terça-feira, 16 de abril de 2013


APRENDER A VIVER

Item do cap.ll do livro Refletindo a Alma

A introspecção para o autoconhecimento proporciona uma avaliação do comportamento, que exterioriza nossa forma de ser. A partir da avaliação do conteúdo que encontramos em nosso mundo íntimo, o discernimento nos possibilita eleger uma conduta saudável para a vida. Viver retamente passa a ser a nossa meta, como já sugeria uma das Verdades do Caminho Óctuplo, proposto por Sidarta Gautama, o Buda.

Adquirindo as ferramentas para se conhecer melhor – o pilar do autoconhecimento – o desafio vai além do “viver bem”, “no sentido de acumular recursos, fruir comodidades, gozar sensações...” (ANGELIS, 2009b,p.27), tão de agrado do ego. Isso ocorre porquanto as metas existenciais passam a ser pautadas em valores profundos. Se com o autoconhecimento passamos a “olhar” mais profundamente a alma, é natural que se viva de forma compatível com essa perspectiva.

Importante, nesse aprendizado, continuar questionando quem se é, além dos papéis exercidos socialmente e de toda a história pessoal conhecida. Se me vejo apenas como um expectador passivo, e não como protagonista da marcha existencial, provavelmente estou muito distante do aprendizado profundo da vida.

Na condição de terapeuta, deparo-me com muitos dramas existenciais, de pessoas que dedicaram toda uma vida a construir patrimônios, a deixar heranças aos filhos e que, nada obstante tenham alcançado o que se costuma chamar de “sucesso”, permanecem profundamente amarguradas, com um vazio interno que nenhuma de suas “conquistas” consegue preencher. Sem diminuir a importância das chamadas “conquistas pessoais”, perguntamos apenas se não existem fatores essenciais que foram deixados de lado, e que é preciso redirecionar a vida, investir em novos valores, redimensionar os tesouros para que as energias sejam bem canalizadas.

Essas experiências me fazem recordar um antigo ensinamento, na verdade um questionamento, feito da seguinte forma: “De que vale ao homem ganhar o mundo e perder a alma?” (Marcos 8:36)

Concordo com James Hollis (1995, p.12) quando diz ser necessário “reconhecer a parcialidade da lente que recebemos da nossa família e da nossa cultura, e através da qual fizemos nossas escolhas e sofremos suas consequências.” Em outras palavras, aprender a viver deve nos desconectar, em muitos sentidos, das estruturas coletivas, para encontrarmos o nosso caminho, a nossa estrada, a “individuação”, muitas vezes perdida ou deixada para traz.

Desidentificar-se das estruturas coletivas, identificando-se consigo mesmo, trocar as lentes e olhar com nossos olhos da alma permitem uma participação individual mais intensa e profunda nas próprias estruturas coletivas: família, sociedade, trabalho etc.

Compreendendo que nossa trajetória não deve repetir modelos externos, necessariamente, o ser aprende “a aceitar-se como é, sem desejar imitar modelos transitórios das glórias momentâneas, que brilham sob os focos das lâmpadas da ilusão.” (2009b, p.55) O aprendizado, nesse sentido, visa a aprender a deixar de pautar a vida apenas nas conquistas externas, tão de agrado do ego, para focar-se no desenvolvimento das potencialidades da alma, muitas vezes esquecidas.

Identificado o objetivo e sentido da vida, “a fatalidade existencial deixa de ser viver bem, que é uma das metas humanas, para bem viver, que é uma conquista pessoal intransferível.” (2009b, p.78)

Aprender a viver, longe das imposições externas do comportamento, ou do adestramento para uma convivência social, fundamenta-se em uma instancia mais profunda: aprender a ser.

Transcrito do artigo Uma Psicologia com Alma: A Psicologia Espírita de Joanna de Ângelis escrito por Cláudio Sinoti no livro  REFLETINDO A ALMA  pp.40.- 42.

Postado em 16-04-2013

Continua...

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