terça-feira, 3 de dezembro de 2013


A NASCENTE DOS SOFRIMENTOS: UMA ANÁLISE DO EGO
Escrito por: Marlon Reikdal

“O sofrimento produz resistência, a resistência produz caráter, e o caráter produz a fé.”

(APÓSTOLO PAULO)
A temática do sofrimento humano é profundamente abordada pela benfeitora Joanna de Ângelis ao longo de sua série psicológica e em tantas outras obras complementares. Encontraremos no livro Plenitude um grande tratado sobre sofrimento, passando pela obra O Homem Integral seguido de vários livros que culminam com Libertação do Sofrimento – o mais recente que se aprofunda nas dores humanas e suas nascentes.
O estudo do sofrimento se faz presente em tantas obras devido justamente a sua presença na Terra, a ponto de alguns filósofos afirmarem que ‘viver é sofrer’, ou que é impossível passar pela vida sem derrapar-se no sofrimento.
Ressalta-se o segundo capítulo do livro Plenitude, no qual Ângelis se utiliza das reflexões budistas para apresentar três tipos de sofrimento: o sofrimento do sofrimento, o sofrimento da impermanência e o sofrimento dos condicionamentos.
O primeiro é visto como resultado das aflições que o próprio sofrimento proporciona, e que por isso pode ser analisado sob dois aspectos: físico e mental. Na área física, entende-se que as doenças são inevitáveis na existência humana devido a constituição molecular do corpo; na área mental, vê-se multiplicarem os distúrbios existenciais, comportamentais e psicológicos, levando o homem à loucura, à depressão e ao suicídio. O que Joanna quer dizer é que ao mesmo tempo em que estes problemas físicos, emocionais e mentais são formas de sofrimento, também geram sofrimento afinal impõem um funcionamento desequilibrado para o corpo e para a mente. Estes sofrimentos primeiros, quando não bem administrados pelo próprio sujeito que sofre, geram animosidade, mágoas e ideias pessimistas que, sem qualquer sombra de dúvida, vão produzir descargas no sistema energético-imunológico, e produzirão mais sofrimentos. Por isso ela afirma ”a maioria dos sofrimentos decorre da forma incorreta porque a vida é encarada.” ANGELIS, Plenitude, p.22.
O segundo refere-se ao sofrimento pela impermanência das coisas terrenas: a busca pelo ter, a luta desenfreada para manter. São movidos pela ilusão da posse daquilo que reluz, mas por apenas pouco tempo. Nesta busca desenfreada pelo prazer momentâneo encontra-se o tabaco, o álcool e outras drogas que logo se convertem em desgraças imediatas devido à sua impermanência. Sem a  visão realista da vida, que concede harmonia, o sujeito produz para si os sofrimentos desnecessários, e ela esclarece que devemos “enfrentar as vicissitudes e superar os valores indicativos de prosperidade, de prazer injustificável, eis como poupar-se ao sofrimento.” (Plenitude, p.23)
Por ultimo, encontramos o sofrimento resultante dos condicionamentos: que envolve a educação incorreta, a convivência social adoecida, geradores de condicionamentos físicos e mentais contaminados. Um exemplo importante é o medo – sob a ação dos medos resultantes de superstições, desinformações e do seu despreparo em relação à vida – o indivíduo produz perturbações grandiosas para a sua vida. Estes fatores negativos produzem distúrbios psicológicos, mentais e físicos por somatização automática. (ÂNGELIS , Plenitude)
A compreensão espirita a respeito da vida e do sofrimento nos faz crer que ninguém está no mundo para sofrer. O sofrimento é apenas um método pedagógico próprio do planeta terrestre. De caráter transitório, ele desaparecerá quando os Espíritos que habitam o planeta se renovarem, respeitando os recursos naturais e morais que vigem em toda parte.
A temática do sofrimento também é profundamente abordada por Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo denominado “Bem-aventurados os aflitos”, item três:

