sábado, 22 de março de 2014


SENTIMENTOS DE MÁGOA  E DE DESENCANTO
Há no ser humano, um sentimento perverso e de autodestruição que o faz guardar mágoas e desencantos, como se fossem objetos importantes ao desenvolvimento existencial.
Essa é uma conduta masoquista, em que o individuo se transfere psicologicamente da alegria de ser para a satisfação de sofrer, assumindo uma atitude de vítima. Não conseguindo, por debilidade de valores morais, superar as situações menos felizes, acomoda-se na postura de sofredor, buscando sempre compaixão, quando deveria lutar para despertar o nobre sentimento do amor.
Numa longa existência é fácil perceber-se que as mágoas e os desencantos, porque muito comentados, tornam-se aparentemente mais numerosos do que os momentos de risos, de felicidade, de harmonia, de aspirações belas e generosas...
Muitas vezes vê-se que as pessoas preferem a afirmação de não amadas do que a condição de pessoas amorosas.
Queixa-se uma criatura de nunca ter sido feliz, apesar de haver casado, ter sido mãe... Se lhe falar que foi amada, talvez antes do casamento, e que também amou, mesmo depois, quando começaram as dificuldades, provavelmente fugirá para a bengala psicológica, perguntando:
- Mas do que adiantou, se logo vieram as decepções e chegaram às mágoas?
Falando-lhe da felicidade de ter sido mãe, até sob o ponto de vista fisiológico, que trouxe-lhe momentos de alegria e prazer, logo recorrerá ao falso mecanismo defensivo:
- Deus sabe quanto são ingratos e indiferentes esses filhos...
Nessa conduta doentia, somente foram anotadas as angústias e frustrações, talvez proporcionadas por ela mesma.
Assim, o sentido existencial foi transformado em contínuo sofrimento, por causa do predomínio do ego em todos os fenômenos da jornada.
O sofrimento desempenha um papel fundamental em todas as vidas, porque ninguém está isento da sua presença,  motivado pela transitoriedade da organização fisiológica.
Porém o sofrimento, pode ser visto sob dois pontos de vista: pelo ego marcado por complexos inferiores e pelo self idealista. O primeiro somente registrará desencanto e dor, porque os valoriza, sem a compreensão de que esse fenômeno é normal e está presente na estrutura orgânica de todas as formas vivas, o segundo vai procurar extrair os melhores efeitos da reflexão durante a sua vigência, o significado moral, os recursos aplicados para superá-lo ou sofre-lo sem  o halo do martírio, da projeção do ego renitente e doentio.
Não precisa ser religioso para esse comportamento, porque é também logoterapêutica, por trazer sentido existencial ao ser humano.
Muitas propostas filosóficas e psicológicas  tem raízes nos princípios religiosos mais antigos, que exerceram o papel dessas doutrinas antes que elas fossem formuladas. Com o crescimento intelectual e tecnológico foram-se desdobrando, como  por exemplo, o que aconteceu com a psiquiatria que se ampliou na psicologia e esta se ampliou em diversas escolas de comportamento, de terapia, de estruturação da psique e da personalidade.
Por essa razão, a denominação da psicologia como doutrina nova, resultante de elaboração recente, enganam-se, porque os seus postulados modernos encontram-se baseados nas antigas religiões do passado como nos postulados da filosofia e das crenças populares de todos os tempos.
O ser humano é o enigma dele mesmo e, para melhor entendê-lo, sempre houve empenho afim de interpretá-lo.
Foram os filósofos os primeiros a tentar, quando se  depararam com o fenômeno da morte e procuraram compreendê-lo, para melhor decifrar os conflitos e os temores que se lhe instalavam.
Os chamados mortos sempre se preocuparam também em desmistificar  o pavor, demonstrando a continuação da vida em outras condições vibratórias. A partir desse interesse, surgiram as primeiras comunicações entre encarnados e desencarnados, que não percebiam a importância dos eventos que se lhes aconteciam na intimidade das cavernas primitivas onde se escondiam dos perigos... O medo foi-lhes a primeira reação emocional diante do incomum. Para expulsar esses inesperados visitantes, que os assustavam, imaginaram as práticas exorcistas, através do que a sua imaginação e sensibilidade acreditavam ter poder mágico para os livrar daqueles que  desapareceram pelo fenômeno da  morte e, mesmo assim, retornavam. Nasceram, então, nessa fase, os cultos religiosos, alguns temíveis, conforme o estágio antropológico em que se encontravam, sutilizando-se com o tempo até quando foi possível a concepção dos recursos imateriais, de alto significado emocional, como a oração, a prática do bem, o sentimento de fraternidade aplicado em relação a todos, a ação nobre da caridade...
   Apesar dessa formosa conquista psicológica, os       atavismos perturbadores sempre ressumam no processo da evolução, sendo necessário que os compreendam e os combatam, pelo  esforço da autoconfiança, da autoresponsabilidade, da autoiluminação.
A mágoa corrói os mecanismos eletrônicos do cérebro que passa a sofrer-lhe as ondas sucessivas de energia destrutiva, dando lugar a conexões distônicas no conjunto das reflexões e do comportamento, influenciando os sistemas nervosos simpático e parassimpático, ao lado de outros distúrbios. Resumindo o ressentimento, é ferrugem nas engrenagens da alma, que sempre necessitam do lubrificante da confiança e da alegria de viver, trazendo bem-estar e alegria pessoal.
Todo indivíduo lutador, atento ao cumprimento dos deveres, com o tempo mental repleto de ideias edificantes e de preocupações positivas, dispõe de um arsenal de recursos para enfrentar as incompreensões que encontra pelo caminho. Ninguém passa pela Terra em caminhos sempre floridos e, ainda quando existem muitas rosas, também existem muitos espinhos que tem a finalidade especial de protege-las.
Querer uma existência física sempre risonha e fácil constitui imaturidade psicológica, estado de infância não vivida, que foi transferida para a idade adulta, porque em tudo e em todo lugar o processo de crescimento é como um permanente parto que proporciona vida, mas que  também traz um quantum de dor.
Todos que atingiram as culminâncias do equilíbrio emocional e espiritual passaram por regiões pantanosas de natureza moral entre amigos, correligionários e adversários, sem deixar-se permanecer nos redutos venenosos. Também  venceram muitos desertos e experimentaram solidão e quase ficaram desamparados. Mas, como se mantiveram com o pensamento colocado na vitória e não apenas no caminho que deveriam percorrer, alcançaram os patamares róseos do sentido existencial, da vida plena, sem qualquer ressentimento, porque perceberam que a alegria sempre esteve presente no período áspero de esforço e de sacrifício.
Compreenderam que a semente que quer ser árvore deve arrebentar-se para alcançar o destino que lhe está reservado. E, ao fazê-lo, enche-se de vitalidade e mobiliza-se, crescendo e tornando-se bela, até explodir em flores e frutos, sementes e lenho a que se encontra destinada.
Dessa forma também é o ser humano, que necessita experienciar as transformações naturais que o arrancam do estágio de criança maltratada para a maturidade de adulto realizado.
Nesse processo está embutida a gratidão à vida e à oportunidade de ser pleno.
Trabalho elaborado com base no livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO, escrito por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Postado dia, 22/03/2014.

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