sábado, 8 de fevereiro de 2014


 

A LUZ: A DEPRESSÃO COMO AGENTE DE MUDANÇA E DE SIGNIFICADO 

A depressão é um agente da psique para chamar a atenção, para mostrar que existe algo muito profundamente errado que precisa ser ajustado. Jung no livro Escritos Diversos, compreendia a neurose “como sofrimento de uma alma que não descobriu seu sentido”. Percebemos que ele não exclui o sofrimento, mas traz à tona as questões: qual a tarefa que esse sintoma está escondendo? O que foi enviado para baixo, negligenciado? Qual a tarefa que não está sendo realizada?
Jung escreveu: 

“(...) como o sofrimento é decididamente desagradável, as pessoas naturalmente preferem não ponderar quanto medo e tristeza cabe ao homem. Assim, elas falam suavemente sobre o progresso e a felicidade maior possível, esquecendo-se de que a felicidade está envenenada caso a quantidade necessária de sofrimento não tenha sido preenchida. Atrás de uma neurose jaz frequentemente oculto todo o sofrimento necessário e natural que o paciente não estava disposto a suportar”.
Joanna de Ângelis, no livro Conflitos Existenciais, afirma que, em muitos casos os sintomas pré-depressivos escondem a incapacidade do indivíduo de resolver os desafios existenciais, refugiando-se no medo e optando pelo afastamento social, o indivíduo acredita estar poupando-se de qualquer tipo de sofrimento.
”Muito curioso tal o mecanismo de fuga, tendo-se em vista que o enfermo vai defrontar-se com aquilo que gostaria de evitar, desde que se torna infeliz, inseguro, no refúgio perigoso em que se homizia. Evidentemente, com o transcorrer do tempo aumenta a insatisfação com a existência e desce ao abismo da depressão psicológica, ensejando ao organismo pelo impacto contínuo da mente receosa, perturbação nas neurotransmissões em decorrência da ausência de serotonina e noradrenalina”.

Sendo a psique autorreguladora, os sintomas são, portanto, expressões de um desejo de cura. Em vez de reprimi-los, ou eliminá-los, precisamos compreender a ferida que eles representam. Esses estados psíquicos têm um propósito ligado à alma: é preciso saber ouvir. Necessário é viver através deles, e não reprimi-los ou projetá-los sobre os outros de uma forma prejudicial.

Esther Harding, acredita que os estados depressivos são, em geral, tentativas criativas do Self para construir uma comunicação mais profunda com a nossa totalidade. Só será possível descobrir o significado da depressão e crescer se acontecer uma aliança com ela, ou seja, é preciso prestar a mais cuidadosa atenção e ir além dos sintomas. É como o trabalho da Opus alquímica, no qual o ouro era buscado a partir da matéria bruta; na depressão os sintomas são a nossa matéria bruta, incompleta e carente de transformação: essas são as dores que precisam passar pelo fogo para que seu significado se revele.

A tarefa que precisa ser realizada, invariavelmente envolve um novo nível de responsabilidade, um encontro real com a sombra, um aprofundamento da jornada em direção a lugares novos até então inexplorados. O depressivo deve buscar forças para não permanecer prisioneiro do passado, mas com ele aprender para não repetir os mesmos erros no presente.

Negligenciar a jornada não a impede de acontecer, a diferença é que, se essa for a escolha, será vivida como uma patologia pessoal, e ao invés de uma viagem cheia de aventura e descobertas, será uma travessia cheia de armadilhas. Assim, observa Joanna de Ângelis na sua obra Triunfo Pessoal, A individuação é um convite severo ao ser humano, que deve aprofundar reflexões em torno da sua existência como ser real e não imaginário ou fugaz, que é construtor das próprias realizações e que responde pelas consequências mórbidas da conduta irregular.”

Se o que se busca é uma “cura”, que seja uma cura “interior”, e para essa experiência ser duradoura é necessário fazer a jornada e de tempos em tempos rever o caminho, retirar as pedras e descobrir novas passagens, pois mesmo quando não o fizer espontaneamente, mais cedo ou mais tarde se é arrastado para isso.

“Se nos aproximarmos de nós mesmos para nos curar e colocarmos o “eu” no centro, isso com muita frequência degenera no objetivo de curar o ego – ficar mais forte, tornar-se melhor e crescer de acordo com um dos objetivos do ego, que em geral são cópias mecânicas dos objetivos da sociedade. Mas quando nos aproximamos de nós mesmos para curar essas firmes e intratáveis fraquezas congênitas de obstinação, cegueira, mesquinhez, crueldade, impostura e ostentação, defrontamo-nos com a necessidade de todo um novo modo de ser... “ ABRAMS, Ao Encontro da Sombra

Na sociedade em que vivemos, a maioria das pessoas acredita que o objetivo da vida é alcançar a felicidade. Mas a psicologia Junguiana e a prática do desenvolvimento pessoal que ela promove, mostram a perspectiva de que a meta da vida não é a felicidade, e sim o significado.

O grande valor da depressão está em perceber que esse movimento de regressão da energia da psique está a serviço do Eu, assim como no sono, que serve de equilíbrio para o corpo e para a psique. Se negligenciarmos alguma parte vital de nós, é essencial que o caminho seja refeito. Precisamos resgatar o que foi perdido, trazer à superfície parte importante de nós que foi deixada para trás, para integrá-la.

“Quando a pessoa consegue manter-se junto à sua alma (conferir-lhe valor mais alto), ela compreenderá que problemas, fracassos e humilhações, embora pareçam proceder de fontes externas, estão na verdade dentro dela mesma, e que se forem entendidos por essa perspectiva, têm o potencial de enriquecer a vida. Mas isso só pode acontecer se a vida interior, a alma, for percebida como de valor igual ao do mundo exterior”. (A Alma Celebra: preparação para a nova religião JUNE SINGER).
Texto de Iris Sinoti, no livro Refletindo a Alma.
Postado dia 08/02/14.

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