Despertar do Self –
item2 do cap. ll FRAGMENTAÇÕES MORAIS
O irmão mais velho da parábola
daquele que se pode chamar como o pai
misericordioso, é o protótipo do ego desconcertante.
Enquanto estava a sós com o
pai, parecia amá-lo, respeitando-o e obedecendo-o. Logo, porém, quando retornou
o irmão de quem se encontrava livre, ressentiu-se, desmascarou-se, apresentando
o outro eu – demônio interno – amoral
e indiferente. Nem sequer preocupou-se como retornara o irmão. Estaria feliz ou
desventurado, concluindo que, por certo, na miséria, pois que do contrário não
voltaria. Continuaria a sós ou consorciado, com filhos ou perseguido?
Nada disso lhe ocorreu,
exceto o lugar que concedeu à mágoa por haver sido posto de lado, nem mesmo
consultado para o banquete que ao outro era oferecido.
Permanecer longe do perigo,
abrigado dentro do lar, garantido
sobre a proteção do pai é uma atitude muito cômoda e resguardada de desafios.
No estudo em pauta, bastaria
ao filho mais velho esperar a morte do pai, entrar na posse de todos os bens e
libertar-se da submissão, sendo convidado aos enfrentamentos que antes o
genitor resolvia.
Esse comportamento é
psicologicamente infantil, porque a existência humana é construída de forma a
ensejar crescimento emocional, destemor e renovação constantes. Aquele que não
se renova de dentro para fora, não consegue o desenvolvimento do self, sempre emaranhado na sombra,
deixando que tudo aconteça à revelia.
Há contínuos desafios no
processo criativo do ser espiritual que busca o numinoso, a vitória sobre a ignorância e o demônio do mal interno.
A imagem do pai, que era
aceita como um homem benigno para com ele, que se considerava merecedor de toda
a compensação, diluiu-se-lhe, no momento do confronto com o seu irmão, de quem
se vira livre, dando lugar à exteriorização de que o não amava.
Havia-se liberado do
competidor que, no entanto, eram os próprios conflitos, os dois eus, ambicioso um, sereno o outro,
pacífico o mais ponderado, demoníaco o mais atrevido que agora o dominava.
Interiormente, nesses seus
muitos conflitos, ele também não se amava a si mesmo, transferindo essa emoção
em forma de suspeita para o pai e para os demais, razão porque desejara
festejar com amigos, atraí-los, conquistá-los, comprá-los, como habitualmente acontece...
Todo indivíduo inseguro
desconfia dos demais e transfere para eles as razões do seu temor, do seu
sofrimento. Afastam-se, para não lhes
acompanhar o êxito ou tenta conquista-los por meio de oferendas, não se dando
realmente pela afeição, doam coisas que não têm valor.
Desse modo, para ele, o amor
paterno teria que ser parcial, exclusivista, em relação a ele, com animosidade
pelo desertor.
Normalmente censura-se o
jovem que viajou para o país longínquo, também fugindo de si mesmo, e elogia-se
aquele que ficou ao lado do ancião, mais por conveniência do que por
fidelidade, sem analisar-se mais profundamente ambas as atitudes.
Trata-se de uma visão
psicológica imperfeita em torno da realidade.
O filho fiel é o mito
representativo de Abel, generoso e bom, que será sacrificado por Caim...
Todavia, esse Abel gentil não amava Caim, o seu irmão mais jovem e extravagante,
considerado perverso e insensível por abandonar o pai idoso...
Preferido pelos mitos Adão e
Eva, perdeu o contato com a realidade e o seu irmão o assassinou.
Agora, o mito Abel no filho
mais velho, gostaria de assassinar Caim, que se tornara bom, que voltara
tomando-lhe o lugar, ou pelo menos, parte dele, no sentimento do pai que o
mantinha no Éden.
O genitor, no entanto, misericordioso,
que não censurou o desertor e recebeu-o com júbilo, tampouco procedeu com
reclamação em referencia ao filho magoado.
Foi busca-lo fora e
convidou-o a entrar na festa, a participar da alegria de todos. p.37-39
Continua na próxima postagem...
Postado dia 01-08-2013
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