segunda-feira, 24 de março de 2014


O SER HUMANO EM CRISE EXISTENCIAL 

As conquistas nos vários campos do conhecimento e do pensamento contemporâneo trouxeram inúmeras bênçãos para a vida em todas as expressões na Terra. 
Os avanços da sociologia, por exemplo, ampliaram os espaços da fraternidade, dos direitos humanos,  não respeitados ainda como foram propostos, demonstrando a excelência da comunhão espiritual entre as criaturas.  

Infelizmente, as duas grandes guerras que marcaram o sec.XX, cujos efeitos a sociedade ainda vivencia, permitiram demonstrações de primitivismo e de atraso moral das criaturas humanas, que parecem ter regredido em alguns segmentos aos primeiros períodos da evolução, pela crueldade que as caracterizou.
Um dos momentos aflitivos foi o da explosão atômica sobre a cidade de Hiroshima, no Japão, no dia 6 de agosto de 1945, delimitando a fronteira do passado em relação ao presente-futuro, com o surgimento do período pós-industrial ou pós-moderno, conforme conceitos registrados especialmente por Émile Durkheim, o filósofo francês da educação. 

Essa fase, cada vez mais perturbadora nas mentes e nos comportamentos, é a responsável pela perda emocional de grande valor, que vem reduzindo o ser humano à condição robô. 

De um lado, a evolução da ciência e da tecnologia, e do outro, o isolamento em relação ao grupo social, as mudanças drásticas a respeito da vida e do seu significado, diante dos mentirosos padrões elegidos como ideais para o bem-estar e a felicidade. 

A contribuição virtual facilitou a comunicação, a tomada de conhecimento de ocorrências on line, no mesmo momento em que vem acontecendo em toda a Terra, ao tempo que os disparates e estímulos à violência, ao ódio, ao racismo, ao crime, ao suicídio, às mudanças de conduta, perturba e domina internautas descuidados ou menos resistentes moralmente.
 
Relações amorosas suspeitas estabelecem-se, dando espaços à fantasia e à ilusão, com a consequência de lares e de vidas que se fragilizam através de personalidades psicopatas, sem sentimento de elevação, que utiliza o recurso para esconder-se, dando vazão às paixões insignificantes... 

O culto do corpo e do prazer, o desvio das funções sexuais, a mentirosa vitória nas telinhas com os seus quinze minutos de fama,  enlouquecem a juventude ansiosa e sem rumo, que busca o mais fácil através da venda ignóbil da inocência, antecipando as experiências humanas dolorosas na juventude, quando ainda não tem robustez para os enfrentamentos, destruindo-lhes as esperanças de forma insensível... 

O tempo rápido, pela necessidade de a tudo participar, de estar a par dos acontecimentos, asfixiando a liberdade de pensamento e de movimento, atinge tormentosa ansiedade e frustração dolorosa, empurrando para o abismo da depressão ou da revolta as suas vítimas desarmadas. 

A falta de comunicação verbal e escrita, de contato humano sem suspeita nem deslumbramento, propiciando relacionamentos saudáveis, leva as pessoas para interesses egóicos sem participação no convívio com os demais, como fruto espúrio dessa pós-modernidade doentia e sem significado psicológico. 

Corpos belos trabalhados por excesso de musculação, sarados e interiormente vazios de aspirações e de significado, abrem espaço a condutas extravagantes, que elevam à glória equivocada e derrubam com rapidez   os que foram arrastados pelas fantasias dos seus seguidores. 

Com algumas exceções, vive-se o período em que  a sociedade encontra-se enlouquecida, buscando coisa nenhuma, em razão da transitoriedade das conquistas e do imediato vazio  existencial, que envelhecem e envilecem rapidamente os seus adeptos apaixonados e embriagados no licor dos sentidos físicos... 

As mudanças de humor contínuas e o afastamento dos compromissos éticos, que dão sentido à vida, caracterizam esta fase de incertezas.
 
O ser humano encontra-se em crise existencial. 

A não identificação entre o ego e o Self produz a falta de clareza e de discernimento a respeito do existir e de como proceder, abrindo espaço à dominação da sombra ignorada em todos os comportamentos. 

Cresce assim, o número de infelizes e de infelicitadores com a sua patologia maldisfarçada.

Esta experiência individual e coletiva, é indispensável ao amadurecimento e à evolução do ser humano que se apartou de si mesmo, buscando fora a alegria que somente se encontra nele próprio. Ninguém pode proporcionar felicidade e bem-estar reais, porque essas emoções não dependem de situações externas, embora muitos acreditem ao contrário. São sensações que se expressão como emoções e logo abrem espaço aos transtornos, às frustrações e amarguras quando o objeto ou pessoa propiciadora do prazer altera a sua conduta ou se desinteressa em continuar no que agora lhe é  tedioso. 

Contribuindo de maneira habilmente proposital, a mídia cria ídolos e devora-os, a cada instante, exaltando o crime e os criminosos que se lhe tornam manchete contínua, exaurindo os clientes, especialmente através da televisão, nas repetições exorbitantes das cenas de horror, nos julgamentos arbitrários daqueles aos quais atribui a responsabilidade pela desgraça, no estímulo à justiça pelas próprias mãos, encorajando psicopatas adormecidos a se tornarem famosos pela utilização dos hórridos espetáculos exibidos... 

O despudor agressivo que arrebata as multidões, especialmente acompanhando as cenas de deboche nos aplaudidos programas de degradação humana, para a conquista da fama pela imoralidade e do dinheiro pela perda da dignidade, favorece o surgimento de múmias morais, que são os seres sem emoção nem sensibilidade que a tudo se submetem para alcançar as metas estimuladas pelo mercado do sexo e da drogadição... 

Naturalmente encontram-se inúmeros trabalhos de elevação moral e dignificação da criatura humana, ainda insuficientes, no entanto, para conduzir a grande massa ao caminho do discernimento e da saúde real. 

São esses nobres exemplos de fidelidade ao dever e de continuidade da ação edificante que contribuem para equilibrar a balança moral do planeta humano, com os braços distendidos para o socorro aos tombados, para minimização do desespero dos fracassados, para a solidariedade junto aos abandonados pelo triunfo mentiroso. 

Eles comprovam que o ser humano está destinado à ascensão e que o estágio inferior em que se compraz é passageiro por mais que dure, trazendo-lhe a experiência vivencial para a construção da sua individuação. 

A conquista dessa individuação é como um parto. Todos os partos doem mesmo os chamados sem dor... Portanto, as dores íntimas e as faltas consideradas importantes, mas sem valor real, são o período de gestação para o parto da plenitude. 

Inevitavelmente, o ser humano traz o mito do significado e ainda que incapaz de o identificar, chega o momento em que a nuvem anestesiante do prazer desaparece ante o sol da realidade, ei-lo impulsionando para o avanço interno, a compreensão da mensagem do viver e do crescer psicologicamente. 

Texto trabalhado com base no livro, EM BUSCA DA VERDADE, escrita por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângeles. Postado em 24/03/2014.

Nenhum comentário: