domingo, 14 de abril de 2013


A contínua luta entre o ego e o Self

Continuação...

Sucede que o ego exige destaque, compensação, aplauso, embora nos conflitos entre razão e instinto, originando-se nele um tipo de sede de água do mar, que não é saciada por motivo óbvio.

Mesmo encontrando compensações de prazer, do impulso instintivo que leva à compulsão do desejo, a insatisfação defluente da ansiedade do poder, empurra a sua vítima ao transtorno depressivo, porque a sua ânsia de dominação termina por esvaziá-lo interiormente.

O mesmo ocorre na vida monástica, no período em que diminuem o entusiasmo e egotísmo no postulante ou no religioso, quando então é acometido pela melancolia que se agrava em afligente depressão, falsamente interpretada como interferência demoníaca, pelo fanatismo que ainda vige em muitos setores da fé espiritualista.

Com alguma razão, Alfredo Adler referia que o instinto de dominação no indivíduo, quando não encontra compensação ou não se sente reconhecido e aceito, foge, oculta-se na depressão, na qual expressa a agressividade e a violência.

Nesse sentido, o paciente não tem problema, pois que o estado em se encontra de alguma forma faz-lhe bem, tornando-se um problema para o grupamento social saudável, que busca manipular, dominando-o, tornando-se fator de preocupação para os outros.

Conscientizar a sombra, diluindo-a, mediante a sua assimilação, ao invés de ignorá-la, constitui passo avançado para a perfeita identificação ente ego e Self.

Jung percebeu com clareza esses dois eus no indivíduo, que se podem explicar como resultante do Self, aquele que é bom e gentil, e do ego que preserva o lado feroz, vulgar, licencioso, negativo.

Poder-se-ia dizer que o indivíduo possuiria duas almas em contínuo antagonismo no finito de si mesmo.

Essas expressões apresentam-se na conduta humana, quando em público, apresenta-se uma forma de ser e, quando, no lar, na família ou a sós, outra bem diferente. O que representa gentileza transforma-se em mal-estar, azedume e aspereza.

Aceitar-se com naturalidade esses opostos é recurso salutar, terapêutico, para melhor contribuir-se em favor da harmonia entre os outros litigantes, que são o ego e o Self.

No comportamento social não é necessário mascarar-se de qualidades que não se possuem, embora não se deva expor as aflições internas, os tormentos do polo negativo.

Assumir-se a realidade do que se é, administrando, pela educação – fonte geradora dos valores edificantes e enobrecedores – os impulsos do desejo e do prazer, transformando-os em emoções de bem-estar e alegria, saindo da área das sensações dominantes, constitui maneira eficiente para diminuir a luta existente entre os dois arquétipos básicos da vida humana.

Uma religião racional como o Espiritismo, destituída de fórmulas que ocultam o seu conteúdo, que é otimista e não castradora, que convida o indivíduo a assumir as suas dificuldades, trabalhando-as com naturalidade, sem a preocupação de parecer o que ainda não consegue, estruturada na realidade do ser imortal, com as suas glórias e limitações, é valioso recurso terapêutico para a união de todos os opostos, que passarão a fundir-se, dando lugar a um eu liberado dos conflitos, que se pode unir à Divindade, sem os artifícios que agradam os indivíduos ligeiros e seus supérfluos comportamentos existenciais.

A luta, portanto, existente entre o ego e o Self é saudável, por significar atividade contínua no processo de crescimento, e não postura estática, amorfa, que representa uma quase morte psicológica do ser existencial.

Humanizar-se, do ponto de vista psicológico, é integrar-se.

Jesus-Cristo foi peremptório, demonstrando a Sua perfeita integração com o Pai, quando enunciou: - Eu e o Pai somos um, dando lugar à perfeita identificação entre ambos, aos comportamentos nobres, às propostas libertadoras sem polos de oposição.

Mais tarde, o apóstolo Paulo, superando as lutas entre o ego dominante e o Self altruísta, universal, proclamou: - Já não sou eu quem vive, mas o Cristo quem vive em mim.

A sombra que nunca teve existência em Jesus, dele fez a Luz do mundo e a que existia em Saulo, Paulo, por fim, iluminou-a, diluindo-a no amor.

Texto concluído, do cap.l O Homem e Sua Totalidade, do livro Em Busca da Verdade de Joanna de Ângelis, pelo médium Divaldo Franco. pp. 21/23.

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