quinta-feira, 18 de abril de 2013


Aprender a ser

Continuação do cap.ll do livro Refletindo a Alma

A partir do momento em que decidimos pautar a nossa vida nos valores intrínsecos da alma, partimos para o grande desafio de “Ser”. Saímos da condição de “pessoa espelho”, definida por Joanna de Ângelis como todo aquele que reflete as conveniências dos outros, para refletir a nossa própria essência.

Um dos desafios que se encontram, a partir dessa perspectiva, é aprender a conviver com a própria “solidão”, no sentido de que nem sempre será possível aguardar que os outros nos compreendam e compartilhem conosco desse processo. É por isso que a autora reforça: “O homem deve ser educado para conviver consigo próprio, com a sua solidão, com os seus momentâneos limites e ansiedades, administrando-os em proveito pessoal, de modo a poder compartir emoções e reparti-las..." (2006b, p. 71)

Certamente que não se trata da solidão patológica, ou de isolar-se por não entender ou suportar a convivência com os outros, mas da importância de interagir com esse ser que somos, mas que por conta das suas estruturas inconsciente, nos torna desconhecidos de nós mesmo.

Saindo dessa alienação, dessa distância de nosso mundo íntimo, podemos conviver melhor com os outros, pois não nos espantaremos mais com a “sombra” do outro, por ter aprendido a conviver com a nossa.

A síntese do “aprender a ser” pode ser encontrada na seguinte proposta: “A educação, a psicoterapia, a metodologia da convivência humana devem estruturar-se em uma consciência de ser, antes de ter; de ser, em vez de poder, de ser, embora sem a preocupação de parecer.” (ÂNGELIS, 2006b, p.72)

O que conheço de mim mesmo é muito pouco para saber quem sou efetivamente, ou, como diz James Hollis: “o eu que conheço não conhece o suficiente para saber que não conhece o suficiente.” (2010, p. 11)

Necessitamos compreender a influencia do processo coletivo em nós, em especial de tudo aquilo que se encontra distante do Self, da essência que sou, e aprofundar a busca do ser. É comum verificarmos um grande impulso externo para ter, em vez de “ser”. Se isso ocorre, precisamos questionar: quanto da minha busca pessoal é feita no “ter”?

Uma análise honesta revela que é muito intensa essa busca na atualidade: queremos ter coisas, ter posses, ter pessoas. Quando “somos”, o “ter” passa a ser secundário, pois de maneira efetiva somente temos aquilo que conseguimos conduzir conosco a partir de uma perspectiva transpessoal.

Quando buscamos “ser”, em vez de “poder”, estruturamos nossas relações em bases mais sólidas. Na concepção de Jung, amor e poder caminham em polos opostos: quando se manifesta o desejo de poder, aí não existe o amor, pois um é a sombra do outro. As tentativas de dominar o outro, de controlar e exercer poder, demonstram exatamente a força oposta que permanece ativa no inconsciente: o medo, a insegurança, a fragilidade. Demonstram, não raro, personalidades frágeis, que se mascaram de fortes na tentativa de se protegerem ou serem aceitas.

Quando buscamos “ser”, passamos a lidar melhor com as habilidades ainda não desenvolvidas, com nossos medos e limites, e por isso não precisamos exacerbá-los ou escondê-los por trás de máscaras bem – construídas.

Por consequência, a conquista do “ser” nos liberta da tentativa de parecer algo diferente do que somos – ou estamos. Aceitar-se como se é, no entanto, estimular-se ao máximo para novas conquistas, no campo intelectual, emocional, afetivo e espiritual. Além das personas, que exerço, existe o “ser”, que sou, mas que necessita ser desvelado, desperto, em todo processo de busca existencial.

Dentre as propostas terapêuticas para “Aprender a ser”, a técnica apresentada pela psicossíntese encontra-se em consonância com a visão da psicologia espirita, quando propõe uma desidentificação de tudo aquilo ao qual o ego se vincula que não esteja em perfeita conexão com o Self. Nesse sentido, pode-se “afirmar que tem um corpo, mas não é o corpo”, que “Eu, Espírito, tenho uma casa, bens”, mas que sou muito mais do que isso. “Da mesma forma”, propõe a autora espiritual, segue-se a análise da vida emocional: “Eu tenho uma vida emocional, mas não sou a vida emocional.”

Desidentificar-se, portanto, “das sensações, necessidades de coisas, ambições, lembranças do passado e aspirações para o futuro, é viajar para a autoconsciência, distinguindo-se o que se deseja daquilo que realmente se é.” (ANGELIS, 2006, p.77)

O exercício de Aprender a ser, finalmente, liberta-me para viver de uma forma profunda o aprendizado essencial da criatura humana: aprender a amar.

Transcrito do artigo Uma Psicologia com Alma: A Psicologia Espírita de Joanna de Ângelis escrito por Cláudio Sinoti no livro  REFLETINDO A ALMA  pp.42.- 45.

Fique para a continuação do capll.

Postado em 18-04-2013

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