domingo, 16 de março de 2014


CONVIVER E SER

Reconhecidamente o Evangelho de Lucas tem uma beleza especial, tornando-o um dos mais belos livros jamais escrito.

Quando Jesus subia para Jerusalém, narrou 19 parábolas, que tornou-se um dos mais belos e atuais estudos do comportamento humano pela nobreza de consciência e deveres para o próximo.

É O Evangelho da misericórdia e da compaixão.

Misericórdia e compaixão termos desafiadores da equação existencial humana. Misericórdia,  mais que piedade, alegria no júbilo do outro, satisfação ante a vitória do lutador e tudo que se puder fazer, que seja feito com paixão, com um devotamento maior cheio de bondade e de ternura...

O capítulo XV, conta as três parábolas dos perdidos, uma análise das necessidades emocionais do ser frente aos acontecimentos do dia a dia, dos fracassos aparentes e das perdas, que devem trazer coragem e busca, nunca recuo nem desistência.

...E Ele contou, porque, importunado pela hipocrisia farisaica dos seus obstinados inimigos, que O acusavam de conviver com os miseráveis: meretrizes, ébrios, poviléu, doentes e excluídos, restando por única alternativa,  tentar despertar as suas consciências  adormecidas para o bem e para a solidariedade.

Falsamente chamado de beberrão e comilão, porque se alimentava com os infelizes, nunca se justificou, porque não tinha sombra, era numinoso. Porém percebia ser necessário transmitir-lhes o tesouro terapêutico da misericórdia, com o objetivo de fazê-los entender que eles também tinham fome de luz e de amor, debatendo-se nos conflitos horríveis nos quais se escondiam.

Preferiam desconhecer que Ele é a luz do mundo e, assim como o Sol que oscula a corola da flor sem perfumar-se, como também a terra alagada apodrecida sem macular-se, pairava acima das misérias humanas, erguendo os caídos e evitando que descessem a abismos mais profundos, aqueles que se lhes encontravam à borda...

Os seus acusadores preocupavam-se, em conservar os hábitos e a tradição exteriores, trazendo o mundo íntimo em trevas,  vigiando os outros, descarregando as culpas e mesquinhezes naqueles que invejavam porque não eram capazes de se parecer ou de pelo menos deles se aproximarem moralmente...

Registrando-lhes os pensamentos hostis e despeitados, escutando-lhes as acusações, o Homem Integral, sensibilizou-se da sua negligência e, expôs a Sua tese, com perguntas sábias e respostas adequadas: Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai em busca da que se havia perdido até achá-la? Quando a tiver achado, põe-na cheio de júbilo sobre os seus ombros e, chegando a casa, reúne os seus amigos e vizinhos e diz-lhes: Regozijai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se havia perdido. Digo-vos que assim haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos, que não necessitam de arrependimento. E prosseguiu intimorato e intemerato: Qual a mulher que, tendo dez dracmas e perdendo uma, não acende a candeia, não varre a casa e não a procura diligentemente até acha-la? Quando a tiver achado, reúne as suas amigas e vizinhas, dizendo: Regozijai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha perdido. Assim, digo-vos, há júbilo na presença dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende. (versículos 4 a 10)

As profundas parábolas dos perdidos e achados são o prólogo da extraordinária narrativa do Pai que tinha dois filhos...

Nas três narrativas, o inconsciente coletivo libera muitos arquétipos ocultos que se tornam presentes, de maneira clara, como acompanhamos no texto, quando o homem e a mulher são apresentados, respeitando o anima-us, para servir de base ao estudo psicológico do ser humano que, apesar da diferença de sexo, as emoções são equivalentes, as aspirações são as mesmas, as ansiedades e alegrias são características do seu comportamento.

A saúde, a paz de espírito, o equilíbrio emocional e psicológico, a harmonia doméstica, a confiança, a alegria de viver podem ser considerados ovelhas e dracmas importantes que todos buscam e lutam por conservar. Nada obstante, as circunstancias do transito carnal, muitas vezes, criam situações difíceis e perdem-se alguns desses valores ou, ao menos, um deles, essencial à vitória e ao bem-estar. È sábio aquele que, não considerando os outros tesouros, vai em  busca do que foi perdido, lutando com obstinação até encontrá-lo e, ao tê-lo novamente, quanto júbilo  o invade, Surge-lhe a satisfação imensa, o querer dizer a todos: amigos, vizinhos e conhecidos a alegria de que se encontra tomado pela recuperação do que havia perdido e voltou a fazer parte da sua vida.

Todos os indivíduos trazem no  inconsciente individual a sua criança ferida, magoada, que lhe dificulta a caminhada de segurança na busca da paz interior, da saúde e da vitória sobre as dificuldades.

Essa criança ferida é o ser humano perdido no deserto, ou na casa, que necessita ser varrida, para retirar as camadas de ressentimentos que dificultam a claridade da razão, do discernimento.

Através da reflexão e da psicoterapia equilibrada, a criança ferida, libera o adulto prisioneiro que não consegue se desenvolver e ocorre uma integração entre a sombra e o ego, proporcionando alegrias inenarráveis ao Self, que aspira à perfeita junção das duas fissuras da psique.

Jesus conhecia essa ocorrência, identificava os opositores internos, e por isso trabalhava com as melhores ferramentas da bondade e da compaixão, que Lhe constituíam recursos psicoterapêuticos para oferecer à massa dos sofredores e, ao mesmo tempo, aos adversários soezes que O não conseguiam perturbar.

As três parábolas da esperança, que são os tesouros arquetípicos existentes no inconsciente de todos os indivíduos, têm urgência de serem vencidas, seja num mergulho de reflexão em torno da existência de cada qual, ou através da observação dos acontecimentos naturais do dia-a-dia, trabalhando os conflitos que decorrem das perdas  para que sirvam de alicerces para as resistências na busca do encontro.

Em todos os tempos a sociedade é e foi constituída por pessoas como aquelas as quais Jesus deu prioridade, comendo e bebendo com eles, isto é, sentando-se à mesa da fraternidade, alimentando-se sem alarde e sem preocupações exteriores das observações israelitas, demonstrando sua preocupação maior com o interior, com a psique, do que com o exterior, o ego, a aparência dissimuladora.

O numero de transtornados psicologicamente é muito grande, causado pela preservação da criança ferida em cada um, dos complexos narcisistas e de inferioridade, do egoísmo e da presunção que não permitem ao indivíduo  autorrealizar-se. Sempre preocupado com o que não tem, o que ainda não conseguiu,  afligindo-se pela imaginação atormentada, fora da realidade objetiva, perdendo-se...

O encontro somente ocorrerá quando se resolver por autopenetrar-se, por buscar identificar a raiz do drama conflitivo e encorajar-se a lutar pela libertação, regozijando-se com cada encontro, cada realização dignificante.

Quem teme o avanço e somente vê a estrada, torna-se impossibilitado de conquistar espaços e alcançar o cume da montanha dos problemas desafiadores. Passo a passo, etapa a etapa, vão ficando para trás os marcos das vitórias, pequenas umas, significativas outras, facilitando a integração da sua na Consciência Cósmica sem perder a sua individualidade.

Trabalho elaborado com base no livro, EM BUSCA DA VERDADE, autoria de Divaldo Franco/Joanna de Angelis. Postado dia 16/03/2014.

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