sábado, 29 de março de 2014


A NEUROSE COLETIVA
Afirma-se frequentemente que a nova geração está desequilibrada, como se os sofrimentos que a afligem se originassem nela mesma. Não percebem os que pensam dessa forma que não há efeito sem causa, que os transtornos  presentes na juventude atual de certa forma caracterizaram as gerações do passado que, por sua vez, implantaram novos ideais e comportamentos nos conceitos tradicionais do período em que viveram, causando choque na tradição vigente...
Além disso, as heranças transmitidas por leviandade e desamor dos mais velhos; a despreocupação com a família, que vem, desde há algumas décadas, sendo deixada a plano secundário no grupamento social; os comportamentos egoístas dos cidadãos; o consumismo desenfreado; a busca constante pelos prazeres insaciáveis; a indiferença pelo próximo contribuíram fortemente com o atual estado de alienação coletiva presente principalmente nos jovens destituídos de discernimento e de maturidade emocional.
Os esportes, que deveriam representar conquistas psicológicas, para catarses emocionais, espairecimentos, renovação de energias, afirmação de valores em relação aos melhores transformaram-se em campo de batalha , quando as torcidas fanáticas e radicais agridem-se mutuamente, depredam, matam e se matam.
Ressuscitam-se com essa conduta as arenas romanas, onde o prazer era sanguinário e as vítimas sacrificadas inspiravam zombarias em prejuízo do significado de humanidade...
Nesse clima de desordem psíquica e emocional, essas chamadas torcidas organizadas marcam pela internet o lugar para os enfrentamentos, como acontecia nos campos de batalha do passado, assassinando, enquanto a sociedade perplexa contempla as cenas hediondas e a elas vai-se acostumando.
O terror assume proporções nunca imaginadas.
É comum os jovens matarem pelo prazer de fazer algo diferente, para experimentarem emoções fortes, e mais tarde buscam anestesiar a culpa nas drogas, entrando em profunda depressão, mais matando para adquirir novas quotas para a manutenção do vício e matando-se aos poucos ou de uma vez, em desespero suicida.
O índice de suicídios nos países civilizados é alto, porque a cultura é materialista, vivendo no inconformismo, e o prazer é o único motivo do significado existencial. Como  consequência, as taxas de delinquência juvenil em toda parte é grande e continuam crescendo.
Dessa forma encontra-se, instalada a neurose coletiva e destrutiva.
A divulgação infeliz dos dramas e tragédias do cotidiano, pelos veículos de comunicação, ao invés de apresentar propostas salvadoras, terapias preventivas e curadoras, estimula indiretamente os comportamentos frágeis a se tornarem heróis, a se destacarem pela mídia, a desafiarem a cultura, e a ética, crendo no falso martírio que se origina na covardia moral e na destruição psicológica em que se encontram.
As almas dos jovens encontram-se ansiosas e desorientadas, seguindo estranhos caminhos por falta de equilibrado roteiro para o encontro com a segurança interior. A educação no lar e a formal, nas instituições que se lhe dedicam, encontram-se também sem estrutura por serem, aqueles que a propõem, estúrdios e desestruturados, ensinando teoria e vivenciando os desequilíbrios em que se tornam exemplos vivos, que são copiados.
Divulgam com exagero a necessidade de autorrealização e de autoidentificação através de processos estranhos e mórbidos que lhes chamam a atenção e os igualam nas tribos em que se escondem.
A questão é muito grave e pede cuidados especiais de todos: pais, educadores, governantes, religiosos, sociólogos, psicólogos, pessoas sensatas que devem se unir, para combater o inimigo comum: a falta de sentido existencial que se estabeleceu na sociedade.
Para viver com dignidade é preciso um objetivo,  um sentido ético que se transforma em meta a ser conquistada.
Se for a busca da felicidade nos padrões do consumismo ou do prazer, fruto do imediatismo, logo vem a decepção e a falta de motivação para novos empreendimentos.
É indispensável, despertar em todos a necessidade da autotranscedência, da superação das exigências do ego em sombra para o significado do self imperecível.
Essa autotranscedência deve ser sugerida habilmente, não imposta, despertada em todas as mentes como o caminho para a harmonia interior, para a existência adquirir sentido de gratidão, de correspondência com os demais, de significados libertadores.
É muito comum as pessoas perguntarem pelo  significado das suas existências, por estarem tão acostumadas nas múltiplas gerações que lhes foram imposto o mesmo.
No passado, as religiões dominantes estabeleciam que o primeiro filho deveria pertencer às armas, a fim de salvar o Estado, o segundo pertenceria a Deus, servindo à religião e entregando-se-lhe totalmente mesmo sem  vocação nem desejo. Com relação a filha acontecia o mesmo, deveria servir a Deus, educar-se em serviços domésticos, o direito ao conhecimento lhe era negado, como à cultura, porque era tida como inferior, sem alma, sem discernimento...
O absurdo imposto ressurgiu como hipocrisia,  com uma postura convencional, que a sociedade aceitava, e o desvario oculto, criminoso muitas vezes, a que os indivíduos se entregavam, como forma de sobrevivência à asfixia imposta pela neurose religiosa.
As aberrações e extravagancias eram praticadas, mas não consideradas crime nem censura, desde que não fossem divulgadas...
É natural que esse atavismo ressurja do inconsciente coletivo e pessoal e imponha ao indivíduo a necessidade de que alguém lhe diga qual o sentido da sua vida. Mesmo quando buscam certas psicoterapias, descuidadamente alguns profissionais passam a ser gurus, respondendo pelas vidas e comportamentos dos seus pacientes, tentando eliminar-lhes as preocupações, e assim mantê-los na ignorância, na dependência doentia, na aflição aparentando bem-estar...
A importância psicoterapêutica aparece quando começa a libertar o paciente do pensamento do seu orientador, encontrando-se com a sua realidade e descobrindo-se, e descobrindo as possibilidades de realização pessoal e de objetivos essenciais para o bem-estar.
Vem faltando honestidade e sinceridade intelectual nos formadores de opinião, nos educadores, nos psicoterapeutas também problematizados, reservando-se às exceções normais à conduta saudável.
Deve ser instituída uma nova visão da vida através de processos psicoterapêuticos sadios, libertadores da neurose coletiva, trabalhando o indivíduo e depois o grupo social, para tornar possível a conquista do significado existencial.
Texto trabalhado com base no livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO, escrito por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Postado dia 30/03/2014

Nenhum comentário: