sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014


ENCONTRO E AUTOENCONTRO

A parábola do Filho Pródigo é fonte de informações psicológicas profundas, ela traz valores de símbolos e significados que inspira  a uma análise não apressada, tornando possível retirar do seu conteúdo as lições de paz e saúde necessárias para uma vida rica e abençoada.

Durante muito tempo o Evangelho de Jesus foi interpretado com informações doentias e perturbadoras, sempre conforme o equilíbrio emocional e espiritual daqueles que os  interpretavam, teólogos e pastores, que   projetaram mais a sombra em que estagiavam do que as orientações de luz que o envolvia em forma de saúde e de paz.

Orientando humildade, levavam os seus seguidores a transtornos de conduta graves, incentivando o menosprezo pela vida física, a falta de consideração consigo mesmos, o autodepreciamento, o estimulo ao masoquismo  aparentando santificação como caminho para a iluminação.

Como considerar a vida, esse tesouro dado por Deus ao ser humano, como desprezível,  desrespeitada nos mais importantes significados como: a alegria, o bem-estar, o uso saudável do sexo, a solidariedade e a convivência, como negativos, sugerindo ou impondo o isolamento, a severa renuncia ao sexo, o silêncio, o sofrimento, em nome da Boa Nova?!

Apenas indivíduos emocionalmente castrados poderiam impor os seus sofrimentos aos demais, aos quais invejavam a saúde e comunicabilidade, de forma a se sentirem felizes com a infelicidade dos outros, em transtorno sadomasoquista, deturpando toda a proposta libertadora de Jesus, o Homem bom e nobre na sua integridade, que mais demonstrou amor e alegria na convivência com os desafortunados do que todos os outros.

Pregando dignidade, esses sofridos interpretes das Suas lições condenavam o erro, mascarando os equivocados, os que delinquem, os que aguardam apoio, por serem ignorantes ou enfermos, distanciados d’Aquele que é o pão da Vida e que veio exatamente para os infelizes e até mesmo para os infelicitadores...

Felizmente, com o avanço da cultura, com a ruptura dos laços férreos que mantinham a sociedade jungida aos dogmas enfermiços, descobre-se, cada dia, a grandeza da mensagem cristã, conforme Jesus e os Seus primeiros discípulos a viveram e divulgaram, verdadeira canção musicoterapêutica, sinfonia de esperança e de consolação.

As Suas parábolas, por isso, mantém guardadas as respostas importantes e especiais para as perguntas inquietantes do comportamento humano. 

Nelas, somente existem libertação e bondade, harmonia e júbilo, trazendo, nos seus símbolos, verdadeiros poemas de interpretação das incógnitas existenciais.

Nesse maravilhoso significado insere-se a do Filho Pródigo que, de alguma forma, somos todos nós.

Enquanto os fracos emocionais e os dependentes de punições nela encontram a baixa autoestima, o remorso, a angústia da volta, o que se percebe é a irrestrita confiança no Pai generoso, a certeza da alegria de ser bem recebido, a recuperação moral pelo equívoco vivenciado, a expectativa do recomeço em novas paisagens de afeto e autorrealização.

Por muito tempo estabeleceu-se que a humildade deve ser vivida como desprezo por si mesmo e pelos valores com que a vida social estabelece os seus relacionamentos, fomenta o progresso das massas e dos indivíduos.

O autoabandono, a autodesconsideração e o autodesprezo tinham prioridade na conduta do adepto religioso, no passado, em violência contra as leis naturais, impondo-se uma conduta incompatível com a mensagem de amor e de felicidade.

Pessoas amargas, que guardavam autorrejeição, escondendo-se em falsas justificativas religiosas, procuravam ocultar a mágoa em relação às demais, raiva contra si mesmas e os outros, negando-se a felicidade, que acreditavam não a merecer, porque se estavam sob o domínio da sombra  ancestral, vindas das culpas dos atos vergonhosos praticados em existências passadas.

Negando-se a oportunidade do encontro com o Pai amoroso, por não sentirem a existência do amor em si mesmas, ainda hoje negam-se o autoencontro, numa análise profunda que lhes poderia favorecer com uma visão mais saudável da Realidade.

Os seus mitos são as Parcas terríveis, as cóleras dos diversos deuses vingativos, as subjetivas ameaças de destruição apocalíptica, numa vingança generalizada, onde o medo da morte desaparece, por representar a destruição de tudo e de todos.

Os avisos contínuos sobre o egoísmo, o orgulho, a prepotência e o encantamento das virtudes teologais, do altruísmo, da humildade, da fraternidade produzem, muitas vezes, a virtude do autodepreciamento, da autodesconsideração, quase numa demonstração forçada de vitórias que, realmente, não existem na realidade psicológica, porque ninguém pode, ter satisfação, na inferioridade, no engodo, na negação dos problemas existentes...

A Parábola do Filho Pródigo é todo um conjunto de lições psicoterapêuticas e filosóficas, de sentido moral e espiritual incomum.

Sua mensagem não traz qualquer censura a nenhuma das atitudes dos dois filhos, ou dissimulação diante dos acontecimentos. Tudo ocorre de maneira natural, em alegria crescente, porque aquele que estava perdido, foi encontrado, e o que estava morto, agora se encontrava vivo.

A alegria de autoconsciência é esfuziante, por acontecer depois do reencontro, na volta à casa, ao lar, ao abrigo emocional seguro, que é a conquista de paz e da correção dos atos.

O corpo é ainda um animal, às vezes insubmisso, que necessita das rédeas da aprendizagem para a disciplina espontânea e o comportamento correto que o dirige conforme as necessidades do  self criativo a caminho do numinoso.

O Espírito é herdeiro de todas as experiências vividas nas sucessivas reencarnações, sendo natural que, muitas vezes, predominem as que mais profundamente marcaram a conduta anterior, ressurgindo em forma de desejos e conflitos nem sempre identificados.

Por isso, uma análise dos símbolos oníricos, as associações e reflexões com o psicoterapeuta conseguem eliminar as fixações morbosas e as reminiscências angustiantes que se expressam como tristeza, insegurança, timidez, dificuldades de relacionamentos...

A identificação dos símbolos e sua interpretação pedem perspicácia psicológica, experiência de consultório e interesse destituído de vinculação emocional, para ajudar o paciente ao encontro com a vida como também no autoencontro, descobrindo a sua realidade.

O manto com que o Pai amoroso manda vestir o filho pródigo representa o apoio, a cobertura afetiva que lhe é oferecida, igualando-o a ele mesmo, que também o ostenta.

A primeira preocupação do genitor é com a aparência do filho de retorno, com os cuidados de higiene e vestuário, de adorno – o anel – de apresentação, porque, agora não havia razão para continuar conforme chegou.

Não será admitido como servo, mas como filho que tem direito à herança e ao seu amor.

Por isso ele viera do país longínquo de retorno ao lar.

ENCONTRO E AUTOENCONTRO, do livro Em Busca da Verdade. Escrito por Divaldo Pereira Franco ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.

Postado dia 14/02/14.

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