UMA
EXPERIENCIA PESSOAL
Depois de várias noites com
um sono inquietante, um sonho revela afinal o que estava por acontecer: uma
piscina com agua clara exercia uma atração imensa como a luz atrai a mariposa;
era necessário mergulhar, mergulhei... Uma voz que vinha lá do fundo chamava, e
quanto mais fundo eu ia, mais escura ficava a água. Era uma sensação de morte,
e pensava: vou morrer, é isso, vou morrer. Chegando ao fundo, lá estava ele, o
irmão de Zeus – Netuno – com o seu tridente. Ele dizia: é preciso ficar aqui
por um tempo, acordei.
Esse foi o primeiro contato
com a depressão, que durou alguns meses, que representaram uma mudança
grandiosa de vida.
A depressão foi uma possibilidade
positiva de crescimento, e a partir dessa experiência foi possível começar uma
jornada enriquecedora, grandiosa e cada vez mais consciente.
Existe algo que conspira a
favor da depressão, pois a “pressão para baixo”, que leva ao mergulho,
transcende o ego de tal maneira que mesmo que ocorra resistência não é possível
sair dessa experiência sem uma modificação positiva.
Na verdade existe um grande
medo de seguir em direção ao Hades, pois afinal o que se pode ganhar? Mas, como
o psiquismo é dinâmico, o movimento da energia psíquica irá levar para lá,
queira-se ou não. Então é melhor prestar bastante atenção no caminho, pois
serão muitas as visitas durante a jornada.
Hoje, depois de tantos anos
da experiência pessoal, e com um olhar terapêutico, consigo ver a depressão
como uma tristeza que se transforma em patologia. Ela realmente desorganiza emocionalmente,
bagunça o eu, desestabiliza a ordem, como fez Prometeu, e leva ao tártaro. Reconhecer
as próprias feridas é a tarefa crucial na depressão.
Encarar a sombra, a dor e o
sofrimento garante a maturidade necessária para transformar a personalidade,
reconhecer o bem e o mal e reconciliar os opostos. Não adianta protestar o
direito à felicidade: é necessário buscar o significado.
A depressão é um convite, um
desafio da vida para que encontremos o real sentido, o que nos move por dentro.
É a luta do herói contra o dragão, e nessa luta saímos da ilusão inocente de
felicidade e conquistamos a certeza de que a vida só é verdadeiramente vida se
tiver significado.
Por esse ângulo o sofrimento
causado pela depressão possibilita uma expansão de consciência, uma perspectiva
muito mais ampla do que o ego pode perceber. “Somos o abismo e também a corda
que o atravessa” como dizia Nietzsche, citado por HOLLIS, no livro Os Pantanais da Alma , pg.198, e
perceber isso é também compreender a responsabilidade que nos é colocada, somos
livres para transformar a nossa vida além das experiências do passado. Podemos ir
muito além, e só precisamos dar um passo em direção ao Hades, não para lá
ficar, mas para resgatar importantes partes da nossa personalidade que lá
permanecem.
Olhar a depressão por uma
perspectiva analítica e espírita é possibilitar ao depressivo a “cura da alma”,
é ajuda-lo a compreender que não se compra em farmácias a solução do seu
sofrimento e da sua angustia, e sim, que esse é um momento de experienciar a
vida.
O ganho? O encontro com o
significado.
Texto de Iris Sinoti, no
livro Refletindo A Alma. Postado dia
17/02/2014.
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