domingo, 15 de dezembro de 2013


O MISTÉRIO DO ENCONTRO E SEUS DESAFIOS

(continuação)

 Em relação ao oposto, ou seja, ao mau encontro, podemos dizer que ele é fruto de um mal-entendido.

Quando falta essa compreensão e capacidade de conhecimento de si e do outro é provável que isso provoque dificuldades no processo de se relacionar. Por exemplo, se eu não conheço a sensibilidade da minha pele e também não conheço a força da urtiga, que possui diversas substâncias, principalmente a histamina, acetilcolina e ácido fórmico que, quando entram em contato com a pele, provocam dilatação dos vasos sanguíneos e uma espécie de inflamação, então desse encontro vai resultar um ardor irritante como fruto desse mau encontro. Agora, a urtiga também possui nas folhas uma forte ação diurética, anti-inflamatória e remineralizante, sendo ainda ligeiramente hipoglicemiante, e suas raízes tem um efeito anti-inflamatório sobre o adenoma prostático, podendo ajudar a retardar o hipertrofismo da próstata. Se souber como agir com ela, conhecendo sua natureza, então aquele mau encontro vai poder dar lugar ao bom encontro, favorecendo uma potencialização do meu ser, na medida em que favorece minha saúde.

Joanna é muito clara quando coloca que...

os relacionamentos de qualquer natureza de-

pendem sempre do nível de consciência daque-

les que estão envolvidos. Havendo maturidade

psicológica e compreensão de respeito pelo ou-

tro, facilmente se aprofundam os sentimentos,

mantendo-se admirável comunhão de interes-

ses e afinidades, que mais se intensificam, à

medida que as circunstâncias permitem o en-

trosamento da convivência. (O Despertar do Espírito p.141).

Para a autora, qualquer tipo de relacionamento deve ter como estímulo a amizade e o desejo honesto de que ambos sejam satisfeitos, sem que haja predomínio de uma vontade sobre a individualidade do outro. Por isso é necessário cuidarmos para não julgar precipitadamente o outro e estabelecer conceitos equivocados pelos efeitos que o outro gerou em nós. O fato de termos um mau encontro não nos dá o direito de o julgamos por isso, e o pior, muitas vezes generalizamos a experiência e agimos de maneira preconcebida ante todos que possuem as mesmas características. Isso é comum nas afirmações machistas e feministas que acabam gerando uma cultura que não favorece o crescimento e a troca nas relações. Quando falamos pejorativamente que os “homens são todos iguais”, nos fechamos para conhecer quem são realmente esses homens e o que provocamos neles para que a minha experiência tenha sido negativa. A generalização e o preconceito são frutos da nossa incapacidade de conhecer o outro e do medo de nossa própria mediocridade escondida na nossa sombra interior, que é projetada no outro.

Importa então não reagirmos ``aquilo que nos rejeita, que nos agride. Nesse sentido, as inimizades têm um valor particular. Os inimigos podem assumir tantas faces quanto os distintos temores que podemos classificar. O outro é a imagem do inimigo, pois é outro que nos contrapõe naquilo que somos e tememos.

Quando reencarnamos, sabemos que muitos dos desafetos participam do mesmo campo de provação através dos vínculos familiares. Isto porque é necessário que esses desafetos se descubram companheiros e parceiros, e para isso é necessário estarem expostos a uma mesma violência ou adversidade. Só quando enxergamos o outro como vítima do mesmo infortúnio conseguimos desfazer a inimizade. Se doesse em você o que dói no outro; se você sentisse o que o outro sente e se estivesse no lugar do outro, você seria igual ao outro. Não seria parecido, mas igual ao outro.

A familiaridade desarma. Ela faz os olhos, os ouvidos e o olfato adocicarem o medo. Percebemos que aquelas pessoas que odiamos, em sua rotina, não são inimigas de ninguém. Compartilham da mesma luta humana pela sobrevivência, tanto no aspecto físico quanto na manutenção da dignidade.

Ficamos presos em nossa identidade pequena, naquilo que transitoriamente nos identifica e perdemos nossa identidade maior, nossa essência na qual encontramos os valores do Espirito. Como diz o ditado chinês: “no final do jogo, tanto rei como peão voltam para a mesma caixa”. Ter uma identidade é uma intolerância. Nesse sentido, devemos evitar julgar e procurar ser um mediador da vida. Mediar é algo diferente de julgar. O mediador tem como função gerar um campo de escuta e estabelecer uma ponte entre os aspectos envolvidos.

Sendo o outro uma projeção de mim mesmo, é fácil confundirmos alguns conceitos envolvidos nas relações. Entre eles o de interagir e controlar. Temos a tendência de controlar os outros em função, de nossas necessidades ou de afastá-los por medo. Não podemos esquecer que somos todos peregrinos, cada um nascendo num determinado cenário, palco onde o drama da vida se dará para que o Espirito se experimente. O caminho, mais do que estradas, é feito de encontros e interações. E isso é bem diferente do que controlar. Controlar está no âmbito do interesse pessoal, tentando buscar o domínio da vontade do ego. Mas existe uma força para além do ego que nos ensina que o caminho é o que é melhor para a alma, e não exatamente o que o nosso ego almeja.

O outro fator de ajuda para nos educarmos nas relações e obtermos uma consciência dos sentimentos envolvidos é prestar atenção ao efeito que causamos às pessoas e aos efeitos que elas nos causam. É muito difícil termos uma crítica exata de nós mesmos, é como se os olhos tivesse que olhar para ele mesmo. Assim, o ego tem limites de avaliar corretamente, já que avalia segundo sua própria percepção e valores. Então, o exercício de olharmos para os outros, observando suas expressões para perceber o que causamos oferece muitos dados sobre a nossa função sentimento. Que tipo de atenção conseguimos despertar no outro? Que tipo de energia eu passo para o meu próximo quando falo? Também nossa reação é importante ser percebida. Como encaro os meus colegas de trabalho? Consigo sorrir para alguém que se encontra na defensiva? O tempo flui naturalmente ou com sensação de lentidão?

Percebemos que todos esses aspectos levantados ocorrem na sua maioria nas relações. É na relação que o sentimento ganha forma e é através das relações que temos a maior oportunidade de educarmos o sentimento. Prestar atenção às relações e dar a elas sua devida importância é ter meio caminho andado neste processo. O reconhecimento do valor numa situação ou de alguém cria uma atmosfera de importância que gera profundidade, entendimento e uma intensa troca energética que alimenta a todos. E, para isso, não precisamos lançar mão de artifícios como roupas, decoração e jantares suntuosos, basta ouvir com atenção e interesse. Com isso, vamos criando uma espécie de espelhamento para o outro, em que ele pode se reconhecer através de nós, sentindo-se amado e cheio de vida. Também vamos ajudar para que eles possam extrair e intensificar valores; naturalmente, colocando limite ao que for impróprio. Existem pessoas que possuem uma atitude interna tão bem-integrada em termos de sentimento que, seja o ambiente em que estiverem, criam uma atmosfera que determina o tom moral para o ambiente e todos se ajustam naturalmente.

Para finalizar, trazemos as palavras de Joanna de Ângelis, que nos esclarece quando afirma que todo relacionamento psicológico maduro é sustentado por uma convivência leal, “na qual os propósitos que vinculam os indivíduos entre si são discutidos com naturalidade e sentimento de aprendizagem de novos recursos para o bom desempenho social.” (O Despertar do Espírito, p.150).
postado dia, 15/12/13.

 
 

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