sábado, 21 de dezembro de 2013


 

A CONTÍNUA LUTA ENTRE O EGO E O SELF

O ego, no conceito freudiano, conforme define o dicionário Aurélio, é: A parte mais superficial do id, que, modificada, por influência do mundo exterior, por meio dos sentidos, e, em consequência, tornada consciente, tem por funções a comprovação da realidade e a aceitação, pela seleção e controle, de parte dos desejos e exigências vindas dos impulsos que emanam do id.

Nele se encontram, os impositivos dos instintos que se derivam do principio do prazer e pela compulsão ao desejo.

Esses impulsos resultam dos instintos procedentes das faixas primárias da evolução, que se destacam em oposição quase dominante contra a razão, a consciência de solidariedade, de fraternidade, de tolerância e de amor.

Dominador, o ego mascara-se no personalismo, onde se escondem as heranças grosseiras, que levam o indivíduo à prepotência, à dominação dos outros, frente a dificuldade de fazê-lo com relação a si mesmo, ou seja, libertar-se da situação sofrida em que se encontra.

A luta interna dos dois polos torna--se cruel, embora o ego aparente desconhecer, mantendo uma superficial consciência do valor que se atribui, do poder que exterioriza, da condição com que se apresenta.

Como o Self é o arquétipo básico da vida consciente, o princípio inteligente, é também a soma de todas as experiências evolutivas, caminhando na direção do estado numinoso.

Nessa dissociação dos polos, muitas vezes pode parecer que o indivíduo, com grande esforço, conseguiu a integração, até o momento que se surpreende com o medo da fragmentação inesperada que o leva a um transtorno profundo, especialmente se viveu por um ideal que asfixiou o conflito, mas não o resolveu, acordando com impressão de inutilidade, de vazio existencial.

O ego exige destaque, compensação, aplauso, embora nos conflitos entre razão e instinto, surgindo como uma sede de água do mar, que não é saciada com razão.

Mesmo recebendo compensações de prazer, do impulso instintivo que leva à compulsão do desejo, a insatisfação que vem da ansiedade do poder, leva a sua vítima para a depressão, porque a sua ânsia de dominação acaba por esvaziá-lo interiormente.

Da mesma forma acontece na vida monástica, quando diminuem o entusiasmo e o egotísmo no postulante ou no religioso, no momento que é visitado pela melancolia que agrava com a  depressão, erradamente interpretada como interferência demoníaca, pelo fanatismo ainda  presente em muitos setores da fé espiritualista.

Alfredo Adler diz que o instinto de dominação no indivíduo, quando não se sente compensado ou  reconhecido e aceito, foge, esconde-se na depressão, exteriorizando ali a agressividade e violência.

No caso, o paciente não tem problema, já que o seu estado  de alguma forma lhe faz bem, tornando-se um problema para o grupamento social saudável, que busca manipular, dominando-o, tornando-se preocupação para os outros.

Conscientizar a sombra, diluindo-a, pela sua assimilação, e não desconhecê-la, é um avanço para a identificação entre ego e Self.

Jung percebeu esses dois eus no indivíduo, seria resultante do Self, aquele que é bom e gentil, e do ego aquele que preserva o lado feroz, vulgar, licencioso, negativo.

Dir-se-ia que o indivíduo teria duas almas em contínuo antagonismo no finito de si mesmo.

Essas expressões presentes na conduta humana, apresentam-se quando se encontram em público, numa forma de ser, enquanto, no lar, na família ou a sós, apresentam outra conduta diferente. O que representa gentileza transforma-se em mal-estar, azedume e aspereza.

Aceitar-se naturalmente esses opostos é recurso saudável, terapêutico, para melhor contribuir-se pela harmonia na disputa dos contendores, que são o ego e o Self.

No comportamento social não é necessário mascarar-se de qualidades que não se possuem, embora não se deva expor as aflições internas, os tormentos do polo negativo.

Assumir-se a realidade do que se é, administrando, pela educação – fonte geradora dos valores edificantes e enobrecedores – os impulsos do desejo e do prazer, transforma-se em emoções de bem-estar e alegria, saindo da área das sensações dominantes, é maneira eficiente para diminuir a luta que existe entre os dois arquétipos básicos da vida humana.

Uma religião racional como o Espiritismo, sem fórmulas que escondam o seu conteúdo, que é otimista e não castradora, que leva o indivíduo a assumir as suas dificuldades, trabalhando-as com naturalidade, sem a preocupação de parecer o que ainda não é, com base na realidade do ser imortal, com as suas vitórias e limitações, é importante recurso terapêutico para a união de todos os opostos, que passarão a fundir-se, dando lugar a um eu liberado dos conflitos, que se pode unir à Divindade, sem os artifícios que tanto agradam os indivíduos ligeiros e seus supérfluos comportamentos existenciais.

A luta, portanto, existente entre o ego e o Self é saudável, por significar atividade contínua no processo de crescimento, e não postura estática, amorfa, que representa uma quase morte psicológica do ser existencial.

Humanizar-se, do ponto de vista psicológico, é integrar-se.

Jesus-Cristo foi incisivo, demonstrando a Sua perfeita integração com o Pai, quando enunciou: - Eu e o Pai somos um, expressando dessa forma a perfeita identificação entre ambos, aos comportamentos nobres, às propostas libertadoras sem polos opositores.

Mais tarde, o apóstolo Paulo, superando as lutas entre o ego dominante e o Self altruísta, universal, disse: - Já não sou eu quem vive, mas o Cristo quem vive em mim.

A sombra que nunca existiu em Jesus, fez dele a Luz do mundo e a que existia em Saulo, Paulo enfim, iluminou-a, diluindo-a no amor.
Trabalho com base no cap.l O HOMEM E SUA TOTALIDADE, do livro Em Busca da Verdade de Joanna de Ângelis, pelo médium Divaldo Franco

Nenhum comentário: