CONVIVER
E SER
Reconhecidamente o Evangelho
de Lucas tem uma beleza especial, tornando-o um dos mais belos livros jamais escrito.
Quando Jesus subia para
Jerusalém, narrou 19 parábolas, que tornou-se um dos mais belos e atuais
estudos do comportamento humano pela nobreza de consciência e deveres para o
próximo.
É O Evangelho da misericórdia e da compaixão.
Misericórdia
e compaixão termos desafiadores da equação existencial
humana. Misericórdia, mais que piedade,
alegria no júbilo do outro, satisfação ante a vitória do lutador e tudo que se
puder fazer, que seja feito com paixão,
com um devotamento maior cheio de bondade e de ternura...
O capítulo XV, conta as três
parábolas dos perdidos, uma análise
das necessidades emocionais do ser frente aos acontecimentos do dia a dia, dos fracassos
aparentes e das perdas, que devem trazer coragem e busca, nunca recuo nem
desistência.
...E Ele contou, porque, importunado
pela hipocrisia farisaica dos seus obstinados inimigos, que O acusavam de
conviver com os miseráveis: meretrizes, ébrios, poviléu, doentes e excluídos, restando por única alternativa,
tentar despertar as suas consciências adormecidas para o bem e para a solidariedade.
Falsamente chamado de beberrão e comilão, porque se alimentava
com os infelizes, nunca se justificou, porque não tinha sombra, era numinoso. Porém
percebia ser necessário transmitir-lhes o tesouro terapêutico da misericórdia, com
o objetivo de fazê-los entender que eles também tinham fome de luz e de amor, debatendo-se nos
conflitos horríveis nos quais se escondiam.
Preferiam desconhecer que
Ele é a luz do mundo e, assim como o
Sol que oscula a corola da flor sem perfumar-se, como também a terra alagada
apodrecida sem macular-se, pairava acima das misérias humanas, erguendo os caídos
e evitando que descessem a abismos mais profundos, aqueles que se lhes
encontravam à borda...
Os seus acusadores preocupavam-se,
em conservar os hábitos e a tradição exteriores, trazendo o mundo íntimo em
trevas, vigiando os outros, descarregando
as culpas e mesquinhezes naqueles que invejavam porque não eram capazes de se parecer
ou de pelo menos deles se aproximarem moralmente...
Registrando-lhes os
pensamentos hostis e despeitados, escutando-lhes as acusações, o Homem
Integral, sensibilizou-se da sua negligência e, expôs a Sua tese, com perguntas
sábias e respostas adequadas: Qual de vós
é o homem que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as
noventa e nove no deserto, e não vai em busca da que se havia perdido até
achá-la? Quando a tiver achado, põe-na cheio de júbilo sobre os seus ombros e,
chegando a casa, reúne os seus amigos e vizinhos e diz-lhes: Regozijai-vos
comigo, porque achei a minha ovelha que se havia perdido. Digo-vos que assim
haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa
e nove justos, que não necessitam de arrependimento. E prosseguiu
intimorato e intemerato: Qual a mulher
que, tendo dez dracmas e perdendo uma, não acende a candeia, não varre a casa e
não a procura diligentemente até acha-la? Quando a tiver achado, reúne as suas
amigas e vizinhas, dizendo: Regozijai-vos comigo, porque achei a dracma que eu
tinha perdido. Assim, digo-vos, há júbilo na presença dos anjos de Deus por um
pecador que se arrepende. (versículos 4 a 10)
As profundas parábolas dos perdidos e achados são o prólogo da
extraordinária narrativa do Pai que tinha
dois filhos...
Nas três narrativas, o inconsciente coletivo libera muitos
arquétipos ocultos que se tornam presentes, de maneira clara, como acompanhamos
no texto, quando o homem e a mulher são apresentados, respeitando o anima-us, para servir de base ao estudo
psicológico do ser humano que, apesar da diferença de sexo, as emoções são
equivalentes, as aspirações são as mesmas, as ansiedades e alegrias são
características do seu comportamento.
A saúde, a paz de espírito,
o equilíbrio emocional e psicológico, a harmonia doméstica, a confiança, a
alegria de viver podem ser considerados ovelhas
e dracmas importantes que todos buscam
e lutam por conservar. Nada obstante, as circunstancias do transito carnal, muitas
vezes, criam situações difíceis e perdem-se alguns desses valores ou, ao menos,
um deles, essencial à vitória e ao bem-estar. È sábio aquele que, não
considerando os outros tesouros, vai em busca do que foi perdido, lutando com obstinação
até encontrá-lo e, ao tê-lo novamente, quanto júbilo o invade, Surge-lhe a satisfação imensa, o querer
dizer a todos: amigos, vizinhos e conhecidos a alegria de que se encontra
tomado pela recuperação do que havia perdido e voltou a fazer parte da sua vida.
Todos os indivíduos trazem
no inconsciente individual a sua criança ferida,
magoada, que lhe dificulta a caminhada de segurança na busca da paz
interior, da saúde e da vitória sobre as dificuldades.
Essa criança ferida é o ser humano perdido no deserto, ou na casa, que
necessita ser varrida, para retirar as camadas de ressentimentos que dificultam
a claridade da razão, do discernimento.
Através da reflexão e da
psicoterapia equilibrada, a criança
ferida, libera o adulto prisioneiro que não consegue se desenvolver e
ocorre uma integração entre a sombra e
o ego, proporcionando alegrias
inenarráveis ao Self, que aspira à
perfeita junção das duas fissuras da psique.
Jesus conhecia essa
ocorrência, identificava os opositores internos, e por isso trabalhava com as
melhores ferramentas da bondade e da compaixão, que Lhe constituíam recursos
psicoterapêuticos para oferecer à massa dos sofredores e, ao mesmo tempo, aos
adversários soezes que O não conseguiam perturbar.
As três parábolas da esperança, que são os tesouros arquetípicos
existentes no inconsciente de todos os indivíduos, têm urgência de serem
vencidas, seja num mergulho de reflexão em torno da existência de cada qual, ou
através da observação dos acontecimentos naturais do dia-a-dia, trabalhando os
conflitos que decorrem das perdas para que sirvam de alicerces para as resistências
na busca do encontro.
Em todos os tempos a
sociedade é e foi constituída por pessoas como aquelas as quais Jesus deu
prioridade, comendo e bebendo com eles, isto é, sentando-se à mesa da
fraternidade, alimentando-se sem alarde e sem preocupações exteriores das
observações israelitas, demonstrando sua preocupação maior com o interior, com
a psique, do que com o exterior, o ego, a aparência dissimuladora.
O numero de transtornados
psicologicamente é muito grande, causado pela preservação da criança ferida em cada um, dos complexos
narcisistas e de inferioridade, do egoísmo e da presunção que não permitem ao
indivíduo autorrealizar-se. Sempre preocupado
com o que não tem, o que ainda não conseguiu, afligindo-se pela imaginação atormentada, fora
da realidade objetiva, perdendo-se...
O encontro somente ocorrerá quando se resolver por
autopenetrar-se, por buscar identificar a raiz do drama conflitivo e
encorajar-se a lutar pela libertação, regozijando-se
com cada encontro, cada
realização dignificante.
Quem teme o avanço e somente
vê a estrada, torna-se impossibilitado de conquistar espaços e alcançar o cume
da montanha dos problemas desafiadores. Passo a passo, etapa a etapa, vão
ficando para trás os marcos das vitórias, pequenas umas, significativas outras,
facilitando a integração da sua na Consciência Cósmica sem perder a sua
individualidade.
Trabalho elaborado com base
no livro, EM BUSCA DA VERDADE,
autoria de Divaldo Franco/Joanna de Angelis. Postado dia 16/03/2014.
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