“(...)as vicissitudes da vida derivam de uma

 causa e, pois que Deus é justo, justa há de ser

essa causa. Isso o de que cada um deve bem

compenetrar-se. Por meio dos ensinos de Jesus

Deus pôs os homens na direção dessa causa,

E hoje, julgando-os suficientemente maduros

Para compreendê-la, lhes revela completamen-

te a aludida causa, por meio do Espiritismo,

Isto é, pela palavra dos Espiritos.” (KARDEC, 2006, o Evangelho segundo o Espiritismo, p.106)
Allan Kardec supera a concepção do sofrimento como obra do acaso, assinalando uma causa, e mais do que isso, uma causa justa, posto que Deus é justo. Analisando esta causa, na continuidade do capítulo, afirma que promana de duas fontes diversas: É poética a passagem na qual descreve os inúmeros males causados pelo próprio homem, explicando que um número sem fim cai pela própria culpa, outro tanto se torna vítima da imprevidência, do orgulho e de suas ambições. Há aqueles que se arruínam por falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder ou por não terem sabido limitar seus desejos. Várias uniões consideradas desgraçadas são nada mais que um cálculo de interesse ou de vaidade. Dissensões e disputas em decorrência da falta de moderação e, por fim, doenças e enfermidades que seriam evitadas se não fossem a intemperança e os excessos de todo gênero.
O convite do codificador é para que o indivíduo que sofre tenha coragem de interrogar a sua própria consciência, remonte passo a passo a origem de todos os males que o torturam para que, na maioria das vezes, chegue à conclusão de que se tivesse agido de tal maneira ou deixasse de fazer o que fez, estaria em diferente condição.
Chama-nos a atenção o fato de a ciência psicológica não existir formalmente e Allan Kardec fazer uma abordagem profundamente terapêutica, compreendendo o homem pelos olhos espiritistas, convocando o indivíduo a não paralisar na posição de vítima do mundo e da sorte – entendendo que o homem não pode responsabilizar, se não a si mesmo, por todas essas aflições.
Ainda esmiuçando esta análise, Kardec avaliará outros sofrimentos que aparentemente são estranhos ao homem, mas que fatalmente irão atingi-lo. São exemplos desta situação a perda de um ente querido, a perda dos amparos da família, as deficiências, os acidentes, os reveses da fortuna, os flagelos naturais, as enfermidades de nascença, sobretudo as que impedem os meios de ganhar a vida pelo trabalho, etc.
Através do mesmo axioma do Deus justo nos faz perceber que se não encontramos a causa dos sofrimentos na existência presente, e não existindo efeito sem causa, certamente a encontraremos em existências anteriores, esclarecendo a ideia de que o homem nunca escapa às consequências de suas faltas.
Em relação às causas dos sofrimentos, Joanna de Ângelis em Plenitude, dedica o terceiro capítulo para confirmar a tese kardecista de que o homem é a síntese de suas próprias experiências, autor de seu destino, que ele elabora mediante os impositivos do determinismo (nascimento, morte, reencarnação) e do livre-arbítrio.
A autora espiritual também faz a divisão de causas passadas do sofrimento (origem cármica) e causas atuais. Estudando as origens cármicas, ela apresentará de maneira concisa um dos mais claros e didáticos textos doutrinários sobre as provações e as expiações. Aquelas letras merecem assim como toda a série psicológica, estudo, análise e reflexão dos espiritas para melhor compreensão de nossa situação terrena, na medida em que somos livres da condenação de um Deus terrorista e punitivo. Abordando as causas atuais do sofrimento, ainda neste mesmo texto, surgem as posturas do homem mediante a irresponsabilidade, a precipitação, a escolha exclusivista do melhor para si em detrimento do seu próximo, além da perda da individualidade escravizando-o a padrões de convivência desencadeadores de sofrimento. Ao lado destas posturas encontram-se as emoções perturbadoras como o desejo, ofuscamento, ódio e frustração geradoras de sofrimento.
Outra  análise sobre os sofrimentos é realizada por Ângelis, no livro Autodescobrimento: uma busca interior, em breves páginas, no capitulo “Os sentimentos: amigos ou adversários?”, fazendo a diferenciação dos sofrimentos nos seguintes aspectos: físicos, morais, emocionais e espirituais.
A partir da visão psicológica entre os textos de Allan Kardec e do Espirito Joanna de Ângelis, entendemos, que sofrer não é uma doença em si, que precisa ser combatida e eliminada pelo médico, pelo psicólogo ou mesmo pelo centro espírita, mas um convite a uma relação mais íntima com nós mesmos. Concluímos que na raiz de qualquer sofrimento será encontrado como autor o próprio Espírito. No presente ou no passado, consciente ou inconscientemente, as origens do sofrimento estão sempre, portanto, naquele que o padece, no recôndito do seu ser, nos painéis profundos da sua consciência.

O texto do cap.10, A nascente dos sofrimentos: uma análise do ego. Postado dia 03/12/13

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