ENCONTRO E AUTOENCONTRO
Cap.3 do livro Em Busca da
Verdade
A parábola do Filho Pródigo é um manancial de
informações psicológicas profundas, guardando um tesouro de símbolos e
significados que merecem cuidadosa análise, a fim de retirar-se do seu conteúdo
as lições de paz e de saúde necessárias para uma existência rica e abençoada.
Durante muito tempo o
Evangelho de Jesus recebeu interpretações doentias e perturbadoras, conforme o
equilíbrio emocional e espiritual dos seus tradutores, teólogos e pastores,
mais interessados em projetar a sombra em
que se debatiam do que as extraordinárias orientações de luz de que se
revestia.
Propondo a humildade,
levavam os seguidores a transtornos de conduta graves, estimulando o menosprezo
à existência física, a desconsideração por si mesmos, o autodepreciamento, o
culto ao masoquismo disfarçado de santificação como o caminho para a
iluminação.
Como se pode
considerar a vida, esse incomparável tesouro por Deus concedido ao ser humano,
como desprezível, digna de ser desrespeitada nos seus mais nobres significados:
alegria, bem-estar, utilização saudável do sexo, solidariedade e convivência,
como negativos, impondo o isolamento, a severa abstinência sexual, o silêncio,
o sofrimento, em nome da Boa Nova?!
Somente indivíduos
emocionalmente castrados poderiam impor os seus tormentos aos demais, aos quais
invejavam a saúde e comunicabilidade, de forma que se sentissem felizes com a
desdita dos outros, em transtorno sadomasoquista, adulterando toda a proposta
libertadora de Jesus, o Homem bom e nobre por excelência, que mais demonstrou
amor e alegria na convivência com os desafortunados do que todos os demais.
Pregando dignidade,
esses atormentados interpretes das Suas lições condenavam o erro, mascarando os
equivocados, os que delinquem, os que aguardam apoio, por serem ignorantes ou
enfermos, distanciados d’Aquele que é o pão
da Vida e veio exatamente para os infelizes e até mesmos para os
infelicitadores...
Felizmente, com o
avanço da cultura, com a ruptura dos laços férreos que mantinham a sociedade
jungida aos dogmas enfermiços, descobre-se, cada dia, a grandeza da mensagem
cristã, conforme Jesus e os Seus primeiros discípulos a viveram e divulgaram,
verdadeira canção musicoterapêutica, sinfonia de esperança e de consolação.As Suas parábolas, por isso mesmo, mantém guardadas as respostas significativas e especiais para as perguntas inquietantes do comportamento humano.
Nelas, somente
existem libertação e bondade, harmonia e júbilo, guardando, nos seus símbolos,
verdadeiros poemas de interpretação da incógnitas existenciais.
Nesse maravilhoso
significado insere-se a do Filho Pródigo
que, de alguma forma, somos todos nós.
Enquanto os fracos
emocionais e os dependentes de punições nela encontram a baixa autoestima, o
remorso, a angústia da volta, o que se constata é a irrestrita confiança no Pai generoso, a certeza da alegria de
ser bem recebido, a recuperação moral pelo equívoco vivenciado, a expectativa
do recomeço em novas paisagens de afeto e autorrealização.
Por muito tempo
estabeleceu-se que a humildade deve ser vivida em forma de desprezo por si
mesmo e pelos valores com que a vida social estabelece os seus relacionamentos,
fomenta o progresso das massas e dos indivíduos.
O autoabandono, a
autodesconsideração e o autodesprezo tinham prioridade na conduta do adepto
religioso, no passado, em violência contra as leis naturais, impondo-se uma
conduta incompatível com a mensagem de amor e de felicidade.
Pessoas amargas, que
mantinham autorrejeição, refugiando-se em falsas justificativas religiosas,
procuravam escamotear a mágoa em relação às demais, raiva contra si mesmas e os
outros, negando-se a felicidade, que acreditavam não a merecer, porque se
encontravam sob o impositivo da sombra ancestral, defluente das culpas dos atos
ignóbeis praticados em existências anteriores.
Negando-se a
oportunidade do encontro com o Pai
amoroso, por não sentirem a vigência do amor em si mesmas, ainda hoje
recusam o autoencontro, numa análise profunda que lhes poderiam propiciar a
visão mais saudável da Realidade.
Os seus mitos são as Parcas terríveis, as cóleras dos
diversos deuses vingativos, as subjetivas ameaças de destruição apocalíptica,
numa vingança generalizada, na qual o temor da morte desaparece, porque
representa a destruição de tudo e de todos.
As advertências
contínuas sobre o egoísmo, o orgulho, a prepotência e o encantamento das
virtudes teologais, do altruísmo, da humildade, da fraternidade produzem, não
poucas vezes, a virtude do
autodepreciamento, da autodesconsideração, quase numa exibição forçada de
triunfos que, em realidade, não existem no campo psicológico, porque ninguém
pode comprazer-se na inferioridade, no engodo, na negação dos problemas
existentes...
A Parábola do Filho Pródigo é todo um conjunto
de lições psicoterapêuticas e filosóficas, de cunho moral e espiritual incomum.
Na sua mensagem não
se encontram qualquer tipos de censura a nenhuma das atitudes dos dois filhos,
nem reproche ou dissimulação diante das ocorrências. Tudo se dá de maneira
natural, em júbilo crescente, porque aquele
que estava perdido, foi encontrado,
e porque estava morto, agora se
deparava vivo.
A alegria de autoconsciência
é esfuziante, porque ocorre depois do reencontro, na volta à casa, ao lar, ao abrigo emocional seguro, que é a conquista
de paz e da correção dos atos.
O corpo é ainda um animal, algumas vezes insubmisso, que
necessita das rédeas da aprendizagem para a disciplina espontânea e o comportamento
correto que o direciona de acordo com as necessidades do self criativo a caminho do numinoso.
O Espírito é herdeiro de todas as experiências que
vivencia ao largo das sucessivas reencarnações, sendo natural que, não poucas
vezes, predominem aquelas que mais profundamente assinalaram a conduta
anterior, ressumando em forma de desejos e conflitos nem sempre identificados.
Por isso, uma análise
dos símbolos oníricos, as associações e reflexões com o psicoterapeuta
conseguem eliminar as fixações morbosas e as reminiscências angustiantes que se
expressam como tristeza, insegurança, timidez, dificuldades de
relacionamentos...
A identificação dos
símbolos e sua interpretação exigem acuidade psicológica, experiência de
consultório e interesse destituído de vinculação emocional, pra auxiliar o
paciente no encontro com a vida e no autoencontro, descobrindo a sua realidade.
O manto com que o Pai amoroso manda vestir o ilho pródigo bem representa o apoio, a
cobertura afetiva que lhe é ofertada, igualando-o a ele mesmo, que também o
ostenta.
A primeira preocupação do genitor
é com a aparência do filho de retorno, com os cuidados de higiene e de
vestuário, de adorno – o anel – de apresentação, porquanto, agora já não havia
razão para permanecer conforme chegara.
Não será admitido como
servo, mas como filho que tem direito à herança e ao seu amor.
Por essa razão ele viera do país longínquo de retorno ao lar.
Continua o cap.3 na próxima postagem
Pg. 49-53 de Joanna de Ângelis
psicografia de Divaldo Franco
Postagem do dia
23-08-2013.
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