segunda-feira, 5 de agosto de 2013


 

O SER MADURO PSICOLOGICAMENTE E A GRATIDÂO (continuação)

Oportunamente, duas crianças, respectivamente de sete e oito anos, caminhavam na direção da escola fundamental sem enunciarem uma palavra, cada qual no seu próprio mundo infantil. A mais velha estava em conflito muito grande porque não conseguia comunicação eficaz com os demais colegas, sendo discriminada pela sua origem humilde, pela cor da pele...
Pararam, antes de atravessarem a rua, porque o semáforo estava com o sinal vermelho. Ao muda-lo para verde, ambas avançaram, mas a sacola abarrotada de livros e de cadernos do mais velho abriu-se e alguns deles caíram, obrigando-o a abaixar-se raivoso e reuni-los outra vez. Nesse momento, o menorzinho, vendo-o em apuros, aproximou-se, abaixou-se também e perguntou-lhe, enquanto agia:
- Posso ajudá-lo? Eu gosto muito de você...
Os dois sorriram e foram conversando na direção da escola.
Passado um quarto de século, quando um cidadão afrodescendente atingiu o topo administrativo de uma grande empresa, sendo elogiado, afirmou no discurso de agradecimento:
Eu devo a minha vida a um garotinho de 7 anos, que um dia me ajudou a guardar livros e cadernos que me haviam caído da sacola ao atravessar uma rua e disse que me queria bem...Naquele dia eu havia resolvido suicidar-me, mas o seu gesto inocente e jovial modificou totalmente a minha vida. A ele, pois, eu sempre agradeci haver sobrevivido, e agora agradeço novamente por haver chegado ao posto em que me encontro, e, por antecipação, por tudo mais de bom que me venha ou não a acontecer...
O sentido de parceria, de acompanhamento e de dependência no grupo social, não diz respeito aos conflitos e aos medos de crescimento, mas a uma necessidade de ajuda recíproca, de participação no grupo social, de vida em ação, de união de interesses em favor de todos e, por consequência, pela sociedade, pelo ecossistema, pela inefável alegria de viver.
Quando Confúcio anunciou a frase “Aja com bondade mas não espere gratidão”, procurou demonstrar que os sentimentos nobres devem estar revestidos de renúncia, sem os interesses imediatistas da compensação, do aplauso, da admiração dos outros.
A gratidão, por isso mesmo, tem um caráter de amadurecimento psicológico, porque aquele que assim age descobriu que tudo quanto lhe acontece depende de muitos que  o auxiliaram a chegar ao lugar em que se encontra.
Quanto custa o ar puro da natureza, a água dos córregos e das fontes, a beleza da paisagem, o clima saudável? Quando o alimento vem à mesa, quantas pessoas participaram no anonimato de toda essa cadeia mantenedora da vida? A realização de uma viagem exitosa, quanto dependeu de pessoas e fatores que não foram observados pelo automatismo da existência? Tudo, enfim, que acontece se encontra vinculado à dependência de um a outro indivíduo ou circunstância que propiciaram esse momento.
Quantos acidentes, desencantos, enfermidades e mortes assinalaram existências que se entregaram às descobertas, à colonização dos países, às transformações que foram operadas para que se convertessem em comunidades felizes!? A todos esses anônimos, a gratidão deve ser oferecida com ternura e gentileza.
O amadurecimento psicológico elimina a negatividade teimosa do ser humano desconfiado e inseguro, que se permite sempre suspeitas de que mesmo a amizade se faz acompanhar de interesses subalternos daqueles que dão ou buscam a estima.
Assim sendo, um grande obstáculo à gratidão madura é o hábito de esperar-se resposta ao ato gentil, de aguardar-se que o outro o beneficiário, reconheça o que recebeu e retribua. Eis aí uma forma sub-reptícia de narcisismo, quando se faz algo e se exige gratidão, ficando-se decepcionado pela ausência dessa resposta, o que induz muitos ansiosos às atitudes infantis de que nunca mais farão nada mais por ninguém, pois que não o merecem. 
Aqui interrompo a transcrição deste texto na p,60, porém aguardem a conclusão na próxima postagem.
Do cap.2 , O MILAGRE DA GRATIDÃO. Livro Psicologia da Gratidão pelo espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco.

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