A
LUZ: A DEPRESSÃO COMO AGENTE DE MUDANÇA E DE SIGNIFICADO
A depressão é um agente da
psique para chamar a atenção, para mostrar que existe algo muito profundamente
errado que precisa ser ajustado. Jung no livro Escritos Diversos, compreendia a neurose “como sofrimento de uma
alma que não descobriu seu sentido”. Percebemos que ele não exclui o
sofrimento, mas traz à tona as questões: qual a tarefa que esse sintoma está
escondendo? O que foi enviado para baixo, negligenciado? Qual a tarefa que não
está sendo realizada?
Jung escreveu:
“(...) como o sofrimento é
decididamente desagradável, as pessoas naturalmente preferem não ponderar
quanto medo e tristeza cabe ao homem. Assim, elas falam suavemente sobre o
progresso e a felicidade maior possível, esquecendo-se de que a felicidade está
envenenada caso a quantidade necessária de sofrimento não tenha sido
preenchida. Atrás de uma neurose jaz frequentemente oculto todo o sofrimento
necessário e natural que o paciente não estava disposto a suportar”.
Joanna de Ângelis, no livro Conflitos Existenciais, afirma que, em
muitos casos os sintomas pré-depressivos escondem a incapacidade do indivíduo
de resolver os desafios existenciais, refugiando-se no medo e optando pelo afastamento
social, o indivíduo acredita estar poupando-se de qualquer tipo de
sofrimento.
”Muito curioso tal o
mecanismo de fuga, tendo-se em vista que o enfermo vai defrontar-se com aquilo
que gostaria de evitar, desde que se torna infeliz, inseguro, no refúgio perigoso
em que se homizia. Evidentemente, com o transcorrer do tempo aumenta a
insatisfação com a existência e desce ao abismo da depressão psicológica,
ensejando ao organismo pelo impacto contínuo da mente receosa, perturbação nas
neurotransmissões em decorrência da ausência de serotonina e noradrenalina”.
Sendo a psique autorreguladora,
os sintomas são, portanto, expressões de um desejo de cura. Em vez de reprimi-los,
ou eliminá-los, precisamos compreender a ferida que eles representam. Esses estados
psíquicos têm um propósito ligado à alma: é preciso saber ouvir. Necessário é
viver através deles, e não reprimi-los ou projetá-los sobre os outros de uma
forma prejudicial.
Esther Harding, acredita que
os estados depressivos são, em geral, tentativas criativas do Self para
construir uma comunicação mais profunda com a nossa totalidade. Só será possível
descobrir o significado da depressão e crescer se acontecer uma aliança com
ela, ou seja, é preciso prestar a mais cuidadosa atenção e ir além dos
sintomas. É como o trabalho da Opus alquímica, no qual o ouro era buscado a
partir da matéria bruta; na depressão os sintomas são a nossa matéria bruta,
incompleta e carente de transformação: essas são as dores que precisam passar
pelo fogo para que seu significado se revele.
A tarefa que precisa ser
realizada, invariavelmente envolve um novo nível de responsabilidade, um
encontro real com a sombra, um aprofundamento da jornada em direção a lugares
novos até então inexplorados. O depressivo deve buscar forças para não
permanecer prisioneiro do passado, mas com ele aprender para não repetir os
mesmos erros no presente.
Negligenciar a jornada não a
impede de acontecer, a diferença é que, se essa for a escolha, será vivida como
uma patologia pessoal, e ao invés de uma viagem cheia de aventura e
descobertas, será uma travessia cheia de armadilhas. Assim, observa Joanna de
Ângelis na sua obra Triunfo Pessoal, “A individuação é um convite severo ao ser
humano, que deve aprofundar reflexões em torno da sua existência como ser real
e não imaginário ou fugaz, que é construtor das próprias realizações e que responde
pelas consequências mórbidas da conduta irregular.”
Se o que se busca é uma “cura”,
que seja uma cura “interior”, e para essa experiência ser duradoura é
necessário fazer a jornada e de tempos em tempos rever o caminho, retirar as
pedras e descobrir novas passagens, pois mesmo quando não o fizer espontaneamente,
mais cedo ou mais tarde se é arrastado para isso.
“Se nos aproximarmos de nós
mesmos para nos curar e colocarmos o “eu” no centro, isso com muita frequência degenera
no objetivo de curar o ego – ficar mais forte, tornar-se melhor e crescer de
acordo com um dos objetivos do ego, que em geral são cópias mecânicas dos
objetivos da sociedade. Mas quando nos aproximamos de nós mesmos para curar
essas firmes e intratáveis fraquezas congênitas de obstinação, cegueira,
mesquinhez, crueldade, impostura e ostentação, defrontamo-nos com a necessidade
de todo um novo modo de ser... “ ABRAMS, Ao
Encontro da Sombra
Na sociedade em que vivemos,
a maioria das pessoas acredita que o objetivo da vida é alcançar a felicidade. Mas
a psicologia Junguiana e a prática do desenvolvimento pessoal que ela promove,
mostram a perspectiva de que a meta da vida não é a felicidade, e sim o
significado.
O grande valor da depressão
está em perceber que esse movimento de regressão da energia da psique está a
serviço do Eu, assim como no sono, que serve de equilíbrio para o corpo e para
a psique. Se negligenciarmos alguma parte vital de nós, é essencial que o
caminho seja refeito. Precisamos resgatar o que foi perdido, trazer à
superfície parte importante de nós que foi deixada para trás, para integrá-la.
“Quando a pessoa consegue
manter-se junto à sua alma (conferir-lhe valor mais alto), ela compreenderá que
problemas, fracassos e humilhações, embora pareçam proceder de fontes externas,
estão na verdade dentro dela mesma, e que se forem entendidos por essa
perspectiva, têm o potencial de enriquecer a vida. Mas isso só pode acontecer
se a vida interior, a alma, for percebida como de valor igual ao do mundo
exterior”. (A Alma Celebra: preparação
para a nova religião JUNE SINGER).
Texto de Iris Sinoti, no
livro Refletindo a Alma.
Postado dia 08/02/14.
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