quinta-feira, 27 de março de 2014


O DESEJO DE ADEQUAÇÃO MORAL 

A busca pela modificação para melhor não é nenhuma novidade, muito menos exclusiva dos espíritas. Desde sempre se busca o progresso, pois que é lei divina, ínsita em todo ser humano.
Em seus estudos sobre histeria, conforme já citados no capítulo sobre psicanálise, Freud tratou pacientes que viviam em busca de atender a esta  moralidade e que por isso mesmo adoeciam. Mas o extraordinário é que Freud identificou que o verdadeiro problema e o motivo pelo qual as pessoas adoeciam não era pelo fato de buscarem uma transformação, mas a forma como buscavam esta transformação.
Diante de um ideal socialmente construído, em algumas situações da vida, o homem é movido pela vontade imatura, de modificar algo em si, seja um desejo, um pensamento, uma emoção, uma atitude ou sentimento que reflita inadequação. Este conflito entre o que é vivido e o que é idealizado foi sabiamente identificado por Freud e o direcionou para a compreensão do funcionamento do inconsciente.

Para os psicanalistas o elemento simbólico que representa a relação entre o consciente e  inconsciente é um iceberg. As imensas pedras de gelo mostram acima da superfície apenas uma pequena parte(estimada em cinco a dez por cento) de tudo que são. Os outros noventa por cento, ou seja, a maior parte encontra-se submersa. Freud correlacionou a consciência com a parte superficial do iceberg que se encontra à mostra, e o inconsciente a toda grandiosidade submersa, e que verdadeiramente dirige o iceberg no contato com a correnteza.

Jung dará uma dimensão ainda maior a essa relação entre consciente e inconsciente, sendo comparada a imensidão do inconsciente onde flutua uma pequena rolha – a consciência. Entretanto para o autor da Psicologia analítica, o conceito de psique será ampliado para além da dupla consciente-inconsciente, fazendo analogia a uma cebola com diferentes camadas, como esferas concêntricas num todo complexo. (Este estudo do psiquismo humano extrapola a dimensão pessoal e foi trabalhado por Jung em inúmeras obras, das quais ressaltamos “Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo”. Por constituir uma teoria tão ampla e com tantos fatores subjetivos e objetivos, em determinado momento de seus estudos Jung prefere denominar a sua teoria de Psicologia complexa ao invés de analítica.)
Estas imagens que os teóricos da psique utilizam são apenas para facilitar a visualização de um esquema que tenta mapear o funcionamento psíquico, porém é fundamental lembrar que estamos nos reportando a um sistema imaterial, energético, dinâmico e em constante interação.
Existe um número imenso de teorias e possibilidades de explicar o psiquismo humano, no entanto com Freud chega-se a Jung que se constitui a principal fundamentação teórica da qual o espírito Joanna de Ângelis se utiliza para explicar o funcionamento humano, dentro da perspectiva da Psicologia Espírita.
Com este conhecimento é possível estabelecer o princípio de analise da transformação moral. A partir do conceito de inconsciente pode-se entender que não há como eliminar uma imperfeição com um ato de supressão. O máximo que se pode conseguir é retirar do consciente, ou seja, das vistas do ego, mas não será efetivamente uma transformação. Além dos conteúdos represados no inconsciente, percebe-se que o próprio inconsciente movimenta-se em função de fazer-se conhecido, como um impulso de conscientização necessário para a evolução humana.

Freud ensina que existem duas formas de o ego tentar se “defender” daquilo que não atende o seu ideal e precisa ser trabalhado na análise: a repressão e a resistência. A repressão consiste no movimento de retirada de algo da consciência em direção ao inconsciente. ( São de dois tipos os conteúdos a que Freud se refere: os conteúdos que foram reprimidos e encontram-se no inconsciente; e os conteúdos que desde o nosso nascimento sempre estiveram inconscientes, como instintos, desejos, medos complexos, etc. de qualquer forma os movimentos são considerados tentativas de defesa, pois objetivam diminuir os efeitos reais e os sofrimentos da respectiva conscientização.)
Esses dois movimentos abriram espaços para o entendimento dos mecanismos e defesa de o ego como forma de o ego se proteger das investidas do inconsciente.
O estudo dos mecanismos de defesa ganhou volume na obra psicanalítica com os estudos de Anna Freud: 

Quando repudia as reivindicações do instinto, sua primeira tarefa deve ser a de chegar a termos com esses afetos. Amor, nostalgia, ciúme, mortificação, dor e pesar acompanham os desejos sexuais, ódio, cólera e furor nos impulsos de agressão (...) estes afetos devem submeter-se a todas as várias medidas a que o ego recorre, em seus esforços para dominá-los. (FREUD, 1977,p.27) 

Por isso dissemos que os mecanismos de defesa estão diretamente ligados ao processo de transformação moral, afinal, quando o ego se defende de um conteúdo ele está apenas escondendo ou fingindo para si mesmo que é diferente, mas não se transformando, ou seja, está gerando um problema ainda maior.
Texto escrito por Marlon Reikdal, no livro REFLETINDO A ALMA, publicado dia 26/03/2014

   

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