O
DESEJO DE ADEQUAÇÃO MORAL
A busca pela modificação para
melhor não é nenhuma novidade, muito menos exclusiva dos espíritas. Desde sempre
se busca o progresso, pois que é lei divina, ínsita em todo ser humano.
Em seus estudos sobre
histeria, conforme já citados no capítulo sobre psicanálise, Freud tratou
pacientes que viviam em busca de atender a esta moralidade e que por isso
mesmo adoeciam. Mas o extraordinário é que Freud identificou que o verdadeiro
problema e o motivo pelo qual as pessoas adoeciam não era pelo fato de buscarem
uma transformação, mas a forma como buscavam esta transformação.
Diante de um ideal socialmente
construído, em algumas situações da vida, o homem é movido pela vontade
imatura, de modificar algo em si, seja um desejo, um pensamento, uma emoção,
uma atitude ou sentimento que reflita inadequação. Este conflito entre o que é
vivido e o que é idealizado foi sabiamente identificado por Freud e o
direcionou para a compreensão do funcionamento do inconsciente.
Para os psicanalistas o
elemento simbólico que representa a relação entre o consciente e inconsciente é um iceberg. As imensas pedras de gelo mostram acima da superfície
apenas uma pequena parte(estimada em cinco a dez por cento) de tudo que são. Os
outros noventa por cento, ou seja, a maior parte encontra-se submersa. Freud correlacionou
a consciência com a parte superficial do iceberg
que se encontra à mostra, e o inconsciente a toda grandiosidade submersa, e
que verdadeiramente dirige o iceberg no
contato com a correnteza.
Jung dará uma dimensão ainda
maior a essa relação entre consciente e inconsciente, sendo comparada a
imensidão do inconsciente onde flutua uma pequena rolha – a consciência. Entretanto
para o autor da Psicologia analítica, o conceito de psique será ampliado para
além da dupla consciente-inconsciente, fazendo analogia a uma cebola com
diferentes camadas, como esferas concêntricas num todo complexo. (Este estudo
do psiquismo humano extrapola a dimensão pessoal e foi trabalhado por Jung em inúmeras
obras, das quais ressaltamos “Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo”. Por constituir
uma teoria tão ampla e com tantos fatores subjetivos e objetivos, em
determinado momento de seus estudos Jung prefere denominar a sua teoria de
Psicologia complexa ao invés de analítica.)
Estas imagens que os
teóricos da psique utilizam são apenas para facilitar a visualização de um
esquema que tenta mapear o funcionamento psíquico, porém é fundamental lembrar
que estamos nos reportando a um sistema imaterial, energético, dinâmico e em
constante interação.
Existe um número imenso de
teorias e possibilidades de explicar o psiquismo humano, no entanto com Freud
chega-se a Jung que se constitui a principal fundamentação teórica da qual o
espírito Joanna de Ângelis se utiliza para explicar o funcionamento humano,
dentro da perspectiva da Psicologia Espírita.
Com este conhecimento é possível
estabelecer o princípio de analise da transformação moral. A partir do conceito
de inconsciente pode-se entender que não há como eliminar uma imperfeição com
um ato de supressão. O máximo que se pode conseguir é retirar do consciente, ou
seja, das vistas do ego, mas não será efetivamente uma transformação. Além dos
conteúdos represados no inconsciente, percebe-se que o próprio inconsciente movimenta-se
em função de fazer-se conhecido, como um impulso de conscientização necessário para
a evolução humana.
Freud ensina que existem
duas formas de o ego tentar se “defender” daquilo que não atende o seu ideal e
precisa ser trabalhado na análise: a repressão e a resistência. A repressão
consiste no movimento de retirada de algo da consciência em direção ao
inconsciente. ( São de dois tipos os conteúdos a que Freud se refere: os conteúdos
que foram reprimidos e encontram-se no inconsciente; e os conteúdos que desde o
nosso nascimento sempre estiveram inconscientes, como instintos, desejos, medos
complexos, etc. de qualquer forma os movimentos são considerados tentativas de
defesa, pois objetivam diminuir os efeitos reais e os sofrimentos da respectiva
conscientização.)
Esses dois movimentos
abriram espaços para o entendimento dos mecanismos
e defesa de o ego como forma de o ego se proteger das investidas do
inconsciente.
O estudo dos mecanismos de
defesa ganhou volume na obra psicanalítica com os estudos de Anna Freud:
Quando
repudia as reivindicações do instinto, sua primeira tarefa deve ser a de chegar
a termos com esses afetos. Amor, nostalgia, ciúme, mortificação, dor e pesar
acompanham os desejos sexuais, ódio, cólera e furor nos impulsos de agressão
(...) estes afetos devem submeter-se a todas as várias medidas a que o ego
recorre, em seus esforços para dominá-los. (FREUD, 1977,p.27)
Por isso dissemos que os
mecanismos de defesa estão diretamente ligados ao processo de transformação
moral, afinal, quando o ego se defende de um conteúdo ele está apenas
escondendo ou fingindo para si mesmo que é diferente, mas não se transformando,
ou seja, está gerando um problema ainda maior.
Texto escrito por Marlon
Reikdal, no livro REFLETINDO A ALMA,
publicado dia 26/03/2014
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