domingo, 5 de abril de 2015


 

O INCONSCIENTE COLETIVO E A GRATIDÃO

Diante de algumas decisões, o ser consciente tem grande dificuldade em escolher qual a mais certa. Porque o inconsciente coletivo encontra-se sobrecarregado de medos, lembranças afligentes, impulsos descontrolados, de toda uma herança do primarismo ancestral, misturado com experiências gerais e pessoais, como resultado da sombra que existe na natureza de todas as pessoais.

Nas experiências da alegria ou da tristeza, da harmonia ou do desconserto, os grupos sociais podem compartilhá-las em razão do inconsciente coletivo, o que explica acontecimentos tristes ou venturosos que ocorrem ao mesmo tempo em várias partes da Terra. É com esse comportamento que, em qualquer período, a sombra coletiva surge do inconsciente coletivo,- passa individualmente de pais para filhos, ao mesmo tempo de um para outro grupo -, transformando-se em calamidade social. Os vícios sociais, como: fumar e beber, as extravagancias sexuais, o uso de drogas aditivas que invadem a sociedade, os jogos de videogame que se transformaram em modismos, entre outros, tomam conta das massas de forma contagiante,  resultante do inconsciente coletivo, que oferece à sombra uma oportunidade de participar do fenômeno. Tal acontece de forma inconsciente, por isso, revela-se automaticamente na sociedade, após aparecer no indivíduo. As sociedades se estruturam por acontecimentos e métodos pedagógicos de conduta infantil, quando se aprende a distinguir entre o que é bom e o que é mal, conforme a cultura e a ética de cada grupo. Se a questão da sombra fosse identificada na infância, quando se ensinaria como descobrir os impulsos que vem dela, favorecendo o educando com a compreensão da própria fragilidade, dos erros, desculpando-se e corrigindo-se, esclarecendo que há variações no comportamento, ora para o bem ora para o mal, tornariam mais fáceis as condutas favoráveis à sociedades e a tudo quanto se lhe vincula.

A sombra acontece no inconsciente coletivo chamada de energias contrárias que caracterizam os terroristas, os criminosos em geral ou os bons cidadãos: Hitler e Churchill, Alarico e Santo Agostinho... Na Na realidade, a aversão e animosidade que se sustentam no exterior vem do íntimo onde se tornam aliados. É como se fosse preciso que houvesse um opositor, um inimigo, para que se mostre a pessoa que se é. Nas lutas mais sangrentas ou  perversas, nas perseguições sociais sutis ou públicas é que se surgem os heróis, os santos, os mártires, em razão do lado sombrio que existe em todos nós.

O inconsciente coletivo registrou todo o processo da evolução do ser, desde quando o córtex cerebral se desenvolveu fazendo surgir as funções exteriores, dos conhecimentos abstratos, dos valores transcendentes como o amor e a misericórdia, o perdão e a caridade, a alegria e a compaixão revelando o self. As energias contrárias promoveram o surgimento da sombra que, em razão do seu lado oposto, esquece a gratidão, criando dificuldades para experiencia-la, causado pela prepotência ancestral que vem do primarismo na escala evolutiva.

Numa análise mais minuciosa constata-se que a evolução do ser humano resulta mais da  mente do que do cérebro físico, compreendendo que o self (o espírito) lhe é preexistente, permanecendo adormecido enquanto preparava os equipamentos para se revelar, é o que ainda ocorre no programa de conquista da individuação, em que impulsos éticos e conquistas iluminativas transcendem (ultrapassam) a capacidade física.

A gratidão é uma experiência moral, não cerebral, do self, não do ego, pois o primeiro tem origem divina e o segundo é de natureza humana. Herdam-se os sentimentos – egóicos, geradores da sombra – ou os sublimes estimuladores do self. Quando se odeia alguém, experimenta-se a sombra desconfiada de que o outro é que o odeia e quer prejudicá-lo. Em Mecanismo de defesa nasce, aí a animosidade. Quando se expressa o amor, o córtex proporciona bem-estar orgânico, ampliando as possibilidades de crescimento do self, dando lugar à saúde.

Somente através do amor é que o sentimento da gratidão e da vida pode manifestar-se, e sendo vivenciado por alguém irá influenciar as futuras gerações por insculpir-se no inconsciente coletivo, destruindo o império dominador da sombra.

