segunda-feira, 7 de julho de 2014



GRATIDÃO COMO NORMA DE CONDUTA

Do ponto de vista teológico considera-se a gratidão  uma virtude igual às outras, como a fé, a esperança e a caridade.
Uma observação cuidadosa vai perceber que, para se ser grato, é necessário ter fé, ter certeza do significado da vida, dos seus valores e possibilidades; precisa acreditar no ser humano, considerando que, se encontra no momento em transição para conquistas mais importantes, merece apoio e consideração que o ajudem a autossuperar-se, alcançando mais elevado degrau da evolução. Da mesma forma, no ato gratulatório encontra-se a esperança que aformoseia a vida, apresentando o futuro como algo a alcançar pela vivencia dos sentimentos enobrecedores, a certeza de que vale a pena todo e qualquer investimento que dignifica. E,  torna-se presente a essência da caridade, que é o significado do ato de agradecer, expressando o amor que é vital para quaisquer investimento moral e espiritual. Sem essa presença, a gratidão é pobre de vigor e de enriquecimento emocional.
Cada experiência vivenciada no processo da evolução, como ocorre com a gratidão, representa uma forma adequada de amadurecimento psicológico, capaz de produzir harmonia interior e estimular o esforço para o autocrescimento.
Preso ainda às heranças do primarismo, o self se esforça por sublimar a sua sombra, enquanto influencia o ego a respeito da necessidade de autotransformação das metas próximas para as transcendentes. Desmaterializar as ambições egoicas para transcendê-las em forma de aspirações psicológicas profundas que dão significado à vida deve ser-lhe o constante esforço no seu relacionamento com a persona. Fixada em interesses imediatos de respostas agradáveis, mesmo que mentirosas, a persona se satisfaz em se manter vibrante, mesmo quando percebe não poder esconder as necessidades emocionais dos que se submetem cativos ao seu encantamento. Vestir-se de realidade, despindo-se das fantasias e dos mitos enganosos, deve ser sempre a proposta do si profundo, por conhecer que é legítimo e oferece harmonia em relação ao que é prazeroso, mas de gosto amargo e doentio para a emoção.
Ninguém pode viver ocultando a sua realidade, por isso o tempo, na sua corrida inevitável, sempre retira os véus que disfarçam os contornos da existência e obscurecem a percepção da sua autenticidade.
É essa teimosa fuga de si mesmo que abre espaço a muitos conflitos e transtornos na área do comportamento das criaturas, pelo consumo de energia emocional para parecer, em vez de aplicá-la no esforço natural criativo e renovador para ser.
Arquétipos novos podem ser gerados, favorecendo a construção dos significados da evolução, enquanto outros os perturbadores vão cedendo lugar às novas formulações que proporcionam inexprimível alegria pelo seu cultivo.
Quando se é capaz de autoenfrentamento sem receio e como fenômeno do autoamor, muitos tesouros da emoção podem ser descobertos e a alegria de viver deixa de ser pelo consumismo e pela troca de quinquilharias para conquistar conteúdos importantes de amor, de troca, de paz e de gratidão.
A gratidão envolve-se em força estimuladora para todos os empreendimentos da vida, tornando-se  norma de conduta.
Quem é grato, naturalmente é abençoado pela felicidade, pela saúde, esparzindo as ondas de bem-estar que o envolve, contaminando todos aqueles que lhe rodeiam. Normalmente, as referencias se referem ao contágio do mal, das doenças, dos desgostos, da infelicidade, embora também ocorra o que se refere à alegria, à esperança, à comunicação jubilosa, ao serviço construtivo e à conquista da saúde.
A convivência com pessoas saudáveis permite impregnação de estímulos que já não funcionavam. Diante de alguém que sorrir abençoado pela conquista da harmonia pessoal, todos sentem um imenso desejo de alegrar-se também, de participar do festival do júbilo como ocorre ao botão de rosa que desata as pétalas, exteriorizando o perfume que lhe é inerente, abrindo-se delicadamente à luz do Sol.
Na etapa final da imaginação ativa é preciso que cada um realize a sua experiência para que as verdades profundas se transformem em realidade. É o caso da gratidão, que precisa ser vivenciada, já que não pode ser definida por palavras, de forma que o outro a possa sentir ou até entender.
Kierkegaard dizia que ninguém pode dar a fé ao outro. Porque é uma conquista pessoal, intransferível. Dessa forma é possível, crer-se no inacreditável, e estão embutidos aí todos os tabus e superstições que afloram do inconsciente coletivo e assumem realidade na imaginação daqueles que acreditam. Essas heranças arquetípicas encontram-se de tal modo vivas no inconsciente que, quando ressumam ou vem a tona, modificam-se para realidades que impregnam aqueles que as vivenciam.
O mesmo dizemos da gratidão. É uma experiência pessoal, embora possa também se expressar coletivamente, não é resultado de nenhuma herança arquetípica, sendo sim uma conquista do self, expressando libertação do comportamento egoísta. Há conquistas que somente se originam na experiência, embora possam ser formuladas teoricamente, tornando-se válidas apenas quando passam pela vivência.
Jung dizia,
“que cada avanço, mesmo o menor, através deste caminho de realização consciente, acrescenta muito para o mundo.”
Para que o indivíduo se livre dos conflitos, especialmente dos geradores da ingratidão, é preciso que tenha vida interior, que se organize internamente para expressar ao mundo aquilo que busca e alcançará. Não há motivo para desconhecer o conflito, mas sim enfrentá-lo, envolvendo-o nos ideais e aspirações, reunindo a dualidade (gratidão e ingratidão) num todo harmônico, transformando-a em unidade (sentimento de gratidão) que passará a vigorar no dia a dia existencial.
Muitas vezes a gratidão se apresentará como um paradoxo. Por que se vai agradecer, quando se pode continuar no prazer? Porque o prazer cansa, perde o sentido, produz o tédio, exige renovação. Nenhum prazer tem espaço no consciente sem haver uma perfeita liberação do inconsciente, identificação dos fatores que o produzem, dentre os quais as pessoas, as circunstancias envolvidas. Desconhecer todas essas condições é manter-se em delírio afastado da realidade, que se impõe pela própria razão de ser. A gratidão, pode parecer paradoxal, por manifestar-se também quando cessa o prazer, quando surgem a dor e a desdita, como sentido natural do processo da vida. Não fosse assim se viveria em uma fantasia ativa que sempre alcançará a realidade existencial.
Nenhum paradoxo, na gratidão em todas e quaisquer circunstancias, como sentimento de júbilo pela presença da vida que estua triunfante.
Por fim, aplique-se o enunciado de Nietzsche, quando diz:
“Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar para atravessar o rio. Ninguém, exceto tu!”.
Texto trabalhado do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO, escrito por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Postado no dia, 07/07/2014.

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