GRATIDÃO E ALEGRIA DE VIVER
Na busca da solução dos
conflitos, a aplicação da imaginação
ativa é essencial, ao lado dos sonhos, para se encontrar a sua psicogênese.
Na aplicação da imaginação ativa é
necessário encontrar-se um nível que penetre na fronteira da consciência
com o inconsciente e faculte a vivencia de muitas ocorrências que não foram
realmente vividas. Transferidas automaticamente umas e outras como mecanismo de
fuga da realidade, permanecem adormecidas e ressumam, muitas vezes, como
expressões perturbadoras.
Cada indivíduo é o resumo
complexo de energias, possibilidades e arquétipos que não foram utilizados, porque grande número tem caráter prejudicial,
conforme o conceito do ego, que tenta selecionar o que é positivo do que pode
ser prejudicial, reprimindo-as imediatamente.
O devir, fica de alguma forma, vinculado a essas ocorrências que o
impedem de realizar-se.
Consideremos alguém com
possibilidades para as artes, mas é atraído para uma profissão liberal na qual
adquire garantia financeira para se manter. É natural que essa tendência e todos
os recursos fiquem reprimidos no inconsciente por falta de tempo, de oportunidade
para se expressar. O mesmo ocorre com uma mulher que se dedica ao lar, embora tivesse
imensa aptidão para atividades universitárias ou outras fora do
doméstico. Essas tendências continuarão no subsolo
da consciência vibrando palidamente ou gerando desconforto no trato com a
família, a sua escolhida realidade.
Todas essas tendências
poderão ser vivenciadas por intermédio
da imaginação ativa, de forma simbólica
ou real, quando surgirem momentos adequados, sem prejuízo para os deveres já
assumidos.
Assim, é possível viver
essas potencialidades de maneira consciente no mundo dos relacionamentos
sociais, tanto quanto intimamente no prazer de as realizar de forma simbólica,
aplicando os seus recursos na atividade elegida.
Provavelmente os sonhos
proporcionarão essa realização, como se a pessoa tivesse encontrado o roteiro
de harmonia que tanto desejava, havendo ficado frustrada pela falta de
vivencia.
Quando não se consegue a
experiência vivida, surgem tons de
amargura no comportamento feliz, como de incompletude, de traumas
psicológicos...
É comum, numa vivencia pela imaginação ativa, sentir-se que teria
sido ideal que a vida tivesse tomado outro rumo...
Muitas ocorrências dessas
têm lugar no momento, da escolha dos
vestibulares acadêmicos, quando o jovem inexperiente luta entre o que gostaria
de realizar e aquilo que é mais lucrativo. Quando escolhe a segunda
possibilidade, durante o curso, porque se sente incompleto e incapaz,
abandona-o, e volta a iniciar aquilo que lhe dita o inconsciente pela tendência
que predomina no mundo interior.
Existem pessoas que tem uma
vida acomodada, abonada pelos recursos financeiros, uma família bem
estruturada, cumpridora dos deveres, e apesar disso são sempre levadas a
devaneios da imaginação, vivendo outras condutas que lhe dão alegrias. Nesses
momentos em que estão a sós e dão espaço à imaginação sorriem, gesticulam,
expressam felicidade, logo voltando à realidade com frustrações...
O ego, identificando que tal
e qual comportamentos não são convenientes ou podem trazer dissabores, reprime
essas possibilidades, empurrando-as para os porões do inconsciente onde ficam
aguardando...
É lícita e ética a vivência,
mesmo que através da imaginação ativa, dessas
aspirações não realizadas. Não são prejudiciais – há, sem dúvida, exceção -,
porquanto constituem estímulo para o prosseguimento da existência no labor
eleito como mais produtivo.
Após vivenciar pela
imaginação o real significado existencial, pode-se manter o compromisso
assumido e também experimentar
viver alguns momentos reais
daqueles desejos reprimidos sem que se esteja cometendo nenhum crime. O
executivo ou o profissional liberal bem situados na sociedade podem tentar a
utilização da arte nos seus compromissos, pelo menos como hobby, como divertimento
terapêutico.
Da mesma forma, a mãe e
esposa dedicada deve dar-se o direito de administrar a família de forma
racional, aplicando os seus conhecimentos na empresa doméstica ou mesmo, simultaneamente, após utilizar o tempo
de que dispõe de maneira equânime, dedicar-se a qualquer empreendimento que a
enriqueça interiormente, completando-lhe as aspirações saudáveis.
Muitas vezes a gratidão
insinua-se no comportamento dos indivíduos que, por falta de hábito, por
timidez e constrangimento, não se animam a expressá-la, reprimindo-a
injustificadamente.
Como a gratidão necessita do
combustível do amor para poder atingir o seu grau de completude, a pessoa deve
exercitar a imaginação ativa vivenciando-a
em todas as situações da sua existência, expressando-a intimamente,
oferecendo-a com sorrisos silenciosos, sendo útil à comunidade que começa na
intimidade da família, com os esforços para manter a gentileza e o carinho em
qualquer circunstancia.
Pode também fazê-lo através
da oração direcionada ao seu próximo, em vibrações harmônicas de bondade e de
desejos fervorosos em benefício dos outros.
A fé adquire expressão
inesperada, capaz de levar o individuo a ações mais audaciosas e a atitudes
mais eloquentes, nunca revidando mal por mal, porque descobre no aparente mal
com que lhe querem atingir um grande bem, pela possibilidade que se lhe oferece
de superar a inferioridade moral que sempre reage, agindo com equilíbrio e
compaixão pelo outro, o opositor.
Nesse capítulo, a fé deve
ser racional, mas chega o instante em que ela ultrapassa o limite da lógica e entrega-se
em totalidade. Assim agiram os mártires de todos os tempos e de todos os
ideais... Doaram-se sem quaisquer excogitações.
Um alpinista galgava um
paredão desafiador à noite, quando derrapou no abismo e, durante a queda que
seria fatal, foi salvo por um solavanco da corda de proteção cravada por
grampos seguros na montanha.
Recuperando a calma e
temendo morrer enregelado durante a madrugada, orou, afervorado, suplicando o
socorro de Deus.
Ouviu uma voz que lhe propôs
que cortasse a corda que o prendia à altura.
Parecendo-lhe inusitado o
auxílio, receou que, ao fazê-lo, cairia no despenhadeiro em morte certa.
Não se encorajou a fazê-lo.
No dia seguinte, quando
chegou o socorro e o encontrou congelado, os membros lamentaram que ele não
tivesse cortado a corda, porquanto estava a menos de um metro do solo protetor,
quando teria salvado a vida...
Texto trabalhado do livro PSICOLOGIA DA GRATIDÃO, escrito por
Divaldo Pereira Franco, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Postado no dia, 07/07/2014.
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