O
CONFRONTO COM A SOMBRA
Talvez o maior desafio da
jornada terapêutica seja defrontar-se com a própria Sombra, a
parte obscura da personalidade, que contém os aspectos normalmente
negados, reprimidos e não desenvolvidos, assim como inúmeras possibilidades a
desenvolver.
Jung no seu livro, AION: Estudos sobre o Simbolismo do
Si-Mesmo, p.14, observa que:
“a sombra constitui um problema de ordem moral que desafia a personalidade
do eu como um todo, pois ninguém é capaz de tomar consciência desta realidade
sem despender energias morais. Mas nesta tomada de consciência da sombra trata-se de reconhecer os
aspectos obscuros da personalidade, tais como existem na realidade”...
Jesus, na condição da mais
sublime manifestação do Self, não sendo portando portador da sombra perturbadora,
percebeu a importância desse confronto, e de forma enérgica chamou a atenção
para a necessidade dessa batalha... que deveríamos travar contra nós mesmos. Em
todas as instancias dessa luta arquetípica com a
Sombra, Jesus demonstra uma percepção e grandeza incomuns, e na condição
de “libertador de consciências”,
conforme anota Joanna de Ângelis, no livro Jesus
e o Evangelho à luz da Psicologia Profunda, p.44, “propõe que cada um supere a
própria sombra”..., conforme Ele houvera superado.
A exigência excessiva de
formalismos, aparências, dogmas e a observação rígida de condutas que
caracterizavam aquela época, e que de certa forma persistem nos dias atuais, eram fortes indícios da
dificuldade em lidar com a Sombra na qual se encontravam – eram necessários muitos
adornos para se esconder da podridão que
verificavam no mundo íntimo.
Verificando que essa sombra
era negada, estabelecendo-se no lado de fora na forma
de projeção,
antecipou-se as descobertas psicológicas dos mecanismos de defesa, declarando
com energia:
-“Hipócritas, tirai primeiro a trave do vosso olho e depois, então, vede
como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão.” (Mateus 7:5)
Complementa Baker no livro Jesus, o maior Psicólogo que já existiu p.22,
que “Jesus nos advertiu das armadilhas que
encontramos ao julgar os outros. Ele sabia que nossos julgamentos se baseiam em
informações distorcidas por nosso modo de ser, e que não correspondem,
necessariamente, à realidade.”
A sua forma de agir
demonstrava que não havia qualquer interesse em alimentar a persona – a máscara
que adorna a personalidade, de agradar às massas ou aos poderosos quando os Seus
princípios não estavam de acordo. Ser conivente poderia destaca-Lo para o
mundo, mas contrastar com Sua identidade profunda. E Ele sempre escolheu o Reino dos Céus em primeiro lugar... (Mateus
6:33)
E encontrando nessas personas poderosas uma forma de esconder
e negar a sombra na qual se encontravam, prosseguiu nos ensinando como
nos libertar
e transformar a própria sombra através de discursos veementes:
-“E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar
em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos pelos homens”...
(Mateus 6:5-8)
-
“Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas,
mas por dentro são lobos roubadores”. (Mateus 7:15)
- “Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem os
publicanos também o mesmo?” (Mateus 5:46)
Eles propunham que o sábado deveria ser guardado para o repouso. Jesus,
porém, estabelecia que o Pai até hoje
trabalhava, e Ele também... (João 5:16-17) A lei estabelecia as abluções
antes das refeições, para não se contaminarem pela sujeira que entrasse na boca
do homem; Ele chamava a atenção, no entanto, que deveriam estar mais atentos ao
que sai da boca do homem. (Mateus 15:11)
Conclamava para o sentido
das coisas, que muitas vezes nos passa despercebido, porque nos tornamos autômatos
no que fazemos, na nossa rotina. Ao falar do sábado, falava não somente do dia
da semana, mas possibilitava – e o faz até hoje – questionar: quais são os meus
“sábados”? Quando é que faço coisas
sem sentido e sem lógica, em nome da religião convencional, que nada tem a ver
com a ligação com Deus? E esses “sábados”
permanecem até os dias atuais... O que ainda sai da minha boca, transformando-me nos fariseus, publicanos e
doutores da lei da era moderna?
E até hoje os ensinamentos e
a vivência de Jesus, vinculados de forma profunda ao Si Mesmo – Eu Sou –
permanecem nos convidando a integração dos aspectos sombrios à personalidade, para
trazer à tona todas as energias necessárias para a vivência do ser integral,
pois não podemos ser inteiros vivendo e conhecendo apenas parte da nossa
psique. Apresentando a totalidade do Ser, o Mestre nos convidou e convida a
fazer o mesmo.
Texto escrito por
Cláudio Sinoti, no livro Refletindo a
Alma. Postado dia, 19/07/14
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