A
BENÇÃO DA GRATIDÃO
Entre os sentimentos nobres
que caracterizam o ser psicológico maduro, a gratidão destaca-se como sendo um
dos mais relevantes.
A vida, em si mesma, é um
hino de louvor à Vida, portanto, de gratidão incontida.
Vida, porém, é vibração de
harmonia presente em todo universo.
Limitada nas diversas
expressões pelas quais se manifesta, é um desafio em constante desdobramento na
busca de significado.
Quando o processo de
crescimento emocional liberta o Espírito da sombra em que se aturde, nele se
apresenta a luz da verdade, que é o discernimento em torno dos valores
significativos que o integram no concerto harmônico do cosmo.
Buscando a perfeita
identidade, na fusão equilibrada do eixo ego-self, dá-se conta que viver é experienciar gratidão por tudo quanto
lhe sucede e tem oportunidade de vivenciar.
A gratidão, dessa maneira, é
a força que logra desintegrar os aranzéis da degradação do sentido existencial.
Filha da maturidade alcançada
mediante a razão, sobrepõe-se ao instinto, é conquista de elevada magnitude pelo
propiciar de equilíbrio que faculta àquele que a sabe ofertar.
Comumente, na imaturidade
emocional, acredita-se que a gratidão é uma retribuição pelo bem ou pelos
favores que se recebe, consistindo em uma forma de devolução, pelo menos em
parte. Inegavelmente, quando se devolve algo dos recursos recebidos, que têm
significados saudáveis, opera-se no campo do reconhecimento. No entanto,
trata-se de uma convenção, efeito do jogo mercadológico da oferta e da procura
ou vice-versa.
O instinto de preservação da
existência, trabalhando em favor dos interesses imediatistas, age, não poucas
vezes, utilizando-se de ações retributivas, especialmente quando estimulado ao prazer.
A gratidão é um sentimento
mais profundo e significativo, porque não se limita apenas ao ato da recompensa
habitual. É mais grandioso, porque traz satisfação e tem caráter terapêutico.
Todo aquele que é grato, que
compreende o significado da gratidão real, goza de saúde física, emocional e psíquica,
porque sente alegria de viver, compartilha de todas as coisas, é membro atuante
na organização social, é criativo e jubiloso.
Predomina, porém, nas
massas, que infelizmente diluem a identidade do indivíduo, confundindo os
valores éticos e comportamentais, a ingratidão, filha inditosa da soberba,
quando não do orgulho ou da prepotência, esses remanescentes do instinto,
transformados em sombra perturbadora. Em consequência, vivem em inquietação,
perturbam-se e desequilibram os demais, cultivando as enfermidades parasitas da
agressividade, da violência ou da autocompaixão, entregando-se aos conflitos e
realizando mecanismos de transferência de responsabilidade. Impossibilitados de
compreender a finalidade existencial, a busca de um sentido para autorrealização,
fazem-se omissos até mesmo no que diz respeito aos seus insucessos,
entregando-se a condutas esdrúxulas que pensam poder escamotear os conflitos
que os assinalam.
Essa estranha conduta é
responsável por alguns mitos que remanescem no inconsciente, e esses arquétipos
desculpistas constituem-lhes recursos de autoapaziguamento, dessa forma tentando
conciliar a consciência que exige lucidez com o ego que prefere a ilusão.
O self imaturo sofre o efeito do ego dominador e atribui-se méritos
que não possui, acreditando-se credor de todas as benesses que lhe são
concedidas, sempre anelando por mais recursos que lamentavelmente não o
plenificam. Nesse estágio haure bens que não sabe usar e amontoam-se em
armários ou em bancos, acumulando presunção e despotismo sem se integrar no
conjunto social em que se movimenta. E quando o faz, destaca-se pelo orgulho e
pelo falso poder externo, compensando as angustias internas com a bajulação e o
aplauso dos outros, que se transformam em estímulo para exibir as qualidades
que gostaria de possuir.
Aspira sempre por ter mais,
sem a preocupação de ser melhor.
Busca ser respeitado, o que
equivale dizer temido, antes que ser amado, pela dificuldade que tem de amar, o
que lhe propicia insegurança e mal-estar disfarçados com os vícios sociais,
tais o álcool, as drogas da moda, o tabaco, o sexo apressado e destituído de
sentimento emocional compensatório.
Recolhe onde não semeou, por acreditar-se possuidor de direitos que
lhe não cabem, impedindo-se o dever de repartir solidariedade e alegria.
Assume postura agressivo-defensiva,
de modo que amealhe sem oferecer, descobrindo inimigos onde existem apenas
desconhecidos que não foram conquistados e simpatizantes que não foram atraídos
ao seu fechado circulo de egoísmo.
Permanece armado, em vigília
contínua, em vez de amando em todas as circunstâncias, ante a irradiação de
desequilíbrio que é o seu estado interno.
Introverte-se, quando
deveria espraiar-se como as águas generosas do regato diluindo as fixações que
o retém na infância da evolução antropológica...
O sentido existencial é de
conquistas internas, aplicadas em favor da gratificação.
À medida que se recebe,
doa-se, e, na razão direta em que se é aceito e querido, mais ama e melhor
agradece.
A gratidão é uma benção de
valor desconhecido, porque sempre tem sido considerada na sua forma simplista e
primária, sem o conteúdo psicoterapêutico de que se reveste.
Quando se reflexiona em
torno da gratidão, quase imediatamente se pensa em devolver parte do que foi
recebido, o que a torna insignificante e destituída de valor. Permanece aí a
visão material imediatista, sem os conteúdos psicológicos renovadores.
Quando observamos uma rosa
externando perfume carreado pela brisa, deparamo-nos com a gratidão do vegetal que transformou húmus e agua em aroma delicado.
De igual maneira, o Sol, que
responde pela preservação do milagre da vida em múltiplas manifestações, oscula
o charco sem assimilar-lhe os odores pútridos e acaricia as pétalas das flores
sem tomar-lhes o aroma agradável. Essa é a sua forma de agradecer a própria finalidade para a qual foi criado...
Quando o Espírito alcança o objetivo
do seu significado imortal e entende-o com discernimento lúcido, abençoa tudo e
todos, agradecendo-lhe a oportunidade por fazer parte do seu conglomerado.
A gratidão deve ser um
estado interior que se agiganta e mimetiza com as dadivas da alegria e da paz.
Por essa razão, aquele que
agradece com um sorriso ou uma palavra, com uma expressão facial em silêncio ou
numa canção oracional, com o bem que esparze é sempre feliz, vivendo pleno. Entretanto,
aquele que sempre espera receber, que faz e anela pela resposta gratulatória, que
se movimenta e realiza atos nobres, mas conta com o alheio reconhecimento,
imaturo negocia, permanecendo instável, neurastênico, em inquietação.
Quando se é grato, nunca se
experimenta nenhum tipo de decepção ou queixa, porque nada espera ao que
realiza.
A busca, portanto, da
autorrealização é alcançada a partir do
momento em que a gratidão exerce o seu predomínio no self sem nenhuma sombra
perturbadora, constituindo-se uma sublime benção de Deus.
Texto estudado do livro PSICOLOGIA
DA GRATIDÃO, pelo espirito Joanna de
Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco.pp.20-25.
Em 05-04-2013.
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