quinta-feira, 26 de setembro de 2013


 

A gratidão como roteiro de vida
5º Capítulo do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO
Divaldo P. Franco/Joanna de Ângelis, p.107/111.

TRANSITANDO POR NÍVEIS DIFERENTES DE discernimento e de lucidez, a conquista da consciência constitui o grande desafio existencial. Pode-se afirmar, sem dúvida, que essa conquista pode ser transformada no sentido, no significado que se deve buscar, proposto por Jung, substituindo a ilusão da felicidade transitória, fugidia, qual se fosse uma delicada miragem que a realidade dilui ao contato direto quando se encontra praticamente ao alcance...
Em razão dos diferentes estágios de consciência fisiológica (comer, dormir, reproduzir-se) ou psicológica (comer, dormir, reproduzir-se e também pensar e agir com discernimento e segurança ético-moral), o sentimento de gratidão apresenta-se também sob a injunção da capacidade de compreender e de sentir o valor da existência terrena.
Em algumas culturas modernas ainda existe o conceito machista e primário de que a gratidão é um sentimento feminino, não passando de uma emoção específica da mulher, que não deve ser cultivada pelo homem.
Nesse contexto, quando um homem expressa gratidão, dizem, ei-lo em conflito de sexualidade com predominância da anima  no comportamento.
O homem, dentro dessa teoria ultrapassada, deve caracterizar-se pela força, entenda-se brutalidade, vigor de sentimentos e quase total ausência das emoções superiores da ternura, da bondade, da abnegação, sendo o sacrifício mais um gesto estoico e másculo do que a superior entrega ao ideal, ao sentido de viver.
Em consequência, essa natural manifestação da emotividade rica de amor é recalcada e desprezada, gerando culpa inconsciente pela instalação do seu oposto, que é a ingratidão.
Numa linguagem poética, a flor e o fruto, o lenho e a sombra são a gratidão da planta à benção da vida.
A linfa generosa e refrescante é a gratidão da nascente reconhecida ao existir.
O grão que se permite triturar é a gratidão que nele se encontra para se transformar em pão e em dádiva de manutenção da vida.
Tudo em a natureza quanto é belo, nobre, fecundo e estético constitui a sua gratidão por fazer parte do espetáculo da vida.
Porque pensa e sente, o ser humano é constituído pelas emoções que, na fase primária, são agressivo-defensivas e, à medida que logra evoluir, transformam-se em reconhecimento e retribuição. Não se trata de uma devolução equivalente ao que foi recebido, como sendo um pagamento pelo que se lhe ofereceu, mas uma emanação de alegria, de reconforto, pelo fruído e conseguido.
Todo crescimento pessoal de natureza cultural, moral e espiritual deságua inevitavelmente no sentimento de gratidão, da oferta, da participação no conjunto, tornando-se o indivíduo igualmente útil e valioso.
A gratidão individual é uma nota harmônica a contribuir para a sinfonia universal, ampliando-se e tornando-se um sentimento coletivo que proporciona o equilibro social e espiritual da humanidade.
Pensa-se muito em gratidão como instrumento de afeição, o que é correto, no entanto é muito maior o seu significado que deve transformar-se numa forma de viver-se, de entregar-se ao processo de crescimento interior, de realização do progresso.
Não basta, porém, desejar-se a gratidão como flor espontânea que medra em determinados momentos e logo emurchece.
Ela deve ser treinada, conforme já consideramos anteriormente, exercida como forma de comportamento externando-se em todas as situações geradoras de alegria e de satisfação.
Normalmente, os portadores de transtornos de conduta, os psicóticos e todos aqueles que padecem de psicopatologias fazem-se ingratos, perdem o contato com a realidade dos sentimentos e volvem ao primarismo egoísta e soberbo das atitudes negativas. É claro que as enfermidades desse porte, como resultado de problemas no arquipélago das neurocomunicações, apresentam carência de serotonina, de noradrenalina, de dopamina, amortecendo-lhes as emoções superiores e castrando as comunicações da afetividade. Tal ocorrência, no entanto, está atrelada ao estágio evolutivo do paciente, às suas construções mentais quando esteve saudável, aos mecanismos de ansiedade e de desconfiança, de fácil irritabilidade e enfado.
O exercício, portanto, da afeição que se gratula e se expressa de maneira gentil, enriquece a emotividade superior, empobrece o egoísmo e desenvolve o self que se libera de algumas das imposições do ego, facilitando a comunicação no eixo entre ambos...
Nem sempre, porém, o indivíduo sente a gratidão, por motivos variados: infância infeliz, família turbulenta e difícil, relacionamentos malsucedidos, solidão, complexo de inferioridade ou de superioridade que embrutecem os sentimentos, desenvolvendo as ferramentas de autodefesa.
Isso não deve constituir motivo de preocupação.  A simples constatação de que não se sente gratidão já é uma forma de compreendê-la, de percebê-la em manifestação inicial. À medida que as emoções se expandem e o interrelacionamento pessoal faculta a ampliação do convívio com outras pessoas, aparecem os pródomos do bem-viver, da comunhão fraternal, do desinteresse imediatista em oposição às condutas doentias, surgindo espontaneamente o reconhecimento de amor e de ternura à vida e a tudo quanto existe.
Não havendo pessoa alguma que se possa apresentar como autossuficiente, portanto desvinculada de outrem, que não necessite do contributo das demais pessoas individualmente assim como da sociedade em geral, e inevitável que a busca de companhia, o descobrimento dos valores que existem nos outros, a grandeza moral de que muitos dão mostras excelentes despertem o sentimento de gratidão como retribuição mínima ao contexto social no qual se vive.
A psicoterapia da gratidão, preventiva aos males e curadora de conflitos, está presente em todas as obras relevantes da humanidade, seja naquelas de natureza filosófica ou religiosa, seja nos comportamentos dos grandes construtores da sociedade, mártires ou santos, pensadores ou místicos, legisladores ou profetas... Isso porque ninguém consegue vincular-se a um ideal de engrandecimento pessoal e humanitário sem arrastar outros pela emoção do seu exemplo e da sua bondade para as fileiras da sua trajetória.
O sentimento da gratidão tem natureza psicológica e de imediato aciona o gatilho, sendo transformada em emoção e sensação orgânica.
Quando se experimenta o sabor da gratidão, aumenta-se o desejo de mais servir e melhor contribuir em favor do grupo social em que cada qual se encontra e da humanidade em geral.
É inevitável, portanto a presença da gratidão no cerne das vidas humanas. p.111 .
 Final do texto, Porém o cap. 5 continuará na próxima postagem.

Postagem do dia 26/09/2013.

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