quinta-feira, 4 de abril de 2013


Postagem em o4 de abril de 2013. 

ESTRUTURA BIPOLAR DO SER HUMANO 

O objetivo essencial da vida humana, do ponto de vista psicológico, na visão junguiana, é possibilitar ao indivíduo
a conquista da sua totalidade, o estado numinoso, que lhe faculta o equilíbrio dos polos opostos.
Toda vez que lhe ocorre uma aspiração, o polo oposto insurge, levando-o ao outro lado da questão.
qualquer comportamento de natureza unilateral logo desencadeia uma reação interna, inconsciente, em total oposição àquele interesse.
Quando o indivíduo se exalta em qualquer forma de personalismo está mascarando a outra natureza que também lhe é inerente.
Se se atribui  virtudes e valores relevantes, se originam de fantasias internas do que gostaria de ser, sem que o haja conseguido.
Um eu opõe-se ao outro eu em intérmina luta interior. Um é consciente, vigilante; o outro é inconsciente, adormecido, que desperta pela ação do seu oposto. Um se encontra na razão;
o outro, no sentimento ou vice-versa. A não vigilância e não saudável administração desse opositor se apresenta como desvario, que dificulta o raciocínio lúcido, a presença da razão.
Esse ser duplo é constituído, ora como resultado do conhecimento adquirido, de experiência vivenciada, enquanto o outro é de total desconhecimento, estando oculto sempre à espreita.
O nobre Jung utiliza-se de imagem carregada de lógica moderna, quando esclarece: - O ser humano vive como alguém cuja mão não sabe o que a outra faz, o que leva à recordação do pensamento de Jesus, quando se refere à excelsa ação da caridade: Dai com a mão direita, sem que a esquerda o saiba.
Conhecia Jesus as duas polaridades psicológicas do ser humano e, por isso, incitava-o a amar tão profundamente que o seu gesto de afeição sublime e consciente estivesse em concordância com os seus arquivos inconscientes.
Aquele que não consegue harmonizar os dois polos numa totalidade, invariavelmente torna-se vítima das expressões desorganizadas do sentimento, induzindo-o às emoções fortes, descontroladas.
Stevenson, o inspirado poeta inglês, bem traduziu esses dois polos na sua obra genial O médico e o monstro, quando o Dr. Jekil era vítima do Sr Hide que coabitava com ele no seu mundo interior, expressando a inferioridade que o médico buscava superar no seu ministério sacerdotal.
Na tradição religiosa, expressam-se como o bem e o mal, ou o anjo e o demônio, continuando na visão sociológica no conceito do certo e  errado, da treva e da luz, do belo e do feio.
Essa dicotomia psicológica está permanece no ser humano em desenvolvimento emocional e espiritual.
O esforço terapêutico a desenvolver, é o da integração do pólo oposto, naquele que está consciente e é relevante, produtivo, saudável, caminho seguro para a completude.
O esforço consciente do indivíduo para autopenetrar-se, autoconhecer-se, como resultado das tensões dos pólos ativados pelo interesse da integração, leva-o a um comportamento gentil, afável, compreensível das dificuldades e limitações do seu próximo.
Enquanto, porém, permanece essa dissociação, essa fragmentação,
esse desconhecimento da consciência, invariavelmente se tomba na cisão da personalidade, da qual irrompem os transtornos neuróticos que atormentam, aumentando a distância entre os atos conscientes e os inconscientes.
Jung sugere os símbolos como representações dos conflitos que se estabelecem nas oposições dos mesmos, encarregados de os unir e formar apenas uma realidade, como se observa na cruz, cujos braços têm o seu ponto de segurança no centro onde se encontra a haste vertical com a horizontal, representando a segurança, a unidade daqueles contrários...
Nesse sentido, o emérito mestre suíço recorre ao comportamento do cristão, na sua rendição à Divindade, sem esfacelar-se nela, mas tornando-se um eleito, capaz de conduzir o próprio fardo, a própria cruz.
Pessoas inexperientes, quando se dão conta dos opostos no seu mundo interior, afligem-se desnecessariamente, formulando conceitos indevidos e punitivos, como se as manifestações do inconsciente signifiquem inferioridade, promiscuidade, dando origem a culpas injustificáveis pelo fato de existirem.
Supõem, precipitadamente, que podem forçar a mudança, tornando-se puras, embora os conflitos, culminando em descobrimentos dolorosos de vidas vazias.
Esses conflitos não devem ser combatidos como inimigos num campo de batalha, mas atendidos, orientados, esclarecidos, libertando-se deles pela sua conscientização, de forma que a autoconsciência experimente bem-estar pela conquista realizada interiormente.
É comum a ocorrência de pensamentos infelizes no momento da oração, da meditação, o que não é habitual noutras ocasiões, gerando inquietação e mal-estar.
Ocorre que, estando arquivados no inconsciente, quando esse é ativado pelo polo edificante, logo o outro descerra a sua cortina e libera o adversário.
A atitude a tomar com tranquilidade consiste em permanecer não reativo, insistindo no propósito ora em vivência até a unificação dos oponentes.
A fragmentação leva ao desfalecimento, à perda do entusiasmo.
Um eu em luta contra o outro eu deteriora o sentimento ou aturde a razão.

Do livro EM BUSCA DA VERDADE de Joanna de Angelis psicografado por Divaldo Pereira Franco da p.16 à p.19.  cap.l, O Ser Humano e Sua Totalidade.

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