de atualidade, a consciência identifica a vida psíquica
nas projeções, não mais compostas dos substratos materiais ou mesmo deles
formadas, e sim a realidade de si mesma. O insigne mestre, no entanto, não se detém
aí, e há momentos em que ele parece propor mais outras etapas, cabendo-nos
determo-nos nessas, mais compatíveis com os objetivos do nosso trabalho.
Continua
na próxima postagem
Postado
em 18-09-2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário