Despertar do Self –
item 2 do cap. ll Fragmentações Morais, do livro EM BUSCA DA VERDADE
É comum a solidariedade na
dor, mas não no júbilo, em face da inveja e da amargura.
O irmão mais velho
submetia-se ao pai, mas não o amava, quanto fingia, porque logo o censurou,
ressumando sentimentos de recusa inconscientes, pelo fato de jamais haver-lhe
oferecido um cabrito pelo menos para
que se banqueteasse com os amigos, enquanto ao insano ofereceu o melhor
novilho...
O ciúme é terrível chaga do
ego que expele purulência emocional.
O pai gentil e afetuoso,
sensibilizado com o jovem de retorno, pediu um manto para cobri-lo, já que o
outro também o possuía, evocando a proteção e o amparo que lhe eram oferecidos.
- Criança – diz o pai ao filho que o censura – tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu; entretanto, cumpria
regozijarmo-nos e alegrarmo-nos, porque este teu irmão era morto e reviveu,
estava perdido e se achou.
O pai deu-se conta de que o
outro filho, o mais velho, também estava morto
porque ressumava amargura, encontrava-se perdido, porque não participava da
sua e da alegria de todos que encontraram aquele seu irmão que era morto e reviveu,
que estava perdido e se achou.
O ego encontrava o Self, despertando-o para uma futura
integração, liberação da fissura na psique...
O Self do filho mais velho está envolto pela sombra ameaçadora, criminosa.
A parábola não informa qual
a sua atitude, a do mais velho, em relação ao mais moço, após as informações dúlcidas
e os esclarecimentos compreensíveis do seu pai.
Certamente, o eixo ego-Self se tornou mais vigoroso, em
face do amor do arquétipo primordial,
sem limite, libertando-se dos mitos hostis e vingativos.
Prometeu, por exemplo, foge
de Zeus, engana-o com artifícios contínuos para não morrer, até que tomba na
armadilha da própria existência física temporária, e Zeus recebe-o,
aprisiona-o, suplicia-o num rochedo, no qual foi colocado para sofrer calor,
frio e uma águia fere-lhe o fígado durante o dia, que se refaz à noite, até o
momento quando os deuses intercedem por ele e a sua punição é revogada...
O filho mais velho quer
fugir do pai amoroso após censurá-lo acremente, evita fitá-lo nos olhos e
receber-lhe o abraço, mas não poderá viver indefinidamente sob as picadas da mágoa, remoendo a prisão no rochedo do desencanto, ao frio e ao
calor das reflexões doentias... O Self
é induzido a despertar sob a intercessão dos sentimentos de nobreza que
remanescem no íntimo, como divina herança da sua procedência.
O irmão chegou quase
descalço, sandálias rasgadas e imprestáveis. O pai logo lhe providenciou calçados
novos, porque os pés são as bases valiosas de sustentação do edifício
fisiológico, que não pode ser mantido em segurança quando lhe falta alicerce...
A mãe Terra oferece os recursos para o organismo e os transforma; o
hálito da vida, porém, vem do Amor.
Cuidar das bases é
característica definidora de despertamento do Self, da responsabilidade perante a vida.
O irmão jovem iluminou o ego com a consciência de si, reconheceu
o erro, renovou-se pela humilhação que o engrandeceu, enquanto o mais velho
liberou das estruturas profundas do inconsciente as paixões da vingança e da
maldade, a Erínia mitológica encarregada de ferir Sísifo, conduzindo a pedra ao
topo da montanha de onde ela escapa e rola para baixo, obrigando-o a erguê-la
sem cessar...
A parábola bem poderia ser
dos dois filhos ingratos, que o amor reúne sob o mesmo manto protetor do pai,
ligando-os pelo anel da família, traço de união com toda a Humanidade. Postagem
do dia 03-08-2013.
O item O Despertar do Self continua na próxima postagem, do
dia 04-08-2013.
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