quinta-feira, 1 de agosto de 2013


 

Despertar do Self – item2 do cap. ll FRAGMENTAÇÕES MORAIS

O irmão mais velho da parábola daquele que se pode chamar como o pai misericordioso, é o protótipo do ego desconcertante.

Enquanto estava a sós com o pai, parecia amá-lo, respeitando-o e obedecendo-o. Logo, porém, quando retornou o irmão de quem se encontrava livre, ressentiu-se, desmascarou-se, apresentando o outro eu – demônio interno – amoral e indiferente. Nem sequer preocupou-se como retornara o irmão. Estaria feliz ou desventurado, concluindo que, por certo, na miséria, pois que do contrário não voltaria. Continuaria a sós ou consorciado, com filhos ou perseguido?

Nada disso lhe ocorreu, exceto o lugar que concedeu à mágoa por haver sido posto de lado, nem mesmo consultado para o banquete que ao outro era oferecido.

Permanecer longe do perigo, abrigado dentro do lar, garantido sobre a proteção do pai é uma atitude muito cômoda e resguardada de desafios.

No estudo em pauta, bastaria ao filho mais velho esperar a morte do pai, entrar na posse de todos os bens e libertar-se da submissão, sendo convidado aos enfrentamentos que antes o genitor resolvia.

Esse comportamento é psicologicamente infantil, porque a existência humana é construída de forma a ensejar crescimento emocional, destemor e renovação constantes. Aquele que não se renova de dentro para fora, não consegue o desenvolvimento do self, sempre emaranhado na sombra, deixando que tudo aconteça à revelia.

Há contínuos desafios no processo criativo do ser espiritual que busca o numinoso, a vitória sobre a ignorância e o demônio do mal interno.

A imagem do pai, que era aceita como um homem benigno para com ele, que se considerava merecedor de toda a compensação, diluiu-se-lhe, no momento do confronto com o seu irmão, de quem se vira livre, dando lugar à exteriorização de que o não amava.

Havia-se liberado do competidor que, no entanto, eram os próprios conflitos, os dois eus, ambicioso um, sereno o outro, pacífico o mais ponderado, demoníaco o mais atrevido que agora o dominava.

Interiormente, nesses seus muitos conflitos, ele também não se amava a si mesmo, transferindo essa emoção em forma de suspeita para o pai e para os demais, razão porque desejara festejar com amigos, atraí-los, conquistá-los, comprá-los, como habitualmente acontece...

Todo indivíduo inseguro desconfia dos demais e transfere para eles as razões do seu temor, do seu sofrimento.  Afastam-se, para não lhes acompanhar o êxito ou tenta conquista-los por meio de oferendas, não se dando realmente pela afeição, doam coisas que não têm valor.

Desse modo, para ele, o amor paterno teria que ser parcial, exclusivista, em relação a ele, com animosidade pelo desertor.

Normalmente censura-se o jovem que viajou para o país longínquo, também fugindo de si mesmo, e elogia-se aquele que ficou ao lado do ancião, mais por conveniência do que por fidelidade, sem analisar-se mais profundamente ambas as atitudes.

Trata-se de uma visão psicológica imperfeita em torno da realidade.

O filho fiel é o mito representativo de Abel, generoso e bom, que será sacrificado por Caim... Todavia, esse Abel gentil não amava Caim, o seu irmão mais jovem e extravagante, considerado perverso e insensível por abandonar o pai idoso...

Preferido pelos mitos Adão e Eva, perdeu o contato com a realidade e o seu irmão o assassinou.

Agora, o mito Abel no filho mais velho, gostaria de assassinar Caim, que se tornara bom, que voltara tomando-lhe o lugar, ou pelo menos, parte dele, no sentimento do pai que o mantinha no Éden.

O genitor, no entanto, misericordioso, que não censurou o desertor e recebeu-o com júbilo, tampouco procedeu com reclamação em referencia ao filho magoado.

Foi busca-lo fora e convidou-o a entrar na festa, a participar da alegria de todos.  p.37-39

Continua na próxima postagem...

Postado dia 01-08-2013  

Nenhum comentário: