segunda-feira, 24 de março de 2014


TRANSFORMAÇÃO MORAL: UM PROCESSO PSICODINÂMICO

“Importa, porém, caminhar hoje, amanhã e no dia seguinte”. Jesus – Lucas (13:33)

Estimulados pelas palavras de Joanna de Ângelis, buscaremos refletir sobre o processo de transformação moral. Ângelis, no livro, Desperte e Seja Feliz, ensina que quase todos nós, diante dos desafios da vida, adiamos as soluções que exijam profundidade e, dessa forma, damos espaço para novos problemas. Isso porque nos deparamos com o medo de aprofundar o exame das causas que geram as aflições e do medo de enfrenta-las com firme decisão.
Com estas palavras nos colocamos diante do processo de transformação moral, finalidade última do Espírito, da qual lidamos há tanto tempo e com a qual nos debatemos inúmeras vezes sem termos clareza do caminho a seguir. Porém, segundo a benfeitora, o não enfrentamento em profundidade é capaz de abrir espaço para novos problemas ou, quem sabe, dificultar a caminhada que poderia ser mais saudável e tranquila.
Moral é algo pertencente ao domínio do espírito do homem. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define: “que segue princípios socialmente aceitos; que denota bons costumes, boa conduta, segundo os preceitos socialmente estabelecidos pela sociedade ou por determinado grupo social” (HOUAISS. 2001, verbete).
A partir da questão 629 de O Livro dos Espíritos, Kardec (2009), entende-se que moral é a regra de bem proceder, distinguindo o bem do mal, fundamentada na observância das leis de Deus; e, transformação moral pode ser entendida como o processo de modificação interior para que o homem encontre-se cada vez mais próximo e de acordo com essas leis.
Ao final de O Livro dos Espíritos, na conclusão, o autor formaliza a proposta da doutrina para transformação moral da Humanidade:
Por meio do Espiritismo a Humanidade deve entrar numa nova fase, a do progresso moral, que é sua consequência inevitável. (...) O desenvolvimento dessas ideias apresenta três períodos distintos: primeiro o da curiosidade, provocada pela singularidade que os fenômenos produzem; segundo o do raciocínio e da filosofia; terceiro o da aplicação e das consequências. O período da curiosidade já passou, pois dura pouco tempo e, uma vez satisfeita, muda de objeto. O mesmo não acontece com o que se dirige ao pensamento sério e o raciocínio. O segundo período já começou e o terceiro o seguirá inevitavelmente (KARDEC, 2009, pp.325-326).
Este processo da aplicação e das consequências é bastante interessante, pois quando mal compreendido pode gerar conflitos existenciais ainda maiores. Por exemplo, a maioria de nós, espíritas, já leu o item “O homem de bem”, no capítulo XVII de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Nele, Kardec (2006) faz menção a inúmeros comportamentos considerados adequados à nossa evolução e o convite à pureza espiritual para a qual fomos criados. Não é um texto complexo, muito pelo contrário, é acessível  a qualquer leitor e de fácil compreensão. Então, nos questionamos, por que não vivemos  definitivamente aquilo que sabemos? Por que não nos tornamos aquilo que almejamos?
Neste ponto se encontra a parte delicada da nossa reflexão, justamente quando desejamos ser algo que percebemos não ser. Almejamos uma conduta que não temos. Idealizamos um comportamento que ainda não é uma conquista. Perante esta dificuldade, ou perante a visão da impossibilidade de atender nosso desejo, quando identificamos estas possíveis inadequações interiores, corremos o grave risco de tentarmos fugir de nós mesmos, sem nos aprofundarmos no que realmente somos e, conforme ensinou Joanna, criamos outros problemas, construindo verdadeiros obstáculos à transformação moral.
Texto escrito por Marlon Reikdal, no livro REFLETINDO A ALMA. Postado no dia 24/03/2014.

 

 

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