quinta-feira, 5 de setembro de 2013


 

COMPROMISSOS DA GRATIDÃO

3º Capítulo do livro Psicologia da gratidão

Item: Gratidão na convivência social.

Continuação pag. 74-

 

O processo antropológico da evolução lentamente retirou o ser humano do individualismo egoico, para a parceria sexual por impulso do instinto, a fim de que, depois, em razão dos pródromos da afetividade biológica, tivesse origem o sentimento do grupo familiar envolvendo a prole.

A partir daí surgiram os mecanismos gregários para a construção do grupo social, formando a tribo em convivência harmônica, para que, através dos milênios, o instinto pudesse deixar-se iluminar pela razão, ampliando as afinidades no conjunto que seria a sociedade.

Mesmo nesse período tribal, a animosidade contra os demais grupos assinava-lhe o primitivismo agressivo-defensivo. Foi muito lentamente que os interesses comuns uniram aqueles que mantinham as mesmas afinidades, dando lugar às primeiras experiências sociais.

A beligerância, no entanto, que lhe permanecia inata desencadeava as guerras cruéis, qual sucede até hoje, demonstrando a predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual.

A elaboração da sociedade resultou da necessidade de preservação de cada grupo, dos recursos e valores diversos em tentativas de auxílios recíprocos, de sustentação dos seus membros, de crescimento econômico e cultural.

O self em desenvolvimento foi superando a sombra coletiva, enquanto a individual começou a cristalizar-se, gerando a dualidade de comportamento: o eu opositor ao outro eu.

Animal gregário por excelência, a sua sobrevivência no planeta que o alberga depende do valioso contributo social, que o impulsiona ao desenvolvimento intelecto-moral, etapa a etapa através da esteira das reencarnações.

Alcançando o atual nível de cultura, de civilização e de tecnologia, o sentimento de gratidão pelas gerações passadas deve viger, ensejando a compreensão das conquistas do vir a ser.

A busca da sua plenitude propele-o à contínua luta pela superação dos vestígios do comportamento primitivo que ainda lhe remanescem no cerne, impedindo-lhe de autorrealização.

Os sentimentos, substituindo ou modificando os instintos agressivos, ampliam-lhe os horizontes em torno do sentido e do significado existencial, a fim de que possa crescer no rumo da plenitude.

Adquirindo a consciência individual, a razão indu-lo para a contribuição digna em favor da coletiva, ao tempo que trabalha pela incessante renovação e abandono das paisagens mentais em clichês viciosos que se lhe insculpirão, gerando os hábitos propiciadores à harmonia de conduta e à alegria de viver.

Teimosamente, a sombra mantém-nos no egoísmo, encarcera-o nas paixões grosseiras, enquanto o self se lhe opõe, dando lugar a uma batalha perturbadora que se transforma em conflito.

O despertar para a perfeita vitória sobre tais amarras não deve constituir meta afligente, a fim de que se consiga a pureza espiritual, a conduta irreprochável, a vivencia destituída de problemas. É inevitável, conforme acentuam Kierkegaard, Paul Tillich, Rollo May e outros estudiosos da psicologia existencial assim como do socialismo religioso, que estejam presentes na psique e no comportamento do indivíduo a ansiedade, o medo, a culpa, a solidão... Heranças ancestrais da jornada evolutiva, esses transtornos permanecerão por longo período ainda até a libertação paulatina e a conquista da individuação.

Nesse sentido, merece especial atenção o corpo emocional do indivíduo, que se apresenta enfermo como decorrência  da sombra  que o leva a negar tudo quanto lhe pode modificar os hábitos para melhor, influenciando-o a permanecer  na angústia devastadora ou na ansiedade, mantendo a culpa consciente ou não, em atitude autopunitiva arbitrária. Da mesma forma como se reservam espaços para os cuidados com o corpo, torna-se indispensável que se cuide de preservar a serenidade do self  com silêncios interiores que propiciem a reflexão e a meditação, com diálogos salutares com a consciência, numa atitude de preces sem palavras, mantendo a vinculação com as fontes da vida.

