quarta-feira, 2 de julho de 2014


DIGNIDADE E GRATIDÃO 

O eminente psicólogo Abraham Maslow,  na apresentação da sua pirâmide demonstrativa da autorrealização,  busca estabelecer uma hierarquia das necessidades humanas, começando pelas  fisiológicas, aquelas de preservação da vida como alimento, água, oxigênio, etc. Conforme Maslow o ser humano, vai estar sempre lutando para atender essas necessidades fundamentais, num processo de seleção em diferentes níveis até atingir o nível das experiências limites, sendo este o clímax do processo de amadurecimento psicológico saudável, portanto ideal.

Nessa imensa busca, toda e qualquer experiência torna possível novas conquistas, depojando-se de umas avançando para novas ou outras necessidades que abandonam o plano físico para se transformarem em anseios emocionais e idealísticos superiores.

Também, o dr. Frankl, considera a proposta do significado existencial de maior importância, considerando que, atingido um patamar de autorrealização em uma área, o indivíduo pode se encontrar incompleto em uma outra, quando, porém, quando se liga a um sentido psicológico, o crescimento interior torna-se mais fácil dirigindo-se à conquista da individuação.

Epicuro diz que

“ As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e encaram o futuro sem medo .”

Na atitude epicurista, o humano mantém a sua meta existencial, agradecendo tudo que vivenciou no passado e que são agora a base das alegrias atuais, conquistando assim coragem para novos  enfrentamentos, certo da conquista da beleza, da ética, da harmonia.

No começo ele busca conseguir vitória sobre as dores físicas, depois percorre o caminho da coragem frente aos insucessos emocionais, morais e outras vicissitudes, numa atitude hedonista que lhe possibilita alegrias contínuas e visão antecipada do abençoado através da superação dos acontecimentos que fazem sofrer.

Esse tipo de atitude envolve-se, de dignidade, valor moral que enriquece os que são fiéis aos princípios do dever e da honra.

Podemos dizer ainda que a dignidade resulta das conquistas éticas vindas dos comportamentos que encontram-se na justiça, na honradez e na honestidade.

A conduta digna é sempre a mesma, vigorosa e forte, que suporta a zombaria dos pigmeus morais, não se submetendo ao desconhecimento proposital imposto pelos servos da ignorância e promotores das situações infelizes.

Grande número de desfrutadores das oportunidades mundanas sem nenhuma responsabilidade de impusionar o progresso, sorrindo sempre e parecendo felizes nos carros alegóricos das fantasias, acabam vitimas da síndrome da ansiedade esquiva, que os leva aos conflitos muito graves, especialmente porque tentam disfarçar os medos e as angústias que lhes sitiam o self, sem caráter moral para o autoenfrentamento, do que conquistaria o equilíbrio emocional.

Pascal dizia com sabedoria que “A nossa dignidade consiste no pensamento. Procuremos, pois, pensar bem. Aí se encontra o princípio da moral “.

Fica claro, que todas as construções começam no pensamento, elaborando ideias, na área psicológica. Quando  se busca o desenvolvimento dos tesouros morais, o pensamento cresce em corretas elaborações, aquelas que promovem o bem, abrindo espaço para a conduta moral.

Com esse comportamento que é psicoterapêutico preventivo por evitar muitos transtornos, o ser amadurece emocionalmente, se dispondo a enfrentar situações desafiadoras com coragem e ética, nunca utilizando expedientes censuráveis para conquistar as metas que busca.

Definindo os caminhos da arte de pensar, imediatamente se desenham também os caminhos de como proceder bem, contribuindo decisivamente para o bem geral.

Fica fácil entender que é preciso o comportamento digno, construído por pensamentos e as ações saudáveis, incluindo o sentimento de gratidão que envolve tudo em vibrações de afeto. Sem essa afetividade que discerne os significados existenciais e os bens vindos da experiência humana, iria desaparecer o sentido psicológico que a caminhada propõe.

O homem e a mulher gratos são elementos decisivos na estrutura da sociedade, que se valoriza e engrandece, quando é composto por seres que  dignificam a sua condição de humanidade.

O ingrato, por sua vez, torna-se patológico no grupo em que vive, no conjunto social e em todos os grupos onde se movimenta.

 A sua presunção e conflitos, junto às tendências perturbadoras da inferioridade, estimulam a decomposição do organismo geral, em que se encontra, como uma planta parasita devastadora, que surge frágil e acaba destruindo o cavalo em que se hospeda...

A educação firmada em princípios de dignidade estatui a gratidão como norma de conduta saudável, sem ela se torna difícil, senão impossível, a estruturação de um conjunto humano equilibrado.

Velho hábito vicioso instala-se nos indivíduos desde a infância, que é o de receber dádivas e não as valorizar, sempre visando o preço, a grife, a aparência, como se fosse credor dos sacrifícios dos outros, sem considerar o que recebem, não demonstrando nenhuma gratidão. Essa conduta egotista trabalha pela indiferença afetiva dos demais, que passam a desconsiderar esses ingratos, deles afastando-se e vacinando-se contra o hábito superior da gratidão... Muitas são as pessoas que, após desconsiderar esses insensatos rebeldes e cheios de si, desanimaram-se nos propósitos de bem servir e de ajudar, temendo as recusas, os humores negativos, passando a cuidar dos seus próprios interesses apenas.

Aquele que age dessa maneira, valorizando ingratidão dos doentes espirituais, ainda não sedimentou o sentimento nobre, estando em experiência, em exercício, esperando resposta favorável ao seu gesto. É natural que assim aconteça, já que ninguém atinge o acume de um monte sem começar a caminhada pelas suas baixadas...

Conforme ocorra o amadurecimento psicológico e a dignidade vai alcançando níveis mais elevados de emoção, nada diminui o comportamento honorável nem o sentimento gratulatório.

Um  certo executivo como hábito adquirir o jornal do dia, depois do expediente, em uma banca em frente ao edifício onde trabalhava. Sempre que pedia ao responsável o jornal, ele jogava-o com mau humor na sua direção, e o executivo retribuía o gesto infeliz com palavras de gratidão.

Um dia, um homem que trabalhava junto e que se cansara de ver a cena desagradável, perguntou ao cavalheiro:

- Por que o senhor volta sempre a comprar o jornal na banca desse indelicado, que sempre o trata mal?

Após pensar um pouco, o gentil-homem respondeu:

- Por questão de princípio. Eu me impus a tarefa de não permitir que a sua grosseria me fizesse fugir ou me tornasse deseducado e igual a ele, já que sou muito grato à vida por tudo que me tem favorecido.

O mal não afeta o bem, que lhe é o antídoto.

Continuar na conduta correta, mesmo quando ultrajado ou desconsiderado, passa a ser desafio da saúde moral no comportamento social, a fim de o modificar, trabalhando na construção de uma nova mentalidade, que se há de estabelecer entre todos no futuro.

Texto trabalhado do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO, escrito por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Postado no dia, 02/07/2014.

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