sábado, 14 de dezembro de 2013


A GRATIDÃO NA FAMÍLIA

cap.3  compromissos da gratidão

Acreditava-se que, pelo desenvolvimento das ciências e da tecnologia, o ser humano conseguiria, finalmente, a harmonia e o crescimento moral. Nunca houve tantas conquistas intelectuais e atividades culturais, com tamanhas possibilidades recreativas como nos dias de hoje.

O conforto e as facilidades trazidas pelos instrumentos eletroeletrônicos tem facilitado a vida de bilhões de seres humanos, embora, grande fatia da humanidade ainda esteja na miséria, ou abaixo da linha da pobreza, sofrendo falta de pão, roupa, medicamento, trabalho, educação, e dignidade...

Nunca houve tão grande quantidade de diversões e técnicas de lazer, além das facilidades para os relacionamentos, para a fraternidade, para a harmonia entre as pessoas. Porém isso, não é o que acontece na sociedade da terra, onde sobrepujam a solidão, a ansiedade e o medo como uma epidemia. As doenças, consequentes de somatizações dos distúrbios psicológicos, abatem grande número de vítimas indefesas nas suas malhas sufocantes. Surpreende o grande número dos transtornos de comportamento na afetividade, nas doenças cardiovasculares, do câncer, para citar algumas doenças mais assustadoras.

Desconfiado, resultante do medo que se lhe instala na emoção, esse novo ser humano superconfortado esconde-se na solidão, comunica-se com as  pessoas pelos recursos virtuais evitando o saudável contato corporal enriquecedor.

Os padrões ético-morais, como consequência, alteraram suas formulações e o vale-tudo assumiu o lugar, priorizando o cinismo, o deboche, o despudor, a astúcia. A ânsia pela conquista da fama amesquinha esse indivíduo intelectualizado mas não moralizado, e inspira-o à assumir qualquer conduta que o leve ao estrelato, à posição top, conforme os infelizes conceitos estabelecidos por outros líderes também atormentados.

A moral, a dignidade, o bem proceder tornaram-se condutas esquisitas, ultrapassados pelos entendidos das fantasias do erotismo e da insensatez.

É preciso sobressair-se no grupo social, ser motivo de admiração e inveja, encontrar-se nas alturas, ser inacessível, estar cercado de admiradores, de bajuladores que detestam os ídolos que parecem admirar, lamentando não estarem no lugar deles, que os tratam com desdém e enfado...

No começo, rendem-se a todas as exigências  superficiais para chamarem a atenção, e quando são conhecidos, escondem-se por trás de óculos escuros, perucas, fogem pelas portas dos fundos dos hotéis, para se livrarem dos fanáticos que os aplaudem até o momento em que surgem outros mais enlouquecidos e exóticos...

A anorexia e a bulimia instala-se na juventude ansiosa que se submete aos absurdos programas de emagrecimento para conquistar a beleza física, buscando anabolizantes, implantes, cirurgias perigosas, numa luta sem fim para chegar as metas estabelecidas.

Nesse quadro, a família esfacelou-se, a comunhão doméstica transtornou-se, a sombra coletiva passou a dominar o santuário do lar e a desagregação substituiu a união.

Mães emocionalmente enfermas e imaturas concorrem com as filhas os namorados, repetindo a tragédia de Electra, e pais saturados de gozo entregam-se ao adultério na busca de destaque no grupo social que os elege como dignos de admiração.

O desrespeito cresce, originando-se nos pais que consideram os filhos uma carga que lhes dificulta a mobilidade nas áreas insensatas do prazer ou como forma narcisista de exibição, esperando que deem continuação aos seus disparates ou expondo-a, desde cedo, em caricaturas de adultos nos programas de TV e de rádio, de teatro e de cinema, em lamentáveis processos de transferência frustrante dos próprios fracassos.

O ego sobressai-se, perverso em todas as ações, e a ingratidão marca a maneira de ser de cada um. Pensa-se apenas no interesse pessoal, mesmo que a prejuízo dos outros, e a competição desleal arruína os relacionamentos, marcados, com raras exceções, trabalhados pela hipocrisia e pela animosidade mal disfarçada.

Nesse momento, a traição, o descaso por aqueles que auxiliaram no começo da jornada, a ingratidão apresenta-se de forma assustadora.

Mas a ingratidão é doença da alma que precisa de tratamento urgente nas suas nascentes.

O ingrato é alguém que perdeu o endereço da felicidade e, perturbado, perde-se por caminhos equivocados.

Ninguém nasce grato, nem consegue a gratidão de um momento para outro.

Aprende-se gratidão com a prática, que deve começar na família, essa sociedade em miniatura, onde a afetividade apresenta-se com naturalidade. 

A família não é apenas o grupamento doméstico, mas a reunião de Espíritos reencarnados com programa de evolução espiritual estabelecido anteriormente.

Diante da condição imposta pelas leis da vida, quase sempre não se tem a família que se gostaria, aquela constituída por pessoas afáveis e generosas, mas o renascimento ao lado dos Espíritos que se necessitam uns aos outros para o processo da evolução.

Muitas vezes, alguns grupos familiares transformam-se em praças de guerra em contínuos combates, em que cada um reage contra o outro ou detesta-o, longe do compromisso de reabilitação e de identificação pessoal.

É nesse difícil núcleo que o Espírito deverá desenvolver-se, transformar os maus em bons sentimentos, exercitando a fraternidade e a gratidão.

Conseguir a prática da gratidão em relação aos familiares hostis é um desafio à sombra pessoal dominante no clã...

Nem sempre se conseguirá o melhor resultado, porém, criado o hábito de compreender o outro, tendo-o na condição de enfermo ou necessitado, transforma-se em método eficaz para o desiderato.

Quando se enfrentam obstáculos mais graves, mais amplas conquistas se assinalam, após vencidos.

No lar, essas dificuldades devem favorecer o sentimento de gratidão pela chance de resgatar débitos anteriormente adquiridos, desenvolvido a paciência, exercitado a tolerância e a compaixão, aprimorando o self.

Do lar, os sentimentos de amizade e de compreensão ampliam-se na direção da sociedade, que é a grande família onde todos deverão unir-se para a construção da felicidade coletiva.

Quando, os desafios apresentem-se quase insuportáveis, um poema de alegria deve ser entoado no íntimo, daquele que busca o triunfo, aceitando as circunstancias, às vezes perversas, alterando-as uma a uma, para melhor.

Lutas desse padrão elevam o ser humano à condição enobrecida de criatura integral, ajudando-a a desenvolver o deus interno, que necessita dos estímulos fortes, tanto interiores quanto externos para romper o casulo do ego e insculpir-se no self.

Para o sucesso do empreendimento, o amor e a gratidão constituem as forças dinâmicas ao alcance do lutador.

Ninguém é impermeável ao amor, a um gesto de bondade, à gratidão sincera.

Uma família gentil e harmônica, e existem incontáveis que o são, já é, em si mesma, um hino de louvor, de gratidão à vida. Mas aquela que é turbulenta e trabalhosa transforma-se em teste de resistência ao mal e a porta que se abre ao bem, aproveitando os inestimáveis valores oferecidos pela ciência assim como as bênçãos da tecnologia para instaurar na Terra, desde hoje, os degraus do mundo melhor de amanhã.

Nenhuma sombra individual e coletiva construídas ao longo do processo evolutivo sobrevive, antes se integram mediante a gratidão no eixo do self em equilíbrio.

Os resultados inevitáveis dessa conquista logo se manifestam: cura dos desajustes e das doenças, surgimento da saúde integral, da alegria de viver, do bem-estar, conquista do numinoso.

A gratidão no lar anula o individualismo egóico, preservando a individualidade que alcançará a individuação.

Postado em 02/09/2013.

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