quinta-feira, 30 de abril de 2015


Sair de Si-mesmo

Para que o si-mesmo possa expressar-se com segurança, especialmente na parábola que estamos analisando, é necessário a integração da persona com a sombra.

Jung considerou a persona e a sombra como opostos, expressando-se no ego, numa visão total da psique, como polaridades.

Numa aceitação consciente do si-mesmo, compreendendo o seu lado sombra e as suas dificuldades em lidar com ele.

Devem-se considerar os acontecimentos negativos e perturbadores como naturais, mas sem constrangimentos nem vergonha das manifestações pessoais consideradas perversas, demoníacas.

Como esse lado não está de acordo com a persona, ou seja, com a aparência, surgem os problemas interiores, os conflitos que devem ser evitados, considerando-se que esse aparente mal, desde que não prejudique o outro, também é responsável por acontecimentos bons, por momentos de bem-estar e de alegria.

Estar-se aberto às diversas manifestações existenciais, sem repugnância pelo lado mal, pela exteriorização do­ eu-demônio, sobretudo, sem violência nem conflito, o eu-angélico, proporciona uma pré-individuação, porque é nessa luta de opositores que surge uma terceira coisa, que é a conquista do estado numinoso.

Normalmente os conteúdos da sombra são contestados pela persona (o irmão mais novo e o irmão mais velho da parábola em estudo), que podem estar no mesmo indivíduo, quando esse sofre a repulsa de si mesmo e o desejo de elevar-se, ocorrendo conflitos de comportamento.

Jung propõe novo símbolo que trará alguma coisa dos dois, que é o esforço para a integração daqueles conteúdos, numa diferente e renovada concepção de mundo  decorrente da transformação do ego.

O filho mais moço da parábola sentia que o seu irmão mais velho não o aceitaria e, mesmo com essa percepção antecipada, voltou, porque naquele momento a sua visão qualitativa do mundo era diferente, valorizando o lado bom do mesmo e considerando o seu esforço de arrependimento voltando para casa.

Quando foi para o país longínquo, buscava o si-mesmo, embora saindo;  retornou, descobrindo-se caindo em si-mesmo.

Muitas atividades humanas e psicológicas resultam dessa saída sem perspectiva, pelo menos racional, de volta,  transformando-se numa atitude de definição e de responsabilidade pelo que possa acontecer no futuro.

À medida, que a persona se fortalece, amplia a capacidade de compreensão e de identificação, torna-se maleável, submete-se às necessárias mudanças, conseguindo a integração com a sombra, fundindo os dois eus.

Existem, indivíduos com tamanha carga de energia da sombra que não conseguem a aceitação dos seus erros pela persona, tornando-se uma questão patológica necessitada de terapia especializada.

Essa conduta antinômica resulta dos instintos ainda dominantes na psique, herança da natureza animal do ser em relação à sua natureza espiritual, à sua origem no Uno.

As experiências das reencarnações privilegiando em uma etapa os valores intelectuais, noutra os morais, em diversas ocasiões o desenvolvimento das tendências artísticas e culturais, os labores científicos e filosóficos, as místicas religiosas com as sua cargas simbólicas e mitológicas, havendo gerado o peso dos conflitos, a descoberta do bem e do mal, a perda do paraíso, propiciam o predomínio de um arquétipo sobre o outro.

 Em determinado período mais primitivo da evolução, é a sombra, mais tarde é a presença marcante da persona, em diferentes oportunidades o anima-us, por muito tempo o ego até o momento da estruturação complexa do Self, ( o ser espiritual, o si mesmo, o ser profundo) na sua amplitude que se espraia além dos limites do individuo.

Por sua vez, o Pai amoroso saiu de si mesmo para receber o filho perdido e o acolheu no coração, que jamais deixara de o amar, pois nunca o expulsara dos seus sentimentos, quando constatando que o outro filho, o mais velho, se recusava a entrar em casa tomado pela revolta, e pela ira, filhas da sombra, novamente saiu de si-mesmo e foi em sua busca, por perceber que estava perdido também, precisando de ser encontrado.

No processo da evolução do Espírito, faz-se necessário muitas vezes, sair de si-mesmo, para alcançar-se a meta a que se propõe, porque há situações difíceis de conflitos psicológicos em torno, que necessitam a presença do ser divino que se possui no intimo.

Jesus assim o fez muitas vezes, pois que Ele veio para ovelhas desgarradas, sacrificou a Sua vida para resgatá-las da perdição, confundiu-se com a sombra individual de cada qual e a coletiva de Israel, de Jerusalém assassina, que matava os profetas, para  manter a sua corrupção, esperando um vingador para esmagar os que dominavam o povo, esquecendo-se que a pior escravidão vem dos instintos, dos arquétipos inferiores do Self em formação e desenvolvimento.

Sair de si-mesmo é fruir por antecipação a volta que ocorrerá com a conquista feita, como ocorreu com Jesus, crucificado, mas livre, indesejado, porém, triunfante, porque conseguiu alcançar o estágio mais alto da psique: a vitória sobre os impositivos existenciais, embora já fosse perfeito como o Pai Celestial é perfeito.

Considerando-se as parábolas da esperança, da consolação, dos júbilos, dos perdidos, pode-se ver Jesus como Filho Pródigo do Amor.

