sexta-feira, 21 de março de 2014


SER-SE INTEGRALMENTE 

A DICOTOMIA PSICOLÓGICA DO TER-SE E DO SER-SE constitui grave questão no comportamento individual e social da Humanidade. 

Educa-se a criança, para ter, para triunfar na vida e não sobre a vida com as suas dificuldades, mas para possuir e gozar. 

Como felizmente, a vida não se constitui apenas das sensações, mas especialmente das emoções, e o ser é mais psicológico do que fisiológico, mesmo sem o saber, é natural que esse conflito esteja presente em todos os instantes nas reflexões, nas ambições, nas programações existenciais. 

Como consequência dessa falsa concepção tem-se uma visão neurótica do mundo e de Deus, que teriam como função precípua e exclusiva atender aos desejos e caprichos do ser humano, tirando dele a faculdade de pensar e de agir, como alguém numa viagem fantástica por um país utópico, que seria, o planeta terrestre. 

Quando algo incita à luta pelo crescimento intelecto-moral, pelo desenvolvimento espiritual, a conduta neurótica espera que tudo lhe seja resolvido a passe de mágica, pelo fenômeno absurdo da crença religiosa, como um milagre, por exemplo, ou uma concessão especial, que lhe constitua privilégio, como se fosse um ser excepcional...Como todos assim pensam, resulta que o conceito em torno desse deus apaixonado e antropomórfico, que é transferência inconsciente da imagem do pai que foi superada durante o desenvolvimento orgânico e mental, sofrem o impacto da descrença, da decepção, da amargura, que dão lugar a conflitos perturbadores. 

Se a educação infantil se preocupasse em preparar a criança para tornar-se um ser integral, sem fraccionamentos, utilizando-se de todos os preciosos recursos de que é constituída, à medida que evoluísse não experimentaria os sofrimentos das frustrações vindas das lutas pelo ter e pelo poder. 

Ao mesmo tempo, o conceito de Deus inerente e transcendente a tudo e a todos, como a força inicial e básica de todo Universo, evitaria a transferência do conceito paterno, mantendo-lhe, não obstante, a aceitação da Causalidade absoluta. 

O Si-mesmo com facilidade identificaria os objetivos reais da existência, evoluindo com os processos orgânicos e psíquicos, sem apequenar-se diante das necessidades que se apresentam durante o crescimento espiritual.

Esse programa educativo evitaria a criança interior ferida pela negligencia ou superproteção dos pais, facultando-lhe um desenvolvimento de acordo com o nível de evolução em que se encontra cada Espírito.

O conceito de culpa seria examinado sem castrações, demonstrando que é normal a sua presença, resultado inevitável do cair em si  após comportamentos irregulares, aceitando-a e libertando-a por intermédio da reabilitação, do processo de recomposição dos danos que foram causados pela presunção ou pela ignorância.

Uma vida saudável estrutura-se no ser e não naquilo que se tem e com frequência muda de mãos.

O ter e o poder transformam-se em algozes do indivíduo, porque se transferem do estado de posse para o de possuidores, escravizando-o na forte rede do egoísmo e dos interesses subalternos. Produzem conceitos falsos nos relacionamentos humanos, porque dão a impressão de que não são amados, sendo que, todos aqueles que se aproximam estão mais interessados nos seus recursos do que naqueles que lhes é detentor. De certo modo, infelizmente assim acontece na maioria dos casos, havendo exceções respeitáveis.

O indivíduo não é o que tem nem o que pensa administrar, mas sim os seus valores espirituais, a sua capacidade de amar, os tesouros inalienáveis da bondade, da compaixão, do sentido existencial.

Diante da ilusão a respeito da perenidade da vida material, os apegos às posses levam aos conflitos, à insegurança, às suspeitas, às vezes, sem fundamento, porque são efêmeros e o que proporcionam é de rápida duração. Sai-se de uma experiência dominadora para outra mais escravista, tendo os interesses fixados no ego e nos fenômenos dele decorrentes, como a ambição de mais ter e de mais poder, responsáveis pela prepotência, pela arrogância, que são seus filhos espúrios, e não da luta para  alcançar a realidade interna.

