HERANÇAS
AFLIGENTES
Os
atavismos com raízes no processo antropossociopsicológico continuam no ser
humano com a força dos velhos hábitos, com o predomínio dos instintos agressivo-defensivos,
impedindo algumas aspirações nobres e dificultando a vivência das atitudes
novas, caracterizadas pela razão, pelo sentimento, pelo ideal de servir e
dignificar a sociedade. Entre esses atavismos pode-se destacar aquele que se
refere à ingratidão, em primarismo do comportamento, que, estagiando ainda na
fase do egocentrismo, não se valoriza a contribuição das outras pessoas, crendo-se
merecedor de todos os serviços, sem obrigação retributiva ou, pelo menos, do respeito devido ao outro.
A
sombra é o arquétipo dominador da conduta nessa fase da evolução psicológica do
ser humano.
O predomínio
do instinto de conservação da vida modela o caráter humano com tamanha força
que sempre coloca o indivíduo em atitude defensiva, armando-o contra tudo e contra todos, mesmo quando
alguém se propõe a auxiliar.
Existe
uma falsa impressão de que as outras pessoas são exploradoras, interesseiras,
incapazes de sentir um afeto sincero, trazendo uma atitude, disfarçada ou não
de tirar proveito de todos os esforços empregados. Mesmo que os fatos mostrem o
contrário, existe uma insegurança afetiva muito forte nesse indivíduo, que
considera os demais de acordo com os seus próprios padrões de conduta, incapaz
segundo se sente de ser útil, de auxiliar sem recolher os frutos imediatos desse
procedimento.
Conforme
acontece o desenvolvimento do self e
diminui o predomínio do ego, que passa a compreender melhor a finalidade da vida
terrestre, amplia-lhe a capacidade de sentir amizade, de corresponder as
expectativas, de contribuir pelo bem-estar alheio, que sempre traz satisfação
pessoal, embora esse não seja o objetivo imediato.
O certo
é que qualquer atitude dignificante que abrange o grupo social inicialmente beneficia aquele que a pratica.
Da
mesma forma, sempre que se coloca obstáculo no processo de crescimento da
sociedade, sofre a sua compressão inevitável, aprisionando-se nas paredes
sombrias da prepotência.
Motivado
por esses diferentes estágios evolutivos, surgiram os dominadores dos outros,
os ditadores impiedosos, as classes poderosas consequente do status econômico, os presunçosos que se
acreditam superiores, iludidos pelo conceito da raça ou etnia em que renasceram
no corpo, da astúcia herdeira que é do instinto felino e não efeito da
inteligência ...
Allan
Kardec, analisa com clareza, esse comportamento no livro Obras póstumas, no capítulo “As aristocracias”, estudando os vários
níveis ou alternativas da humanidade, com relação ao espiritismo, que traz
recursos surpreendentes da iluminação,
portanto da perfeita integração do eixo ego-self como indispensável para a
harmonia pessoal, o reconhecimento amoroso à vida por tudo quanto possui e
frui, a infinita gratidão pela honra da existência terrena.
Para
o codificador a verdadeira aristocracia, é aquela de natureza intelecto-moral,
na qual a inteligência e o sentimento unem-se, abrindo espaço à sabedoria, à
libertação das paixões primárias, à superação das heranças negativas e dos
atavismos perturbadores.
O
velho conceito de aristocrata, pelo sangue, pelos títulos nobiliárquicos conquistados
por meios nem sempre dignificantes, que caracterizaram o passado da sociedade, propiciando
os privilégios dos desmandos da mesma forma o sórdido direito divino dos reis, como se não fossem formados pela mesma
argamassa em que transitam os camponeses e o poviléu, detestados pelos iludidos
terrestres, encontra-se em decadência total.
Vamos
encontrá-los em todas as épocas da História, desde as lamentáveis classes
sociais da Índia, no passado, e talvez no presente, embora não legais, mais
sempre infelizmente morais, aos faraós egípcios... e mesmo os chefes tribais,
nem sempre valorosos e dignos para exercerem o mandato de comando do grupo étnico
ou do país sob seu governo.
Também,
por outro lado as religiões, aproveitaram-se das circunstâncias e criaram as
suas aristocracias privilegiadas pelo poder temporal em nome da fé que deve
estar acima das questões da vaidade humana...
Na
interpretação dos ensinamentos religiosos de todas as nuances, os indivíduos incumbidos
das chamadas responsabilidades pelo rebanho fazem uma adaptação da mensagem,
dela retirando a essência superior e apresentando as suas paixões que as transferem
para Deus. Através desse mecanismo de temor submetem os crédulos a sua vontade,
dominando-os e mantendo os menos evoluídos a continuarem na revolta ou no
egoísmo.
Se apresentassem
a grandeza do amor que revestem todas as
doutrinas religiosas, conseguiriam libertar com mais facilidade aqueles que se
encontram aprisionados no primarismo, levando-os aos elevados patamares da
iluminação.
Jesus
convocou a todos com os mesmos direitos e os mesmos deveres, oferecendo
oportunidade de trabalho e de evolução aos diferentes seguimentos sociais, respeitoso com relação aos poderosos do seu
tempo, que o buscavam, assim como à ralé, à qual preferia por motivos óbvios da
sua missão iluminativa e libertadora.
O
inevitável progresso moral vem diminuindo aquele perverso comportamento,
anulando o poder das classes dominadoras por circunstancias adversas e
ancestrais, abrindo espaço para os direitos humanos, ampliando as
possibilidades de igualdade entre todas as pessoas, pouco importando as posses,
a hereditariedade, e sim valorizando as suas qualidades de inteligência e de
sentimento, as suas conquistas morais que os destacam no cenário humano.
Motivado
pelo processo evolutivo que é inevitável, essas heranças abriram espaço às
outras, às nobres que as sucederam e que, no momento próprio, passarão a ressurgir
com a força ética da solidariedade e do amor entre todos os seres, incluindo a
natureza.
Apesar
desse fenômeno irreprimível que é o progresso, muitos indivíduos tentam
resistir aos seus comandos, escolhendo o lamentável estado de infelizes, causado
pela sombra que os subordina aos caprichos da inferioridade.
Porém
a Divindade, tem mecanismos que impõe favoravelmente ao desenvolvimento das
faculdades morais do ser, através das expiações nas quais expurgam os miasmas
que os asfixiam na inferioridade, sem que percam as conquistas preciosas das
experiências vivenciadas.
Desse
modo, o processo de crescimento em relação à própria plenitude é inadiável e
dele ninguém foge, por fazer parte dos instrumentos universais do amor divino.
Serão
sinais de demonstração da sua presença, quando surgirem os primeiros choros de
compaixão e de ternura, de amizade desinteressada e o desejo de retribuição,
pelo menos de parte daquilo que amealha. A solidariedade é, com essa
compreensão, a maneira de expressar a alegria de viver e de desenvolver os
relacionamentos que constroem os sentimentos ou os despertam quando se
encontram adormecidos.
A gratidão é a
impressão digital do desenvolvimento intelecto-moral do Espírito, que se
liberta das heranças afligentes.
Texto
trabalhado do livro, Psicologia da
Gratidão, escrito por Divaldo Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Postado,
05/03/2014.
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