TÉCNICAS DA GRATIDÃO
A gratidão é como uma condição
para ser feliz, de acordo com a definição de Albert Schwetzer, acrescentando
ser ela o segredo da vida.
Ele, mas que qualquer pessoa,
sempre bendizia a vida, apesar daqueles dias nem sempre confortáveis em
Lambaréné, na África Equatorial Francesa, onde mantinha a sua obra de
dignificação humana.
Europeu da cidade de
Kaysersberg, na Alsácia, ao transferir-se com a esposa para aquela região
hostil, experimentou o áspero clima tropical, a elevada humidade do ar, na
floresta densa, as condições quase inóspita para alguém que sempre vivera em
região fria e civilizada, a falta de recursos para qualquer tipo de comodidade,
e, apesar de tudo, manteve o sentimento de gratidão viva em sua existência,
cantando louvores a Deus.
Foii ali, em condições
desafiadoras que ele escreveu duas obras monumentais: A busca do Jesus histórico e um tratado
de ética dos mais belos do século XX.
A sua ética estava expressa
no conceito: respeito pala vida, que
ele defendia com sacrifícios até o máximo possível.
Uma análise das bênçãos que
a existência física proporciona seria suficiente para se agradecer por se estar
vivo no corpo; pelo ar que se respira; a água, o pão que a natureza fornece, ao
lado das maravilhas de que se veste o cosmo; as noites estreladas, a poderosa
força mantenedora do Sol e a tranquilidade magnética da lua, a brisa
refrescante, a chuva generosa, a temperatura agradável... Tudo que vibra e que
merece gratidão.
É certo que existem os
desastres sísmicos, as tormentas de vário porte, que também são dignos de
reconhecimento, facultando a valorização
do que é saudável e dignificante.
Fossem apenas agradáveis
todos os fenômenos existenciais e não haveria mecanismo válido para se promover
o progresso moral do ser assim como o desenvolvimento científico e tecnológico
da sociedade.
Envolto no escafandro material,
o self é candidato à superação das
circunstancias, trabalhando-se com afinco para alcançar a plenitude da sua função indestrutiva.
Inspirando o ego a modificar
a estrutura do comportamento, faculta-lhe, ao largo do tempo, a visão
inspiradora do desenvolvimento interno, diluindo a sombra que também se lhe
torna motivação para a conquista de novas experiências, proporcionando-se
bem-estar, que é essencial para uma existência compensadora.
A busca dessa sensação de
alegria e de satisfação transforma-se num motivo estimulante ao ego, mesmo que
relutante, porque a ausência desses pequenos prazeres aumenta o sentimento de
culpa, frustra a autorrealização, empurra para transtornos complexos e
mórbidos, que se transformam em enfermidades orgânicas por somatização.
É nesse embate que surge a
necessidade da gratidão, não apenas em relação ao que se recebe, mas, sobretudo
pelo que é possível oferecer-se, participando do espetáculo da vida em
sociedade na condição de membro atuante e não de parasita prejudicial.
Sempre há quem justifique
não possuir muito para repartir, olvidando-se que a maior doação é aquela que
nasce na grandeza do pouco, qual a referência evangélica em torno da oferenda
da viúva pobre. Mesmo ela possuía algo para doar ao templo, cumprindo a lei que
assim o estatuía.
Dádivas outras, não menos
valiosas, consistiam na oferta do trabalho de limpeza do santuário, dos lugares
em que os outros pisavam, na conservação dos objetos do culto, nos cuidados
reservados a tudo que dizia respeito ao templo, em razão de não possuírem
sequer a liberdade ou porque rastejassem nas situações humilhantes do serviço
detestado pelos vãos e orgulhosos sacerdotes, ricos de presunção e pobres de
sentimentos...
A gratidão pode também se
expressar de forma especial, como sendo respeito e apreço, consideração e
amizade, singelos padrões de comportamento social que devem existir em todo
grupo humano.
O hábito de retribuir
dádivas restringiu o sentimento gratulatório, tirando-lhe a beleza emocional.
Claro está que dividir o que se tem com quem também oferece representa um passo
avançado na psicologia da gratidão. Entretanto, merece que seja considerada a
oferta que nasce do coração, sem nenhuma outra motivação material que seja
retribuição, transformando-se em oferta da gentileza, da alegria de viver,
porque se faz parte da orquestra viva da sociedade.
Esses gestos espontâneos
contribuem para a felicidade que se aspira, gerando situações positivas na
existência, por modificarem os sentimentos do gentil doador, que se aureola de
harmonia, porquanto o doar é sempre acompanhado pela imensa satisfação de assim
proceder.
Todo aquele que aspira
alcançar o planalto da saúde e da harmonia é convidado a exercitar-se na arte
de oferecer e de oferecer-se.
Em Atos
dos apóstolos, dentre muitos outros há um momento encantador, quando Pedro
e João saem do Templo de Jerusalém e os pobres, os enfermos, os aflitos
distendem-lhes as mãos, suplicando auxilio monetário, especialmente um coxo que
aguardava a esmola em forma de moeda.
Percebendo-se destituído
desses recursos, Pedro, com ênfase, olhando João, disse ao sofredor: “Não tenho
prata nem ouro, mas o que tenho isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o
Nazareno, anda!” (At 3:6)
Ante o assombro geral, o
enfermo recuperou os movimentos, deslindou os membros paralisados e ergue-se
jubilosamente...
A partir daí, dessa dádiva
de amor, as pessoas colocavam os seus pacientes por onde os dois passavam, a
fim de que “a sua sombra cobrisse alguns deles” (At 5:15), na expectativa de
que os curasse.
Todas as coisas são boas e
merecem respeito, no entanto aquelas que são conseguidas como dádivas do
sentimento, que não são compradas, possuem um valor emocional muito maior.
Desse modo, ninguém se pode
escusar de oferecer algo de si mesmo, contribuindo para o bem-estar geral, que
começa no ato da oferta.
É sempre melhor doar do que
receber, porquanto aquele que doa é possuidor, ocorrendo com quem recebe a
situação de devedor, e uma das maiores dívidas que existem é a da gratidão,
porque um socorro em momento especial define todo rumo da existência, que passa
a dignificar-se, a crescer, a produzir, após esse instante significativo.
Quando se mata a fome ou a
sede, oferece-se segurança e trabalho a quem os necessita, doa-se paz e alegria
de viver àquele que se encontra à borda do desespero suicida, tudo quanto lhe
vem a suceder é fruto daquele gesto salvador.
A dívida, pois, ao que
recebeu não pode ser resgatada senão por outra vida.
Narra-se que um indiano, que
tivera o filho assassinado por um paquistanês, nos hórridos dias da guerra
entre as duas nações, buscou o Mahatma Gandhi e contou-lhe a tragédia que se
permitiu, rogando-lhe ajuda, orientação.
O sábio mestre meditou e
respondeu:
- A única maneira de
resgatar o seu crime é educar uma criança órfã paquistanesa como se fora seu
filho.
O interrogante argumentou:
- Mas somos inimigos e um
deles matou o meu filho.
Tranquilo, redarguiu o
mestre:
- Tornamo-nos inimigos uns
dos outros porque isso nos compraz. Somente porque o alucinado matou o seu
filho, você não tem nenhum direito de retribuir-lhe o crime, tornando-se
igualmente homicida.
O homem, sensibilizado,
adotou uma criança paquistanesa e dela fez um cidadão de bem.
Texto trabalhado do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO, escrito por
Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Postado no dia, 04/07/2014.
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