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EQUILIBRIO
ENTRE ANIMA E ANIMUS
Na condição de ser integral,
Jesus transitava com perfeita harmonia entre as instancias que normalmente
costumamos atribuir ao masculino ou feminino, que a Psicologia analítica
identifica nas figuras opostas Anima e
Animus.
Anima
–
No tempo de Jesus, e de certa forma até os dias atuais, como constata Joanna de
Ângelis, no livro Jesus e o Evangelho à luz da Psicologia
Profunda, p.17, “o amor era
considerado sentimento feminino, próprio da fragilidade atribuída à mulher,
porque se ignora a força existente na anima que existe em todos os homens...”.
A dimensão anima de Jesus atendia com ternura
maternal a todos os enfermos e pessoas consideradas de “má-vida” que O
buscavam. A compaixão, o vínculo profundo com o próximo, porque harmonizado
consigo mesmo, permitiam-Lhe ativar instancias poderosas no psiquismo dos que O
buscavam. Não é à toa que Ele, de forma simbólica, nos deixou o exemplo do Bom
Samaritano da Parábola, que tocado de compaixão deveria servir de exemplo ao
Doutor da Lei e a todos que desejassem alcançar
a vida eterna. E a compaixão é um dos atributos associados a anima, e expressá-la em nossas relações faz
parte do desafio existencial de homens e mulheres.
Enquanto permanece a crença
ancestral de que “homens não choram”, demonstrando a dificuldade masculina em
expressar as emoções, Joanna de Ângelis, no livro Jesus e o Evangelho à luz da Psicologia Profunda,
na pg.48, atesta que “O Homem – Jesus chorou,
sim, várias vezes o que, aparentemente, não é uma atitude masculina...”, pois
não havia preocupação em parecer para aquele que Era, e que demonstrava Sua grandiosidade
“sobretudo através do sentimento de
humanidade, de compaixão, de solidariedade, de convivência...”.
Animus
– A
força moral de Jesus, o verbo que contagiava multidões, as atitudes enérgicas,
quando necessárias, demonstravam uma atitude masculina que também serve como
modelo. Para Von Franz, Jung, no livro, O
Homem e Seus Símbolos, p.260, “o lado
positivo do animus pode personificar um espirito de iniciativa, coragem,
honestidade e, na sua forma mais elevada, de grande profundidade espiritual”.
E em todos esses atributos Jesus se coloca como exemplo.
O verbo de Jesus era dotado de
uma força extraordinária. Considerando que há dois milênios os recursos tecnológicos
eram mínimos, e que Ele nada escreveu, somente a energia contida em Seu verbo e
na Sua forma de ser poderia produzir tamanho impacto, que possibilita que Sua
mensagem permaneça viva até os dias
atuais. As modernas técnicas de apresentação nos ensinam inúmeras ferramentas
para ter sucesso em exposições, conjugando imagem, som e efeitos no momento
adequado. A Sua técnica, no entanto,
residia na capacidade de ser Ele mesmo, e através de uma profunda vinculação
com a consciência cósmica – Eu e o Pai
somos Um – canalizar a energia necessária para que todos, de todos os
tempos, pudessem receber e ser impactados por Sua mensagem.
A coragem, honestidade e
grandeza espiritual eram para Ele demonstradas em todos os instantes, pois, nas
palavras da benfeitora Ângelis, no livro, Jesus
e Atualidade, p.55, ”nunca anuiu com
o crime disfarçado de legalidade; com a arrogância mascarada de humildade; com
a injustiça apoiada pelos poderosos... com a discriminação de qualquer natureza”.
A atitude de Jesus,
acolhendo e reconhecendo o valor da mulher, dando-lhe dignidade, era
revolucionária. E enquanto o homem pensava dela dispor a seu bel-prazer,
desconsiderando seus sentimentos íntimos, Ele, tomado de coragem – animus – “assumiu a anima e enterneceu-se
com as suas demonstrações de doçura e de piedade, de amor e de solidariedade,
conclamando-a à autoestima, apesar de todos os impedimentos.” Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia
Profunda, p.89.
