sábado, 20 de abril de 2013


Fragmentações morais

Cap. 2 - continuação

Um homem tinha dois filhos – narrou Jesus - Disse o mais moço a seu pai: - Meu pai, dá-me a parte dos bens que me toca. Ele repartiu os seus haveres entre ambos. Poucos dias depois o filho mais moço, ajuntando tudo o que era seu, partiu para um país longínquo, e lá dissipou todos os seus bens, vivendo dissolutamente. Depois de ter consumido tudo, sobreveio àquele país uma grande fome e ele começou a passar necessidades. Foi encontrar-se com um dos cidadãos daquele país e este o mandou para os seus campos guardar porcos. Ali desejava ele fartar-se das alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lh’as dava. Caindo, porém, em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui estou morrendo de fome! Levantar-me-ei, irei a meu pai e dir-lhe-ei: - Pai, pequei contra o céu e diante de ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus jornaleiros. Levantando-se, foi para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai viu-o e teve compaixão dele, e, correndo, o abraçou, e o beijou. Disse-lhe o filho: - Pai, pequei contra o céu e diante de ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho. O pai, porém, disse aos seus servos: - Trazei-me depressa a melhor roupa e vesti-lh’a, e ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também o novilho cevado, matai-o, comamos e regozijemo-nos, porque este meu filho era morto e reviveu, estava perdido e se achou. E começaram a regozijar-se. Seu filho mais velho estava no campo. Quando voltou e foi chegando a casa, ouviu a música e a dança, e chamando um dos criados, perguntou-lhe o que era aquilo. Este lhe respondeu: - Chegou teu irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. Ele se indignou e não queria entrar; e saindo seu pai, procurava conciliá-lo. Mas ele respondeu a seu pai: - Há tantos anos que te sirvo, sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com os meus amigos, mas quando veio este teu filho, que gastou os teus bens com meretrizes, tu mandas-te matar para ele o novilho cevado. Replicou-lhe o pai: - Filho, tu sempre estás comigo, e tudo que é meu é teu; entretanto, cumpria regozijarmo-nos e alegrarmo-nos, porque este teu irmão era morto e reviveu, estava perdido e se achou. (tradução segundo o original grego pelas Sociedades Bíblicas Unidas. Rio de Janeiro, Londres, New York.)

Os arquétipos do bem e do mal, da sombra densa e suave, do ego e do Self conflitam-se, nessa narrativa, enfrentando-se, lutando com ferocidade, e todo um arsenal de transtornos psicológicos aparece, tais a promiscuidade de conduta, a perversão, a fuga, o ressentimento, a ira e o desencanto, assinalando o comportamento dos dois irmãos, enquanto o pai generoso exterioriza a saúde pelo entendimento e pelo amor às defecções morais e ignorância dos filhos, utilizando-se da compaixão e do perdão, mas também da gratidão e do aflito.

O pai indu-los ao encontro com o arquétipo primordial   produzindo um reencontro terapêutico entre os dois irmãos, única forma de possibilitar o entendimento entre ambos, a fraternidade plena, a saúde geral.
Atente para continuação deste texto na próxima postagem

Do livro Em busca da verdade - Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco - pp. 30-32

Postado em 20-04-2013

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