A
gratidão como roteiro de vida
5º Capítulo do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO
Divaldo P. Franco/Joanna de
Ângelis, p.107/111.
TRANSITANDO
POR NÍVEIS DIFERENTES DE discernimento e de lucidez, a conquista da
consciência constitui o grande desafio existencial. Pode-se afirmar, sem
dúvida, que essa conquista pode ser transformada no sentido, no significado que
se deve buscar, proposto por Jung, substituindo a ilusão da felicidade
transitória, fugidia, qual se fosse uma delicada miragem que a realidade dilui
ao contato direto quando se encontra praticamente ao alcance...
Em razão dos diferentes
estágios de consciência fisiológica (comer, dormir, reproduzir-se) ou
psicológica (comer, dormir, reproduzir-se e também pensar e agir com
discernimento e segurança ético-moral), o sentimento de gratidão apresenta-se também
sob a injunção da capacidade de compreender e de sentir o valor da existência terrena.
Em algumas culturas modernas
ainda existe o conceito machista e primário de que a gratidão é um sentimento
feminino, não passando de uma emoção específica da mulher, que não deve ser
cultivada pelo homem.
Nesse contexto, quando um
homem expressa gratidão, dizem, ei-lo em conflito de sexualidade com predominância
da anima no comportamento.
O homem, dentro dessa teoria
ultrapassada, deve caracterizar-se pela força, entenda-se brutalidade, vigor de
sentimentos e quase total ausência das emoções superiores da ternura, da
bondade, da abnegação, sendo o sacrifício mais um gesto estoico e másculo do
que a superior entrega ao ideal, ao sentido de viver.
Em consequência, essa
natural manifestação da emotividade rica de amor é recalcada e desprezada,
gerando culpa inconsciente pela instalação do seu oposto, que é a ingratidão.
Numa linguagem poética, a
flor e o fruto, o lenho e a sombra são a gratidão
da planta à benção da vida.
A linfa generosa e
refrescante é a gratidão da nascente reconhecida ao existir.
O grão que se permite
triturar é a gratidão que nele se
encontra para se transformar em pão e em dádiva de manutenção da vida.
Tudo em a natureza quanto é
belo, nobre, fecundo e estético constitui a sua gratidão por fazer parte do espetáculo da vida.
Porque pensa e sente, o ser
humano é constituído pelas emoções que, na fase primária, são agressivo-defensivas
e, à medida que logra evoluir, transformam-se em reconhecimento e retribuição. Não
se trata de uma devolução equivalente ao que foi recebido, como sendo um
pagamento pelo que se lhe ofereceu, mas uma emanação de alegria, de reconforto,
pelo fruído e conseguido.
Todo crescimento pessoal de
natureza cultural, moral e espiritual deságua inevitavelmente no sentimento de
gratidão, da oferta, da participação no conjunto, tornando-se o indivíduo
igualmente útil e valioso.
A gratidão individual é uma
nota harmônica a contribuir para a sinfonia universal, ampliando-se e
tornando-se um sentimento coletivo que proporciona o equilibro social e
espiritual da humanidade.
Pensa-se muito em gratidão
como instrumento de afeição, o que é correto, no entanto é muito maior o seu
significado que deve transformar-se numa forma de viver-se, de entregar-se ao
processo de crescimento interior, de realização do progresso.
Não basta, porém, desejar-se
a gratidão como flor espontânea que medra em determinados momentos e logo emurchece.
Ela deve ser treinada,
conforme já consideramos anteriormente, exercida como forma de comportamento
externando-se em todas as situações geradoras de alegria e de satisfação.
Normalmente, os portadores
de transtornos de conduta, os psicóticos e todos aqueles que padecem de
psicopatologias fazem-se ingratos, perdem o contato com a realidade dos
sentimentos e volvem ao primarismo egoísta e soberbo das atitudes negativas. É claro
que as enfermidades desse porte, como resultado de problemas no arquipélago das
neurocomunicações, apresentam carência de serotonina, de noradrenalina, de
dopamina, amortecendo-lhes as emoções superiores e castrando as comunicações da
afetividade. Tal ocorrência, no entanto, está atrelada ao estágio evolutivo do
paciente, às suas construções mentais quando esteve saudável, aos mecanismos de
ansiedade e de desconfiança, de fácil irritabilidade e enfado.
O exercício, portanto, da
afeição que se gratula e se expressa de maneira gentil, enriquece a emotividade
superior, empobrece o egoísmo e desenvolve o self que se libera de algumas das imposições do ego, facilitando a comunicação
no eixo entre ambos...
Nem sempre, porém, o indivíduo
sente a gratidão, por motivos variados: infância infeliz, família turbulenta e difícil,
relacionamentos malsucedidos, solidão, complexo de inferioridade ou de
superioridade que embrutecem os sentimentos, desenvolvendo as ferramentas de
autodefesa.
Isso não deve constituir
motivo de preocupação. A simples
constatação de que não se sente gratidão já é uma forma de compreendê-la, de
percebê-la em manifestação inicial. À medida que as emoções se expandem e o interrelacionamento
pessoal faculta a ampliação do convívio com outras pessoas, aparecem os
pródomos do bem-viver, da comunhão fraternal, do desinteresse imediatista em
oposição às condutas doentias, surgindo espontaneamente o reconhecimento de
amor e de ternura à vida e a tudo quanto existe.
Não havendo pessoa alguma
que se possa apresentar como autossuficiente, portanto desvinculada de outrem,
que não necessite do contributo das demais pessoas individualmente assim como
da sociedade em geral, e inevitável que a busca de companhia, o descobrimento
dos valores que existem nos outros, a grandeza moral de que muitos dão mostras
excelentes despertem o sentimento de gratidão como retribuição mínima ao
contexto social no qual se vive.
A psicoterapia da gratidão,
preventiva aos males e curadora de conflitos, está presente em todas as obras
relevantes da humanidade, seja naquelas de natureza filosófica ou religiosa,
seja nos comportamentos dos grandes construtores da sociedade, mártires ou
santos, pensadores ou místicos, legisladores ou profetas... Isso porque ninguém
consegue vincular-se a um ideal de engrandecimento pessoal e humanitário sem
arrastar outros pela emoção do seu exemplo e da sua bondade para as fileiras da
sua trajetória.
O sentimento da gratidão tem
natureza psicológica e de imediato aciona o gatilho, sendo transformada em
emoção e sensação orgânica.
Quando se experimenta o sabor da gratidão, aumenta-se o desejo
de mais servir e melhor contribuir em favor do grupo social em que cada qual se
encontra e da humanidade em geral.
É inevitável, portanto a
presença da gratidão no cerne das vidas humanas. p.111 .
Final do texto, Porém
o cap. 5 continuará na próxima postagem.
Postagem do dia 26/09/2013.
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