Um país longínquo
Os problemas afligentes, que surgem
como enfermidades de vário porte, conflitos diversos, à medida que se dão as colisões operam despertamentos e surgem
oportunidades de mais cuidadosas reflexões, insights importantes, que trabalharão pelo amadurecimento do Self, o viajante incansável da
evolução...
O animal humano sexuado,
vitimado pela pulsão dominante, não lhe é escravo exclusivo, porquanto outras
pulsões apresentam-se-lhe com fortes imposições que não podem ser
desconsideradas.
Desde a pulsão da fome
àquelas do idealismo mais elevado, trabalham pela transformação das forças da
libido em satisfações outras também plenificadoras que impulsionam para a saúde
e o bem-estar
A pulsão do Filho Pródigo entregando-se ao sexo
desvairado, na fase da deserção da casa paterna – o santuário do equilíbrio, o
Éden da inocência - empurrou-o para o abismo do conflito e da culpa, do
sofrimento e da amargura, descobrindo que o desejo sexual por mais acentuado, quase
sempre ao ser atendido não oferece a compensação esperada, o que produz
frustração e ansiedade.
A ansiedade leva ao
desespero, e a perda do discernimento trabalha em favor dos transtornos de
conduta que podem agravar.
Raramente, nessa situação, o
ego desperta para perceber-se equivocado e induzir a volta para casa.
No conceito de que o ego é o centro da consciência, devem ser
trabalhadas em todas as suas manifestações, a fim de valorizar os bens de que
dispõe, não os desperdiçando com as meretrizes
nem os companheiros de orgia, esses elfos
que encontram-se como realidades arquetípicas no inconsciente, levando-os à
repetição das experiências frustradas.
Existe um país longínquo a ser conquistado pelo ego, simbolizado pela conduta correta,
pela consciência liberada dos conflitos.
A existência corporal é um
mecanismo de distrações da consciência profunda do si-mesmo, que, embora superficial, tem grande importancia na
escolha dos comportamentos humanos.
Caso alguém se coloque como o
irmão mais velho da parábola, valerá o esforço de considerar que o outro, seu
irmão, não foi feliz quando tentou ir para o país longínquo, mais teve a coragem de voltar a casa, mesmo
maltrapilho, esfaimado e arrependido.
A pulsão da fome é forte em
todos os seres viventes, porque nela se encontram os recursos para a
permanência, a continuidade da vida, o equilíbrio da saúde...
A sombra daquele que ficou aturde-o, torna-o irascível, em mecanismo
de preservação da própria sobrevivência que situa nas posses que o pai lhe
legou desde antes da morte, permanecendo, porém, morto psicologicamente para muitos valores mesmo durante a
vilegiatura do progenitor.
Naquele momento, quando o
irmão volta, a sua morte não lhe
permite a clareza para compreender que também ele tem estado em um país longínquo, onde residem a
indiferença, a ambição, a cupidez e o egoísmo.
As mudanças arquetípicas do ego ocorrem nas fases da infância para
a juventude, daí para a idade adulta, e para a senectude, quando o Self, amadurecido, deve comandar o
conjunto eletrônico delicado que é o ser humano.
Isso, porém, somente
acontece quando os indivíduos estão dispostos a despertar para a realidade,
superando a sombra ao invés de
cultivá-la.
Não serão essas fases, cada
período, também um país psicológico longínquo do outro, que deve ser
conquistado a esforço e tenacidade da vontade?
A vontade é um impulso que
nasce da razão e se transforma em força que deve ser direcionada de maneira
adequada para resultados relevantes de dignidade e de crescimento intelecto
moral no processo dos valores da existência terrestre.
Será, então, a vontade bem
dirigida que impulsionará o ego para vencer cada fase, deixando-a à margem após
transpô-la, a fim de que não venha a ressumar noutro período.
Por falta de esforço
encontram-se indivíduos adultos vivendo o período arquetípico da infância, ou
na idade avançada ainda com as aspirações de adulto, quando o organismo já não
dispõe das forças naturais para esse tipo de comportamento.
Sendo o processo de vida um
fenômeno entrópico, ele se desenvolve graças ao desgaste da energia, e por isso
mesmo, cada período estará nutrido pelas forças hábeis e correspondentes à sua
fase.
Mantendo-se o ego em
harmonia com o Self, equilibra-se o
eixo que os liga, e a sombra cede
espaço ao discernimento, liberando toda a energia para o processo de individuação que deve ser a grande meta.
Há quem pense que a fuga do Filho Pródigo tem um significado
arquetípico, no que se refere ao estoicismo, à coragem de buscar-se, de
realizar o encontro, de descobrir-se interiormente, de conseguir a conquista do
Self.
Concordamos, de certa forma,
com a tese, embora lamentando apenas o processo da ingratidão, da perda do
sentido existencial no abandono ao Pai, naturalmente rompendo o cordão umbilical, num momento em que
ainda não dispunha da maturidade para os autoenfrentamentos, resultando na
tentativa ou no retorno à casa de segurança, à proteção do genitor.
A conquista do si-mesmo deve ser feita em atitude interior
para superar as sugestões da sombra
egoísta e perversa, que seduz e ilude, dando imagens equivocadas da realidade e
negando a possibilidade de libertação.
Na proposta de progressão junguiana, faz-se necessário
o bom encaminhamento da energia da libido, canalizando-a para uma melhor
compreensão da existência humana e da sua aplicação na conquista dos recursos
que a edificam. Quando, por algum motivo, ela é interrompida, ocorre um choque,
como, a perda dos interesses libertadores, passando a uma fase de regressão e
perdendo-se no inconsciente, desenvolvendo complexos e conflitos perturbadores.
Nesse sentido, a
psicoterapia em geral e a espírita em particular, libertando o indivíduo das
amarras do erro e dos enganos, estimula-o à autosuperação das deficiências causado
pelo empenho da vontade e contribuição da libido, agora direcionada para fins nobres,
sem sofrimentos nem ansiedades de sublimação, mas apenas aplicando de maneira
saudável.
Agindo dessa maneira,
encontra-se o caminho de ida segura ou de volta razoável ao país longínquo, que pode estar no
inconsciente como meta existencial a ser conquistada.
Texto trabalhado, do livro
Em Busca da Verdade: Joanna de Ângelis psicografia de Divaldo Franco. Postado,
dia 17/02/2014
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