Do livro PSICOLOGIA DA
GRATIDÃO. Continuação do texto, A Vida e a Gratidão.
Narra-se que um circo muito
famoso, que se apresentava em Londres faz muito tempo, mantinha um elefante
gentil que era motivo de júbilo das crianças, dos adultos, dos idosos, de todos
que compareciam ao espetáculo no qual ele era a atração. Chamava-se Bozo, e era muito dócil. Bailava com o corpanzil, movia-se com
suavidade, deitava-se e erguia-se com leveza...
Oportunamente, para surpresa
geral, o paquiderme tentou atacar e matar o seu tratador, o que causou imenso
desgosto. Porque agora urrasse colérico,
ameaçando todos que se acercavam da sua jaula, tornou-se um perigo público, e
as autoridades solicitaram ao proprietário do circo que o eliminasse.
Diante da injunção, para não
perder totalmente o dinheiro que Bozo representava, o seu dono resolveu
utilizá-lo para um último espetáculo, quando ele deveria morrer publicamente,
e, a fim de que tal sucedesse, anunciou a futura ocorrência e vendeu ingressos
para o trágico acontecimento.
No sábado assinalado, pela
manhã, antecipadamente anunciado, o circo encontrava-se repleto de curiosos e de
insensíveis que ali estavam para ver a morte do animal que antes os distraía,
numa demonstração cruel e selvagem de indiferença.
Na jaula circular, o animal
movimentava-se agressivo, emitindo sons estranhos e arrepiantes.
Do lado de fora, os homens
uniformizados, que se equipavam para o final terrível.
Nesse momento, enquanto o proprietário
anunciava o fatídico acontecimento que logo teria lugar, alguém dele se
aproximou, tocou-lhe o ombro e disse quase com doçura:
- Não lhe seria mais útil se
o senhor pudesse manter vivo o animal?
E o empresário respondeu,
quase com rispidez:
- Não tenho como poupá-lo,
porquanto ele enlouqueceu e pode matar alguém.
- Permita-me, então, entrar
na jaula e acalmá-lo, num breve tempo em que lhe possa falar.
Estremunhado, o dono do
circo olhou para aquele homem de pequena estatura e redarguiu:
- Se eu consentisse uma
loucura dessas, o elefante o faria picadinho, matando-o de forma impiedosa.
- Eu correrei o risco –
afirmou o estranho – E para poupá-lo de problemas ou contrariedades, eu assinei
este documento que lhe entrego, assumindo toda a responsabilidade pelo meu ato.
O empresário olhou o papel
de relance, anunciou ao público a proposta, e a massa informe, desejosa de
sensações fortes, como no circo romano do passado, aplaudiu a anuência.
A porta de ferro foi aberta
e o homem adentrou-se na jaula. O animal
pareceu irritar-se ainda mais, parando do movimento circular, enquanto o visitante
falava-lhe baixinho, palavras que ninguém entendia, num tom melódico, fazendo
lembrar uma canção mântrica. Ouvindo-o,
o animal foi-se acalmando, deixou de balançar-se, os olhos injetados recuperaram
a expressão habitual, o estranho acercou-se mais, tocou-lhe na tromba e
delicadamente puxou o paquiderme, fazendo um círculo em torno da jaula, com a
sua maneira característica muito conhecida.
O público, tomado de
surpresa, aplaudiu o ato.
O visitante da jaula saiu
calmamente como entrara, tomou do chapéu-coco e do paletó, vestindo-os e saiu,
sem dar importância à mão distendida do agora feliz proprietário de Bozo.
Voltando-se para trás, explicou:
- Bozo não é mau. Ele estava apenas com saudades do hindustani,
o idioma no qual foi amestrado após nascer.
Tratando-se de um elefante hindu, ele estava com saudade da sua terra, da língua materna, e acalmou-se, tendo sua
paz restituída.
E não apertou a mão do
diretor do circo.
Surpreso, o ambicioso proprietário
olhou com mais cuidado o documento que tinha na mão e foi tomado de mais
espanto, porque estava assinado por Rudyard Kipling, o inesquecível amigo dos
animais, que escrevera inúmeras histórias sobre eles e que foram traduzidas em
muitos idiomas.
A gratidão de Kipling ao
animal saudoso devolveu-lhe a vida, enquanto Bozo, por sua vez, ouvindo a
música doce do idioma a que estava acostumado, expressou a sua gratidão, recuperando a calma.
Gratidão, eis também uma
forma de sentido existencial, de significado da vida, que bem poucas
pessoas sabem aplicar no seu desenvolvimento emocional. (grifos nosso)
Texto estudado da obra
PSICOLOGIA DA GRATIDÃO, pelo espírito Joanna de Ângelis, psicografado por
Divaldo Pereira Franco.pp.30-34..
Postado em 14-04-2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário