Crença
em Deus, religiosidade e inteligência espiritual
No campo da Psicologia, os
estudos de Carl Gustav Jung destacam-se dentre aqueles que se ocuparam profundamente
na análise do fenômeno religioso. Ao contrário de outras correntes, que
consideravam patológicas as buscas religiosas, Jung entendia que muitos dos
conflitos dos seus pacientes, em especial aqueles que se encontravam na 2ª
metade da vida, possuíam raiz religiosa, ou seja, a neurose se estabelecia
justamente por terem perdido o vinculo com a religiosidade.
A crença em Deus, a partir
da análise de Joanna de Ângelis, não implica a necessidade de uma busca
religiosa convencional, dogmática. Estabelece-se através da construção de uma
relação saudável com a força de atração psíquica – que a autora chama de deotropismo – equivalente a “um Sol transcendente, que é o Arquétipo
Primacial – a Divindade – que se irradia como fonte de vida, de calor, de
energia, Eixo central do Universo e Gerador do Cosmos, que atrai na Sua direção
todas as expressões que O manifestam na Criação.” (ANGELIS,2002, p.95)
Certamente que muitos dos
conflitos e transtornos psicológicos foram “desencadeados
pela fé religiosa totalitária, excessivamente dogmática, imperiosa, por inibir
os valores da personalidade e bloquear o discernimento da psique.”
(ANGELIS,2002,p.165). Mas a patologia não pode servir como parâmetro único de
análise, complementa a autora espiritual, pois “a fé religiosa segura, resultado da experiência pessoal com a
transcendência, faculta uma perfeita integração do ego com o Self, auxiliando-o
no deciframento de muitas incógnitas intimas, que desaparecem.” (ANGELIS,
2002, p.166).
Em outro extremo, observando
as pessoas que negam insistentemente a possibilidade da existência de Deus, ou
a desnecessidade da crença religiosa, Joanna (2002, p.166) observa que, “quando surpreendidas pelos fenômenos
psicopatológicos ou pelos desastres morais, sociais, econômicos... possuem
menos estrutura emocional, atirando-se, desesperadas, no fosso profundo da
autodestruição.”
A patologia, portanto, não
está no fato de ter ou não ter uma religião, porquanto Jung (1999, p.10)
considerava que “pertencer a uma confissão nem sempre implica uma questão de
religiosidade, mas, sobretudo, uma questão social que nada pode acrescentar à
estruturação do indivíduo”. Mais importante do que adotar uma seita formal é a
própria adoção da religiosidade, que de acordo com o pensamento de Joanna de
Ângelis (2006, p.65), “é uma conquista
que ultrapassa a adoção de uma religião; uma realização interior lúcida, que
independe do formalismo, mas que apenas se consegue através da coragem de o
homem emergir da rotina e encontrar a própria identidade”.
Foi
durante os anos 90, coincidindo com a estruturação da Série Psicológica, que os
estudos do neurocientista norte-americano Michael Persinger e,
posteriormente, do também neurocientista Vilayanur Ramachandran, indiano
radicado nos Estados Unidos, apresentaram evidências científicas da análise de
Jung e de Joanna de Ângelis, quando observaram a existência de um ponto divino
no cérebro humano.
Esses estudos serviram como
base para estabelecer que, além da inteligência cognitiva, emocional,
sensorial, entre outras, existe uma inteligência
espiritual. Esclarece Danah Zohar (2002,p.24) que “a inteligência espiritual é a inteligência da alma. É
a inteligência com a qual nos curamos e com a qual nos tornamos um todo
integro.” Essa inteligência
espiritual, complementa Joanna de Ângelis (2002,p.33), “pode ser considerada como base de sustentação para as duas outras, oferecendo-lhes
meios para a realização plenificadora de cada pessoa.”
O encontro com a
religiosidade, portanto, antes de ser patológico, trata-se de uma saudável busca
de si mesmo, do desenvolvimento de uma percepção e inteligência que servem não
somente ao ego, mas a uma busca transpessoal de realização.
O caminho para encontro com
o divino, no entanto, para desenvolver a religiosidade e a inteligência
espiritual, passa por um passo importantíssimo para o desenvolvimento psicológico
do ser: aprender a se conhecer.
Artigo escrito por Cláudio Sinoti – Do livro Refletindo a Alma – A Psicologia
Espírita de Joanna de Ângelis – Núcleo de Estudos Psicológicos Joanna de
Ângelis. Da pp.32-35.
Postado em 10/04/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário