O SER MADURO
PSICOLOGICAMENTE E A GRATIDÂO (continuação)
Oportunamente, duas
crianças, respectivamente de sete e oito anos, caminhavam na direção da escola
fundamental sem enunciarem uma palavra, cada qual no seu próprio mundo
infantil. A mais velha estava em conflito muito grande porque não conseguia comunicação
eficaz com os demais colegas, sendo discriminada pela sua origem humilde, pela
cor da pele...
Pararam, antes de
atravessarem a rua, porque o semáforo estava com o sinal vermelho. Ao muda-lo
para verde, ambas avançaram, mas a sacola abarrotada de livros e de cadernos do
mais velho abriu-se e alguns deles caíram, obrigando-o a abaixar-se raivoso e reuni-los
outra vez. Nesse momento, o menorzinho, vendo-o em apuros, aproximou-se,
abaixou-se também e perguntou-lhe, enquanto agia:
- Posso ajudá-lo? Eu gosto
muito de você...
Os dois sorriram e
foram conversando na direção da escola.
Passado um quarto de
século, quando um cidadão afrodescendente atingiu o topo administrativo de uma
grande empresa, sendo elogiado, afirmou no discurso de agradecimento:
Eu devo a minha vida a
um garotinho de 7 anos, que um dia me ajudou a guardar livros e cadernos que me
haviam caído da sacola ao atravessar uma rua e disse que me queria
bem...Naquele dia eu havia resolvido suicidar-me, mas o seu gesto inocente e
jovial modificou totalmente a minha vida. A ele, pois, eu sempre agradeci haver
sobrevivido, e agora agradeço novamente por haver chegado ao posto em que me
encontro, e, por antecipação, por tudo mais de bom que me venha ou não a
acontecer...
O sentido de parceria,
de acompanhamento e de dependência no grupo social, não diz respeito aos
conflitos e aos medos de crescimento, mas a uma necessidade de ajuda recíproca,
de participação no grupo social, de vida em ação, de união de interesses em
favor de todos e, por consequência, pela sociedade, pelo ecossistema, pela
inefável alegria de viver.
Quando Confúcio
anunciou a frase “Aja com bondade mas não espere gratidão”, procurou demonstrar
que os sentimentos nobres devem estar revestidos de renúncia, sem os interesses
imediatistas da compensação, do aplauso, da admiração dos outros.
A gratidão, por isso
mesmo, tem um caráter de amadurecimento psicológico, porque aquele que assim
age descobriu que tudo quanto lhe acontece depende de muitos que o auxiliaram a chegar ao lugar em que se
encontra.
Quanto custa o ar puro da
natureza, a água dos córregos e das fontes, a beleza da paisagem, o clima
saudável? Quando o alimento vem à mesa, quantas pessoas participaram no
anonimato de toda essa cadeia mantenedora da vida? A realização de uma viagem
exitosa, quanto dependeu de pessoas e fatores que não foram observados pelo
automatismo da existência? Tudo, enfim, que acontece se encontra vinculado à dependência
de um a outro indivíduo ou circunstância que propiciaram esse momento.
Quantos acidentes,
desencantos, enfermidades e mortes assinalaram existências que se entregaram às
descobertas, à colonização dos países, às transformações que foram operadas
para que se convertessem em comunidades felizes!? A todos esses anônimos, a
gratidão deve ser oferecida com ternura e gentileza.
O amadurecimento psicológico
elimina a negatividade teimosa do ser humano desconfiado e inseguro, que se
permite sempre suspeitas de que mesmo a amizade se faz acompanhar de interesses
subalternos daqueles que dão ou buscam a estima.
Assim sendo, um grande
obstáculo à gratidão madura é o hábito de esperar-se resposta ao ato gentil, de
aguardar-se que o outro o beneficiário, reconheça o que recebeu e retribua. Eis
aí uma forma sub-reptícia de narcisismo, quando se faz algo e se exige gratidão, ficando-se decepcionado
pela ausência dessa resposta, o que induz muitos ansiosos às atitudes infantis
de que nunca mais farão nada mais por
ninguém, pois que não o merecem.
Aqui interrompo a
transcrição deste texto na p,60, porém aguardem a conclusão na próxima
postagem.
Do cap.2 , O MILAGRE DA GRATIDÃO. Livro Psicologia da
Gratidão pelo espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira
Franco.
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