Agindo dessa forma,
possibilitava às mulheres, de certa forma banidas da vivencia social,
reerguerem-se, trazendo à luz da consciência o seu lado animus, energia vibrante que não era aceita, pois como nos recorda
Joanna de Ângelis no Jesus e o
Evangelho...., p.17
“da mesma forma, o animus que compõe
psicologicamente o ser feminino era propositalmente ignorado, a fim de não ser
vítima de punição que atribuía à mulher culpa e responsabilidade pelo delíquio
inicial do homem, portanto, a degradação de toda a Humanidade”.
Asseveram algumas tradições
que o homem judeu costumava rezar da seguinte forma: Bendito sejas tu, Senhor, porque não me fizeste gentil, mulher ou
escravo. De acordo com Said (2011), a visão da mulher como ser inferior era
“a visão historicamente construída e
legitimada pelo universo masculino dominante”.
Isso provém desde as
tradições bíblicas, desde o relato da Criação, como nos recorda Joanna de
Ângelis (2007 p.78), quando além de um Deus de comportamento movido pela
instabilidade, nos apresenta “Adão, de
quem fora retirada uma vértebra para produzir a mulher, mantendo-a como parte
do seu corpo, tornando-a submissa em face de pertencer-lhe desde a origem”.
Jesus veio estabelecer um
novo paradigma, e por isso mesmo era constantemente incompreendido, acusado de
ser conivente com as “mulheres de má vida” e com todos que aquela sociedade
costumava acreditar serem os últimos, que
não recebiam tratamento digno.
Mas sem preocupar-se com o
julgamento alheio, Ele acolheu a mulher “adultera” em praça pública, com
extrema coragem, mas não deixou de adverti-la “... Nem eu também te condeno, vai e não peques mais”, (João 8: 1-11) Esta
e outras advertências, somadas aos discursos de ira e aos “ais” (Ai de vós escribas e
fariseus etc.) conforme Joanna de Ângelis no, Jesus e o Evangelho...,p.82, são “severos alertas que traduzem as reações do Homem – Jesus tomado pela
ira santa, aquela que reflete a Sua natureza humana, sem qualquer laivo, no
entanto, de ressentimento ou ódio...” Todos esses eventos servem para
atestar ainda mais “a grandeza da Sua
masculinidade enérgica...”
O Mestre condenava as
atitudes equivocadas – Animus – mas jamais
negava o amparo aos que O buscavam – anima
– aos considerados “pecadores”. Acolheu como apóstolo Mateus, que era
coletor de impostos; fez com que Zaqueu descesse da árvore para cear com Ele e
seu grupo, passando a noite na casa do publicano (mesmo ciente de que os
publicanos eram normalmente odiados pelo povo); estabeleceu conversação com
Nicodemos, doutor da Lei, instruindo-o a respeito da reencarnação; foi à casa
de Simão, o fariseu, e ali aproveitou para ensinar que o amor era a força
libertadora de todos os erros... Esses e outros tantos exemplos fazem com que
Ele seja o exemplo perfeito da conjugação das duas polaridades, pois conforme
as palavras da benfeitora, no livro Jesus
e o Evangelho à luz da Psicologia Profunda, p.48, “Jesus – Homem, à luz da psicologia profunda, arrebentou esse
pressuposto de dominação patriarcal, realizando a superior androginia
figurativa, quando harmonizou o Seu animus com a Sua anima, em perfeita
identidade de conteúdos, o que Lhe permitiu transitar pelos diferentes
comportamentos emocionais, mantendo a mesma qualidade de conduta”.
Texto escrito por Cláudio
Sinoti, no livro Refletindo a Alma. Postado
dia, 07/07/14.
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