domingo, 29 de dezembro de 2013


 

EXERCÍCIO DA GRATIDÃO

Todas as conquistas do conhecimento e da experiência de vida resultam do treinamento, do exercício.

Quando o self está em desenvolvimento, as emoções ainda se caracterizam pelas heranças do instinto, que se vão modificando lentamente, até atingir os patamares do amor e da gratidão. Não estranhe que as condutas humanas durante esse processo apresentem-se afetadas pelo egotismo gerador da ingratidão. O indivíduo atribui-se méritos que não tem e tudo o que recebe considera como  consequência do seu valor. A permanência da sombra dificulta-lhe o discernimento, impondo-lhe situações embaraçosas e até perversas. Esse movimento de curso demorado vai modificando-se de acordo com as experiências edificantes vão acumulando-se como resultado do treinamento, proporcionando clareza para a compreensão da felicidade após a descoberta do significado existencial.

O único sentido, de ser humano propõe como foco principal a emoção do amor que será alcançada. No oceano do amor, tudo se confunde em plenitude, portanto em superação do ego e dos arquétipos perturbadores.

Há necessidade urgente e inadiável de reservar-se espaço e tempo para treinar o perdão, assim como as outras expressões do amor, para que se descubra a alegria que, resultante de qualquer satisfação, seja um efeito do ato de amar.

Para que se possa alcançar esse objetivo, torna-se urgente o dever de mergulhar no self (no Eu profundo, no Ser Espiritual) para o encontro com a consciência, no começo em forma de monólogo e depois num diálogo construtivo e iluminativo.

Jung estabeleceu cinco etapas na direção da conquista da consciência, seu desenvolvimento na direção da vitória plena.

A primeira etapa ele chama participation mystique refere à conquista da identificação entre a consciência do ser e tudo que se lhe refere no entorno da sua existência. Pois é difícil existir no mundo sem ocorrer esse fenômeno de interdependência entre ele e o que está à sua volta. Nesse sentido, a identificação é muito variada, considerando-se aqueles que, ainda vitimados pelas sensações, permanecem vinculados aos objetos e vivenciam-nos, sorrindo ou sofrendo. Alguém se identifica e se apaixona pela casa em que mora, pelo instrumento de arte a que se dedica, pelo automóvel ou outro veículo qualquer, e passa a experimentar os sentimentos do si-mesmo em relação a cada objeto. Outros se vinculam às suas famílias da mesma forma e experimentam sentimentos de introjeção e projeção, além da própria identificação. Na segunda etapa, já se expressa a consciência que distingue o eu e o outro. Ao alcançar esse período em que se pode diferenciar o sujeito do objeto, o self que se é em relação ao do outro ser, passa a descobrir, a identificar as diversidades de que cada um se constitui. Nessa fase, ainda permanecem os resquícios fortes da projeção no outro, mas que se vai diluindo e favorecendo a identidade. Na terceira etapa, as projeções transferem-se para símbolos, lições, princípios éticos, possibilitando a compreensão do abstrato, como a realidade de Deus em alguma parte... O conceito vigente desse deus, quando punitivo ou compensador, representa a projeção transferida dos pais para algo mais transcendente ou até mesmo mitológico. Na quarta etapa, tem lugar a superação das projeções, mesmo que assinaladas pela transcendência do abstrato e das ideias. Surge, então, o centro vazio, que poderíamos denominar como o homem moderno em busca da sua alma. O utilitarismo e o interesse imediato tomam conta do indivíduo, como substitutos das anteriores projeções. Nesse comenos, há predomínio do prazer e os desejos de fácil controle, podendo ocorrer, se não se permitem essas sensações-emoções, desenvolvendo transtornos depressivos. Nesse mundo novo não existem conteúdos psíquicos, fazendo que cada qual se sinta realista. Esse é o momento em que o ego se sente como sendo o próprio deus, capaz de fazer e concluir sempre de maneira pessoal com relação a tudo quanto lhe diz respeito, selecionando o que é verdadeiro ou não, aquilo que merece consideração ou desprezo... Com tal comportamento egóico, não é difícil cometer equívocos lamentáveis, derivados da autopresunção, dos julgamentos precipitados a respeito dos demais, podendo tornar-se megalomaníaco. Perde-se o anterior controle das convenções sociais em relação aos demais indivíduos e aos padrões de comportamento aceitos e convencionados. Nem todas as pessoas, no entanto, no desenvolvimento da sua consciência, atingem essa etapa, permanecendo somente nas iniciais. Por fim, na quinta etapa, quando já se encontra amadurecido psicologicamente, o indivíduo passa à reintegração da consciência com a inconsciência, descobrindo os próprios limites – do ego -, alcançando o que poderíamos denominar como sendo uma fase de atualidade, conseguindo a função transcendente e o símbolo unificador. Livre dos arquétipos em imagens que caracterizam o outro, conforme a experiência da etapa anterior, a quarta, identifica os gloriosos poderes do inconsciente. nessa fase de modernidade ou de atualidade, a consciência identifica a vida psíquica nas projeções, não mais compostas dos substratos materiais ou mesmo deles formadas, e sim a realidade de si mesma. O insigne mestre, no entanto, não se detém aí, e há momentos em que ele parece propor mais outras etapas, cabendo-nos determo-nos nessas, mais compatíveis com os objetivos do nosso trabalho.

