A
CONTÍNUA LUTA ENTRE O EGO E O SELF
O ego, no conceito freudiano, conforme define o dicionário Aurélio,
é: A parte mais superficial do id, que, modificada, por influência do
mundo exterior, por meio dos sentidos, e, em consequência, tornada consciente,
tem por funções a comprovação da realidade e a aceitação, pela seleção e controle, de parte dos desejos e
exigências vindas dos impulsos que emanam do id.
Nele se encontram, os
impositivos dos instintos que se derivam do principio do prazer e pela
compulsão ao desejo.
Esses impulsos resultam dos
instintos procedentes das faixas primárias da evolução, que se destacam em
oposição quase dominante contra a razão, a consciência de solidariedade, de
fraternidade, de tolerância e de amor.
Dominador, o ego mascara-se
no personalismo, onde se escondem as heranças grosseiras, que levam o indivíduo
à prepotência, à dominação dos outros, frente a dificuldade de fazê-lo com
relação a si mesmo, ou seja, libertar-se da situação sofrida em que se
encontra.
A luta interna dos dois
polos torna--se cruel, embora o ego aparente desconhecer, mantendo uma
superficial consciência do valor que se atribui, do poder que exterioriza, da
condição com que se apresenta.
Como o Self é o arquétipo básico da vida consciente, o princípio inteligente, é também a soma de todas as experiências
evolutivas, caminhando na direção do estado numinoso.
Nessa dissociação dos polos,
muitas vezes pode parecer que o indivíduo, com grande esforço, conseguiu a
integração, até o momento que se surpreende com o medo da fragmentação
inesperada que o leva a um transtorno profundo, especialmente se viveu por um
ideal que asfixiou o conflito, mas não o resolveu, acordando com impressão de
inutilidade, de vazio existencial.
O ego exige destaque,
compensação, aplauso, embora nos conflitos entre razão e instinto, surgindo como
uma sede de água do mar, que não é
saciada com razão.
Mesmo recebendo compensações
de prazer, do impulso instintivo que leva à compulsão do desejo, a insatisfação
que vem da ansiedade do poder, leva a sua vítima para a depressão, porque a sua
ânsia de dominação acaba por esvaziá-lo interiormente.
Da mesma forma acontece na
vida monástica, quando diminuem o entusiasmo e o egotísmo no postulante ou no
religioso, no momento que é visitado pela melancolia que agrava com a depressão, erradamente interpretada como
interferência demoníaca, pelo fanatismo ainda presente em muitos setores da fé
espiritualista.
Alfredo Adler diz que o
instinto de dominação no indivíduo, quando não se sente compensado ou reconhecido e aceito, foge, esconde-se na
depressão, exteriorizando ali a agressividade e violência.
No caso, o paciente não tem
problema, já que o seu estado de alguma
forma lhe faz bem, tornando-se um problema para o grupamento social saudável,
que busca manipular, dominando-o, tornando-se preocupação para os outros.
Conscientizar a sombra, diluindo-a, pela sua
assimilação, e não desconhecê-la, é um avanço para a identificação entre ego e
Self.
Jung percebeu esses dois eus no indivíduo, seria resultante do Self, aquele que é bom e gentil, e do
ego aquele que preserva o lado feroz, vulgar, licencioso, negativo.
Dir-se-ia que o indivíduo teria
duas almas em contínuo antagonismo no
finito de si mesmo.
Essas expressões presentes
na conduta humana, apresentam-se quando se encontram em público, numa forma de
ser, enquanto, no lar, na família ou a sós, apresentam outra conduta diferente.
O que representa gentileza transforma-se em mal-estar, azedume e aspereza.
Aceitar-se naturalmente
esses opostos é recurso saudável, terapêutico, para melhor contribuir-se pela
harmonia na disputa dos contendores, que são o ego e o Self.
No comportamento social não
é necessário mascarar-se de qualidades que não se possuem, embora não se deva
expor as aflições internas, os tormentos do polo negativo.
Assumir-se a realidade do
que se é, administrando, pela educação – fonte geradora dos valores edificantes
e enobrecedores – os impulsos do desejo e do prazer, transforma-se em emoções
de bem-estar e alegria, saindo da área das sensações dominantes, é maneira
eficiente para diminuir a luta que existe entre os dois arquétipos básicos da
vida humana.
Uma religião racional como o
Espiritismo, sem fórmulas que escondam o seu conteúdo, que é otimista e não
castradora, que leva o indivíduo a assumir as suas dificuldades, trabalhando-as
com naturalidade, sem a preocupação de parecer o que ainda não é, com base na
realidade do ser imortal, com as suas vitórias e limitações, é importante
recurso terapêutico para a união de todos os opostos, que passarão a fundir-se,
dando lugar a um eu liberado dos conflitos, que se pode unir à Divindade, sem
os artifícios que tanto agradam os indivíduos ligeiros e seus supérfluos comportamentos
existenciais.
A luta, portanto, existente
entre o ego e o Self é saudável, por significar atividade contínua no processo de
crescimento, e não postura estática, amorfa, que representa uma quase morte
psicológica do ser existencial.
Humanizar-se, do ponto de
vista psicológico, é integrar-se.
Jesus-Cristo foi incisivo,
demonstrando a Sua perfeita integração com o Pai, quando enunciou: - Eu e o Pai somos um, expressando dessa
forma a perfeita identificação entre ambos, aos comportamentos nobres, às
propostas libertadoras sem polos opositores.
Mais tarde, o apóstolo
Paulo, superando as lutas entre o ego
dominante e o Self altruísta,
universal, disse: - Já não sou eu quem
vive, mas o Cristo quem vive em mim.
A sombra que nunca existiu em Jesus, fez dele a Luz do mundo e a que
existia em Saulo, Paulo enfim, iluminou-a, diluindo-a no amor.
Trabalho com base no
cap.l O HOMEM E SUA TOTALIDADE, do
livro Em Busca da Verdade de Joanna de Ângelis, pelo médium Divaldo Franco
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