Quando existe uma real preocupação pelo autoconhecimento, interpretando os acontecimentos normais como necessários ao processo da evolução, a saúde integral passa a fazer parte do calendário emocional daquele que assim age.

Esse processo traz o impositivo da ligação com a alma, ou seja, uma constante vigilância com o ser profundo, o ser espiritual que se é e não pela aparência de que se veste para a caminhada terrestre.

No passado, e ainda hoje as religiões tradicionalistas, criaram e continuam criando cultos e cerimônias externas que se responsabilizam por  manter visualmente o vinculo, estabelecendo dogmas em torno delas, responsáveis pelo temor e pela submissão. Sendo positiva a proposta, perde o seu significado e torna-se perturbadora pela imposição sacramental e rigorosa, de caráter compensatório ou punitivo. No caso das compensações, abre espaço para uma sintonia falsa, ligada ao interesse dos benefícios vindos com a prática exterior, o que impede a ligação interna, profunda, significativa. Com relação às punições, compromete o adepto que se preocupa mais com a forma do que com o conteúdo, e aqueles que são sinceros, tornam-se tementes ao invés de conscientes a respeito dos resultados psicológicos da identificação com o Si-mesmo. Uma analise descomprometida com o formalismo religioso ou com as denominações estabelecidas na área da fé, permite que, na Bíblia, esse notável manancial de inspiração e sabedoria, separado o trigo do joio, encontrem contribuições importantes para a interpretação de conflitos e orientações necessárias ao bem-estar, em aforismos e lições de grande beleza, nos seus arquétipos e mitos muito bem-estabelecidos, que podem ser interpretados e integrados ao eixo ego-Self.

Com esses ensinamentos é possível através da reflexão voltar-se para o mundo interior, encontrar-se a residência da alma, conviver-se com as suas necessidades não perturbadoras.

Nesse cometimento, o amor desempenha papel determinante porque somente através dele se podem alcançar os painéis da alma, que dele necessita para expandir-se, atingindo a sua finalidade evolutiva.

Através desse esforço contínuo, redescobrindo-se a criança interior saudável, que inspira ternura e amizade, sem malícia nem ideias preconcebidas, consegue-se um estado interno de harmonia, porque a não presença de suspeitas e de insegurança propicia o bem-estar responsável pela felicidade.

A criança tem uma confiança no adulto que ultrapassa os limites da razão. Tudo o que esse lhe promete ou lhe faz marca-lhe fortemente na personalidade em formação, o caráter em desenvolvimento, e por não ter incertezas, entrega-se totalmente, deixando-se conduzir.
 
Alguém afirmou com beleza rara, que diante de uma criança sempre se encontrava diante de um deus...

Sabe-se que o Espírito em si mesmo, não é criança, mas a forma, a indumentária que o reveste, favorecendo-lhe o esquecimento do ontem e ensejando-lhe a ingenuidade do hoje para a sabedoria do futuro, proporciona essa ternura e afeição que a todos comove.

Tudo quanto, se instala na infância, permanece durante por toda a existência.

Quando ocorreu um dos terremotos que abalam periodicamente a Turquia, houve o desabamento de uma escola infantil onde se encontravam dezenas de crianças.

Foram tomadas todas as providencias no sentido de resgata-las com vida. Após dias de trabalho exaustivo, os especialistas concluíram que, diante do tempo transcorrido, mesmo que se chegasse até elas, seria tarde demais, porque todas estariam inevitavelmente mortas.

Um pai, escavando, pedindo ajuda, dizendo que sabia que seu filho e outros haviam resistido e se encontravam vivos.

Não havendo mais esperança, e os trabalhadores já cansados começaram a desistir, menos o pai.

Depois de grandes esforços, abaixo do desmoronamento, havia uma brecha, e logo se  percebeu que algumas crianças estavam sob vigas que se sustentaram umas sobre as outras, permitindo-lhes espaço para respirar e viver.

O genitor aflito chamou pelo filhinho, que lhe respondeu: - Eu tinha certeza que você viria papai.

Em seguida, estimulou todas as crianças a serem retiradas, ficando o filho em ultimo lugar, porque sabia que o seu pai não desistiria enquanto não o libertasse.

O pai costumava dizer-lhe que confiasse sempre no seu amor e nunca temesse qualquer dificuldade, porque ele ali estaria onde quer que fosse para o proteger e amparar.

Tal confiança, a criança transferiu aos amiguinhos, conseguindo sobreviver pela certeza, sem sombra de dúvida de que o pai o salvaria...

Quando a criança é estigmatizada, punida, justa ou injustamente embora não se creia em punição infantil justa, ela absorve as informações e castigos, passando a não acreditar em seus próprios valores, não sentindo estímulos para avançar, crescer e prosseguir, porque mortalmente ferida, carrega a marca, tornando-se rebelde, cruel, cínica, sem sentimentos bons, que encontram-se asfixiados sob a perversidade dos pais ou dos adultos que a insultaram, menosprezaram, condenaram-na...

O ser é, a grande proposta da psicologia, no sentido profundo ainda do vir-a-ser, conscientizando-se das imensas possibilidades que traz adormecidas e que devem ser despertadas pelo amor, pela educação, pela convivência social, para atingir a individuação.

A realidade da psique propõe, desenvolver todas as possibilidades existentes em germe em todos os seres, crescendo para a realidade e o saudável comportamento para alcançar o padrão de um ser integral, condutor de saúde total.

Conseguir manter a consciência humana iluminada, conforme proposta de Jung, quebra a cadeia do sofrimento, conquistando significado metafísico e cósmico.

Quebrar essa cadeia do sofrimento significa manter uma conduta superior, escolhendo o que fazer ao próximo, como recomendava Jesus, nunca revidando mal por mal, por ser a única terapêutica condutora da grande possibilidade de gerar tranquilidade interior.

Quando os adultos compreenderem esse significado, não transferirão para os filhos as suas  feridas emocionais, amando-os integralmente e apresentando-lhes a alma, o ser metafísico e cósmico.

Todo esforço deve ser feito na busca do ser e não do ter...

As parábolas da ovelha que se perde, e a da dracma que desaparece, se referem ao ter, convidando ao encontro para o equilíbrio da posse, a que se dá extremada importância na vida social.

Porém, Jesus, após enunciá-las, arrematou a Sua proposta iluminativa, respondendo aos que O perseguiam porque convivia com as misérias alheias manifestas dos afligidos e desamparados, ensinando que o importante seria o ser e não o ter, a coragem de  cair em si, de recuperar-se, de encontrar-se...

Trabalho baseado no livro EM BUSCA DA VERDADE, escrito por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Postado em 21/03/2014

 

 



 
UM TREINO PARA O ESPÍRITO 

Na visão da Psicologia espírita, dentre tantas outras possibilidades, os sonhos são também um treino para a vida e para a morte, pois os Espirito vivencia, em parte, o que irá ocorrer após a desencarnação.tem um vislumbre dos círculos da vida que se desdobram além do plano físico, e pode ir se exercitando dia a dia, até o desenlace final.
Durante o sono, nos recorda Joanna de Ângelis, no livro No Limiar do Infinito, pg.70, “a vida é mais espiritual do que física, enquanto na vivencia da ação corporal invertem-se os valores.” Exercitamos, pois, a realidade espiritual, muitas vezes tolhida pela percepção do ego, o que promove um afastamento da nossa verdadeira essencia.
Os sonhos configuram-se, portanto, nessa rica gama de conteúdos psicológicos e espirituais, de certa forma ainda inexplorados, mesmo considerando que passamos quase 1/3 das nossas vidas “dormindo”. É, pois, o momento de “despertar” para os sonhos, avaliar suas inúmeras possibilidades e, mesmo sem entende-los em totalidade, através deles nos conhecer ainda mais profundamente.
Texto escrito por Cláudio Sinot, no Livro Refletindo a Alma. Postado no dia, 21/03/2014.



 

 

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