sexta-feira, 11 de julho de 2014


GRATIDÃO COMO CAMINHO PARA A INDIVIDUAÇÃO

A vida humana é uma bela caminhada que torna o indivíduo capaz para conquistar os elevados objetivos psicológicos a que se propõe.
Uma vida sem significado psicológico é uma existência destituída de sentido e de busca. Limitando-se ao amontoado de fenômenos fisiológicos, onde os automatismos funcionam com mais força do que os sentimentos e a razão, do discernimento, que, embora ainda adormecidos, surgem e desaparecem, não conseguindo ainda ser aplicados pelo self.
O predomínio do ego caracteriza-se pelos interesses mesquinhos, num estágio de consciência de sono, sem vislumbrar a realidade.
Sem ideais importantes, o sentido existencial é tímido, satisfazendo-se com o orgânico e os prazeres dos instintos, preso nas sensações. Faltando a capacidade da estesia e da estética, da emotividade superior, a sombra mantém-se atenta e ativa, elegendo apenas o que lhe basta, fazendo o ser humano passar entre as alegrias sensoriais e os desencantos físicos. Enquanto, consegue manter os gozos, tudo segue bem e lhe é suficiente até o instante em que outros fenômenos inevitáveis, os que atingem o corpo no processo degenerativo,  como as enfermidades, os transtornos emocionais, as dificuldades sociais e a perda daquilo que se satisfaz, fazem da encarnação um martírio, um  sofrimento onde a revolta e a queixa se instalam perversamente.
A lei de progresso, impulsiona o Espirito, mesmo o negligente e irresponsável, a outras experiências que o despertem para o vir a ser. O sofrimento de qualquer ordem é normalmente o instrumento de que a vida se utiliza para demonstrar ao inadvertido que a vida física não é uma viagem agradável exclusivamente, ao vivenciar as satisfações imediatas, sem respeito pelo esforço pessoal, pelas lutas e pelas reflexões afligentes que alteram a percepção da realidade.
Nos dias de alegria, o discernimento ainda embrionário não consegue quebrar as algemas do primarismo para entender que é preciso o crescimento ético e a real conquista da saúde. Essa caminhada do adormecimento para o acordar sempre se apresenta quando se é obrigado a caminhar pela noite escura da alma, como dizia São João da Cruz, que a viveu demoradamente até conseguir crucificar o ego e as suas paixões, morrendo em holocausto pessoal, para ressuscitar em madrugada de bênçãos e de conhecimentos da verdade, perfeitamente lúcido e feliz.
Muitas vezes, quando se é convidado a caminhar por essa noite, aqueles que ainda não se adaptaram aos processos de mudança dos estágios inferiores, em que as necessidades são predominantemente fisiológicas, para outros menos orgânicos e mais emocionais e psíquicos, em vez do esforço pelo conseguir, esse paciente rebela-se, queixa-se, transformando as experiências em rosário de lamentações, de infelicidade.
Nele encontra-se a criança maltratada, sempre buscando apoio e carinho, negando-se ao crescimento psicológico, ao desenvolvimento dos valores espirituais que existem no seu interior assim como em todos os seres humanos.
O amadurecimento psicológico exige muitas vezes muita aflição e cansaço da situação de comodidade em que vive, que perde o encantamento, na razão direta em que é vivenciada, produzindo saturação emocional no gozador.
Certo genitor laborioso e dedicado ao dever tinha um filho que, era fútil, vivendo como parasita explorador do pai. Aplicava o tempo nos gozos materiais e em consumir as energias morais, mesmo que diminutas.
O pai, maduro e sábio, sempre o advertia e lhe explicava que, pelo fenômeno natural da vida, seria o primeiro a morrer, e que as riquezas, por mais abundantes, quando gastas sem renovação tendem ao desaparecimento, a extinção.
Explica que os amigos que o cercavam não lhe tinham a menor estima, mas se interessavam pelos bens de que possuía e, quando esses escasseassem, também desapareceriam...
Os conselhos pareciam velha balada conhecida e não aceita.
O idoso trabalhador mandou construir nos fundos da propriedade um celeiro, colocando no seu interior uma forca, com uma placa fixada que dizia: ”Eu jamais ouvi os conselhos do meu pai”.
Quando tudo estava terminado, chamou o filho, levou-o ao celeiro e explicou-lhe:
- Filho, encontro-me velho, cansado e enfermo. Quando eu falecer, tudo que me pertence passará à sua propriedade. Caso você fracasse, porque atirará fora todos os bens que lhe deixo, me prometa que usará esta forca, como medida de reparação do mal que nos fez a ambos.
O moço, sem entender exatamente o que o pai queria dizer-lhe, calou, para não o contrariar.
O genitor desencarnou tempos depois e o jovem herdou-lhe os bens, gastando com mais extravagancias e desperdícios. Pouco tempo depois, percebeu que havia malbaratado todos os negócios e recursos, e estava reduzido à miséria, à solidão, até mesmo porque os falsos amigos o abandonaram.
Lembrou-se do pai e chorou copiosamente. No pranto, recordou-se da promessa que havia feito, de que se enforcaria após o fracasso. Tremulo de emoção desordenada, dirigiu-se ao celeiro e lá encontrou a forca junto aos dizeres terríveis. Teve uma iluminação, crendo que essa seria a única vez na sua vida que agradaria ao homem nobre que foi seu pai e sempre viver decepcionado com a sua conduta.
Subiu então na forca, colocou o laço no pescoço e atirou-se ao ar...
O braço da engenhoca era oco e partiu-se caindo dele várias joias: diamantes, rubis, esmeraldas, uma verdadeira fortuna com um bilhete, que dizia: “Esta é a sua segunda chance. Eu o amo de verdade. Seu pai...”
A partir dali sua vida tomou novo rumo e ele mudou completamente a maneira de encarar a oportunidade.
Quando a existência é vã e inútil, sempre surge uma segunda chance, mas o melhor será que cada um cresça com o esforço pessoal e saiba aproveitar o processo de amadurecimento, a fim de que não se veja forçado à mudança após situações desesperadoras.
O amadurecimento psicológico do ser humano, é inevitável, mesmo quando ocorram dificuldades momentâneos.
O filho, poderia ter evitado o período de sofrimento e amargura, se tivesse atendido ao pai, agradecido a tudo quanto recebia sem crédito ou mérito e atirava ao desprezo.
Se tivesse cultivado o mínimo de gratidão, compreenderia que o esforço do genitor, cansado e sempre trabalhador, merecia ao menos respeito de sua parte.
 A gratidão pode expressar-se como respeito e consideração pelo que os outros fazem, oferecem e a que se dedicam de enobrecedor.
A sua falta abre espaço a um tipo de cupim emocional que devora interiormente o ser, como acontece com aquele inseto de vida social que se nutre da planta viva ou morta, alimentando-se com voracidade, enquanto a consome.
Texto trabalhado do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO, escrito por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Postado no dia, 11/07/2014.

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