segunda-feira, 21 de julho de 2014


A FATALIDADE DA MORTE

O fenômeno biológico da morte   equivale ao do nascimento: aglutinação de moléculas que se reúnem e se desarticulam quando ocorre a anóxia cerebral.
O oposto de morte não é vida, mas renascimento, como disse Buda, já que, sempre se está na vida, esteja no corpo físico, ou no espiritual.
Sendo o Sellf mortal e imortal na visão transcendente de Jung, ele transfere-se de vibração, pelo fenômeno da morte,  mergulha no corpo através da reencarnação.
A morte é o fim do fenômeno biológico, conclusão de uma etapa orgânica, nessa etapa todos os elementos que formam o corpo físico se diluem e se transformam sob a ação da química  presente em a natureza...
E assim, o significado psicológico mais importante da vida corporal é conquistar a imortalidade, em que se está mergulhado, e que se torna lúcida e plena depois da desencarnação.
Nesse período, após a rápida ou longa  perturbação da consciência, agora sem o envoltório cerebral, o ser, aos poucos, conforme as suas construções morais e mentais, volta ao estágio de energia ou princípio inteligente, sem as intercorrências da prisão no invólucro material.
A caminhada humana no corpo deve ser a meta plena para o reencontro com a vida total. Sendo assim, todos os investimentos mentais, morais e psicológicos precisam voltar-se para essa realidade, com olhos para a impermanência do corpo físico.
Considerando-se a imortalidade como a grande meta, definitiva, cada instante da viagem corporal representa grande oportunidade de crescimento iluminativo, investimento psicológico precioso na conquista da saúde integral, aquela que vem do interior para o exterior.
Esse nascer e morrer no corpo físico proporciona ao Espírito a conquista da plenitude, etapa a etapa, como responderam os Benfeitores espirituais a uma pergunta de Allan Kardec, demonstrando que tudo evolui no Universo:... É assim que tudo serve que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo...
Desde os primórdios do Self, quando surge nas formas primárias, o seu despertamento ocorre através do encadeamento das experiências carnais, em sucessivos renascimentos corporais, permitindo que cresçam aos poucos as potencialidades nele adormecidas, que são inerentes à Divindade da qual origina-se...
Não sendo assim, a vida corporal, pela brevidade, não teria sentido de lógica ou de finalidade, considerando-se o tempo indimensional e o infinito, logo dissolvendo-se o pensamento no nada, no aniquilamento. A sobrevivência do ser espiritual é decisiva para que a vida física tenha justificativa e sentido psicológico que o digam aqueles que nasceram sob imposições coercitivas de sofrimentos quase inconcebíveis, sem direito à comunicação, ao pensamento, à razão...
Outros ligados às necessidades socioeconômicas, começam a existência na miséria e vivem nos meios escabrosos sem a mínima claridade do amor, nem da solidariedade, misturando-se o crime com a adversidade...
Muitos seres deliram na loucura sob maltrato inumano, outros tolos perdem-se nos descaminhos do esquecimento humano...
Acontecimentos cruéis ocorrem com indivíduos inteligentes e de beleza, mas que fazem parte de etnias e raças consideradas inferiores, são obrigados a tragar o fel do preconceito e da perseguição inclementes.
Vários sucessos e insucessos atingem as criaturas humanas, como se fossem frágeis marionetes ao capricho do absurdo, que se manifesta de surpresa,  elevando uns ao êxtase da felicidade e a outros, ao abismo da miséria e do abandono.
Gênios do pensamento e da arte, da ciência e da cultura, repentinamente são vítimas de fenômenos infelizes e vencidos por acidentes vasculares cerebrais, perdem o contato com o mundo da beleza a que se acostumaram ou que edificaram e não mais o podem fruir.
Igualmente ocorrem, a cada instante, a inúmeras pessoas, acidentes automotores, choques e quedas, incêndios e desabamentos onde os sentidos físicos são danificados, quando não deixam marcas profundas na psique, que se desconecta da realidade e foge para o esquecimento de si mesmo ou para os delírios sem sentido das alucinações...
Compreendendo que a presença do sofrimento em todos os segmentos da sociedade é normal, qual seria, o sentido da vida, além disso?
O ser espiritual, vencedor de mil situações, em cada dolorosa vivencia aprimora-se mais, conquista mecanismos de defesa, fortalece a confiança nos valores ético-morais, vivencia as possibilidades que lhe dormem no íntimo.
Herdeiro das suas realizações é responsável pela saúde e pela doença,  pela sabedoria e pela ignorância, pela sombra, pelo anima-us, pelo ego que se devem fundir num eixo equilibrado com o Self, que os antecede e os sobrevive.
A continuidade da inteligência e do pensamento além da esfera carnal corresponde ao mais extraordinário sentido existencial, porque envolve todas as expressões da emotividade e dos outros  sentimentos.
Visando-se esse significado, mais possível se torna viver, em qualquer situação ou circunstância, por compreender que a jornada carnal é temporária e breve, portadora de finalidade educativa, psicoterapêutica, responsável pelo engrandecimento do si-mesmo.
Com esse equipamento, a certeza da imortalidade facilita que todos os fenômenos humanos tenham lógica e possam ser compreendidos como edificantes, portadores de futuro bem-estar e harmonia.
Atavicamente, o medo da morte e do aniquilamento existe como arquétipo terrível e ameaçador, herança do período da caverna, quando acontecia o fenômeno que não era interpretado pelo homem primitivo, que via o outro ser decompor-se, exalar podridão e não mais voltar ao convívio... Sem a capacidade de compreender, o culto do sepultamento gravou-se-lhe no Self, abrindo espaço para as superstições conforme o nível evolutivo e gerando no inconsciente profundo o horror da ocorrência não compreendida.
Apesar disso, foi na intimidade dessa mesma caverna que as almas aflitas ou não daqueles que vitimados pelo fenômeno da morte, voltavam, amedrontando ou aparentando poder, que proporcionaria ao pensamento mítico a concepção dos deuses, começando aos poucos a compreensão do fenômeno post-mortem e dos gênios bons e maus, dos deuses nobres e viciosos...
A longa jornada hoje alcança, a concepção da Divindade fora dos padrões convencionais em forma de objetivações materiais, apresentando-se como Causa Incausada, inteligência suprema e causa primária de todas as coisas...
A morte, ao invés de temerária, é veículo que conduz o ser imortal ao seu destino, oferecendo-lhe, quando terminado os renascimentos carnais, a total conquista do Self, do numinoso, da individuação, da felicidade plena e sem falha.
Jung estudando e observando idosos na quadra terminal escreveu: ...a psique inconsciente faz pouquíssimo caso da morte.
Elucidou também: É necessário, pois, que a morte seja alguma coisa relativamente não essencial... A essência da psique estende-se na obscuridade muito além das nossas categorias intelectuais.
O encontro com a verdade liberta o ser da ignorância e integra-o totalmente na vida.
A busca da verdade não deve cessar, pois a cada instante eis que ela se apresenta grandiosa e deslumbrante.
Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? (Paulo aos Coríntios 1:15 – 55) .

Texto trabalhado com base no livro EM BUSCA DA VERDADE, escrito por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Postado no dia 21/07/2014.

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