quinta-feira, 6 de março de 2014


 

Sair de Si-mesmo 

Para que o si-mesmo se expresse com segurança, especialmente na parábola em análise, (Parábola do Filho Pródigo, já referida em texto anterior. Sugiro leitura dos mesmos, para melhor compreensão do texto) é necessário a integração da persona com a sombra. 

Para Jung a persona e a sombra são classicamente opostos, estando no ego a expressar-se, numa visão total da psique, como polaridades. 

Diz respeito a uma aceitação consciente do si-mesmo, compreendendo o seu lado sombra e as suas dificuldades de lidar com ele. É necessário considerar-se os acontecimentos negativos e perturbadores naturais, mas sem os constrangimentos nem a vergonha das manifestações pessoais consideradas  perversas, demoníacas. 

Como esse lado não está de acordo com a persona, a aparência que se mantém, surgem os problemas interiores, os conflitos que devem ser evitados, tendo-se em vista que esse aparente mal, desde que não prejudique a ninguém, é também responsável por muitos acontecimentos bons, por momentos de bem-estar e de alegria.  

Estar-se aberto para as várias manifestações da vida, sem repugnância pelo lado mal, pela exteriorização do­ eu-demônio, principalmente, sem violência nem conflito, o eu-angélico, proporciona uma pré-individuação, porque é nessa luta de opositores que surge uma terceira coisa, que é a conquista do estado numinoso. 

Normalmente os conteúdos da sombra são contestados pela persona (o irmão mais novo e o irmão mais velho da parábola em estudo), que também podem encontrar-se no mesmo indivíduo, quando este sofre a repulsa de si mesmo e o desejo de elevar-se, ocorrendo inevitáveis conflitos de comportamento. 

Jung traz um novo símbolo que sempre trará algo de ambos, o esforço para integrar aqueles conteúdos, com uma diferente e renovada compreensão de mundo consequente da transformação do ego. 

O filho mais moço da parábola sentia que o seu irmão mais velho não o aceitaria e, mesmo com essa percepção antecipada, movimentou-se para o retorno, porque naquele momento a sua visão qualitativa do mundo era diferente,  valorizando o lado bom do mesmo e considerando o seu esforço de arrependimento voltando para casa. 

Quando se foi para o país longínquo, estava buscando o si-mesmo, embora saindo; quando retornou, descobriu-se caindo em si-mesmo. 

Muitas das atividades humanas e psicológicas são o resultado dessa saída sem a perspectiva, pelo menos racional, da volta, o que se transforma numa atitude de definição e de responsabilidade pelo que possa acontecer no futuro. 

Conforme a persona se fortalece, ampliando a capacidade de compreensão e de identificação, torna-se maleável, submete-se às necessárias mudanças, conseguindo integrar com a sombra, fundindo assim os dois eus. 

Mas há indivíduos com tamanha carga de energia da sombra que não conseguem  aceitar os seus erros pela persona, tornando-se uma questão patológica necessitando de terapia especializada. 

Essa conduta de rejeição resulta dos instintos ainda dominantes na psique, herança poderosa da natureza animal do ser em relação à sua natureza espiritual, à sua origem no Uno. 

As vivencias reencarnatórias elegendo em uma etapa os valores intelectuais, em outra os de natureza moral, em vários momentos o desenvolvimento das tendências artísticas e culturais, os trabalhos científicos e filosóficos, as místicas religiosas com as suas cargas simbólicas e mitológicas, havendo gerado o peso dos conflitos, a descoberta do bem e do mal, a perda do paraíso, possibilitam o predomínio de um arquétipo sobre o outro. Em um período mais primitivo da evolução, é a sombra, mais tarde é a presença marcante da persona, em diferentes oportunidades o anima-us, por muito tempo o ego até o momento da estruturação complexa do Self, na sua amplitude que se estende além dos limites do individuo. 

O Pai amoroso também saiu de si mesmo para receber o filho perdido e o acolheu no coração, que jamais deixara de o amar, pois que nunca o expulsara dos seus sentimentos, quando constatou que o outro filho, o mais velho, se recusava a entrar em casa e que fora tomado pela revolta, e pela ira, filhas diletas da sombra, novamente saiu de si-mesmo e foi em sua busca, por constatar que estava perdido também, necessitando de ser encontrado.

