sexta-feira, 23 de agosto de 2013


ENCONTRO E AUTOENCONTRO

Cap.3 do livro Em Busca da Verdade
A parábola do Filho Pródigo é um manancial de informações psicológicas profundas, guardando um tesouro de símbolos e significados que merecem cuidadosa análise, a fim de retirar-se do seu conteúdo as lições de paz e de saúde necessárias para uma existência rica e abençoada.

Durante muito tempo o Evangelho de Jesus recebeu interpretações doentias e perturbadoras, conforme o equilíbrio emocional e espiritual dos seus tradutores, teólogos e pastores, mais interessados em projetar a sombra em que se debatiam do que as extraordinárias orientações de luz de que se revestia.
Propondo a humildade, levavam os seguidores a transtornos de conduta graves, estimulando o menosprezo à existência física, a desconsideração por si mesmos, o autodepreciamento, o culto ao masoquismo disfarçado de santificação como o caminho para a iluminação.

Como se pode considerar a vida, esse incomparável tesouro por Deus concedido ao ser humano, como desprezível, digna de ser desrespeitada nos seus mais nobres significados: alegria, bem-estar, utilização saudável do sexo, solidariedade e convivência, como negativos, impondo o isolamento, a severa abstinência sexual, o silêncio, o sofrimento, em nome da Boa Nova?!
Somente indivíduos emocionalmente castrados poderiam impor os seus tormentos aos demais, aos quais invejavam a saúde e comunicabilidade, de forma que se sentissem felizes com a desdita dos outros, em transtorno sadomasoquista, adulterando toda a proposta libertadora de Jesus, o Homem bom e nobre por excelência, que mais demonstrou amor e alegria na convivência com os desafortunados do que todos os demais.

Pregando dignidade, esses atormentados interpretes das Suas lições condenavam o erro, mascarando os equivocados, os que delinquem, os que aguardam apoio, por serem ignorantes ou enfermos, distanciados d’Aquele que é o pão da Vida e veio exatamente para os infelizes e até mesmos para os infelicitadores...
Felizmente, com o avanço da cultura, com a ruptura dos laços férreos que mantinham a sociedade jungida aos dogmas enfermiços, descobre-se, cada dia, a grandeza da mensagem cristã, conforme Jesus e os Seus primeiros discípulos a viveram e divulgaram, verdadeira canção musicoterapêutica, sinfonia de esperança e de consolação.

As Suas parábolas, por isso mesmo, mantém guardadas as respostas significativas e especiais para as perguntas inquietantes do comportamento humano.  

Nelas, somente existem libertação e bondade, harmonia e júbilo, guardando, nos seus símbolos, verdadeiros poemas de interpretação da incógnitas existenciais.
Nesse maravilhoso significado insere-se a do Filho Pródigo que, de alguma forma, somos todos nós.

Enquanto os fracos emocionais e os dependentes de punições nela encontram a baixa autoestima, o remorso, a angústia da volta, o que se constata é a irrestrita confiança no Pai generoso, a certeza da alegria de ser bem recebido, a recuperação moral pelo equívoco vivenciado, a expectativa do recomeço em novas paisagens de afeto e autorrealização.
Por muito tempo estabeleceu-se que a humildade deve ser vivida em forma de desprezo por si mesmo e pelos valores com que a vida social estabelece os seus relacionamentos, fomenta o progresso das massas e dos indivíduos.

O autoabandono, a autodesconsideração e o autodesprezo tinham prioridade na conduta do adepto religioso, no passado, em violência contra as leis naturais, impondo-se uma conduta incompatível com a mensagem de amor e de felicidade.
Pessoas amargas, que mantinham autorrejeição, refugiando-se em falsas justificativas religiosas, procuravam escamotear a mágoa em relação às demais, raiva contra si mesmas e os outros, negando-se a felicidade, que acreditavam não a merecer, porque se encontravam sob o impositivo da sombra  ancestral, defluente das culpas dos atos ignóbeis praticados em existências anteriores.

Negando-se a oportunidade do encontro com o Pai amoroso, por não sentirem a vigência do amor em si mesmas, ainda hoje recusam o autoencontro, numa análise profunda que lhes poderiam propiciar a visão mais saudável da Realidade.
Os seus mitos são as Parcas terríveis, as cóleras dos diversos deuses vingativos, as subjetivas ameaças de destruição apocalíptica, numa vingança generalizada, na qual o temor da morte desaparece, porque representa a destruição de tudo e de todos.

As advertências contínuas sobre o egoísmo, o orgulho, a prepotência e o encantamento das virtudes teologais, do altruísmo, da humildade, da fraternidade produzem, não poucas vezes, a virtude do autodepreciamento, da autodesconsideração, quase numa exibição forçada de triunfos que, em realidade, não existem no campo psicológico, porque ninguém pode comprazer-se na inferioridade, no engodo, na negação dos problemas existentes...
A Parábola do Filho Pródigo é todo um conjunto de lições psicoterapêuticas e filosóficas, de cunho moral e espiritual incomum.

Na sua mensagem não se encontram qualquer tipos de censura a nenhuma das atitudes dos dois filhos, nem reproche ou dissimulação diante das ocorrências. Tudo se dá de maneira natural, em júbilo crescente, porque aquele que estava perdido, foi encontrado, e porque estava morto, agora se deparava vivo.
A alegria de autoconsciência é esfuziante, porque ocorre depois do reencontro, na volta à casa, ao lar, ao abrigo emocional seguro, que é a conquista de paz e da correção dos atos.

O corpo é ainda um animal, algumas vezes insubmisso, que necessita das rédeas da aprendizagem para a disciplina espontânea e o comportamento correto que o direciona de acordo com as necessidades do  self criativo a caminho do numinoso.
O Espírito é herdeiro de todas as experiências que vivencia ao largo das sucessivas reencarnações, sendo natural que, não poucas vezes, predominem aquelas que mais profundamente assinalaram a conduta anterior, ressumando em forma de desejos e conflitos nem sempre identificados.

Por isso, uma análise dos símbolos oníricos, as associações e reflexões com o psicoterapeuta conseguem eliminar as fixações morbosas e as reminiscências angustiantes que se expressam como tristeza, insegurança, timidez, dificuldades de relacionamentos...
A identificação dos símbolos e sua interpretação exigem acuidade psicológica, experiência de consultório e interesse destituído de vinculação emocional, pra auxiliar o paciente no encontro com a vida e no autoencontro, descobrindo a sua realidade.

O manto com que o Pai amoroso manda vestir o ilho pródigo bem representa o apoio, a cobertura afetiva que lhe é ofertada, igualando-o a ele mesmo, que também o ostenta.
A primeira preocupação do genitor é com a aparência do filho de retorno, com os cuidados de higiene e de vestuário, de adorno – o anel – de apresentação, porquanto, agora já não havia razão para permanecer conforme chegara.

Não será admitido como servo, mas como filho que tem direito à herança e ao seu amor.
Por essa razão ele viera do país longínquo de retorno ao lar.

Continua o cap.3 na próxima postagem

Pg. 49-53 de Joanna de Ângelis psicografia de Divaldo Franco
Postagem do dia 23-08-2013.

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