COMPROMISSOS DA
GRATIDÃO
NO INCOMPARÁVEL SERMÃO DA MONTANHA, APÓS o canto sublime
das bem-aventuranças, Jesus enunciou com sabedoria e vigor:
“Amai aos vossos inimigos
e orai pelos que vos perseguem, para que vos torneis filhos do vosso Pai que
está nos céus, porque Ele faz nascer o Seu Sol sobre maus e bons e faz chover
sobre justos e injustos” (Mt. 5:44-45)
A recomendação incomum proposta
pelo psicólogo incomparável surpreende, ainda hoje, a todos que mergulham o
pensamento na reflexão em torno dos textos escriturísticos que evocam a sua
palavra.
A orientação
tradicional refere-se a resposta ao mal com o mesmo mal, e hoje ainda continua
essa conduta enferma em muitas legislações enlouquecidas, impondo punições cruéis com àqueles que são surpreendidos em
erro, afastados da justiça e da reeducação do criminoso, que são fundamentais.
Nos relacionamentos
familiares, sociais, profissionais e artísticos, como em outros, a conduta
retributiva é firmada na injusta conduta ancestral diante dele, que se encontra
no inconsciente individual e coletivo, originando graves transtornos pessoais e
sociais.
O tratamento dado ao
perverso não deve negligenciar dos seus
atos vergonhosos, o que não se deve é agir da mesma forma, aplicando penas conforme
seu nível primitivo de evolução, sendo justo oferecer meios de reparar os prejuízos
causados, recuperar-se diante das suas
vítimas e da própria consciência, reintegrar-se na sociedade...
Essa atitude, a de dar
oportunidade para agir com equilíbrio, caracteriza-se pelo perdão às suas
atitudes arbitrárias, porém sem conivência com o seu delito, mas também sem
cerceamento da graça do amor que retira o criminoso da masmorra sem grades em
que se aprisiona, conduzindo-o à sociedade que foi ferida e espera a cooperação
para ser cicatrizada, superando a sua crueldade.
De certa forma, a
proposta de Jesus, no que se refere ao amor em retribuição ao mal, é também a
maneira psicológica saudável da gratidão, pelo propiciar a vivência da abnegação e da caridade. Sem querer
dizer silenciar o deslize praticado, mas reconhecer que este faz surgir e expandir
os sentimentos superiores da compaixão e da misericórdia que devem estar
presente nos indivíduos e nos grupos sociais.
A gratidão é a mais
sutil psicoterapia para os males que se instalam na sociedade constituída em
grande parte por Espíritos enfermos.
Quando alguém consegue
ofertá-la com espontaneidade e sem ostentação, produz um clima psíquico de
harmonia que o beneficia e aos que o cercam, porque não ressuma a revolta ou a
queixa sistemática...
A gratidão deve tornar-se
um hábito natural no comportamento maduro de todos os seres humanos. Para a
conseguir, é necessário treinamento, e exercício diário, em razão da sombra
vigilante que conduz à conduta da distância, da indiferença ou mesmo da
ingratidão.
O ingrato, além de
imaturo psicológico, é vítima da inveja, da competitividade doentia, do
primarismo evolutivo.
A ingratidão fortalece
nos grupamentos sociais onde predominam o egoísmo e a sordidez.
O grande desafio da existência
é o de bem viver-se e não o viver-se
bem, entulhado de coisas e buscando novas conquistas entre sofrimentos íntimos
e desconfianças angustiantes. Nesse sentido, é grata a recomendação de Jesus,
convocando ao amor mesmo em relação aos adversários, porque eles, sim, são os
doentes, pois que elegeram as atitudes agressivas e destrutivas, acumulando
resíduos de inconformismo e de ira, que acabam
produzindo-lhes lamentáveis somatizações.
Quando se consegue não
devolver o mal na mesma morbífica moeda, o self
alegra-se e o seu eixo com o ego diminui
a distância separatista, propiciando a diluição lenta de suas fixações. Quando
se consegue amar o adversário, lembrá-lo sem ressentimento, ter compaixão da
alienação em que vive, todo um contingente de arquétipos perturbadores cede lugar às
emoções saudáveis, que trazem alegria de viver e de lutar, estimulando o
crescimento interno e a sua contínua ascensão ideológica.
Não sendo vitalizado
pelo rancor, o ódio autoconsome-se, não encontrando revide, a ofensa perde o
seu significado, e não se retribuindo o equivalente mal que lhe foi dirigido, desaparece.
Opor-se e resistir ao
mal fortalece a energia deletéria que é enviada, porque oferece ressonância
vibratória e, no revide, recebe a potência da resposta. Não valorizar o mal nem
lhe atribuir sentido é a maneira mais eficaz de culminar amando os agressores e
os perversos.
Uma observação rápida da
natureza percebe-se a força da gratidão vibrante em toda parte.
A tempestade castiga a
terra e quebra tudo que encontra ao alcance, espalhando o medo e a destruição.
Logo que passa, a vida renova a paisagem, recompõe a flora e a fauna, traz de
volta a beleza, num ato de gratidão à ocorrência agressiva.
O solo trabalhado pela
enxada bem acionada agradece ao lavrador que o feriu, reverdecendo,
transformado e cheio de vida. Mesmo a erva má que cresce no lugar também agradece,
envolvendo-se de flores na primavera.
Nem sempre, porém, o
ser humano consegue viver a psicologia da gratidão. Pode iniciar o dia em
júbilo e gentileza, conforme as horas passam e ocorrem os acontecimentos no
convívio familiar, no trânsito, no trabalho, passa a agir com impulsos
agressivo-defensivos, seguindo a correnteza dos desesperados... Outras vezes,
antes de dormir está disposto e grato, comunicando alegria vindas dos
acontecimentos. Apesar disso, fenômenos oníricos perturbadores, momentos de
insônia, distúrbios gástricos tomam-no e, ao acordar, o mau humor toma-o, tornando
seu dia desagradável e seu comportamento estranho.
Tudo isso é natural,
porém passado o fenômeno perturbador, é necessário que se volte às atitudes
gratulatória anteriores, insistindo-se sem desânimo para automatizá-las, para
que permaneçam mesmo nos momentos desafiadores e desconfortáveis.
Há um hábito no ser
humano de recordar os insucessos, os maus momentos, as contrariedades, as
tristezas e as agressões sofridas em desconsideração das muitas alegrias e
benefícios que são deixados em plano secundário na memória. Esse comportamento
produz o pessimismo, a queixa, o azedume, a depressão.
Uma reflexão rápida
seria suficiente para transformar aqueles acontecimentos enfermiços, ricos de más
lembranças, em motivo de gratidão, pois, embora os acontecimentos desagradáveis,
a existência modificou-se totalmente, sobreviveu-se a tudo, vieram êxitos, as
experiências iluminativas, amizades gentis, aconteceram fatos positivos não
esperados...
Gratidão, por todos os
acontecimentos, deve ser a atitude mental e emocional de todos os seres
humanos.
A estrada da vitória é
feita por equívocos e acertos, tropeços e corrigendas, sendo, o mais importante
a conquista do nível que cada qual tem em mente.
Perseverando-se e
treinando-se gratidão, o sentido de liberdade e de infinito apossa-se do self
que se torna numinoso, portanto, pleno.
Trabalho do livro
Psicologia da Gratidão, Divaldo Franco,
Espírito Joanna de Ângelis.
Postado dia 11/12/13
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