OS
SONHOS NA VISÃO DA PSICOLOGIA ESPÍRITA
“Dentro
de cada um de nós há um outro que não conhecemos. Ele fala conosco através dos
sonhos”. Jung
É notável perceber que
quando alguém diz – “ esta noite eu
sonhei...” – somos tomados por um certo fascínio, e alguma força nos impele
a prestar atenção no que se diz, como se intuíssemos que algo além do nosso
alcance consciente apresentasse uma mensagem importante, que não conseguíssemos
decifrar por completo.
Eminentemente simbólicos,
comunicam-se com a consciência de forma profunda, através de figuras,
personagens e elementos estranhos, apresentando imagens que na maioria das
vezes parecem desconexas de um sentido lógico. E essas imagens possuem uma
peculiaridade que aumenta ainda mais sua importância, pois, por serem
portadoras de uma grande carga emocional, conseguem alterar o humor, modificar
as predisposições e afetar a saúde.
E na história da Humanidade,
assim como na literatura universal, encontramos inúmeros relatos atestando a importância
dos sonhos:
- na Ilíada de Homero p.61, Agamenon teve seu fim decretado a partir do
momento em que, “enganado por sonho falaz
de Zeus, se apronta para desfechar sem Aquiles o ataque decisivo.”
- no Antigo Testamento, no
livro Gênesis, verificamos que a
capacidade de interpretar sonho fez com que José, hebreu que se encontrava
prisioneiro no Egito, caísse nas graças do faraó, que o conduziu ao posto de Adon (Chanceler) para administrar o
tempo de vacas gordas e de vacas magras
previsto no sonho.
- Enquanto dormia, José foi
avisado de que deveria seguir de Belém ao Egito para manter Jesus a salvo da
loucura de Herodes.
- E foi também através de um
sonho que Jacopo, filho de Dante Alighieri, pode descobrir onde se encontrava a
parte perdida da Divina Comédia, pois
teve a certeza de ter-se encontrado com seu pai já desencarnado durante o sono,
que lhe falou com clareza onde procurar o texto que não achava.
Dentre os Egípcios, encontram-se
profundas observações a respeito dos sonhos, desde templos delicados a eles até
o famoso “Livro dos Sonhos” (1275 a.C.), que caracterizou 108 tipos de sonhos,
na tentativa de decifrar os enigmas da alma.
Na Grécia Antiga, nos
templos dedicados à cura – Asclepieions – os sonhos tinham papel importante,
tanto que Hipócrates (Cós, 460 – Téssália, 377 a..), o pai da Medicina, assim
como faria mais tarde o romano Galeno (Pérgamo, c. 129 – provavelmente Sicília,
c. 217), desenvolveram métodos de diagnóstico e cura a partir dos sonhos dos
seus pacientes, antecipando-se em milênios às descobertas psicológicas.
A Filosofia também
certificou a importância dos sonhos, e Epicuro e Demócrito “deram as linhas iniciais para os filósofos
do futuro...” informando tratar-se, como nos recorda Joanna de Ângelis, “de simulacros produzidos pelo inconsciente
que retira as impressões de fatos e objetos existentes” para repeti-los nos
sonhos. A partir de Descartes os sonhos ganharam uma observação mais atenta, o
que levou Hobbes a considerar que “eram
resultado de estímulos orgânicos que alcançaram o cérebro, mantendo-o em
atividades, não obstante o sono...” Joanna de Ângelis no livro No Limiar do Infinito p.68.
A Psicologia não deixou
passar despercebida a importância deles para entendimento da psique, e suas
diversas correntes criaram teorias variadas para explicá-los, o que
possibilitou que hoje tenhamos um conhecimento muito maior do nosso mundo
“inconsciente”. o livro “A Interpretação
dos Sonhos”, lançado por Sigmund Freud no ano de 1900, transformou-se num
marco, apontando novos rumos para a compreensão psicológica e o tratamento das neuroses a partir dos
sonhos.
Diria Freud, no livro A Interpretação dos Sonhos p. 155, nessa
obra prima que “sonho é a estrada real
que conduz ao inconsciente.” E percorrendo a trajetória dessa estrada real, nada obstante suas
questionáveis interpretações, polarizadas em torno da sexualidade, efetuou
importantes descobertas, que foram fundamentais para que outros pesquisadores
pudessem aprofundar o tema.
Carl Gustav Jung foi um
desses que, tendo inicialmente estudado as propostas de Sigmund Freud, pôde
ampliar a análise em torno da realidade dos sonhos para além das pulsões e
desejos. Aprofundando-se em torno da realidade simbólica dos seus elementos,
acreditava que:
“toda a elaboração onírica é essencialmente subjetiva e o sonhador
funciona, ao mesmo tempo, como cena, ator, ponto, contrarregra, autor, público
e crítico. Esta interpretação, como diz o próprio termo, concebe todas as
figuras do sonho como traços personificados da personalidade do sonhador”. A Natureza da Psique,p.204.
Todos os conteúdos do sonho
referiam-se, portanto, ao sonhador, representando partes da sua psique.
Sua contribuição intensa
nesse campo, na qual apresentou inúmeras hipóteses e classificações, dentre
elas a constatação da realidade dos arquétipos – bases do comportamento humano
– possibilitou que muitos dos enigmas do inconsciente humano fossem decifrados,
apontando novos rumos para a Psicologia.
A Psicologia transpessoal,
por sua vez, apresenta uma série de abordagens a respeito dos sonhos. Na
avaliação de Owspensky, os sonhos estariam divididos em três categorias: “os sonhos caóticos, os sonhos dramáticos e
os sonhos revelação”. Os sonhos caóticos seriam aqueles desprovidos de
sentido, podendo ser hilariantes ou
atemorizantes.(Jung declarou em sua autobiografia “Memórias, Sonhos, Reflexões” que acredita ter analisado cerca de
80 mil sonhos dos seus pacientes, ao longo dos anos. Os dramáticos incluem uma
sequencia lógica, muitas vezes contendo características ou possibilidades de
que o ser precisa ou já pode desenvolver. Os revelatórios seriam mais raros,
acompanhados normalmente de uma profunda emoção.
De acordo com Saldanha na A Psicoterapia Transpessoal, p.58, as
vivências oníricas podem ser utilizadas para “encomendar ou modificar sonhos; livrar-se de pesadelos, através de
técnicas como a de incubação, a do sonho lúcido, a da reconstrução onírica, a
do grafismo e a da ampliação de sonhos; e também até para vivenciar
experiências extracorpóreas.” A técnica de incubação dos sonhos consiste
em, conscientemente, desejar fortemente que alguma situação seja esclarecida
nos sonhos. Alguns terapeutas chegam a sugerir que se escreva a situação que se
deseja esclarecer, como forma de estabelecer um imperativo ao inconsciente.
O despertar da consciência
possibilita, ainda segundo a abordagem da Quarta Força, atingir o patamar de Sonhos Lúcidos, considerados aqueles
nos quais a pessoa tem a consciência de estar sonhando, mantendo um certo nível
de controle e uma percepção muito mais ampla das ocorrências oníricas.
Texto escrito por, Cláudio
Sinoti, no livro Refletindo a Alma.
Final de texto, porém o
capítulo continuará na próxima postagem.
Postado dia 28/02/2014.
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