Inúmeras vezes no processo da evolução do Espírito, torna-se necessário, sair de si-mesmo, para atingir a meta a que se propõe, porque existem situações difíceis que envolve conflitos psicológicos, que necessitam da presença do ser divino que se possui no imo.
Muitas vezes, Jesus assim o fez, pois que Ele veio para as ovelhas desgarradas, sacrificou a Sua vida para resgatá-las da perdição, confundiu-se com a sombra individual de cada qual e a coletiva de Israel, de Jerusalém assassina, que matava os profetas, a fim de manter a sua corrupção, aguardando um vingador para esmagar aqueles que lhe dominavam o povo, olvidando-se que a pior escravatura é a que procede dos instintos, dos arquétipos inferiores do Self em formação e desenvolvimento.
Sair de si-mesmo é fruir por antecipação o retorno que se dará com a conquista realizada, quanto sucedeu com Jesus, crucificado, mas livre, indesejado, no entanto, triunfante, porque conseguira atingir o estágio mais alto da psique: a vitória sobre os impositivos existenciais, embora já fosse perfeito como o Pai Celestial é perfeito.
Considerando as parábolas da esperança, da consolação, dos júbilos, dos perdidos, pode-se ver Jesus como Filho Pródigo do Amor.
Afastou-se do Reino com os Seus inestimáveis bens e veio ao terreno país longínquo, para desperdiçar os Seus tesouros com as meretrizes e ladrões, os de má vida, que se Lhe tornaram más companhias, sem permitir-se contaminar com as suas misérias. Por serem inúmeros os necessitados Ele doou tudo o que tinha e, logo percebeu, que se abatera sobre o país a fome de amor e de misericórdia, de compaixão e de solidariedade, resolvendo-se por entregar-se in totum, a partir do importante Sermão da montanha...
Apesar dessa doação máxima de amor, foi desprezado pelos habitantes soberbos e ingratos desse país, os prepotentes e dominadores, ficando com a ralé, simbolicamente representando os suínos, como era quase considerada, não aceita e espezinhada, escolhendo a cruz do sacrifício de afeto nunca ocorrido na Terra, regressando sim, mas, rico de bênçãos, ao Pai misericordioso, que o recebeu em júbilo, permitindo que Ele ficasse ainda, por mais tempo, num e noutro lugar, acenando com a imortalidade gloriosa.
No estado numinoso, Ele tentou dissipar a sombra individual, que aguarda pelo esforço do Self de cada qual, começando, então, esse processo de unificação com a persona através dos dois milênios, a partir do momento em que se inicie a terapia psicotrópica da renovação interior, favorecendo aos neurocomunicadores com a produção de monoaminas que restauram a saúde psicológica e a moral pela  vivencia dos Suas incomparáveis propostas psicoterapêuticas.
Herdeiro de si mesmo, o ser humano é um somatório das suas experiências, que desenvolvem os valores para a sua própria evolução. O que lhe é desafio em uma etapa desse crescimento, em outra já lhe parece mais acessível, favorecendo ao surgimento dos arquétipos muito bem estudados pelo excelente mestre de Zurique, Carl Gustav Jung.
Entende-se que a predominância da sombra ou do anima-us em indivíduos biologicamente portadores de polaridades orgânicas opostas, resultam das experiências malsucedidas e que, repetidas, lhes favorecem com a oportunidade de ajustamento, de integração moral, como acontece com a persona na construção do Self iluminado, livre das pesadas cargas dos conflitos do passado.
Compreende-se que a conquista da saúde integral é, um desafio que se encontra diante de cada qual, dependendo do seu esforço enfrenta-la desde logo ou retardá-la, para quando complicada e perturbadora.
Graças às conquistas da medicina nos vários setores, e das doutrinas psicológicas com a contribuição do Espiritismo, trazendo a sua importante contribuição psicoterapêutica preventivo e curador, o ser humano de hoje já dispõe de ricos instrumentos para a conquista da felicidade mesmo na Terra, embora o Reino não seja deste mundo, nele iniciando-se e continuando pelo infinito dos tempos e dos espaços.
A Parábola do Filho pródigo, a da dracma e a da ovelha perdida são valiosas lições de autodescobrimento para aquele que aspira identificar a finalidade da viagem terrestre, o significado real da caminhada carnal, conseguindo superar o vazio existencial com objetivos dinâmicos e seguros para a sua completude emocional e espiritual.
Recuperando as perdas, envolve-se em conquistas de elevado significado para a sua imortalidade, em que, desde ontem, se encontra mergulhado.
Cabe-lhe, como consequência, vigiar as subpersonalidades comprometidas com a sombra, manifestações dela originadas, conservando o bom humor e evitando as suas alterações, que abrem espaço para a interferência dos Espíritos inferiores que abundam em toda parte, dando origem a alucinações e ressentimentos, condutores de doenças de várias ordens, produzindo infelicidade e desarmonia.
Sair de si-mesmo, de forma objetiva, na busca de ajudar àqueles que se encontram na retaguarda, é a imagem do Pai misericordioso recebendo o Filho pródigo de volta a casa...
Assim, compreende-se que, a reencarnação tem importância incalculável, que não pode nem deve ser desconsiderada, nem retardadas as oportunidades de crescimento interior.
Provindos no ontem, o Espírito expressa-se com o patrimônio conquistado, construindo o futuro que lhe é reservado. O seu esforço na conquista do estado numinoso devem ser-lhe meta essencial na luta a que se dedica.
Essa conquista independe de qualquer postura paranormal, anímica ou mediúnica, valendo pelo autoconhecimento e as transformações emocionais para melhor que possa conseguir.
A sua saúde psicológica e física, psíquica e moral, vai depender principalmente dessa dedicação, dessa compreensão da finalidade do corpo que o torna capaz para a plena libertação dos arquétipos tormentosos que ainda o faz escravo.
Uma vez ou outra sentirá impulso para sair da casa paterna e o fará, desde que, de forma sábia, aplicando os valores que lhe são concedidos no crescimento interno, onde quer que se encontre, investindo na possibilidade de retornar em situação saudável, sem o desgaste nem a miséria assinalados no fracasso do Filho pródigo .
Fracasso, porém, que o Pai misericordioso transformou em lição de desenvolvimento moral, não lhe oferecendo a posição de servo ou escravo, mas de filho que era, pois, perante Deus não existem filhos perdidos cujos atos sejam irreparáveis.
Dessa forma, a evolução do ser, sua felicidade e harmonia dependem apenas dele mesmo, podendo contar com a misericórdia e a bonança do amor sempre responsável pela concessão da plenitude.
Quando os indivíduos perceberem as vantagens do amor a si mesmo, de início, ao  próximo como consequência, e, por fim, a Deus, tudo lhe será modificado durante a caminhada orgânica, pois esse movimento incontrolável e irresistível superior o elevará ao estágio de individuação.
Trabalho elaborado com base no livro Em Busca da Verdade, escrito por Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Postado em 06-03-2014.

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