Somente através desse hábito pessoal será possível superar as conjunturas negativas propiciadas pela sombra, sem entrar em luta renhida, assimilando as suas lições e diluindo aquelas que são perturbadoras para dar lugar ao bem-estar e à resistência para as atividades de autoiluminação e de convivência social nem sempre equilibrada.

Os interesses dos grupos humanos são muito variados, gerando constantes atritos e desgastes na área da emotividade, o que exige autocontrole, disciplina da vontade e espírito de paz, a fim de não entorpecer os valores éticos, os significados morais e objetivos da existência, deixando-se arrastar pelo aluvião de conflitos...

A saúde emocional é propiciadora da harmonia do self, motivando a compreensão de que o processo de inserção na sociedade gera dificuldades e propõe desafios que melhor fazem o indivíduo crescer na direção da aspiração numinosa.

Mediante esse comportamento alteram-se as condições ambientais do planeta, tendo-se em vista que tudo quanto existe interage uma na outra expressão, formando a unidade.

O leve rociar da brisa num jardim liga-se a uma tormenta no lado oposto da Terra, assim como um pensamento de amor contribui para a sinfonia universal da harmonia cósmica.

Enquanto se estudam as melhores técnicas para deter e evitar-se os danos da devastação dos recursos planetários em extinção, a limitação da emissão de gases que contribuem par o lento aquecimento global, em razão também do envenamento dos rios, das nascentes d’agua, dos mares e dos oceanos, a morte e a ameaça de desaparecimento dos vegetais e animais, que culminará na do ser humano, merece reflexão a tenebrosa condição mental das criaturas humanas que se demoram nos escalabros morais e na crueldade.

As ambições desmedidas que tem conduzido a sociedade à conquista de contínuas tecnologias, sem pensar nos danos ocasionais que também causam à natureza, exultam nos milhares de fragmentos de satélites e de foguetes que se desintegram, e os que escapam do aniquilamento no contato com a atmosfera, atraídos pela gravidade do planeta, constituem na atualidade o terrível lixo espacial decorrente dos grandes engenhos do pensamento desarvorado sem as reflexões indispensáveis...

As providências que atualmente vem sendo tomadas não tem efeito retroativo em relação ao que se encontra em volta da Terra e não é consumido na sua queda natural na superfície do planeta. Imaginou-se ingenuamente que tais fragmentos cairiam sempre nos mares e oceanos, assim mesmo poluindo-os, o que não se pode confirmar, porque tem tombado em organizações urbanas, no campo e em toda parte..

Diante do quadro de sombra individual e coletiva que domina a sociedade morna, a gratidão assume um papel relevante, porque iniciando na emoção superior do reduto doméstico, no próprio indivíduo e por si mesmo, amplia-se na direção dos grupos sociais, considerando sempre tudo quanto a vida tem proporcionado gratuitamente sem nada pedir em volta, exceto que se mantenha o equilíbrio necessário para o prosseguimento do processo de evolução.

Desfrutam-se de mil favores e conquistas enquanto na vilegiatura carnal, sem nenhum sacrifício e sem nenhuma gratulação em torno  do seu significado e das respostas oferecidas.

A gratidão social é a resposta do coração feliz pelas excelentes oportunidades de que se frui durante toda a existência terrena.

Através dessa conduta, atenuam-se as competições malsãs entre os indivíduos e os grupos, as intrigas e as malquerenças, os ódios e os ressentimentos morbosos...

Reflexionando-se em torno do grupo social no qual se moureja, a gratidão enriquece o self que absorve a sombra sem a antagonizar, e a plenitude se instala no ser humano.

Final do texto. O cap 3 continuará na próxima postagem.

Postagem do dia 05/09/20013.  

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