O
MISTÉRIO DO ENCONTRO E SEUS DESAFIOS
(continuação)
Em relação ao oposto, ou seja, ao mau
encontro, podemos dizer que ele é fruto de um mal-entendido.
Quando falta essa
compreensão e capacidade de conhecimento de si e do outro é provável que isso
provoque dificuldades no processo de se relacionar. Por exemplo, se eu não
conheço a sensibilidade da minha pele e também não conheço a força da urtiga,
que possui diversas substâncias, principalmente a histamina, acetilcolina e
ácido fórmico que, quando entram em contato com a pele, provocam dilatação dos
vasos sanguíneos e uma espécie de inflamação, então desse encontro vai resultar
um ardor irritante como fruto desse mau encontro. Agora, a urtiga também possui
nas folhas uma forte ação diurética, anti-inflamatória e remineralizante, sendo
ainda ligeiramente hipoglicemiante, e suas raízes tem um efeito
anti-inflamatório sobre o adenoma prostático, podendo ajudar a retardar o hipertrofismo
da próstata. Se souber como agir com ela, conhecendo sua natureza, então aquele
mau encontro vai poder dar lugar ao bom encontro, favorecendo uma potencialização
do meu ser, na medida em que favorece minha saúde.
Joanna é muito clara quando
coloca que...
os relacionamentos de
qualquer natureza de-
pendem sempre do nível de consciência
daque-
les que estão envolvidos. Havendo
maturidade
psicológica e compreensão de
respeito pelo ou-
tro, facilmente se
aprofundam os sentimentos,
mantendo-se admirável
comunhão de interes-
ses e afinidades, que mais
se intensificam, à
medida que as circunstâncias
permitem o en-
trosamento da convivência. (O Despertar do Espírito p.141).
Para a autora, qualquer tipo
de relacionamento deve ter como estímulo a amizade e o desejo honesto de que
ambos sejam satisfeitos, sem que haja predomínio de uma vontade sobre a individualidade
do outro. Por isso é necessário cuidarmos para não julgar precipitadamente o
outro e estabelecer conceitos equivocados pelos efeitos que o outro gerou em
nós. O fato de termos um mau encontro não nos dá o direito de o julgamos por
isso, e o pior, muitas vezes generalizamos a experiência e agimos de maneira
preconcebida ante todos que possuem as mesmas características. Isso é comum nas
afirmações machistas e feministas que acabam gerando uma cultura que não
favorece o crescimento e a troca nas relações. Quando falamos pejorativamente
que os “homens são todos iguais”, nos fechamos para conhecer quem são realmente
esses homens e o que provocamos neles para que a minha experiência tenha sido
negativa. A generalização e o preconceito são frutos da nossa incapacidade de
conhecer o outro e do medo de nossa própria mediocridade escondida na nossa
sombra interior, que é projetada no outro.
Importa então não reagirmos
``aquilo que nos rejeita, que nos agride. Nesse sentido, as inimizades têm um
valor particular. Os inimigos podem assumir tantas faces quanto os distintos
temores que podemos classificar. O outro é a imagem do inimigo, pois é outro
que nos contrapõe naquilo que somos e tememos.
Quando reencarnamos, sabemos
que muitos dos desafetos participam do mesmo campo de provação através dos
vínculos familiares. Isto porque é necessário que esses desafetos se descubram
companheiros e parceiros, e para isso é necessário estarem expostos a uma mesma
violência ou adversidade. Só quando enxergamos o outro como vítima do mesmo
infortúnio conseguimos desfazer a inimizade. Se doesse em você o que dói no
outro; se você sentisse o que o outro sente e se estivesse no lugar do outro, você
seria igual ao outro. Não seria parecido, mas igual ao outro.
A familiaridade desarma. Ela
faz os olhos, os ouvidos e o olfato adocicarem o medo. Percebemos que aquelas
pessoas que odiamos, em sua rotina, não são inimigas de ninguém. Compartilham da
mesma luta humana pela sobrevivência, tanto no aspecto físico quanto na
manutenção da dignidade.
Ficamos presos em nossa
identidade pequena, naquilo que transitoriamente nos identifica e perdemos
nossa identidade maior, nossa essência na qual encontramos os valores do
Espirito. Como diz o ditado chinês: “no final do jogo, tanto rei como peão
voltam para a mesma caixa”. Ter uma identidade é uma intolerância. Nesse sentido,
devemos evitar julgar e procurar ser um mediador da vida. Mediar é algo diferente
de julgar. O mediador tem como função gerar um campo de escuta e estabelecer
uma ponte entre os aspectos envolvidos.
Sendo o outro uma projeção
de mim mesmo, é fácil confundirmos alguns conceitos envolvidos nas relações. Entre
eles o de interagir e controlar. Temos a tendência de controlar os outros em
função, de nossas necessidades ou de afastá-los por medo. Não podemos esquecer
que somos todos peregrinos, cada um nascendo num determinado cenário, palco
onde o drama da vida se dará para que o Espirito se experimente. O caminho,
mais do que estradas, é feito de encontros e interações. E isso é bem diferente
do que controlar. Controlar está no âmbito do interesse pessoal, tentando
buscar o domínio da vontade do ego. Mas existe uma força para além do ego que
nos ensina que o caminho é o que é melhor para a alma, e não exatamente o que o
nosso ego almeja.
O outro fator de ajuda para
nos educarmos nas relações e obtermos uma consciência dos sentimentos
envolvidos é prestar atenção ao efeito que causamos às pessoas e aos efeitos
que elas nos causam. É muito difícil termos uma crítica exata de nós mesmos, é
como se os olhos tivesse que olhar para ele mesmo. Assim, o ego tem limites de
avaliar corretamente, já que avalia segundo sua própria percepção e valores. Então,
o exercício de olharmos para os outros, observando suas expressões para
perceber o que causamos oferece muitos dados sobre a nossa função sentimento. Que
tipo de atenção conseguimos despertar no outro? Que tipo de energia eu passo
para o meu próximo quando falo? Também nossa reação é importante ser percebida.
Como encaro os meus colegas de trabalho? Consigo sorrir para alguém que se
encontra na defensiva? O tempo flui naturalmente ou com sensação de lentidão?
Percebemos que todos esses
aspectos levantados ocorrem na sua maioria nas relações. É na relação que o
sentimento ganha forma e é através das relações que temos a maior oportunidade
de educarmos o sentimento. Prestar atenção às relações e dar a elas sua devida importância
é ter meio caminho andado neste processo. O reconhecimento do valor numa situação
ou de alguém cria uma atmosfera de importância que gera profundidade,
entendimento e uma intensa troca energética que alimenta a todos. E, para isso,
não precisamos lançar mão de artifícios como roupas, decoração e jantares
suntuosos, basta ouvir com atenção e interesse. Com isso, vamos criando uma
espécie de espelhamento para o outro, em que ele pode se reconhecer através de
nós, sentindo-se amado e cheio de vida. Também vamos ajudar para que eles
possam extrair e intensificar valores; naturalmente, colocando limite ao que
for impróprio. Existem pessoas que possuem uma atitude interna tão bem-integrada
em termos de sentimento que, seja o ambiente em que estiverem, criam uma
atmosfera que determina o tom moral para o ambiente e todos se ajustam
naturalmente.
Para finalizar, trazemos as
palavras de Joanna de Ângelis, que nos esclarece quando afirma que todo
relacionamento psicológico maduro é sustentado por uma convivência leal, “na
qual os propósitos que vinculam os indivíduos entre si são discutidos com
naturalidade e sentimento de aprendizagem de novos recursos para o bom
desempenho social.” (O Despertar do
Espírito, p.150).
postado dia, 15/12/13.
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