Nessa fase em que a consciência identifica o inconsciente e fundem-se, surgem as aspirações do belo, do ideal, do uno, da individuação.

Para que seja conquistada essa plenitude, o sentimento de gratidão à vida, a todos que contribuíram e contribuem para que o mundo seja melhor e as dificuldades sejam sanadas, que ofereceram sua ajuda no transcurso do desenvolvimento intelecto moral, transforma-se num impulso para o estado numinoso, em que já não há mais sombra. Embora, para culminar nesse objetivo, é indispensável o treinamento constante, o exercício da gratidão.

No seu início, pode apresentar-se como um dever, o de retribuição por tudo que desfruta, sem a presença do sentimento por falta de maturidade psicológica interior. O hábito, que se formará vai estimular a continuação da valorização de todos os acontecimentos, das pessoas com as quais se convive, ampliando a percepção de que esse sentido de fraternidade gentil e retributiva proporciona indescritível alegria de viver.

Criado o estímulo gratulatório, tudo adquire significado importante, propiciando melhor entendimento a respeito dos acontecimentos existenciais, mesmo os do sofrimento,  que têm caráter momentâneo, afligente ou desagradável, que pode ser superado com a visão de ser útil, de compreender o esforço dos demais na construção do mundo melhor, entender-lhes os fracassos e os insistentes sacrifícios para corrigir-se...

Frequentemente, o julgamento a respeito da conduta dos outros, especialmente quando se refere a questões perturbadoras contra alguém, logo se conclui de forma equivocada, a manifestação da conduta do outro, do que se lhe fez inamistoso, fazendo uma projeção inconsciente dos seus próprios conflitos... Todos os indivíduos tem dificuldades de vencer as questões perturbadoras, especialmente quando vindas de heranças do passado por onde passaram. A tolerância, que é uma expressão de amizade inicial, faz entender que não sendo fácil para si mesmo a mudança para melhor, não deve ser diferente quando se trata do outro.

Tentando-se, embora com erros e acertos, exercitar a gratidão, chega o tempo em que o ser se enriquece da alegria de ser gentil e agradecido, não apenas por palavras, mas principalmente por atitudes, tornando a vida agradável e, assim, ampliando o círculo de bem-estar em sua volta, mudando as paisagens emocionais desorganizadas.

A gratidão tem esse importante compromisso de tornar o mundo e as pessoas mais belas e mais queridas.

Trabalho baseado no cap.4, A CONQUISTADA DA PLENITUDE PELA GRATIDÃO, NO LIVRO EM BUSCA DA VERDADE, escrito por Divaldo Franco , ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis. Postado dia, 29/12/13.

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