Recife,04 de abril de 2013
Eu não podia deixar de
compartilhar com vocês, meus queridos, esta página que evidencia a lucidez de
um estudioso contemporâneo, incansável pesquisador da Doutrina Espírita.
Somos os Construtores do
Mundo
Por José Herculano Pires
Os profetas da tragédia
falam em cataclismos geológicos, guerra nuclear, guerra bacteriológica, pestes,
epidemias arrasadoras para este último quartel do século 20. Aves agoureiras
anunciam a fome mundial pelo aumento da população terrena, o desaparecimento da
atmosfera planetária por efeito de explosões atômicas, da devastação das matas,
da poluição ambiental. Estaríamos numa fase de contradições insanáveis. O
progresso acelerado nos levaria fatalmente à desgraça total, ao cumprimento das
profecias apocalíticas, ao fim do mundo.
Apesar deles e dos
alarmistas que propagam as suas ideias mortíferas, dos terroristas do boato, há
homens sensatos, cientistas ponderados, futurólogos que não se engajam no jogo
dos trustes do medo. Estes procuram mostrar, através de dados concretos e
raciocínios objetivos, que as crises atuais que enfrentamos são sintomas de
desenvolvimento, comuns a todos os processos de crescimento. Outros, como Isaac
Asimov, fazendo concessões às mentes delirantes, sugerem soluções curiosas de
ficção científica: a colonização da Lua e de Marte, a construção de cidades
submarinas e cidades espaciais, o controle maciço da natalidade, a aplicação de
métodos químicos para a redução do tamanho do homem e assim por diante. Milhões
de criaturas humanas poderiam viver em cidades metálicas, construídas em funis
gigantescos localizados em zonas intermediárias da gravitação terrena e da
gravitação lunar.
Não há dúvida que estamos
numa era apocalítica, semelhante a que houve na Palestina na antevéspera do
advento do Cristianismo, quando as profecias da destruição constituíam o
alimento preferido do sadismo coletivo. Foi precisamente dessas profecias que
resultou o Apocalipse evangélico atribuído ao apóstolo João, que o teria
recebido do próprio Cristo na ilha de Patmos. Essa visão judaica do fim do
mundo foi considerada por Renan, Harnak, Guignebert e outros investigadores
conscienciosos como um livro apócrifo, referente à queda do Império Romano, e
por mero equívoco anexado às páginas do Evangelho. Mas quem poderia convencer
disso os piedosos adeptos das religiões do terror, cuja fé nas desgraças
vindouras é hoje alentada e alimentada pelas novas previsões de catástrofes?
O HOMEM É O PERIGO
Essas visões remotas de um
tempo há muito superado são hoje exploradas pelos grupos interessados em manter
o mundo nas garras. Há perigo, sem dúvida, numa fase de transição como a em que
nos encontramos. Mas o perigo não vem do céu, da ira de Deus, da instalação do
Tribunal do Messias entre as nuvens, com anjos tocando trombetas assustadoras
nos pontos cardiais da Terra e os mortos ressuscitando sob nevoeiros atômicos,
com seus corpos mortais reconstituídos pela vingança divina. Essas apreensões
ilógicas e ridículas, muitas vezes pregadas do púlpito das igrejas cristãs, de
tribunas espíritas e até mesmo de cátedras universitárias, devolvem-nos à era
das civilizações primitivas, agrárias e pastoris, e aos terrores do mundo
mitológico ou dos sermonários medievais. O perigo existe e esse perigo é o
homem, somos nós mesmos. Uma guerra nuclear não seria desencadeada pelos astros
ou pela ira de Deus, mas pelos homens responsáveis pelo equilíbrio do mundo
social, do mundo humano. O mundo natural, constituído pela Natureza, sofreria
as consequências da loucura humana, mas poderia recuperar, através de suas leis
de equilíbrio e conservação, as zonas devastadas.
A ideia de que o homem pode
destruir o mundo provém de dois elementos de concepções antiquadas, hoje
inaceitáveis.
1) O orgulho humano, que pretende sobrepor a
fragilidade da criatura à onipotência do Criador;
2) A crença ingênua nos
poderes mágicos, segundo a qual os mágicos podiam destruir as coisas, os seres
e o próprio mundo com simples sinais cabalísticos.
O aumento do conhecimento
científico provoca vertigens em cérebros pouco estáveis, pouco seguros, e a
vaidade natural da espécie faz certos homens pensarem que descobriram a chave
da Natureza e podem manipulá-la com seus novos instrumentos técnicos, que lhes
dão um acréscimo enorme de poder. Por outro lado, o pensamento mágico, sempre
necessariamente contraditório, aceita a existência do Gênio Maligno de
Descartes (simples hipótese de pesquisa) e transforma Deus numa espécie de
Frankenstein, um ser dotado de dupla personalidade, capaz de amar e odiar ao
mesmo tempo.
Mas se compreendermos, para
começar, que Deus não é uma personalidade humana, mas um centro cósmico de
inteligência e poder, que mantém não apenas o equilíbrio da Natureza, da Terra
e do Sistema Solar, mas de todo o Cosmos, com sua infinidade de galáxias, em que
milhões e milhões de mundos existem, então será fácil entendermos a falácia e o
delírio dessas profecias terroristas. A Terra é um grão de areia no infinito,
de maneira que o temporal desencadeado nela pelo homem seria bem menos do que
uma tempestade num copo d’água.
UMA VISÃO REAL
Os estudiosos, os
pesquisadores, os cientistas honestos advertem-nos contra os abusos do poder
humano, que podem causar muitos males desequilibrando o meio ambiente. Mas
reconhecem, como vimos ainda recentemente no Congresso Internacional de
Belgrado sobre a questão populacional, que a situação desastrosa do planeta
refere-se a determinadas zonas superpovoadas, como os grandes centros urbanos,
as nações altamente industrializadas, e não a toda a Terra. Enquanto, por exemplo,
as megalópoles crescem envenenadas pelos seus próprios excessos industriais, as
vastas zonas campestres se despovoam. A Terra tem capacidade para uma população
muitas vezes maior do que a atual e do que a prevista pelos futurólogos para os
próximos anos. A falta de alimentos não decorre da falta de produtividade, mas
da falta de transportes e distribuição equitativa do alimento produzido. Além
disso, há o problema evidente da falta de distribuição dos recursos
financeiros, da falta de revisão da estrutura econômica mundial, sujeita cada
vez mais a colapsos provenientes de suas deficiências, de seus clamorosos
desequilíbrios.
Cabe ao homem reestruturar
os seus esquemas sociais, reajustando-os à necessidade de harmonia e equilíbrio
da vida planetária. Cabe ao homem encarar esses problemas por um prisma
humanístico, em que prevaleça o princípio do respeito à criatura humana, acima
da defesa de princípios sociais e econômicos que estabeleceram regimes de
privilégios desumanos em todo o mundo, ainda vigentes, sustentados e
estimulados tanto na chamada área socialista, quanto na área do capitalismo ou
neocapitalismo, tanto nos países desenvolvidos, quanto nos subdesenvolvidos ou
em processo de desenvolvimento.
Delegar a entidades divinas
o que nos compete ou querer investir contra as divindades, como novos Prometeus
que pretendam roubar o fogo do céu, é simples manobra de fuga ao cumprimento de
nossas responsabilidades imediatas. Os princípios evangélicos, a evolução do
Direito, a Carta dos Direitos Humanos, o avanço do pensamento filosófico, o
desenvolvimento científico e tecnológico, o amadurecimento da razão, todos
esses fatores e muitos outros abrem perspectivas novas para a solução dos
nossos problemas sociais, culturais e econômicos. Mas, os interesses constituídos
e a cegueira da maioria das criaturas (ou a miopia coletiva) impedem a ação
eficaz para essa solução. Não precisamos de cidades em funis metálicos no
espaço sideral. Aqui mesmo, na Terra, há lugares de sobra para a multiplicação
inevitável de nossos centros urbanos. O neomaltusanismo dos nossos dias é ainda
mais desarrazoado que o de Malthus. Nossas possibilidades de produção de
alimentos cresceram em progressão geométrica, graças ao desenvolvimento
científico e tecnológico. O que nos falta é o controle, a ordenação precisa e
rigorosa dessas possibilidades, para que os perigos humanos que nos ameaçam
sejam superados.
ADMINISTRAÇÃO TERRENA
Dos seus voos heroicos, hoje
insignificantes ante o progresso espantoso dos voos aeronáuticos e astronáuticos,
Saint-Exupéry chegou à conclusão que deu título ao seu livro famoso: “Terra dos
Homens”. Tinha razão o poeta-voador. A Terra é nossa. Foi o ninho em que
nascemos e nos desenvolvemos. Mas ainda não aprendemos a administrá-la. A
reduzida população terrena dos milênios transcorridos, confinada em zonas
determinadas do planeta, com suas civilizações ilhadas, legou-nos a experiência
das administrações locais, reduzidas a técnicas dispersivas, desligadas da
visão universal que o Cristianismo nos traria. Aprendemos a administrar
pequenas nações, mesmo quando situadas em grandes territórios, e a lei da
inércia, dominante na estática social e anquilosada nas tradições regionais,
consagrou princípios inadequados, impondo-os ao mundo mais vasto e rico do
futuro (hoje convertido em presente) como se tivessem validade universal e
eterna. Percebemos isso, sentimos o desajuste, mas os interesses criados e a
ambição estimulada continuam a agir como meios de contenção do processo
renovador.
A evolução cultural deu-nos
a possibilidade de compreender Deus em plano superior, mas as nossas
deficiências de formação impedem essa compreensão e ainda nos amarram a
condicionamentos embaraçosos. Não somos capazes de entender a senha lírica de
Saint-Exupéry e transformar o planeta na Terra dos Homens. Não compreendemos
sequer a responsabilidade de organização e administração planetária, que
decorre de nosso próprio livre-arbítrio, de nossa própria liberdade. Apelamos
para esquemas rígidos e desumanos, baseados em processos de violência e
opressão, esquecidos do princípio fundamental da fraternidade humana. Falamos
em igualdade de direitos, em distribuição da riqueza, em oportunidades para
todos, e continuamos a agir como barões feudais, sem forças para rejeitar os
sistemas de escravidão e servidão que nos vêm do passado remoto.
Diante do sentimento de
impotência gerado por essa situação e pelas dolorosas experiências recentes de
soluções arbitrárias, impostas pela força, com o esmagamento das liberdades
humanas, com o desrespeito à dignidade da criatura humana, apelamos para a
descrença nos valores do espírito e mergulhamos no caos das concepções
materialistas e pragmatistas.
Não é Deus, nem quaisquer
outras divindades, que nos ameaçam com flagelos destruidores. Somos nós mesmos,
os homens, os produtores de flagelos, os criadores de cataclismos.
DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA
Desenvolvemos a inteligência
de maneira assombrosa. Reclamamos a falta de gênios, em comparação com as
idades de ouro do passado, e não percebemos que temos mais ouro do que nunca e
por isso mesmo os gênios não alcançam o destaque e a fama de outras eras.
Aludimos ao inconsciente coletivo e não vemos o arejamento da consciência
coletiva, o crescimento da inteligência no povo, nas massas.
Costuma-se atribuir à
influência dos novos meios de comunicação a precocidade mental das crianças de
hoje, esquecendo-se que a evolução natural da inteligência determinou o
aprimoramento e a expansão dos meios de comunicação. As novas gerações
manifestam-se inquietas, criando problemas, suscitando crises morais, políticas
e sociais. Como afirma Ingenieros: “A juventude toca a rebate em toda
renovação”. Dewey acentuou a importância da reelaboração das experiências pelas
novas gerações. Cada jovem é um projeto de realizações renovadoras, em maior ou
menor medida, e não temos o direito de frustrá-los com o nosso temor do futuro.
Eles, os jovens, são o futuro e temos de ajudá-los na realização de suas
aspirações, integrando-os nas experiências atuais e preparando-os para o amanhã.
A posição conservadora das velhas gerações
decorre do instinto natural de conservação. Faz parte do processo evolutivo,
como força moderadora dos impulsos de renovação. Mas os jovens representam a
renovação em marcha e cabe-nos o dever de procurar compreendê-los, nunca o de
exclui-los ou de querer reduzi-los a conservadores forçados ou fingidos. As
velhas gerações vão passando e as novas poderão impor-se através de processos
violentos, como reação às opressões sofridas.
O grau atual de
desenvolvimento da inteligência humana permite-nos compreender perfeitamente
esse processo da dialética da evolução e contribuirmos para manter o equilíbrio
necessário na fase de transição que atravessamos. Muitos pedagogos, como Dewey,
Kilpatrick, Hubert, Kerschensteiner, lutaram e vêm lutando para estabelecer um
tipo adequado de educação a uma civilização em mudança. Essa adequação não pode
prescindir de uma compreensão mais ampla do problema espiritual, superando o
equívoco do laicismo e da formação sectária de tipo igrejeiro. A Educação
Espírita apresenta-se como mediadora para a solução desse problema, oferecendo
contribuições decisivas, mas infelizmente o próprio meio espírita não se mostra
capaz de compreender o que seja educação espírita.
A única revista especializada do mundo, nesse
setor de importância vital para este momento, foi lançada em São Paulo pela
editora Edicel, sem finalidade comercial e não está podendo sustentar-se, ante
o desinteresse geral, que abrange até mesmo a rede escolar espírita. A
inteligência espírita, apegada a um misticismo antidoutrinário, revela-se tão
inepta quanto os rabinos do Templo de Jerusalém, no tempo de Jesus, para
compreender o seu dever na hora atual. Essa é uma responsabilidade muito mais
grave do que geralmente se pensa, nesta hora de transição. E não só os
espíritas devem arcar com ela, mas todos os homens de inteligência e cultura
que podem contribuir para o esclarecimento popular.
UMA TOMADA DE CONSCIÊNCIA
O apego ao contingente, ao imediato, apaga na
consciência dos nossos dias o senso da responsabilidade espiritual. Nem mesmo a
ronda constante da morte consegue arrancar o homem atual da embriaguez do
presente. O problema do espírito e da imortalidade só se aviva quando ligado
diretamente a questões de interesse pessoal. O católico, o protestante e o
espírita se equivalem nesse sentido. Todos buscam os caminhos do espírito para
a solução de questões imediatistas ou para garantirem a si mesmos uma situação
melhor depois da morte.
A maioria absoluta dos
espiritualistas está sempre disposta a investir (este é o termo exato) em obras
assistenciais, mas revela o maior desinteresse pelas obras culturais. Apegam-se
os religiosos de todos os matizes à tábua de salvação da caridade material,
aplicando grandes doações em hospitais, orfanatos e creches, mas esquecendo-se
dos interesses básicos da cultura. Garantem os juros da caridade no pós-morte,
mas contraem pesadas dívidas no tocante à divulgação, sustentação e defesa de
princípios fundamentais da renovação da cultura planetária.
A imprensa, a literatura, o
ensaio, o estudo, a fixação das linhas mestras da nova cultura terrena ficam ao
deus-dará. Falta uma tomada de consciência, particularmente no meio espírita,
da responsabilidade de todos na construção e na elaboração da Nova Era, que é
trabalho dos homens na Terra.
Ninguém ou quase ninguém
compreende que sem uma estruturação cultural elevada, sem estudos aprofundados
no plano cultural, que revelem as novas dimensões do mundo e do homem na
perspectiva espírita, o Espiritismo não passará de uma seita religiosa de fundo
egoísta, buscando a salvação pessoal de seus adeptos, precisamente aquilo que
Kardec lutou para evitar.
A finalidade do Espiritismo,
como Kardec acentuou, não é a salvação individual, mas a transformação total do mundo, num vasto processo de redenção coletiva. Proporcionar
aos jovens uma formação cultural apoiada na mais positiva e completa base
espiritual, que mostre a insensatez das concepções materialistas e
pragmatistas, dando-lhes a firmeza necessária na sustentação e defesa dos
princípios doutrinários, não é só caridade, mas também realização efetiva dos
objetivos superiores do Espiritismo nesta fase de transição. Sem esse trabalho
não poderemos avançar
com segurança e eficácia na direção da Era do Espírito. Temos de dar às novas gerações a possibilidade de
afirmarem, diante do desenvolvimento das Ciências e do avanço geral da Cultura,
como disse Denis Bradley: “Eu não creio, eu sei!” Porque é pelo saber, e não
pela crença, pela fé racional e não pela fé cega, pelo conhecimento e não pelas
teorias indemonstráveis que o Espiritismo, como revelação espiritual, terá de
modelar a nova realidade terrena, apoiado na confirmação científica, pela
pesquisa, dos seus postulados fundamentais. A revelação humana confirma e comprova
a revelação divina.
Esse é o problema que
ninguém parece compreender. Todos sonham com o momento em que a Ciência deverá
proclamar a realidade do espírito. Mas, essa proclamação jamais será feita se a
Ciência Espírita não atingir a maioridade, não se confirmar por si mesma,
podendo enfrentar virilmente, no plano da inteligência e da cultura, a visão
materialista do mundo e a concepção materialista do homem. Por isso precisamos
de Universidades Espíritas, de Institutos de Cultura Espírita dotados de recursos
para uma produção cultural digna de respeito, de Laboratórios de Pesquisa
Psíquica estruturados com aparelhagem eficiente e orientados por metodologia
segura, planejada e testada por especialistas de verdade, capazes de dominar o
seu campo de trabalho e de enfrentar com provas irrefutáveis os sofismas dos
negadores sistemáticos. É uma batalha que se trava, o bom combate de que falava
o apóstolo Paulo, agora desenvolvido com todos os recursos da tecnologia.
Chega de pieguice religiosa,
de palestras sem fim sobre a fraternidade impossível no meio de lobos vestidos
de ovelhas. Chega de caridade interesseira, de imprensa condicionada à crença
simplória, de falações emotivas que não passam de formas de chantagem
emocional. Precisamos da Religião viril que remodela o homem e o mundo na base
da verdade comprovada. Da caridade real que não se traduz em esmolas, mas na
efetivação da fraternidade humana oriunda do conhecimento de nossa constituição
orgânica e espiritual comuns, ou seja, da inelutável igualdade humana. De
exposições sábias e profundas dos problemas do espírito, nascidas da reflexão
madura e do estudo metódico e profundo. Temos de acordar os dorminhocos da
preguiça mental e convocar a todos para as trincheiras da guerra incruenta da
sabedoria contra a ignorância, da realidade contra a ilusão, da verdade contra
a mentira. Sem essa revolução em nossos processos não chegaremos ao mundo
melhor que já está batendo, impaciente, às nossas portas.
Não façamos do Espiritismo
uma ciência de gigantes em mãos de pigmeus. Ele nos oferece uma concepção
realista do mundo e uma visão viril do homem. Arquivemos para sempre as
pregações de sacristão, os cursinhos de miniaturas de anjos, à semelhança das
miniaturas japonesas de árvores. Enfrentemos os problemas doutrinários na
perspectiva exata da liberdade e da responsabilidade de seres imortais.
Reconheçamos a fragilidade humana, mas não nos esqueçamos da força e do poder
do espírito encerrado no corpo. Não encaremos a vida cobertos de cinzas
medievais. Não façamos da existência um muro de lamentações. Somos artesãos,
artistas, operários, construtores do mundo e temos de construi-lo segundo o
modelo dos mundos superiores que esplendem nas constelações. Estudemos a
doutrina aprofundando-lhe os princípios. Remontemos o nosso pensamento às
lições viris do Cristo, restabelecendo na Terra as dimensões perdidas do seu
Evangelho. Essa é a nossa tarefa.
Fonte: Jornal “Mensagem”,
órgão de divulgação do Grupo Espírita Cairbar Schutel, sob a direção de J.
Herculano Pires - setembro de 1975 - ano I, nº 4 - São Paulo-SP.
José Herculano Pires
(1914-1979), jornalista, poeta, filósofo, escritor e um dos maiores pensadores
do espiritismo contemporâneo, é autor de mais de 80 obras sobre espiritismo,
parapsicologia, educação, filosofia dentre outros temas.
Considero um belo trabalho antropossociológico
o de Herculano Pires. Refere-se ao espirito em crescimento nas suas diversas
fases evolutivas convocando o homem ao despertamento para a responsabilidade de
cada um com o todo. Enfim, no assumir-se como indivíduo participante da
engrenagem coletiva. É um texto de urgência no âmbito social e especialmente no
âmbito espírita.
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