quinta-feira, 29 de agosto de 2013


Um país longínquo

(continuação pg56) cap.3 ENCONTRO E AUTOENCONTRO

Os problemas afligentes, que se podem apresentar como enfermidades de vário porte, conflitos diversos, à medida que se dão as colisões operam despertamentos e surgem oportunidades de mais acuradas reflexões, insights  valiosos, que irão trabalhar em favor do amadurecimento do Self, o viajante incansável da evolução...
O animal humano sexuado, vitimado pela pulsão dominante, não lhe é escravo exclusivo, porquanto outras pulsões apresentam-se-lhe com fortes imposições que não podem ser desconsideradas.
Desde a pulsão da fome àquelas do idealismo mais elevado, trabalham pela transformação das forças da libido em satisfações outras também plenificadoras que impulsionam para a saúde e o bem-estar
A pulsão do Filho Pródigo entregando-se ao sexo desvairado, na fase da deserção da casa paterna – o santuário do equilíbrio, o Éden da inocência  - empurrou-o para o abismo do conflito e da culpa, do sofrimento e da amargura, descobrindo que o desejo sexual por mais acentuado, quase sempre ao ser atendido não oferece a compensação esperada, o que produz frustração e ansiedade.
A ansiedade induz ao desespero, e a perda do discernimento trabalha em favor dos transtornos de conduta que se podem agravar.
Raramente, nessa conjuntura, o ego desperta para perceber-se equivocado e induzir a volta para casa.
No conceito de que o ego é o centro da consciência, devem ser trabalhadas todas as suas manifestações, de modo a valorizar os bens de que dispõe, não os desperdiçando com as meretrizes nem os companheiros de orgia, esses elfos que permanecem como realidades arquetípicas no inconsciente, conduzindo-o na repetição das experiências malogradas.
Há um país longínquo a ser conquistado pelo ego, simbolizado pela conduta correta, pela consciência liberada dos conflitos.
A existência corporal é sempre um mecanismo de distrações da consciência profunda do si-mesmo, que, embora superficial, exerce uma predominância na escolha dos comportamentos humanos.
Caso alguém se coloque na posição do irmão mais velho da parábola, valerá o esforço de considerar que o outro, seu irmão, não foi feliz na tentativa de ir para o país longínquo, mais teve a coragem de voltar a casa,  embora maltrapilho, esfaimado e arrependido.
A pulsão da fome é forte em todos os seres viventes, porque nela se encontram os recursos para a permanência, a continuidade da vida, o equilíbrio da saúde...
A sombra daquele que ficou aturde-o, torna-o irascível, em mecanismo de preservação da própria sobrevivência que situa nas posses que o pai lhe legou desde antes da morte, permanecendo, porém, morto psicologicamente para muitos valores mesmo durante a vilegiatura do progenitor.
Naquele momento, quando o irmão volta, a sua morte não lhe permite a lucidez para compreender que também ele tem estado em um país longínquo, onde residem a indiferença, a ambição, a cupidez e o egoísmo.
As mudanças arquetípicas do ego dão-se nas fases da infância para a juventude, dessa para a idade adulta, e daí para a senectude, quando o Self, amadurecido, deve comandar o conjunto eletrônico delicado que é o ser humano.
Isso, porém, somente acontece quando os indivíduos estão dispostos a despertar para a realidade, superando a sombra ao invés de cultivá-la.
Não serão essas fases, cada período, também um país psicológico longínquo do outro, que deve ser conquistado a esforço e tenacidade da vontade?
A vontade é um impulso que nasce da razão e se transforma em força que deve ser direcionada de maneira adequada para resultados relevantes de dignidade e de crescimento intelecto moral no processo dos valores da existência terrestre.
Será, portanto, a vontade bem dirigida que impulsionará o ego a vencer cada fase, deixando-a à margem após transpô-la, a fim de que não venha a ressumar noutro período.
Por falta de esforço encontram-se indivíduos adultos vivendo o período arquetípico da infância, ou na idade avançada ainda com as aspirações de adulto, quando o organismo já não dispõe das forças naturais para esse tipo de comportamento.
Sendo o processo de vida um fenômeno entrópico, ele se desenvolve graças ao desgaste da energia, e por isso mesmo, cada período estará nutrido pelas forças hábeis e correspondentes à sua fase.
Mantendo-se o ego em harmonia com o Self, equilibra-se o eixo que os liga, e a sombra cede espaço ao discernimento, liberando toda a energia para o processo de individuação que deve constituir a grande meta.
Há quem pense que a fuga do Filho Pródigo tem um significado arquetípico, no que diz respeito ao estoicismo, à coragem de buscar-se, de realizar o encontro, de descobrir-se interiormente, de lograr a conquista do Self.
Anuímos, de alguma forma, com a tese, lamentando somente o processo da ingratidão, da perda do sentido existencial no abandono ao Pai, naturalmente rompendo o cordão umbilical, num momento em que ainda não dispunha da maturidade para os autoenfrentamentos, redundando a tentativa no retorno à casa de segurança, à proteção do genitor.
A conquista do si-mesmo há de ser realizada em atitude interior para superar os impositivos da sombra egoísta e perversa, que seduz e ilude, dando imagens equivocadas da realidade e negando a possibilidade de libertação.
Na proposta de progressão junguiana, torna-se necessário o bom encaminhamento da energia da libido, canalizando-a em favor da melhor compreensão da existência humana e da sua aplicação na conquista dos recursos que a edificam. Quando, por alguma razão, ela é interrompida, dá um choque, qual seja a perda dos interesses libertadores, passando a uma fase de regressão e perdendo-se no inconsciente, desenvolvendo complexos e conflitos perturbadores.
Nesse sentido, a psicoterapia em geral e a espírita em particular, em libertando o indivíduo das amarras do erro e dos enganos, estimula-o à autossuperação das deficiências graças ao empenho da vontade e à contribuição da libido, ora direcionada para fins nobilitantes, sem tormentos nem ansiedades de sublimação, mas simplesmente aplicando de maneira saudável.
Assim agindo, encontra-se o caminho da ida segura ou de volta razoável ao país longínquo, que pode estar no inconsciente como a meta existencial a conquistar.
Final do texto da pg 53; Um país longínquo, do livro Em Busca da Verdade; do cap3 ENCONTRO E AUTOENCONTRO: Joanna de Ângelis psicografia de Divaldo Franco.

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