sexta-feira, 5 de abril de 2013


ESTRUTURA BIPOLAR DO SER HUMANO

O objetivo essencial do ser humano, do ponto de vista psicológico, na visão junguiana, é facultar ao indivíduo a aquisição da sua totalidade, o estado numinoso, que lhe faculta o perfeito equilíbrio dos polos opostos.
Jung havia estabelecido que o ser humano é possuidor de uma estrutura bipolar, agindo entre dois diferentes estados da sua constituição psicológica, qual ocorre com os arquétipos anima e animus.
Toda vez que lhe ocorre uma aspiração o polo oposto insurge-se, levando-o ao outro lado da questão.
Qualquer comportamento de natureza unilateral logo desencadeia uma reação interna, inconsciente, em total oposição àquele interesse.
Quando o indivíduo se exalta em qualquer forma de personalismo está mascarando a outra natureza que também lhe é inerente.
Se se atribui virtudes e valores relevantes, eles são defluentes de fantasias internas do que gostaria de ser, sem que o haja conseguido.
Um eu opõe-se ao outro eu em interna luta interior. Um é consciente, vigilante; o outro é inconsciente, adormecido, que desperta acionado pelo seu oposto. Um se encontra na razão; o outro, no sentimento ou vice-versa. A não vigilância e a não saudável administração desse opositor se apresenta como desvario, que impede o raciocínio lúcido, a presença da razão.
Esse ser duplo é constituído, ora como resultado do conhecimento adquirido, de experiência vivenciada, enquanto o outro é de total desconhecimento, permanecendo oculto sempre à espreita.
O nobre Jung utiliza-se de imagem carregada de lógica moderna, quando esclarece: - O ser humano vive como alguém cuja mão não sabe o que a outra faz, o que induz recordação do pensamento de Jesus, quando se refere à excelsa ação da caridade: Dai com a mão direita, sem que a esquerda o saiba.
Conhecia Jesus as duas polaridades psicológicas do ser humano e, por isso, incitava-o a amar tão profundamente que o seu gesto de afeição sublime e consciente estivesse em plena concordância com os seus arquivos inconscientes.
Aquele que não consegue harmonizar os dois polos em uma totalidade, invariavelmente faz-se vítima das expressões desorganizadas do sentimento, induzindindo-o às emoções fortes, descontroladas.
Stevenson, o inspirado poeta inglês, bem traduziu esses dois polos na sua obra genial O médico e o monstro, quando o Dr Jekil era vítima do ser Hide que coabitava com ele no seu mundo interior, expressando toda a inferioridade que o médico buscava superar no seu ministério sacerdotal.
Na tradição religiosa, expressam-se como o bem e o mal, ou o anjo e o demônio, continuando na feição sociológica em conceituação do certo e do errado, da treva e da luz, do belo e do feio.
Essa dicotomia psicológica permanece no ser humano em desenvolvimento emocional e espiritual.
O esforço terapêutico a desenvolver, deve ser todo voltado para a integração do outro polo, o oposto, naquele que está consciente e é relevante, produtivo, saudável, caminho seguro para a completude.

O esforço consciente do indivíduo para autopenetrar-se, autoconhecer-se, como resultado das tensões dos polos ativados pelo interesse da integração, induz o indivíduo a um comportamento gentil, afável, compreensível das dificuldades das limitações do seu próximo.
Enquanto, porém, permanece essa dissociação, essa fragmentação, esse desconhecimento da consciência, invariavelmente se tomba na cisão da personalidade, da qual irrompem os transtornos neuróticos que atormentam aumentando as distancias entre os atos conscientes e os inconscientes.
Jung sugere os símbolos como representação dos conflitos que se estabelecem nas oposições dos mesmos, encarregados de os  unir e formar apenas uma realidade, como se observa na cruz, cujos braços tem o seu ponto de segurança no centro em que se encontra a haste vertical com a horizontal, representando a segurança, a unidade daqueles contrários...
Nesse sentido, o emérito mestre suíço recorre ao comportamento do cristão, na sua rendição à Divindade, sem esfacelar-se nela mas tornando-se um eleito, capaz de conduzir o próprio fardo, a própria cruz.
Pessoas inexperientes, quando se dão conta dos opostos no seu mundo interior, afligem-se desnecessariamente, formulando conceitos indevidos e punitivos, como se as manifestações do inconsciente signifiquem inferioridade, promiscuidade, dando origem a culpas injustificáveis pelo fato de existirem.
Supõem precipitadamente que podem forçar a mudança tornando-se puras, embora os conflitos, culminando em descobrimentos dolorosos de existências vazias.
Esses conflitos não devem ser combatidos como inimigos num campo de batalha mas atendidos, orientados, esclarecidos, libertando-se deles pela sua conscientização, de forma que a autoconsciência experimente bem-estar pela conquista realizada inferiormente.
É comum a ocorrência de pensamentos infelizes no momento da oração, da meditação, o que não é habitual noutras ocasiões, gerando inquietação e mal-estar.
Ocorre que, estando arquivados no inconsciente, quando esse é ativado pelo polo edificante, logo o outro descerra a sua cortina e libera o adversário.
A atitude a tomar com tranquilidade consiste em permanecer não reativo insistindo no propósito ora em vivencia até a unificação dos oponentes.
A fragmentação leva ao desfalecimento, à perda do entusiasmo.
Um eu em luta contra o outro eu deteriora o sentimento ou aturde a razão.

Texto estudado do livro EM BUSCA DA VERDADE, pelo esppirito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco.

Em 05-04-2013.

 

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