domingo, 14 de abril de 2013


Do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO. Continuação do texto, A Vida e a Gratidão. 

Narra-se que um circo muito famoso, que se apresentava em Londres faz muito tempo, mantinha um elefante gentil que era motivo de júbilo das crianças, dos adultos, dos idosos, de todos que compareciam ao espetáculo no qual ele era a atração.  Chamava-se Bozo, e era muito dócil.  Bailava com o corpanzil, movia-se com suavidade, deitava-se e erguia-se com leveza...

Oportunamente, para surpresa geral, o paquiderme tentou atacar e matar o seu tratador, o que causou imenso desgosto.  Porque agora urrasse colérico, ameaçando todos que se acercavam da sua jaula, tornou-se um perigo público, e as autoridades solicitaram ao proprietário do circo que o eliminasse.

Diante da injunção, para não perder totalmente o dinheiro que Bozo representava, o seu dono resolveu utilizá-lo para um último espetáculo, quando ele deveria morrer publicamente, e, a fim de que tal sucedesse, anunciou a futura ocorrência e vendeu ingressos para o trágico acontecimento.

No sábado assinalado, pela manhã, antecipadamente anunciado, o circo encontrava-se repleto de curiosos e de insensíveis que ali estavam para ver a morte do animal que antes os distraía, numa demonstração cruel e selvagem de indiferença.

Na jaula circular, o animal movimentava-se agressivo, emitindo sons estranhos e arrepiantes.

Do lado de fora, os homens uniformizados, que se equipavam para o final terrível.

Nesse momento, enquanto o proprietário anunciava o fatídico acontecimento que logo teria lugar, alguém dele se aproximou, tocou-lhe o ombro e disse quase com doçura:

- Não lhe seria mais útil se o senhor pudesse manter vivo o animal?

E o empresário respondeu, quase com rispidez:

- Não tenho como poupá-lo, porquanto ele enlouqueceu e pode matar alguém.

- Permita-me, então, entrar na jaula e acalmá-lo, num breve tempo em que lhe possa falar.

Estremunhado, o dono do circo olhou para aquele homem de pequena estatura e redarguiu:

- Se eu consentisse uma loucura dessas, o elefante o faria picadinho, matando-o de forma impiedosa.

- Eu correrei o risco – afirmou o estranho – E para poupá-lo de problemas ou contrariedades, eu assinei este documento que lhe entrego, assumindo toda a responsabilidade pelo meu ato.

O empresário olhou o papel de relance, anunciou ao público a proposta, e a massa informe, desejosa de sensações fortes, como no circo romano do passado, aplaudiu a anuência.

A porta de ferro foi aberta e o homem adentrou-se na jaula.  O animal pareceu irritar-se ainda mais, parando do movimento circular, enquanto o visitante falava-lhe baixinho, palavras que ninguém entendia, num tom melódico, fazendo lembrar uma canção mântrica.  Ouvindo-o, o animal foi-se acalmando, deixou de balançar-se, os olhos injetados recuperaram a expressão habitual, o estranho acercou-se mais, tocou-lhe na tromba e delicadamente puxou o paquiderme, fazendo um círculo em torno da jaula, com a sua maneira característica muito conhecida.

O público, tomado de surpresa, aplaudiu o ato.

O visitante da jaula saiu calmamente como entrara, tomou do chapéu-coco e do paletó, vestindo-os e saiu, sem dar importância à mão distendida do agora feliz proprietário de Bozo.

Voltando-se para trás, explicou:

- Bozo não é mau.  Ele estava apenas com saudades do hindustani, o idioma no qual foi amestrado após nascer.  Tratando-se de um elefante hindu, ele estava com saudade da sua terra, da língua materna, e acalmou-se, tendo sua paz restituída.

E não apertou a mão do diretor do circo.

Surpreso, o ambicioso proprietário olhou com mais cuidado o documento que tinha na mão e foi tomado de mais espanto, porque estava assinado por Rudyard Kipling, o inesquecível amigo dos animais, que escrevera inúmeras histórias sobre eles e que foram traduzidas em muitos idiomas.

A gratidão de Kipling ao animal saudoso devolveu-lhe a vida, enquanto Bozo, por sua vez, ouvindo a música doce do idioma a que estava acostumado, expressou a sua gratidão, recuperando a calma.

Gratidão, eis também uma forma de sentido existencial, de significado da vida, que bem poucas pessoas sabem aplicar no seu desenvolvimento emocional. (grifos nosso)

Texto estudado da obra PSICOLOGIA DA GRATIDÃO, pelo espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco.pp.30-34..

Postado em 14-04-2013.

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