As pessoas que ainda se encontram no comportamento sensorial, fisiológico, à medida que despertam o self, veem o mundo à sua volta de maneira totalmente contrária ao que viam, dominado por luminosidade grandiosa, por belezas nunca vistas, por harmonia ainda não observada, pela brisa perfumada, alterando a realidade anterior da paisagem sombria, sem vida, dominada por odores pútridos e por seres humanos que parecem  mais animais estranhos... Isso só vai acontecer se for possível superar os limites da sombra no inconsciente coletivo desconhecido, gerador de vários conflitos, como culpa, vergonha, julgamento, transferência, projeção, separação, através dos quais o self se debate sem conseguir vivenciar a plenitude. Indispensável à coragem para os enfrentamentos e a conscientização de que todos são débeis e erram, não se apoiando nas bengalas do desculpismo e do acanhamento, porquanto o processo de evolução é feito de sucesso e insucesso, não se permitindo os julgamentos hediondos e oriundos do complexo de inferioridade, desprendendo-se das paixões inferiores às quais se aferram. Logo depois, conscientizando-se da necessidade de iluminação o paciente terá que se desprender dos julgamentos de si mesmo e dos demais, passando ao trabalho de (re) construção dos equipamentos emocionais, deixando de refugiar-se na projeção da própria imagem nos outros, dando a cada qual o direito de ser feliz ou desventurado conforme sua eleição, sem inveja nem ciúme, sem mágoa nem amargura. Nesse ínterim, novas forças morais são acrescentadas, e o paciente entra em contato com os sentimentos superiores, não separando, mas descobrindo a sua arrogância mascarada de humildade, a defensiva persistente para estar a favor e não armado contra, bem idealizando as demais criaturas com as imagens fortes da bondade divina. Logo se vai diluindo a sombra, e os preconceitos, os ciúmes, as inseguranças abrem lugar para a ternura, a amizade, surgindo  a gratidão a tudo e a todos, até mesmo ao desagradável, é necessário no campo experimental das emoções.

O hábito da projeção leva à paranoia que se disfarça, escondendo a ansiedade asfixiante e profundamente enraizada no comportamento psicológico.

Querer o bem apenas não é suficiente, é preciso vivencia-lo, aspirar pela paz, abrindo-se à paz, porque toda vez quando se combate a guerra, o mal, em realidade se é (interiormente) aquilo que se está apontando em situação contrária, projetando a sombra, o negativo oculto do comportamento.

É comum a projeção e a separação unirem-se e agredirem os outros, quando se narram eventos constrangedores que eles praticaram, dando a impressão de estar-se aconselhando, orientando. Inconscientemente ou não, está-se censurando, embaraçando a pessoa, vingando-se da sua superioridade, aquela que lhe é atribuída.

Nessa conduta, a inveja tem papel relevante, porque filha especial da sombra ou sua promotora também, vivencia-se um prazer especial em expor o outro, em apontá-lo à censura dos demais.

Reconhecer, a negatividade presente em si é um dos primeiros passos para desmascarar-se a sombra, aceitando-lhe a presença, mas não conivindo com ela.

Por outro lado, evitar a queixa que se propõe a ganhar compaixão e solidariedade, utilizando-se dela como autojustificativa para continuar na conduta doentia, distinguindo os valores possuídos com critério, é passo decisivo na construção da gratidão. A gratidão que se deve ter à vida, em que todos estão situados.

Um dos importantes recursos para dar direito aos outros de se comportarem conforme estão, é o da compaixão, que é uma forma gratulatória de encarar a vida, porque o ato de a vivenciar com relação ao próximo é também maneira de beneficiar-se. A consciência ou superego sempre está vigilante e é preciso ouvir-lhe a argumentação, especialmente quando alguém se envolve em autojustificação. Ela sempre tem o valor independente de diluir as máscaras e mostrar o erro em que se encontra, assim como  avaliar com acerto o procedimento. É destituída de compaixão, empurrando o ser para possuí-la em relação ao outro, facultando sintonia com a misericórdia, com Deus. Quando se exerce, portanto, a compaixão, a consciência anui e compadece-se também autossuperando-se e vitalizando o self.

Na (re) construção dos seus equipamentos emocionais devem-se abrir canais para a presença da gratidão, exercitando-a sem cessar e não permitindo que o inconsciente coletivo lhe crie obstáculos, tornando-a inexequível.

Trabalho executado a partir do livro Psicologia da Gratidão, pelo médium Divaldo Pereira Franco, do Espírito Joanna de Ângelis.

05/04/2015.

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