A
NASCENTE DOS SOFRIMENTOS: UMA ANÁLISE DO EGO
Escrito por: Marlon Reikdal
“O
sofrimento produz resistência, a resistência produz caráter, e o caráter produz
a fé.”
(APÓSTOLO
PAULO)
A temática do sofrimento
humano é profundamente abordada pela benfeitora Joanna de Ângelis ao longo de
sua série psicológica e em tantas outras obras complementares. Encontraremos no
livro Plenitude um grande tratado
sobre sofrimento, passando pela obra O
Homem Integral seguido de vários livros que culminam com Libertação do Sofrimento – o mais recente
que se aprofunda nas dores humanas e suas nascentes.
O estudo do sofrimento se
faz presente em tantas obras devido justamente a sua presença na Terra, a ponto
de alguns filósofos afirmarem que ‘viver é sofrer’, ou que é impossível passar
pela vida sem derrapar-se no sofrimento.
Ressalta-se o segundo
capítulo do livro Plenitude, no qual
Ângelis se utiliza das reflexões budistas para apresentar três tipos de
sofrimento: o sofrimento do sofrimento, o sofrimento da impermanência e o
sofrimento dos condicionamentos.
O primeiro é visto como
resultado das aflições que o próprio sofrimento proporciona, e que por isso
pode ser analisado sob dois aspectos: físico e mental. Na área física,
entende-se que as doenças são inevitáveis na existência humana devido a
constituição molecular do corpo; na área mental, vê-se multiplicarem os
distúrbios existenciais, comportamentais e psicológicos, levando o homem à
loucura, à depressão e ao suicídio. O que Joanna quer dizer é que ao mesmo tempo
em que estes problemas físicos, emocionais e mentais são formas de sofrimento,
também geram sofrimento afinal impõem um funcionamento desequilibrado para o
corpo e para a mente. Estes sofrimentos primeiros, quando não bem administrados
pelo próprio sujeito que sofre, geram animosidade, mágoas e ideias pessimistas
que, sem qualquer sombra de dúvida, vão produzir descargas no sistema
energético-imunológico, e produzirão mais sofrimentos. Por isso ela afirma ”a maioria
dos sofrimentos decorre da forma incorreta porque a vida é encarada.” ANGELIS, Plenitude, p.22.
O segundo refere-se ao sofrimento pela impermanência das coisas terrenas:
a busca pelo ter, a luta desenfreada para manter. São movidos pela ilusão da
posse daquilo que reluz, mas por apenas pouco tempo. Nesta busca desenfreada
pelo prazer momentâneo encontra-se o tabaco, o álcool e outras drogas que logo
se convertem em desgraças imediatas devido à sua impermanência. Sem a visão realista da vida, que concede harmonia,
o sujeito produz para si os sofrimentos desnecessários, e ela esclarece que
devemos “enfrentar as vicissitudes e superar os valores indicativos de
prosperidade, de prazer injustificável, eis como poupar-se ao sofrimento.” (Plenitude, p.23)
Por ultimo, encontramos o sofrimento resultante dos condicionamentos: que
envolve a educação incorreta, a convivência social adoecida, geradores de
condicionamentos físicos e mentais contaminados. Um exemplo importante é o medo
– sob a ação dos medos resultantes de superstições, desinformações e do seu
despreparo em relação à vida – o indivíduo produz perturbações grandiosas para
a sua vida. Estes fatores negativos produzem distúrbios psicológicos, mentais e
físicos por somatização automática. (ÂNGELIS , Plenitude)
A compreensão espirita a
respeito da vida e do sofrimento nos faz crer que ninguém está no mundo para
sofrer. O sofrimento é apenas um método pedagógico próprio do planeta terrestre.
De caráter transitório, ele desaparecerá quando os Espíritos que habitam o planeta
se renovarem, respeitando os recursos naturais e morais que vigem em toda
parte.
