COMPROMISSOS DA GRATIDÃO
3º Capítulo do livro Psicologia da gratidão
Item: Gratidão na convivência social.
Continuação pag. 74-
O processo antropológico da
evolução lentamente retirou o ser humano do individualismo egoico, para a
parceria sexual por impulso do instinto, a fim de que, depois, em razão dos
pródromos da afetividade biológica, tivesse origem o sentimento do grupo
familiar envolvendo a prole.
A partir daí surgiram os
mecanismos gregários para a construção do grupo social, formando a tribo em
convivência harmônica, para que, através dos milênios, o instinto pudesse
deixar-se iluminar pela razão, ampliando as afinidades no conjunto que seria a
sociedade.
Mesmo nesse período tribal,
a animosidade contra os demais grupos assinava-lhe o primitivismo agressivo-defensivo.
Foi muito lentamente que os interesses comuns uniram aqueles que mantinham as
mesmas afinidades, dando lugar às primeiras experiências sociais.
A beligerância, no entanto,
que lhe permanecia inata desencadeava as guerras cruéis, qual sucede até hoje,
demonstrando a predominância da natureza
animal sobre a natureza espiritual.
A elaboração da sociedade
resultou da necessidade de preservação de cada grupo, dos recursos e valores
diversos em tentativas de auxílios recíprocos, de sustentação dos seus membros,
de crescimento econômico e cultural.
O self em desenvolvimento foi superando a sombra coletiva, enquanto a
individual começou a cristalizar-se,
gerando a dualidade de comportamento: o eu opositor ao outro eu.
Animal gregário por
excelência, a sua sobrevivência no planeta que o alberga depende do valioso
contributo social, que o impulsiona ao desenvolvimento intelecto-moral, etapa a
etapa através da esteira das reencarnações.
Alcançando o atual nível de
cultura, de civilização e de tecnologia, o sentimento de gratidão pelas
gerações passadas deve viger, ensejando a compreensão das conquistas do vir a
ser.
A busca da sua plenitude
propele-o à contínua luta pela superação dos vestígios do comportamento
primitivo que ainda lhe remanescem no cerne, impedindo-lhe de autorrealização.
Os sentimentos, substituindo
ou modificando os instintos agressivos, ampliam-lhe os horizontes em torno do
sentido e do significado existencial, a fim de que possa crescer no rumo da
plenitude.
Adquirindo a consciência
individual, a razão indu-lo para a contribuição digna em favor da coletiva, ao
tempo que trabalha pela incessante renovação e abandono das paisagens mentais
em clichês viciosos que se lhe insculpirão, gerando os hábitos propiciadores à harmonia
de conduta e à alegria de viver.
Teimosamente, a sombra mantém-nos
no egoísmo, encarcera-o nas paixões grosseiras, enquanto o self se lhe opõe, dando lugar a uma batalha perturbadora que se
transforma em conflito.
O despertar para a perfeita
vitória sobre tais amarras não deve constituir meta afligente, a fim de que se
consiga a pureza espiritual, a conduta irreprochável, a vivencia destituída de
problemas. É inevitável, conforme acentuam Kierkegaard, Paul Tillich, Rollo May
e outros estudiosos da psicologia existencial assim como do socialismo religioso, que estejam presentes
na psique e no comportamento do indivíduo a ansiedade, o medo, a culpa, a
solidão... Heranças ancestrais da jornada evolutiva, esses transtornos
permanecerão por longo período ainda até a libertação paulatina e a conquista
da individuação.
Nesse sentido, merece
especial atenção o corpo emocional do indivíduo, que se apresenta enfermo como
decorrência da sombra que o leva a negar tudo quanto lhe pode
modificar os hábitos para melhor, influenciando-o a permanecer na angústia devastadora ou na ansiedade,
mantendo a culpa consciente ou não, em atitude autopunitiva arbitrária. Da
mesma forma como se reservam espaços para os cuidados com o corpo, torna-se
indispensável que se cuide de preservar a serenidade do self com silêncios
interiores que propiciem a reflexão e a meditação, com diálogos salutares com a
consciência, numa atitude de preces sem palavras, mantendo a vinculação com as
fontes da vida.
Somente através desse hábito
pessoal será possível superar as conjunturas negativas propiciadas pela sombra,
sem entrar em luta renhida, assimilando as suas lições e diluindo aquelas que
são perturbadoras para dar lugar ao bem-estar e à resistência para as atividades
de autoiluminação e de convivência social nem sempre equilibrada.
Os interesses dos grupos
humanos são muito variados, gerando constantes atritos e desgastes na área da
emotividade, o que exige autocontrole, disciplina da vontade e espírito de paz,
a fim de não entorpecer os valores éticos, os significados morais e objetivos
da existência, deixando-se arrastar pelo aluvião de conflitos...
A saúde emocional é
propiciadora da harmonia do self, motivando
a compreensão de que o processo de inserção na sociedade gera dificuldades e propõe
desafios que melhor fazem o indivíduo crescer na direção da aspiração numinosa.
Mediante esse comportamento
alteram-se as condições ambientais do planeta, tendo-se em vista que tudo
quanto existe interage uma na outra expressão, formando a unidade.
O leve rociar da brisa num
jardim liga-se a uma tormenta no lado oposto da Terra, assim como um pensamento
de amor contribui para a sinfonia universal da harmonia cósmica.
Enquanto se estudam as
melhores técnicas para deter e evitar-se os danos da devastação dos recursos
planetários em extinção, a limitação da emissão de gases que contribuem par o
lento aquecimento global, em razão também do envenamento dos rios, das
nascentes d’agua, dos mares e dos oceanos, a morte e a ameaça de
desaparecimento dos vegetais e animais, que culminará na do ser humano, merece
reflexão a tenebrosa condição mental das criaturas humanas que se demoram nos
escalabros morais e na crueldade.
As ambições desmedidas que
tem conduzido a sociedade à conquista de contínuas tecnologias, sem pensar nos
danos ocasionais que também causam à natureza, exultam nos milhares de fragmentos
de satélites e de foguetes que se desintegram, e os que escapam do
aniquilamento no contato com a atmosfera, atraídos pela gravidade do planeta,
constituem na atualidade o terrível lixo
espacial decorrente dos grandes engenhos do pensamento desarvorado sem as
reflexões indispensáveis...
As providências que
atualmente vem sendo tomadas não tem efeito retroativo em relação ao que se
encontra em volta da Terra e não é consumido na sua queda natural na superfície
do planeta. Imaginou-se ingenuamente que tais fragmentos cairiam sempre nos
mares e oceanos, assim mesmo poluindo-os, o que não se pode confirmar, porque
tem tombado em organizações urbanas, no campo e em toda parte..
Diante do quadro de sombra
individual e coletiva que domina a sociedade morna, a gratidão assume um papel relevante,
porque iniciando na emoção superior do reduto doméstico, no próprio indivíduo e
por si mesmo, amplia-se na direção dos grupos sociais, considerando sempre tudo
quanto a vida tem proporcionado gratuitamente sem nada pedir em volta, exceto que
se mantenha o equilíbrio necessário para o prosseguimento do processo de
evolução.
Desfrutam-se de mil favores
e conquistas enquanto na vilegiatura carnal, sem nenhum sacrifício e sem
nenhuma gratulação em torno do seu
significado e das respostas oferecidas.
A gratidão social é a
resposta do coração feliz pelas excelentes oportunidades de que se frui durante
toda a existência terrena.
Através dessa conduta, atenuam-se
as competições malsãs entre os indivíduos e os grupos, as intrigas e as
malquerenças, os ódios e os ressentimentos morbosos...
Reflexionando-se em torno do
grupo social no qual se moureja, a gratidão enriquece o self que absorve a sombra sem a antagonizar, e a plenitude se
instala no ser humano.
Final do texto. O cap 3
continuará na próxima postagem.
Postagem do dia 05/09/20013.
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