Afastou-se do Reino com os Seus inestimáveis bens e veio ao terreno país longínquo, para desperdiçar os Seus tesouros com as meretrizes e ladrões, os de má vida, que se Lhe tornaram más companhias, sem deixar-se contaminar com as suas misérias. E porque eram muitos os necessitados Ele entregou tudo que tinha e, de repente, viu que se abateu sobre o país a fome de amor e de misericórdia, de compaixão e de solidariedade, resolvendo-se por entregar-se in totum, a partir do momentoso Sermão da montanha...

Apesar dessa doação máxima de amor, foi desprezado pelos habitantes soberbos e ingratos desse país, os prepotentes e dominadores, ficando com a ralé, simbolicamente representando os suínos, como era quase considerada, não aceita e espezinhada, optando pela cruz do sacrifício de afeto nunca ocorrido na Terra, voltando, rico de bênçãos ao Pai misericordioso, que o recebeu em júbilo, permitindo que Ele ficasse ainda, por mais tempo, num e noutro lugar, acenando com a imortalidade gloriosa.

No estado numinoso, tentou dissipar a sombra individual, que espera o esforço do Self de cada um, iniciando, esse processo de unificação com a persona através dos dois milênios, a partir do momento em que  inicie a terapia psicotrópica da renovação interior, proporcionando aos neurocomunicadores a produção de monoaminas restauradoras da saúde psicológica e da moral pela vivencia dos Seus incomparáveis enunciados psicoterapêuticos.

Herdeiro de si mesmo, o ser humano é a soma das suas experiências, que desenvolvem os valores para a própria evolução. O que é um desafio em uma etapa desse crescimento, em outra é mais acessível, dando lugar ao surgimento dos arquétipos muito bem examinados pelo mestre de Zurique, Carl Gustav Jung.

O predomínio da sombra ou do anima-us em indivíduos biologicamente portadores de polaridades orgânicas opostas  resulta das experiências malsucedidas e que, repetidas, lhes oferece a oportunidade de ajustamento, de integração moral, como acontece com a persona na construção do Self iluminado, liberado das cargas dos conflitos ancestrais.

A conquista da saúde integral é, desafio de cada um, dependendo do seu esforço enfrenta-la desde já ou retarda-la, quando complicada e perturbadora.

Graças às conquistas da medicina nos  vários setores, e das doutrinas psicológicas iluminadas pelo Espiritismo, com a sua importante contribuição psicoterapêutica preventiva e curadora, hoje o ser humano tem importantes instrumentos para conquistar a felicidade mesmo na Terra, embora o Reino não seja deste mundo, nele iniciando-se e estendendo-se pelo infinito dos tempos e dos espaços.

A Parábola do Filho pródigo, a da dracma e a da ovelha perdida são importantes lições de autodescobrimento de todo aquele que busque identificar a finalidade da vida terrestre, o significado real da encarnação, superando o vazio existencial com objetivos dinâmicos e seguros em favor da sua completude emocional e espiritual.

Resgatando as perdas, envolve-se em conquistas de grande significado para a sua imortalidade, na qual, desde ontem, se encontra mergulhado.

Cabe a ele, como consequência, vigiar as subpersonalidades comprometidas com a sombra, expressões que, dela se derivam, preservando o bom humor e evitando as suas alterações, que abrem espaço para a interferência dos Espíritos inferiores que estão em toda parte, gerando alucinações e ressentimentos, portadores de enfermidades de várias etiologias, produzindo infelicidade e desar.

Sair de si-mesmo, de forma objetiva, para ajudar os que estão na retaguarda, é a imagem do Pai misericordioso recebendo o Filho pródigo de volta a casa...

A reencarnação é de valor inestimável, que não pode ser desconsiderada, nem postergados as oportunidades de crescimento interior.

Procedente de ontem, o Espírito apresenta-se com o patrimônio conquistado, construindo o futuro que lhe está reservado. O seu esforço pela conquista do estado numinoso devem constituir-lhe meta essencial na luta em que se empenha.

Tal conquista independe de qualquer façanha paranormal, anímica ou mediúnica, valendo pelo autoconhecimento e as transformações emocionais para melhor que possa conseguir.

A sua saúde psicológica e física, psíquica e moral, depende sobretudo desse empenho, desse entendimento da finalidade do corpo que o capacita para a plena libertação dos arquétipos tormentosos que ainda o mantêm em escravidão.

Uma vez ou outra se sentirá impulsionado a sair da casa paterna e o fará, desde que, de maneira sábia, investindo os valores que lhe são dados no crescimento interno, onde quer que esteja, antevendo a possibilidade de retornar em situação saudável, sem o desgaste nem a miséria assinalados no fracasso do Filho pródigo .

Fracasso, que o Pai misericordioso transformou em lição de desenvolvimento moral, não lhe concedendo a posição de servo ou de escravo, mas de filho que o era, pois que, perante Deus não há filhos perdidos nem atos irreparáveis.

A evolução do ser, sua felicidade e harmonia dependem dele mesmo, contando com a misericórdia e a bonança do amor responsável pela concessão da plenitude.

Quando os indivíduos perceberem as vantagens do amor a si mesmo, de início, ao seu próximo como consequência, e, por fim, a Deus, tudo se lhe modificará durante o período orgânico, pois esse tropismo superior alçá-lo-á ao estágio de individuação.
Texto estudado a partir do livro Em Busca da Verdade, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Pereira Franco.

Publicado em30/04/2015.

Nenhum comentário: