A contínua
luta entre o ego e o Self
Continuação...
Sucede que o ego exige
destaque, compensação, aplauso, embora nos conflitos entre razão e instinto,
originando-se nele um tipo de sede de
água do mar, que não é saciada por motivo óbvio.
Mesmo encontrando
compensações de prazer, do impulso instintivo que leva à compulsão do desejo, a
insatisfação defluente da ansiedade do poder, empurra a sua vítima ao
transtorno depressivo, porque a sua ânsia de dominação termina por esvaziá-lo
interiormente.
O mesmo ocorre na vida
monástica, no período em que diminuem o entusiasmo e egotísmo no postulante ou
no religioso, quando então é acometido pela melancolia que se agrava em
afligente depressão, falsamente interpretada como interferência demoníaca, pelo
fanatismo que ainda vige em muitos setores da fé espiritualista.
Com alguma razão, Alfredo
Adler referia que o instinto de dominação no indivíduo, quando não encontra
compensação ou não se sente reconhecido e aceito, foge, oculta-se na depressão,
na qual expressa a agressividade e a violência.
Nesse sentido, o paciente
não tem problema, pois que o estado em se encontra de alguma forma faz-lhe bem,
tornando-se um problema para o grupamento social saudável, que busca manipular,
dominando-o, tornando-se fator de preocupação para os outros.
Conscientizar a sombra, diluindo-a, mediante a sua
assimilação, ao invés de ignorá-la, constitui passo avançado para a perfeita
identificação ente ego e Self.
Jung percebeu com clareza
esses dois eus no indivíduo, que se
podem explicar como resultante do Self,
aquele que é bom e gentil, e do ego que preserva o lado feroz, vulgar,
licencioso, negativo.
Poder-se-ia dizer que o
indivíduo possuiria duas almas em
contínuo antagonismo no finito de si mesmo.
Essas expressões
apresentam-se na conduta humana, quando em público, apresenta-se uma forma de
ser e, quando, no lar, na família ou a sós, outra bem diferente. O que
representa gentileza transforma-se em mal-estar, azedume e aspereza.
Aceitar-se com naturalidade
esses opostos é recurso salutar, terapêutico, para melhor contribuir-se em
favor da harmonia entre os outros litigantes, que são o ego e o Self.
No comportamento social não
é necessário mascarar-se de qualidades que não se possuem, embora não se deva
expor as aflições internas, os tormentos do polo negativo.
Assumir-se a realidade do
que se é, administrando, pela educação – fonte geradora dos valores edificantes
e enobrecedores – os impulsos do desejo e do prazer, transformando-os em
emoções de bem-estar e alegria, saindo da área das sensações dominantes, constitui
maneira eficiente para diminuir a luta existente entre os dois arquétipos básicos
da vida humana.
Uma religião racional como o
Espiritismo, destituída de fórmulas que ocultam o seu conteúdo, que é otimista
e não castradora, que convida o indivíduo a assumir as suas dificuldades,
trabalhando-as com naturalidade, sem a preocupação de parecer o que ainda não
consegue, estruturada na realidade do ser imortal, com as suas glórias e
limitações, é valioso recurso terapêutico para a união de todos os opostos, que
passarão a fundir-se, dando lugar a um eu liberado dos conflitos, que se pode
unir à Divindade, sem os artifícios que agradam os indivíduos ligeiros e seus supérfluos
comportamentos existenciais.
A luta, portanto, existente entre
o ego e o Self é saudável, por significar atividade contínua no processo de
crescimento, e não postura estática, amorfa, que representa uma quase morte
psicológica do ser existencial.
Humanizar-se, do ponto de
vista psicológico, é integrar-se.
Jesus-Cristo foi
peremptório, demonstrando a Sua perfeita integração com o Pai, quando enunciou:
- Eu e o Pai somos um, dando lugar à
perfeita identificação entre ambos, aos comportamentos nobres, às propostas libertadoras
sem polos de oposição.
Mais tarde, o apóstolo Paulo,
superando as lutas entre o ego
dominante e o Self altruísta, universal,
proclamou: - Já não sou eu quem vive, mas
o Cristo quem vive em mim.
A sombra que nunca teve existência em Jesus, dele fez a Luz do
mundo e a que existia em Saulo, Paulo, por fim, iluminou-a, diluindo-a no
amor.
Texto concluído, do cap.l O
Homem e Sua Totalidade, do livro Em Busca da Verdade de Joanna de Ângelis, pelo
médium Divaldo Franco. pp. 21/23.
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