A temática do sofrimento
também é profundamente abordada por Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo denominado “Bem-aventurados
os aflitos”, item três:
“(...)as vicissitudes da
vida derivam de uma
causa e, pois que Deus é justo, justa há de
ser
essa causa. Isso o de que
cada um deve bem
compenetrar-se. Por meio dos
ensinos de Jesus
Deus pôs os homens na
direção dessa causa,
E hoje, julgando-os
suficientemente maduros
Para compreendê-la, lhes
revela completamen-
te a aludida causa, por meio
do Espiritismo,
Isto é, pela palavra dos
Espiritos.” (KARDEC, 2006, o Evangelho segundo
o Espiritismo, p.106)
Allan Kardec supera a
concepção do sofrimento como obra do acaso, assinalando uma causa, e mais do
que isso, uma causa justa, posto que Deus é justo. Analisando esta causa, na
continuidade do capítulo, afirma que promana de duas fontes diversas: É poética
a passagem na qual descreve os inúmeros males causados pelo próprio homem,
explicando que um número sem fim cai pela própria culpa, outro tanto se torna
vítima da imprevidência, do orgulho e de suas ambições. Há aqueles que se
arruínam por falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder ou por não
terem sabido limitar seus desejos. Várias uniões consideradas desgraçadas são
nada mais que um cálculo de interesse ou de vaidade. Dissensões e disputas em decorrência
da falta de moderação e, por fim, doenças e enfermidades que seriam evitadas se
não fossem a intemperança e os excessos de todo gênero.
O convite do codificador é
para que o indivíduo que sofre tenha coragem de interrogar a sua própria consciência,
remonte passo a passo a origem de todos os males que o torturam para que, na
maioria das vezes, chegue à conclusão de que se tivesse agido de tal maneira ou
deixasse de fazer o que fez, estaria em diferente condição.
Chama-nos a atenção o fato de
a ciência psicológica não existir formalmente e Allan Kardec fazer uma
abordagem profundamente terapêutica, compreendendo o homem pelos olhos espiritistas,
convocando o indivíduo a não paralisar na posição de vítima do mundo e da sorte
– entendendo que o homem não pode responsabilizar, se não a si mesmo, por todas
essas aflições.
Ainda esmiuçando esta
análise, Kardec avaliará outros sofrimentos que aparentemente são estranhos ao
homem, mas que fatalmente irão atingi-lo. São exemplos desta situação a perda
de um ente querido, a perda dos amparos da família, as deficiências, os
acidentes, os reveses da fortuna, os flagelos naturais, as enfermidades de
nascença, sobretudo as que impedem os meios de ganhar a vida pelo trabalho,
etc.
Através do mesmo axioma do
Deus justo nos faz perceber que se não encontramos a causa dos sofrimentos na existência
presente, e não existindo efeito sem causa, certamente a encontraremos em existências
anteriores, esclarecendo a ideia de que o homem nunca escapa às consequências de
suas faltas.
Em relação às causas dos
sofrimentos, Joanna de Ângelis em Plenitude,
dedica o terceiro capítulo para confirmar a tese kardecista de que o homem
é a síntese de suas próprias experiências, autor de seu destino, que ele
elabora mediante os impositivos do determinismo (nascimento, morte, reencarnação)
e do livre-arbítrio.
A autora espiritual também
faz a divisão de causas passadas do sofrimento (origem cármica) e causas atuais.
Estudando as origens cármicas, ela apresentará de maneira concisa um dos mais
claros e didáticos textos doutrinários sobre as provações e as expiações. Aquelas
letras merecem assim como toda a série psicológica, estudo, análise e reflexão dos
espiritas para melhor compreensão de nossa situação terrena, na medida em que
somos livres da condenação de um Deus terrorista e punitivo. Abordando as
causas atuais do sofrimento, ainda neste mesmo texto, surgem as posturas do
homem mediante a irresponsabilidade, a precipitação, a escolha exclusivista do
melhor para si em detrimento do seu próximo, além da perda da individualidade escravizando-o
a padrões de convivência desencadeadores de sofrimento. Ao lado destas posturas
encontram-se as emoções perturbadoras como o desejo, ofuscamento, ódio e
frustração geradoras de sofrimento.
Outra análise sobre os sofrimentos é realizada por
Ângelis, no livro Autodescobrimento: uma
busca interior, em breves páginas, no capitulo “Os sentimentos: amigos ou
adversários?”, fazendo a diferenciação dos sofrimentos nos seguintes aspectos:
físicos, morais, emocionais e espirituais.
A partir da visão psicológica
entre os textos de Allan Kardec e do Espirito Joanna de Ângelis, entendemos,
que sofrer não é uma doença em si, que precisa ser combatida e eliminada pelo
médico, pelo psicólogo ou mesmo pelo centro espírita, mas um convite a uma
relação mais íntima com nós mesmos. Concluímos que na raiz de qualquer
sofrimento será encontrado como autor o próprio Espírito. No presente ou no
passado, consciente ou inconscientemente, as origens do sofrimento estão
sempre, portanto, naquele que o padece, no recôndito do seu ser, nos painéis
profundos da sua consciência.
O texto do cap.10, A nascente dos sofrimentos: uma análise do
ego. Postado dia 03/12/13
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