quarta-feira, 10 de abril de 2013


Crença em Deus, religiosidade e inteligência espiritual

No campo da Psicologia, os estudos de Carl Gustav Jung destacam-se dentre aqueles que se ocuparam profundamente na análise do fenômeno religioso. Ao contrário de outras correntes, que consideravam patológicas as buscas religiosas, Jung entendia que muitos dos conflitos dos seus pacientes, em especial aqueles que se encontravam na 2ª metade da vida, possuíam raiz religiosa, ou seja, a neurose se estabelecia justamente por terem perdido o vinculo com a religiosidade.

A crença em Deus, a partir da análise de Joanna de Ângelis, não implica a necessidade de uma busca religiosa convencional, dogmática. Estabelece-se através da construção de uma relação saudável com a força de atração psíquica – que a autora chama de deotropismo – equivalente a “um Sol transcendente, que é o Arquétipo Primacial – a Divindade – que se irradia como fonte de vida, de calor, de energia, Eixo central do Universo e Gerador do Cosmos, que atrai na Sua direção todas as expressões que O manifestam na Criação.” (ANGELIS,2002, p.95)

Certamente que muitos dos conflitos e transtornos psicológicos foram “desencadeados pela fé religiosa totalitária, excessivamente dogmática, imperiosa, por inibir os valores da personalidade e bloquear o discernimento da psique.” (ANGELIS,2002,p.165). Mas a patologia não pode servir como parâmetro único de análise, complementa a autora espiritual, pois “a fé religiosa segura, resultado da experiência pessoal com a transcendência, faculta uma perfeita integração do ego com o Self, auxiliando-o no deciframento de muitas incógnitas intimas, que desaparecem.” (ANGELIS, 2002, p.166).

Em outro extremo, observando as pessoas que negam insistentemente a possibilidade da existência de Deus, ou a desnecessidade da crença religiosa, Joanna (2002, p.166) observa que, “quando surpreendidas pelos fenômenos psicopatológicos ou pelos desastres morais, sociais, econômicos... possuem menos estrutura emocional, atirando-se, desesperadas, no fosso profundo da autodestruição.”

A patologia, portanto, não está no fato de ter ou não ter uma religião, porquanto Jung (1999, p.10) considerava que “pertencer a uma confissão nem sempre implica uma questão de religiosidade, mas, sobretudo, uma questão social que nada pode acrescentar à estruturação do indivíduo”. Mais importante do que adotar uma seita formal é a própria adoção da religiosidade, que de acordo com o pensamento de Joanna de Ângelis (2006, p.65), “é uma conquista que ultrapassa a adoção de uma religião; uma realização interior lúcida, que independe do formalismo, mas que apenas se consegue através da coragem de o homem emergir da rotina e encontrar a própria identidade”.

Foi durante os anos 90, coincidindo com a estruturação da Série Psicológica, que os estudos do neurocientista norte-americano Michael Persinger e, posteriormente, do também neurocientista Vilayanur Ramachandran, indiano radicado nos Estados Unidos, apresentaram evidências científicas da análise de Jung e de Joanna de Ângelis, quando observaram a existência de um ponto divino no cérebro humano.

Esses estudos serviram como base para estabelecer que, além da inteligência cognitiva, emocional, sensorial, entre outras, existe uma inteligência espiritual. Esclarece Danah Zohar (2002,p.24) que “a inteligência espiritual é a inteligência da alma. É a inteligência com a qual nos curamos e com a qual nos tornamos um todo integro.” Essa inteligência espiritual, complementa Joanna de Ângelis (2002,p.33), “pode ser considerada como base de sustentação para as duas outras, oferecendo-lhes meios para a realização plenificadora de cada pessoa.”

O encontro com a religiosidade, portanto, antes de ser patológico, trata-se de uma saudável busca de si mesmo, do desenvolvimento de uma percepção e inteligência que servem não somente ao ego, mas a uma busca transpessoal de realização.

O caminho para encontro com o divino, no entanto, para desenvolver a religiosidade e a inteligência espiritual, passa por um passo importantíssimo para o desenvolvimento psicológico do ser: aprender a se conhecer.

Artigo escrito por Cláudio Sinoti  – Do livro Refletindo a Alma – A Psicologia Espírita de Joanna de Ângelis – Núcleo de Estudos Psicológicos Joanna de Ângelis. Da pp.32-35.

Postado em 10/04/2013

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