sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014


 

OS SONHOS NA VISÃO DA PSICOLOGIA ESPÍRITA

 

“Dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos. Ele fala conosco através dos sonhos”. Jung

 

É notável perceber que quando alguém diz – “ esta noite eu sonhei...” – somos tomados por um certo fascínio, e alguma força nos impele a prestar atenção no que se diz, como se intuíssemos que algo além do nosso alcance consciente apresentasse uma mensagem importante, que não conseguíssemos decifrar por completo.

Eminentemente simbólicos, comunicam-se com a consciência de forma profunda, através de figuras, personagens e elementos estranhos, apresentando imagens que na maioria das vezes parecem desconexas de um sentido lógico. E essas imagens possuem uma peculiaridade que aumenta ainda mais sua importância, pois, por serem portadoras de uma grande carga emocional, conseguem alterar o humor, modificar as predisposições e afetar a saúde.

E na história da Humanidade, assim como na literatura universal, encontramos inúmeros relatos atestando a importância dos sonhos:

- na Ilíada de Homero p.61, Agamenon teve seu fim decretado a partir do momento em que, “enganado por sonho falaz de Zeus, se apronta para desfechar sem Aquiles o ataque decisivo.”

- no Antigo Testamento, no livro Gênesis, verificamos que a capacidade de interpretar sonho fez com que José, hebreu que se encontrava prisioneiro no Egito, caísse nas graças do faraó, que o conduziu ao posto de Adon (Chanceler) para administrar o tempo de vacas gordas e de vacas magras previsto no sonho.

- Enquanto dormia, José foi avisado de que deveria seguir de Belém ao Egito para manter Jesus a salvo da loucura de Herodes.

- E foi também através de um sonho que Jacopo, filho de Dante Alighieri, pode descobrir onde se encontrava a parte perdida da Divina Comédia, pois teve a certeza de ter-se encontrado com seu pai já desencarnado durante o sono, que lhe falou com clareza onde procurar o texto que não achava.

Dentre os Egípcios, encontram-se profundas observações a respeito dos sonhos, desde templos delicados a eles até o famoso “Livro dos Sonhos” (1275 a.C.), que caracterizou 108 tipos de sonhos, na tentativa de decifrar os enigmas da alma.

Na Grécia Antiga, nos templos dedicados à cura – Asclepieions – os sonhos tinham papel importante, tanto que Hipócrates (Cós, 460 – Téssália, 377 a..), o pai da Medicina, assim como faria mais tarde o romano Galeno (Pérgamo, c. 129 – provavelmente Sicília, c. 217), desenvolveram métodos de diagnóstico e cura a partir dos sonhos dos seus pacientes, antecipando-se em milênios às descobertas psicológicas.

A Filosofia também certificou a importância dos sonhos, e Epicuro e Demócrito “deram as linhas iniciais para os filósofos do futuro...” informando tratar-se, como nos recorda Joanna de Ângelis, “de simulacros produzidos pelo inconsciente que retira as impressões de fatos e objetos existentes” para repeti-los nos sonhos. A partir de Descartes os sonhos ganharam uma observação mais atenta, o que levou Hobbes a considerar que “eram resultado de estímulos orgânicos que alcançaram o cérebro, mantendo-o em atividades, não obstante o sono...” Joanna de Ângelis no livro No Limiar do Infinito p.68.

A Psicologia não deixou passar despercebida a importância deles para entendimento da psique, e suas diversas correntes criaram teorias variadas para explicá-los, o que possibilitou que hoje tenhamos um conhecimento muito maior do nosso mundo “inconsciente”. o livro “A Interpretação dos Sonhos”, lançado por Sigmund Freud no ano de 1900, transformou-se num marco, apontando novos rumos para a compreensão psicológica  e o tratamento das neuroses a partir dos sonhos.

Diria Freud, no livro A Interpretação dos Sonhos p. 155, nessa obra prima que “sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente.” E percorrendo a trajetória dessa estrada real, nada obstante suas questionáveis interpretações, polarizadas em torno da sexualidade, efetuou importantes descobertas, que foram fundamentais para que outros pesquisadores pudessem aprofundar o tema.

Carl Gustav Jung foi um desses que, tendo inicialmente estudado as propostas de Sigmund Freud, pôde ampliar a análise em torno da realidade dos sonhos para além das pulsões e desejos. Aprofundando-se em torno da realidade simbólica dos seus elementos, acreditava que:

 

toda a elaboração onírica é essencialmente subjetiva e o sonhador funciona, ao mesmo tempo, como cena, ator, ponto, contrarregra, autor, público e crítico. Esta interpretação, como diz o próprio termo, concebe todas as figuras do sonho como traços personificados da personalidade do sonhador”. A Natureza da Psique,p.204.

 

Todos os conteúdos do sonho referiam-se, portanto, ao sonhador, representando partes da sua psique.

Sua contribuição intensa nesse campo, na qual apresentou inúmeras hipóteses e classificações, dentre elas a constatação da realidade dos arquétipos – bases do comportamento humano – possibilitou que muitos dos enigmas do inconsciente humano fossem decifrados, apontando novos rumos para a Psicologia.

A Psicologia transpessoal, por sua vez, apresenta uma série de abordagens a respeito dos sonhos. Na avaliação de Owspensky, os sonhos estariam divididos em três categorias: “os sonhos caóticos, os sonhos dramáticos e os sonhos revelação”. Os sonhos caóticos seriam aqueles desprovidos de sentido,  podendo ser hilariantes ou atemorizantes.(Jung declarou em sua autobiografia “Memórias, Sonhos, Reflexões” que acredita ter analisado cerca de 80 mil sonhos dos seus pacientes, ao longo dos anos. Os dramáticos incluem uma sequencia lógica, muitas vezes contendo características ou possibilidades de que o ser precisa ou já pode desenvolver. Os revelatórios seriam mais raros, acompanhados normalmente de uma profunda emoção.

De acordo com Saldanha na A Psicoterapia Transpessoal, p.58, as vivências oníricas podem ser utilizadas para “encomendar ou modificar sonhos; livrar-se de pesadelos, através de técnicas como a de incubação, a do sonho lúcido, a da reconstrução onírica, a do grafismo e a da ampliação de sonhos; e também até para vivenciar experiências extracorpóreas.” A técnica de incubação dos sonhos consiste em, conscientemente, desejar fortemente que alguma situação seja esclarecida nos sonhos. Alguns terapeutas chegam a sugerir que se escreva a situação que se deseja esclarecer, como forma de estabelecer um imperativo ao inconsciente.

O despertar da consciência possibilita, ainda segundo a abordagem da Quarta Força, atingir o patamar de Sonhos Lúcidos, considerados aqueles nos quais a pessoa tem a consciência de estar sonhando, mantendo um certo nível de controle e uma percepção muito mais ampla das ocorrências oníricas.

Texto escrito por, Cláudio Sinoti, no livro Refletindo a Alma.

Final de texto, porém o capítulo continuará na próxima postagem.

Postado dia 28/02/2014.

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