quarta-feira, 11 de dezembro de 2013


COMPROMISSOS DA GRATIDÃO

NO INCOMPARÁVEL SERMÃO DA MONTANHA, APÓS o canto sublime das bem-aventuranças, Jesus enunciou com sabedoria e vigor:

“Amai aos vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque Ele faz nascer o Seu Sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos” (Mt. 5:44-45)

A recomendação incomum proposta pelo psicólogo incomparável surpreende, ainda hoje, a todos que mergulham o pensamento na reflexão em torno dos textos escriturísticos que evocam a sua palavra.

A orientação tradicional refere-se a resposta ao mal com o mesmo mal, e hoje ainda continua essa conduta enferma em muitas legislações enlouquecidas, impondo punições  cruéis com àqueles que são surpreendidos em erro, afastados da justiça e da reeducação do criminoso, que são fundamentais.

Nos relacionamentos familiares, sociais, profissionais e artísticos, como em outros, a conduta retributiva é firmada na injusta conduta ancestral diante dele, que se encontra no inconsciente individual e coletivo, originando graves transtornos pessoais e sociais.

O tratamento dado ao perverso  não deve negligenciar dos seus atos vergonhosos, o que não se deve é agir da mesma forma, aplicando penas conforme seu nível primitivo de evolução, sendo justo oferecer meios de reparar os prejuízos causados,  recuperar-se diante das suas vítimas e da própria consciência,  reintegrar-se na sociedade...

Essa atitude, a de dar oportunidade para agir com equilíbrio, caracteriza-se pelo perdão às suas atitudes arbitrárias, porém sem conivência com o seu delito, mas também sem cerceamento da graça do amor que retira o criminoso da masmorra sem grades em que se aprisiona, conduzindo-o à sociedade que foi ferida e espera a cooperação para ser cicatrizada, superando a sua crueldade.

De certa forma, a proposta de Jesus, no que se refere ao amor em retribuição ao mal, é também a maneira psicológica saudável da gratidão, pelo propiciar a  vivência da abnegação e da caridade. Sem querer dizer silenciar o deslize praticado, mas reconhecer que este faz surgir e expandir os sentimentos superiores da compaixão e da misericórdia que devem estar presente nos indivíduos e nos grupos sociais.

A gratidão é a mais sutil psicoterapia para os males que se instalam na sociedade constituída em grande parte por Espíritos enfermos.

Quando alguém consegue ofertá-la com espontaneidade e sem ostentação, produz um clima psíquico de harmonia que o beneficia e aos que o cercam, porque não ressuma a revolta ou a queixa sistemática...

A gratidão deve tornar-se um hábito natural no comportamento maduro de todos os seres humanos. Para a conseguir, é necessário treinamento, e exercício diário, em razão da sombra vigilante que conduz à conduta da distância, da indiferença ou mesmo da ingratidão.

O ingrato, além de imaturo psicológico, é vítima da inveja, da competitividade doentia, do primarismo evolutivo.

A ingratidão fortalece nos grupamentos sociais onde predominam o egoísmo e a sordidez.

O grande desafio da existência é o de bem viver-se e não o  viver-se bem, entulhado de coisas e buscando novas conquistas entre sofrimentos íntimos e desconfianças angustiantes. Nesse sentido, é grata a recomendação de Jesus, convocando ao amor mesmo em relação aos adversários, porque eles, sim, são os doentes, pois que elegeram as atitudes agressivas e destrutivas, acumulando resíduos de inconformismo e de ira, que acabam  produzindo-lhes lamentáveis somatizações.

Quando se consegue não devolver o mal na mesma morbífica moeda, o self  alegra-se e o seu eixo com o ego diminui a distância separatista, propiciando a diluição lenta de suas fixações. Quando se consegue amar o adversário, lembrá-lo sem ressentimento, ter compaixão da alienação em que vive, todo um contingente de arquétipos perturbadores cede lugar às emoções saudáveis, que trazem alegria de viver e de lutar, estimulando o crescimento interno e a sua contínua ascensão ideológica.  

Não sendo vitalizado pelo rancor, o ódio autoconsome-se, não encontrando revide, a ofensa perde o seu significado, e não se retribuindo o equivalente mal que lhe foi dirigido,  desaparece.

Opor-se e resistir ao mal fortalece a energia deletéria que é enviada, porque oferece ressonância vibratória e, no revide, recebe a potência da resposta. Não valorizar o mal nem lhe atribuir sentido é a maneira mais eficaz de culminar amando os agressores e os perversos.

Uma observação rápida da natureza percebe-se a força da gratidão vibrante em toda parte.

A tempestade castiga a terra e quebra tudo que encontra ao alcance, espalhando o medo e a destruição. Logo que passa, a vida renova a paisagem, recompõe a flora e a fauna, traz de volta a beleza, num ato de gratidão à ocorrência agressiva.

O solo trabalhado pela enxada bem acionada agradece ao lavrador que o feriu, reverdecendo, transformado e cheio de vida. Mesmo a erva má que cresce no lugar também agradece, envolvendo-se de flores na primavera.

Nem sempre, porém, o ser humano consegue viver a psicologia da gratidão. Pode iniciar o dia em júbilo e gentileza, conforme as horas passam e ocorrem os acontecimentos no convívio familiar, no trânsito, no trabalho, passa a agir com impulsos agressivo-defensivos, seguindo a correnteza dos desesperados... Outras vezes, antes de dormir está disposto e grato, comunicando alegria vindas dos acontecimentos. Apesar disso, fenômenos oníricos perturbadores, momentos de insônia, distúrbios gástricos tomam-no e, ao acordar, o mau humor toma-o, tornando seu dia desagradável e seu comportamento estranho.

Tudo isso é natural, porém passado o fenômeno perturbador, é necessário que se volte às atitudes gratulatória anteriores, insistindo-se sem desânimo para automatizá-las, para que permaneçam mesmo nos momentos desafiadores e desconfortáveis.

Há um hábito no ser humano de recordar os insucessos, os maus momentos, as contrariedades, as tristezas e as agressões sofridas em desconsideração das muitas alegrias e benefícios que são deixados em plano secundário na memória. Esse comportamento produz o pessimismo, a queixa, o azedume, a depressão.

Uma reflexão rápida seria suficiente para transformar aqueles acontecimentos enfermiços, ricos de más lembranças, em motivo de gratidão, pois, embora os acontecimentos desagradáveis, a existência modificou-se totalmente, sobreviveu-se a tudo, vieram êxitos, as experiências iluminativas, amizades gentis, aconteceram fatos positivos não esperados...

Gratidão, por todos os acontecimentos, deve ser a atitude mental e emocional de todos os seres humanos.

A estrada da vitória é feita por equívocos e acertos, tropeços e corrigendas, sendo, o mais importante a conquista do nível que cada qual tem em mente.

Perseverando-se e treinando-se gratidão, o sentido de liberdade e de infinito apossa-se do self que se torna numinoso, portanto, pleno.

Trabalho do livro Psicologia da Gratidão, Divaldo Franco, Espírito Joanna de Ângelis.

Postado dia 11/12/13

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