terça-feira, 17 de dezembro de 2013


ESTRUTURA BIPOLAR DO SER HUMANO

O objetivo essencial do ser humano, do ponto de vista psicológico, conforme Jung,  é tornar possível ao indivíduo a conquista da sua totalidade, o estado numinoso, que lhe traz o equilíbrio dos polos opostos.

Jung afirmou que o ser humano tem estrutura bipolar, agindo entre dois diferentes estados da sua constituição psicológica, como ocorre com os arquétipos anima e animus.

Toda vez que lhe surge uma aspiração o polo contrário apresenta-se, levando-o ao outro lado da questão.

Qualquer comportamento de natureza unilateral dá origem a uma reação interna, inconsciente, totalmente oposta àquele interesse.

Quando o indivíduo se exalta em qualquer forma de personalismo está escondendo a outra natureza que também lhe é própria.

Se se atribui virtudes e valores nobres, eles se originam em fantasias internas do que gostaria de ser, sem haver conseguido.

Um eu opõe-se ao outro eu em luta interior sem fim. Um é consciente, vigilante; o outro é inconsciente, adormecido, que desperta acionado pelo seu oposto. Um se encontra na razão; o outro, no sentimento ou vice-versa. A não vigilância e a não saudável administração desse opositor se apresenta como desvario, que impede o raciocínio lúcido, a presença da razão.

Esse ser duplo é constituído, ora como resultado do conhecimento adquirido, de experiência vivida, enquanto o outro é de total desconhecimento, permanecendo oculto sempre vigiando.

Jung utiliza de imagem da lógica moderna, quando esclarece: - O ser humano vive como alguém cuja mão não sabe o que a outra faz, o que induz à recordação do pensamento de Jesus, quando se refere à ação da caridade: Dai com a mão direita, sem que a esquerda o saiba.

Jesus conhecia os dois polos psicológicos do ser humano e, por isso, encorajava-o a amar tão profundamente que o seu gesto de afeição sublime e consciente estivesse em plena concordância com os seus arquivos inconscientes.

Aquele que não consegue harmonizar os dois polos em uma totalidade, torna-se vítima das expressões desorganizadas do sentimento, levando-o às emoções fortes, descontroladas.

Stevenson, o inspirado poeta inglês, traduziu esses dois polos na sua obra genial O médico e o monstro, quando o Dr Jekil era vítima do sr Hide que coabitava com ele no seu mundo interior, expressando toda a inferioridade que o médico buscava superar na sua função sacerdotal.

Na tradição religiosa, expressam-se como o bem e o mal, ou o anjo e o demônio, já na visão sociológica tem-se a conceituação do certo e do errado, da treva e da luz, do belo e do feio.

Essa dicotomia psicológica encontra-se no ser humano em desenvolvimento emocional e espiritual.

A terapêutica a ser desenvolvida, deve voltar-se para a integração do polo oposto, naquele que está consciente e é relevante, produtivo, saudável, caminho seguro para a completude.

O esforço consciente do indivíduo para autopenetrar-se, autoconhecer-se, como resultado das tensões dos polos ativados pelo interesse da integração, leva-o a um comportamento gentil, afável, compreensível das dificuldades das limitações do seu próximo.

Enquanto, houver essa dissociação, essa fragmentação, esse desconhecimento da consciência, invariavelmente se cai na cisão da personalidade, dando surgimento aos transtornos neuróticos que atormentam aumentando as distancias entre os atos conscientes e os inconscientes.

Jung sugere os símbolos como representação dos conflitos que se estabelecem nas oposições dos mesmos, encarregados de os unir e formar apenas uma realidade, como se vê na cruz, cujos braços tem o seu ponto de segurança no centro em que se encontra a haste vertical com a horizontal, representando a segurança, a unidade daqueles contrários...

O mestre suíço lembra o comportamento do cristão, na sua rendição à Divindade, sem despedaçar-se nela, mas tornando-se um eleito, capaz de carregar o próprio fardo, a própria cruz.

Pessoas inexperientes, quando percebem os opostos no seu mundo interior, afligem-se sem necessidade, construindo conceitos indevidos e punitivos, como se as manifestações do inconsciente fossem inferioridade, promiscuidade, dando origem a culpas sem razão por existirem.

Creem precipitadamente que podem forçar a mudança tornando-se puras, embora os conflitos, culminando em descobrimentos dolorosos de vidas vazias.

Esses conflitos não devem ser combatidos como inimigos num campo de batalha, mas atendidos, orientados, esclarecidos, libertando-se deles pela sua conscientização, de forma que a autoconsciência experimente bem-estar pela conquista realizada interiormente.

É comum que venham pensamentos infelizes no momento da oração, da meditação, o que não é habitual em outros momentos, trazendo inquietação e mal-estar.

Acontece que, estando arquivado no inconsciente, quando esse é ativado pelo polo edificante, o outro abre a sua cortina e libera o adversário.

A atitude correta será ficar não reativo insistindo no objetivo em vivencia até a unificação dos oponentes.

A fragmentação leva ao desanimo, à perda do entusiasmo.

Um eu em luta contra o outro eu deteriora o sentimento ou perturba a razão.

Texto baseado no cap.1 O SER HUMANO E SUA TOTALIDADE, do livro Em busca da Verdade, escrito por Divaldo Franco, ditado pelo Espirito Joanna de Ângelis

Postado dia 17/12/13

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