Um país longínquo
(continuação pg56) cap.3 ENCONTRO E AUTOENCONTRO
Os problemas afligentes, que
se podem apresentar como enfermidades de vário porte, conflitos diversos, à
medida que se dão as colisões operam
despertamentos e surgem oportunidades de mais acuradas reflexões, insights valiosos, que irão trabalhar em favor do
amadurecimento do Self, o viajante
incansável da evolução...
O animal humano sexuado,
vitimado pela pulsão dominante, não lhe é escravo exclusivo, porquanto outras
pulsões apresentam-se-lhe com fortes imposições que não podem ser
desconsideradas.
Desde a pulsão da fome
àquelas do idealismo mais elevado, trabalham pela transformação das forças da
libido em satisfações outras também plenificadoras que impulsionam para a saúde
e o bem-estar
A pulsão do Filho
Pródigo entregando-se ao sexo desvairado, na fase da deserção da casa
paterna – o santuário do equilíbrio, o Éden da inocência - empurrou-o para o abismo do conflito e da
culpa, do sofrimento e da amargura, descobrindo que o desejo sexual por mais
acentuado, quase sempre ao ser atendido não oferece a compensação esperada, o
que produz frustração e ansiedade.
A ansiedade induz ao desespero, e a perda do
discernimento trabalha em favor dos transtornos de conduta que se podem agravar.
Raramente, nessa conjuntura, o ego desperta para
perceber-se equivocado e induzir a volta
para casa.
No conceito de que o ego
é o centro da consciência, devem ser trabalhadas todas as suas
manifestações, de modo a valorizar os bens de que dispõe, não os desperdiçando
com as meretrizes nem os companheiros
de orgia, esses elfos que permanecem
como realidades arquetípicas no inconsciente, conduzindo-o na repetição das
experiências malogradas.
Há um país
longínquo a ser conquistado pelo ego,
simbolizado pela conduta correta, pela consciência liberada dos conflitos.
A existência corporal é sempre um mecanismo de distrações
da consciência profunda do si-mesmo, que,
embora superficial, exerce uma predominância na escolha dos comportamentos
humanos.
Caso alguém se coloque na posição do irmão mais velho da
parábola, valerá o esforço de considerar que o outro, seu irmão, não foi feliz
na tentativa de ir para o país longínquo,
mais teve a coragem de voltar a casa,
embora maltrapilho, esfaimado e
arrependido.
A pulsão da fome é forte em todos os seres viventes,
porque nela se encontram os recursos para a permanência, a continuidade da
vida, o equilíbrio da saúde...
A sombra daquele
que ficou aturde-o, torna-o irascível, em mecanismo de preservação da própria
sobrevivência que situa nas posses que o pai lhe legou desde antes da morte,
permanecendo, porém, morto psicologicamente
para muitos valores mesmo durante a vilegiatura do progenitor.
Naquele momento, quando o irmão volta, a sua morte não lhe permite a lucidez para
compreender que também ele tem estado em um
país longínquo, onde residem a indiferença, a ambição, a cupidez e o
egoísmo.
As mudanças arquetípicas do ego dão-se nas fases da infância para a juventude, dessa para a
idade adulta, e daí para a senectude, quando o Self, amadurecido, deve comandar o conjunto eletrônico delicado que
é o ser humano.
Isso, porém, somente acontece quando os indivíduos estão
dispostos a despertar para a realidade, superando a sombra ao invés de cultivá-la.
Não serão essas fases, cada período, também um país psicológico longínquo do outro, que deve ser conquistado a esforço e tenacidade
da vontade?
A vontade é um impulso que nasce da razão e se transforma
em força que deve ser direcionada de maneira adequada para resultados relevantes
de dignidade e de crescimento intelecto moral no processo dos valores da
existência terrestre.
Será, portanto, a vontade bem dirigida que impulsionará o
ego a vencer cada fase, deixando-a à margem após transpô-la, a fim de que não
venha a ressumar noutro período.
Por falta de esforço encontram-se indivíduos adultos
vivendo o período arquetípico da infância, ou na idade avançada ainda com as
aspirações de adulto, quando o organismo já não dispõe das forças naturais para
esse tipo de comportamento.
Sendo o processo de vida um fenômeno entrópico, ele se
desenvolve graças ao desgaste da energia, e por isso mesmo, cada período estará
nutrido pelas forças hábeis e correspondentes à sua fase.
Mantendo-se o ego em harmonia com o Self, equilibra-se o eixo que os liga, e a sombra cede espaço ao discernimento, liberando toda a energia para
o processo de individuação que deve
constituir a grande meta.
Há quem pense que a fuga do Filho Pródigo tem um significado arquetípico, no que diz respeito
ao estoicismo, à coragem de buscar-se, de realizar o encontro, de descobrir-se
interiormente, de lograr a conquista do Self.
Anuímos, de alguma forma, com a tese, lamentando somente
o processo da ingratidão, da perda do sentido existencial no abandono ao Pai,
naturalmente rompendo o cordão umbilical,
num momento em que ainda não dispunha da maturidade para os
autoenfrentamentos, redundando a tentativa no retorno à casa de segurança, à
proteção do genitor.
A conquista do si-mesmo
há de ser realizada em atitude interior para superar os impositivos da sombra egoísta e perversa, que seduz e ilude,
dando imagens equivocadas da realidade e negando a possibilidade de libertação.
Na proposta de progressão
junguiana, torna-se necessário o bom encaminhamento da energia da libido,
canalizando-a em favor da melhor compreensão da existência humana e da sua
aplicação na conquista dos recursos que a edificam. Quando, por alguma razão,
ela é interrompida, dá um choque, qual seja a perda dos interesses
libertadores, passando a uma fase de regressão e perdendo-se no inconsciente,
desenvolvendo complexos e conflitos perturbadores.
Nesse sentido, a psicoterapia em geral e a espírita em
particular, em libertando o indivíduo das amarras do erro e dos enganos,
estimula-o à autossuperação das deficiências graças ao empenho da vontade e à contribuição
da libido, ora direcionada para fins nobilitantes, sem tormentos nem ansiedades
de sublimação, mas simplesmente aplicando de maneira saudável.
Assim agindo, encontra-se o caminho da ida segura ou de
volta razoável ao país longínquo, que
pode estar no inconsciente como a meta existencial a conquistar.
Final do texto da pg 53; Um país longínquo, do livro Em
Busca da Verdade; do cap3 ENCONTRO E AUTOENCONTRO: Joanna de Ângelis psicografia
de Divaldo Franco.
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