quarta-feira, 9 de julho de 2014


 

GRATIDÃO E ALEGRIA DE VIVER
Na busca da solução dos conflitos, a aplicação da imaginação ativa é essencial, ao lado dos sonhos, para se encontrar a sua psicogênese. Na aplicação da imaginação ativa é necessário encontrar-se um nível que penetre na fronteira da consciência com o inconsciente e faculte a vivencia de muitas ocorrências que não foram realmente vividas. Transferidas automaticamente umas e outras como mecanismo de fuga da realidade, permanecem adormecidas e ressumam, muitas vezes, como expressões perturbadoras.
Cada indivíduo é o resumo complexo de energias, possibilidades e arquétipos que não foram utilizados,  porque grande número tem caráter prejudicial, conforme o conceito do ego, que tenta selecionar o que é positivo do que pode ser prejudicial, reprimindo-as imediatamente.
O devir, fica de alguma forma, vinculado a essas ocorrências que o impedem de realizar-se.
Consideremos alguém com possibilidades para as artes, mas é atraído para uma profissão liberal na qual adquire garantia financeira para se manter. É natural que essa tendência e todos os recursos fiquem reprimidos no inconsciente por falta de tempo, de oportunidade para se expressar. O mesmo ocorre com uma mulher que se dedica ao lar, embora tivesse imensa aptidão para atividades universitárias ou outras fora do doméstico. Essas tendências continuarão no subsolo da consciência vibrando palidamente ou gerando desconforto no trato com a família, a sua escolhida realidade.
Todas essas tendências poderão ser vivenciadas  por intermédio da imaginação ativa, de forma simbólica ou real, quando surgirem momentos adequados, sem prejuízo para os deveres já assumidos.
Assim, é possível viver essas potencialidades de maneira consciente no mundo dos relacionamentos sociais, tanto quanto intimamente no prazer de as realizar de forma simbólica, aplicando os seus recursos na atividade elegida.
Provavelmente os sonhos proporcionarão essa realização, como se a pessoa tivesse encontrado o roteiro de harmonia que tanto desejava, havendo ficado frustrada pela falta de vivencia.
Quando não se consegue a experiência vivida,  surgem tons de amargura no comportamento feliz,  como de incompletude, de traumas psicológicos...
É comum, numa vivencia pela imaginação ativa, sentir-se que teria sido ideal que a vida tivesse tomado outro rumo...
Muitas ocorrências dessas têm lugar no momento,  da escolha dos vestibulares acadêmicos, quando o jovem inexperiente luta entre o que gostaria de realizar e aquilo que é mais lucrativo. Quando escolhe a segunda possibilidade, durante o curso, porque se sente incompleto e incapaz, abandona-o, e volta a iniciar aquilo que lhe dita o inconsciente pela tendência que predomina no mundo interior.
Existem pessoas que tem uma vida acomodada, abonada pelos recursos financeiros, uma família bem estruturada, cumpridora dos deveres, e apesar disso são sempre levadas a devaneios da imaginação, vivendo outras condutas que lhe dão alegrias. Nesses momentos em que estão a sós e dão espaço à imaginação sorriem, gesticulam, expressam felicidade, logo voltando à realidade com frustrações...
O ego, identificando que tal e qual comportamentos não são convenientes ou podem trazer dissabores, reprime essas possibilidades, empurrando-as para os porões do inconsciente onde ficam aguardando...
É lícita e ética a vivência, mesmo que através da imaginação ativa, dessas aspirações não realizadas. Não são prejudiciais – há, sem dúvida, exceção -, porquanto constituem estímulo para o prosseguimento da existência no labor eleito como mais produtivo.
Após vivenciar pela imaginação o real significado existencial, pode-se manter o compromisso assumido e também experimentar  viver  alguns momentos reais daqueles desejos reprimidos sem que se esteja cometendo nenhum crime. O executivo ou o profissional liberal bem situados na sociedade podem tentar a utilização da arte nos seus compromissos, pelo menos como hobby,  como divertimento terapêutico.
Da mesma forma, a mãe e esposa dedicada deve dar-se o direito de administrar a família de forma racional, aplicando os seus conhecimentos na empresa doméstica ou mesmo, simultaneamente, após utilizar o tempo de que dispõe de maneira equânime, dedicar-se a qualquer empreendimento que a enriqueça interiormente, completando-lhe as aspirações saudáveis.
Muitas vezes a gratidão insinua-se no comportamento dos indivíduos que, por falta de hábito, por timidez e constrangimento, não se animam a expressá-la, reprimindo-a injustificadamente.
Como a gratidão necessita do combustível do amor para poder atingir o seu grau de completude, a pessoa deve exercitar a imaginação ativa vivenciando-a em todas as situações da sua existência, expressando-a intimamente, oferecendo-a com sorrisos silenciosos, sendo útil à comunidade que começa na intimidade da família, com os esforços para manter a gentileza e o carinho em qualquer circunstancia.
Pode também fazê-lo através da oração direcionada ao seu próximo, em vibrações harmônicas de bondade e de desejos fervorosos em benefício dos outros.
A fé adquire expressão inesperada, capaz de levar o individuo a ações mais audaciosas e a atitudes mais eloquentes, nunca revidando mal por mal, porque descobre no aparente mal com que lhe querem atingir um grande bem, pela possibilidade que se lhe oferece de superar a inferioridade moral que sempre reage, agindo com equilíbrio e compaixão pelo outro, o opositor.
Nesse capítulo, a fé deve ser racional, mas chega o instante em que ela ultrapassa o limite da lógica e entrega-se em totalidade. Assim agiram os mártires de todos os tempos e de todos os ideais... Doaram-se sem quaisquer excogitações.
Um alpinista galgava um paredão desafiador à noite, quando derrapou no abismo e, durante a queda que seria fatal, foi salvo por um solavanco da corda de proteção cravada por grampos seguros na montanha.
Recuperando a calma e temendo morrer enregelado durante a madrugada, orou, afervorado, suplicando o socorro de Deus.
Ouviu uma voz que lhe propôs que cortasse a corda que o prendia à altura.
Parecendo-lhe inusitado o auxílio, receou que, ao fazê-lo, cairia no despenhadeiro em morte certa.
Não se encorajou a fazê-lo.
No dia seguinte, quando chegou o socorro e o encontrou congelado, os membros lamentaram que ele não tivesse cortado a corda, porquanto estava a menos de um metro do solo protetor, quando teria salvado a vida...
Texto trabalhado do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO, escrito por Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Postado no dia, 07/07/2014.

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